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A lua ainda é dos poetas, mas o mundo não esquecerá de Neil Armstrong

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A lua jamais deixará de ser a musa encantada dos poetas, mesmo depois que Neil Armstrong desceu do módulo lunar da missão Apolo 11 em 20 de julho de 1969 e marcou o solo lunar com sua bota prateada. 1969 foi um ano de muitas mudanças, entre elas o maior protesto contra a guerra do Vietnã reunindo meio milhão de pessoas (90% jovens) em Woodstock, no mês seguinte. Esse ano foi tão significativo que, inspirado nele, Paul Auster escreveu o magistral “Palácio da Lua”, livro que devorei em dias noites.

Sempre fui um apaixonado pelo céu e os astrólogos dizem ser uma característica de meu signo. Lembro bem do dia em que o homem pisou na lua. Tinha 14 anos e morava na rua Alvares de Azevedo em Icarai (Niterói), onde o nosso bando tinha o hábito de jogar taco (uma espécie de baseball tupiniquim) no meio da rua. Atento a propaganda sobre a hora em que Armstrong pisaria na lua, fui cedo para casa para assistir pela TV. Acho que não foi uma transmissão ao vivo, mas sei que a narração era de Hilton Gomes, um célebre locutor. A imagem em preto e branco cheia de imperfeições me hipnotizou e quase não ouvi o pipocar dos fogos que algumas pessoas soltaram celebrando aquele momento. Um momento crucial na história de todos nós que algumas pessoas insistem em afirmar que foi uma fraude, que o homem pisando na lua teria sido uma gravação simulada em estúdios. Que bobagem.

Algumas pessoas diziam o fato do homem pisar na lua anularia seu poder poético. Não acho. A lua continua comovendo, mesmo depois de Neil Armstrong e também da Apolo 13 que passou perto mas não pode descer (o filme com Tom Hamks é fabuloso). E se a humanidade evoluiu, pelo menos cientificamente, devemos muito a desbravadores heroicos como Armstrong. 

Aliás, sugiro a todos que peguem nas locadoras o filme “Os Eleitos”, de Philip Kaufman que conta a história da corrida espacial de um jeito completamente diferente. O filme é baseado no livro de Tom Wolfe.

Neil Armstrong morreu em agosto de 2012 triste com o corte de verbas para o programa espacial e até se reuniu com Barack Obama para tratar do assunto. Obama explicou que é uma questão temporária mas, ainda assim, Armstrong não engoliu. Discreto, nunca transformou a sua grande viagem numa egotrip pessoal e, só eventualmente, dava uma ou outra palestra. Admiro pessoas assim. Por tudo que representa e simboliza, por tudo que fez, Neil Armstrong, um ícone dos anos 60, deixa muita saudade.

E já que existe lua, vai-se para a rua. (Gilberto Gil).




Exposição internacional sobre Jimi Hendrix vai pousar em São Paulo

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A exposição "Hear my Train a Comin: Hendrix Hits London", dedicada ao guitarrista Jimi Hendrix, chegará a São Paulo em 10 de junho, no shopping JK Iguatemi. São cerca de 140 peças da coleção do Experience Music Project Museum, de Seattle (EUA). Entre elas guitarras, roupas e cartazes de shows.

Está tudo muito bom, está tudo muito bem mas a exposição só aborda os anos 1966 e 1967, quando Hendrix se tornou uma lenda em Londres para onde foi levado pelo baixista do The Animals, Chas Chandler, que tornou-se produtor e tutor do músico. Mesmo assim é ótima e vale uma ida a Sampa para conferir.

A curadoria da exposição é de Jacob McMurray. A meia-irmã do músico, Janie Hendrix, diz que também é curadora. Não sei, no site oficial de McMurray (www.jacobmcmurray.com/Hendrix-Hits-Londonwww.jacobmcmurray.com/Hendrix-Hits-London) o nome dela sequer aparece. Sei que quando o guitarrista morreu ela tinha apenas 9 anos e, muito esperta, ótimo faro para negócios, hoje é presidente da empresa que cuida dos interesses ($$$) da família Hendrix. Aliás, toda a família está empregada na empresa.

Janie, que andou até por Niterói nos anos 1990, deveria estudar um pouco mais a biografia do meio irmão Jimi antes de falar asneiras por aí. Por exemplo, ela disse ao site Classic Bands que Jimi estava muito feliz dois meses antes de morrer (ela o viu, pela última – dizem que única – vez em 26 de julho de 1970), animado com o estúdio que tinha acabado de inaugurar (Electric Lady, em Nova Iorque) e com a turnê que iria fazer pela Europa.

Não é verdade, Janie. Jimi estava deprimido, em crise quanto aos rumos que sua música iria tomar, falido porque foi roubado por todo mundo e só dormia a base de tranquilizantes fortíssimos. Você cometeu outra asneira ao dizer ao Classic Bands que o sonho de seu meio irmão era fazer um som tipo Earth, Wind and Fire. Quanta bobagem.

Historinha que a meia irmã de Hendrix deveria ler:

Em 1966 Hendrix estava tocando no bar Café Wha? no Greenwich Village (Nova Iorque) e lutando para fazer sucesso com o seu grupo Jimmy James and The Blue Flames.

Uma noite, o ex-baixista do The Animals Chas Chandler foi lá vê-lo tocar. Chandler prometeu que ele poderia fazer Hendrix uma estrela se ele se mudasse para a Inglaterra dois dias depois. Hendrix concordou, com uma condição: que Chandler o apresentasse aos deuses da guitarra Jeff Beck e Eric Clapton, amos britânicos.

Uma semana depois de chegar a Londres, Hendrix e Chandler convidaram o baixista Noel Redding e o baterista Mitch Mitchell para criar Experience, na minha opinião o melhor grupo de Jimi Hendrix. Como um raio, o trio tomou a cena da swinging London. Ao longo dos próximos nove meses o trio excursionou sem parar, lançou três singles e um álbum de estreia que ficou no topo das paradas, e conquistou a imprensa musical britânica.

Nove meses depois de conquistar o Reino Unido, Hendrix se despediu de Londres com um show no Teatro Saville, quebrando sua guitarra psicodélica pintada em homenagem a Inglaterra. Duas semanas depois, Paul McCartney (fã de carteirinha do músico) ligou para John Phillips (do Mamas & Papas) que estava organizando o festival de Monterey, indicando o nome de Jimi. Ele apresentou-se para a América com uma performance incendiária para no festival.

Desconhecido nos EUA antes do festival, virou uma estrela internacional, mas sempre chamava Londres de “minha casa”, já que até o Festival de Monterey foi renegado nos Estados Unidos.

Sem Londres seus dons musicais não teriam atingido o público mundial. Hendrix tinha o talento, o carisma e a ambição, enquanto Chas Chandler tinhas as influências e as conexões. Mas swinging London teve a moda, a música e a cultura única que se mostrou vital para o sucesso de Hendrix.


O massacre continua: micos baianos comem passarinhos e desequilibram ambiente no Rio e em Niterói

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Voltei ontem a um belo parque que existe em Icaraí (Niterói) chamado Campo de São Bento. Numa rua próxima, mais uma vez, vários ninhos de sabiás foram destruídos por micos. Na Região Oceânica, um amigo que já havia recebido um casal de sabiás três vezes, que fez ninho e teve filhotes num canto perto da garagem de sua casa, foram comidos pelos micos.

A praga dos micos se espalha por Icaraí, São Francisco e Ingá, bairros de Niterói. No Rio, dizem que estão castrando esses símios, mas a população não para de crescer, em especial no entorno do Jardim Botânico.

Tempos atrás escrevi aqui que a imbecilidade humana não tem limites. Nos anos 1980, espíritos de porco trouxeram da Bahia duas espécies de micos que são carnívoros, entre elas o mico-leão-da-cara dourada, ou leontopithecus chrysomelas que come filhotes de passarinhos e ovos, ameaçando de extinção sabiás, sanhaços, bentevis.

Pior: alguns asnos dão comida para esses micos, cuja população em Niterói (me informam veterinários) já passou das duas mil espécies. No Rio, mais de 15 mil. Tentando a salvação, os passarinhos pedem socorro ao mesmo ser humano que teve a boçal ideia de, mais uma vez, detonar o equilíbrio ambiental. Estão fazendo ninhos dentro de apartamentos, garagens, varandas, de preferência em áreas densamente urbanas.

Por isso, ouço sabiás cantando perto de minha janela e, em determinado momento, comemorei. Erro! O canto é de desespero. Sabiás vem para a cidade fugindo dos algozes símios da Bahia que alguns bípedes ditos inteligentes trouxeram de lá.

As perguntas que me rondam: 1) Como vão resolver o problema? Li no jornal que começaram a castrar esses micos, mas já informaram que é muito difícil capturá-los; 2 – Por que as pessoas dão comida aos símios, interferindo diretamente no ciclo ambiental?; 3 – Por que os imbecis trouxeram esses micos da Bahia para cá? Qual era o objetivo?


Cartas nos Comentários.

Figuraça de hoje: Jim Marshall, o inventor do megafone do rock

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    Jim Marshall
    Parede de Marshalls
    Jimi Hendrix
         Eric Clapton
    Jimmy Page
James Charles "Jim" Marshall (29 de julho de 1923 - 5 de abril de 2012) conhecido como o “pai do volume” ou “senhor da pauleira” foi um empresário inglês e pioneiro da amplificação de guitarra.

Sua empresa, a Marshall Amplification, criou os equipamentos que são usados por alguns dos maiores nomes do música rock, transformando os amps em ícones do rock and roll. Entre os músicos que usaram (e usam) Marshall a vida toda estão Jimi Hendrix, Jimmy Page, Eric Clapton, Ritchie Blackmore, entre muitos outros.

Em 2003, Jim Marshall foi premiado pelo governo inglês pelos "serviços a indústria da música e à caridade ". Ele é considerado um dos pais de equipamentos de rock, juntamente com Leo Fender e Les Paul .

Em 1960, Marshall era dono de uma loja de música em Hanwell, oeste de Londres, que vendia bateria  mas em seguida especializou-se em guitarras. Seus muitos clientes incluíam Ritchie Blackmore, Big Jim Sullivan e Pete Townshend que queria um tipo de amplificador, "maior e mais alto". Jim não perdeu a oportunidade.

Contratou o aprendiz de eletrônica Dudley Craven de 18 anos, que estava anteriormente trabalhando para gravadora EMI e, com a ajuda dele, começou a produzir amplificadores protótipos, resultando na fundação da Marshall Amplification, em 1962. Dudley fez seis tentativas para criar o amplificador que Jim Marshall achava ideal e foi testado por Pete Townsend, do The Who, que batizou "o som Marshall", que revolucionou a música.

Enquanto a empresa crescia, Marshall expandiu seus produtos e lançou vários modelos de amplificadores. Assim que começou a produção em série músicos como Jimi Hendrix, Eric Clapton e Jimmy Page estavam usando seu equipamento. A "pilha de Marshall", uma parede de preto, armários revestidos de vinil, um sobre o outro, era visto como a personificação física do poder, a majestade de rock.

Jim Marshall morreu em 5 de abril de 2012 em um hospício em Milton Keynes, Buckinghamshire. Ele tinha 88 anos. Músicos incluindo Paul McCartney, Slash, Dave Mustaine do Megadeath, e o baixista Nikki Sixx do Mötley Crüe prestaram homenagens a ele.


Todos os anos, em 5 de abril guitarristas de todo o mundo gravam vídeos contendo um minuto de esporro, em vez de 1 minuto de silêncio, como um tributo ao criador do Marshall. 

Quando a existencialista avenida Brasil elegeu Nebraska, obra prima de Bruce Springsteen

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A avenida Brasil parece íntima, mas não é. Nos anos 1970, 80, 90, 2000, subi e desci suas pistas literalmente milhares de vezes. Em busca de notícias, de mulheres que me incendiaram, casa de amigos. Conheço cada pista, cada palmo, cada faixa, mureta da avenida Brasil, mas ainda a estranho. Por que? Porque ela sempre me estranhou e vai me estranhar sempre.

A avenida Brasil é existencialista, despreza o amanhã, ignora o ontem. Ali o que vale é o agora, o bang bang afetivo, o caos que eventualmente se torna Cosmos. Ou não. É pegar ou largar. Quem desiste não volta, quem insiste demais bate de frente.

Se eu fosse Bruce Springsteen teria composto Nebraska, sua obra prima, em algum ponto daquela torta avenida e seu asfalto roto que liga a tristeza a esperança, o sorriso ao nó na garganta, o nada ao lugar nenhum, nervos nublados a euforia existencial. Façam os jogos, senhores. A avenida Brasil é o pano verde de cada dia, onde milhares de pessoas jogam todas as suas fichas, dia sim o outro também.

Nebraska, canção que abre o álbum, fala de um degenerado executado na cadeira elétrica. A avenida Brasil também olha, prende, julga, condena e mata. E não é preciso ser o degenerado descrito por Springsteen e muito menos o assassino do árabe de “O Estrangeiro” de Albert Camus. Basta ser gente. Gente que vai e não volta. Gente que volta e não vai. Os sulcos da avenida, volta e meia salpicados de sangue, jogam na vala. Vala comum. Vala incomum.

Avenida Brasil, Nebraska nosso de cada dia. Sem gaita, sem voz, sem violão. Apenas um som. Ermo, brusco, surdo, como os baques, os beijos, o soco, a bruma, a fumaça. Nebraska, sim.

Sempre.
                                                     
Nebraska

(Bruce Springsteen)

I saw her standin' on her front lawn just twirlin' her baton
Me and her went for a ride sir and ten innocent people died

From the town of Lincoln Nebraska with a sawed-off .410 on my lap
Through to the badlands of Wyoming I killed everything in my path

I can't say that I'm sorry for the things that we done
At least for a little while sir me and her we had us some fun

The jury brought in a guilty verdict and the judge he sentenced me to death
Midnight in a prison storeroom with leather straps across my chest

Sheriff when the man pulls that switch sir and snaps my poor neck back
You make sure my pretty baby is sittin' right there on my lap

They declared me unfit to live said into that great void my soul'd
Be hurled
They wanted to know why I did what I did
Well sir I guess there's just a meanness in this world




Na TV, a incrível história das entrevistas do Pasquim

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O secular colega Ricky Goodwin, editor das célebres entrevistas do Pasquim, vibra muito. Com razão. Está confirmada a série “As Entrevistas do Pasquim” no Canal Brasil. Serão 13 episódios, dirigidos pelo Ricky, que deverão estar no ar em outubro.     

Parido quase clandestinamente em 26 de junho de 1969 por Ziraldo, Henfil, Jaguar, Paulo Francis, Ivan Lessa, Tarso de Castro, Flávio Rangel, enfim, pela grossa flor da intelectualidade carioca, o jornal conseguiu desmoralizar a imoralidade, se é que isso faz algum sentido.

Comecei a escrever no Pasquim em meados dos anos 70 e, acima de tudo, convivi cara a cara com meus heróis. Tive o privilégio de vê-los atuando, escrevendo, bebendo, brigando, criando, revolucionando, anarquizando, sacaneando, no quartel general do jornal que funcionava numa casa de três andares e dezenas de degraus de escadaria íngreme na rua Saint Roman, em Copacabana, dentro do morro do Pavãozinho.                                                                         

Além de artigos, participei de muitas entrevistas e escrevia também para as Dicas do Pasquim, páginas de notas curtas, ácidas, debochadas e verdadeiras como zarabatanas vietnamitas. Não sei quantas vezes cheguei no pé da subida da Saint Roman e fui obrigado a encostar num botequim enchendo a cara de caldo de cana porque o jornal estava invadido pela tigrada da ditadura (tigrada é uma magistral invenção de Élio Gaspari) que, indignada, eventualmente metia o pé na porta e revirava tudo, "just like a swindler justice officer" (como um oficial de justiça vigarista), diria Paulo Francis.

E, é claro, empastelava (amordaçava) aquela edição do jornal. Como eu ainda não era formado e Ziraldo cismava que era irmão mais velho do mundo, eu estava terminantemente proibido de me aproximar da casa. "Vai que você toma um 477 nos cornos seu put.....", ele explicava. Explico: 477 foi um decreto, filho do AI-5 que expurgava de qualquer escola ou faculdade elementos que a ditadura julgava "subversivos" ou "danosos ao bem estar da nação, a moral e aos bons costumes". Quer saber, caro leitor? Não sei como não tomei um 477 dentro da faculdade e quem estudou comigo sabe por que.

Jaguar, o ex-bêbado mais lúcido que conheço, elogiava minha disciplina. "Se você for em cana não vai sobrar ninguém pra dar a descarga". Gosto do Jaguar e ele diz que gosta de mim, mas faz uma ressalva: "você tem essa deformação etílica, essa mania de não beber e isso te joga no abismo de meus conceitos".                                                                  

Essa série de TV sobre as antológicas entrevistas do Pasquim vai fazer com que muita gente da nova geração conheça um país que, apesar do pau-de-arara, das perseguição, da covardia dos gorilas, conseguia criar, pensar, refletir. Não vou encher o saco com papo-cabeça dizendo que o Brasil já foi menos anta, mas o Brasil já foi menos anta.

Uma vez presenciei um ataque de fúria de Paulo Francis, dois dias após uma invasão da tigrada. Ele espumava e berrava "eu vou me imbecilizar, eu quero virar imbecil, ir pra porta do Ponto Frio pra ver fogão novo chegar e TV a cores passando jogo de futebol. Eu vou me lobotomizar no Maracanã lotado e brigar na arquibancada, apanhar e bater vestindo camisa de escroto...eu vou desfilar como alegoria de torturador-bicheiro-traficante-sambista na avenida porque eu sou uma alegoria popular. Eu sou um merda porque penso, reflito, sinto...mas ainda bem que bebo até cair (na época), exatamente como essa escrotália gosta!"

O Pasquim não era só risada. Aliás, só um búfalo pantaneiro acha que O Pasquim era um mar de gargalhadas. Não foram 30, nem 60 vezes que vi “dona” Nelma Quadros, amiga de todos nós (e minha em particular), chorar porque um "pasquiniano" havia sido preso, ou, pior, estava desaparecido. Não, eu não fui "pasquiniano" porque seria muita prepotência afirmar. Eu apenas escrevia no Pasquim e via os caras mandarem ver. Um deles (me concedo um off) tinha um estilingue. Estilingue do nordeste, borracha grossa, alta potência. Ia lá para o último andar da casa e, usando bilha de rolimã, acertava falsos funcionários da companhia telefônica (na verdade agentes da ditadura) que ficavam pendurados nos postes da Saint Roman ouvindo as conversas da redação. "Menos um!!!!", comemorava essa grande figura quando derrubava um deles.

Burra, a ditadura achava que as estilingadas partiam da favela e, como sempre se borrava de medo de favela, ficava quieta. As Veraneios pretas (camburões da Chevrolet que serviam as polícias oficial e clandestina) rondavam o jornal como hienas 24 horas por dia. Gozado, ainda hoje os camburões são Chevrolet, só que Blazer. Deve ser coincidência ou resíduo paranoico.

O Pasquim, apesar de nanico, era grandioso demais para abrigar a unanimidade, irmã mais velha da mediocridade. A primeira grande entrevista de Leonel Brizola, quando retornou do exílio, também foi ao Pasquim. Ídem com Gabeira e outros banidos que regressaram ao país depois da Anistia em 1979.

Nas asas do iconoclasta e imbatível humor carioca, O Pasquim não fez história. Ele fez a História. E eu vi quase tudo! Eu estava lá com os meus ídolos, jamais de igual para igual porque o temor reverencial ergue muralhas intransponíveis.

Mas percebi que quanto mais geniais eram os "pasquinianos" mais simples e generosos se mostravam no trato com os outros e com os erros dos mais novos. Tomei bronca, jamais esculacho, ofensa, humilhação. Mas ai daquele que não conhecesse Português e História. Felizmente nunca aconteceu de eu ter que perguntar quem era quem ou duvidar de um X , Z ou S. Talvez eles perdessem completamente a cabeça diante de um ato imbecil porque, como dizia Tarso de Castro "mula sem cabeça aqui dão come".                                                                     







Relógio Biológico

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São exatamente 2 e 14 da madrugada quando acordo mansamente, sem sobressaltos. Como se fosse seis da manhã para um triatleta. Rondo pela casa, ligo a TV e compro um travesseiro num programa de vendas pelo telefone. 

Segundo o anúncio, o tal travesseiro é um bálsamo de espuma, capaz de corrigir todos os problemas de coluna. O locutor diz que com esse travesseiro temos um sonho “reparador”. Só não prometeu que acordamos ao som de canários belgas porque a empresa fica em São Paulo. Garantiu que quem não ficasse satisfeito com o travesseiro teria seu dinheiro de volta.

Os caras são craques. Duas e 14 de um dia de semana é o momento ideal para veicular um anúncio de travesseiro. Liguei, passei o número do cartão de crédito e a mocinha encrencou. Queria colocar Niterói como cidade do interior do estado, o que significava que eu teria que buscar a encomenda no correio. 

Expliquei a paulistinha que Niterói fica, de barca, a oito quilômetros do centro do Rio. Ela não entendeu, coitadinha, mas acabei comprando o travesseiro assim mesmo. Vou buscar na agência de correios mais próxima, que nunca é próxima, quando chegar.

Fui até a varanda (essa noite foi em Itapu, anos 1990) e reguei as plantas. Estão bonitas depois que comecei a usar o fertilizante 10-10-10. Aproveitei e fiz um pouco de xixi nelas. Dizem que faz bem. A mim faz. Gosto de sentir o xixi batendo na terra, produzindo um aroma de Mauá, Lumiar, São Pedro da Serra, Macaé de Cima.

Tem gente que fica muito angustiada quando acorda no chamado “meio da noite”. Como para mim é rotina, não sinto nada. Apenas a calma da madrugada, telefones mudos, e-mail calado, tanto que já escrevi até aqui se interrupção.

Já li e ouvi muito sobre o chamado relógio biológico. Aparentemente durmo mal, mas uma vez li numa revista de ante sala que o tipo de sono que tenho se chama “flash”. Durmo e acordo várias vezes. De fato não é tão bom quanto o sono sem escalas, aquele que você deita a meia noite e acorda as oito na mesma posição.

Mas o fato das comunicações estarem a minha disposição de madrugada me trouxe esse vício. Posso dar um giro pela internet sem ser importunado, sapatear nos satélites, conversar com o Congo. De madrugada tenho a sensação de que posso fazer tudo porque tudo funciona.

Meu relógio biológico é oportunista e prático. Em geral durmo cedo sexta e sábado para atravessar o dia seguinte na praia. E praia vou o ano inteiro porque concluí que não existem praias feias com chuva, com tempo nublado ou em plena tempestade. As praias são lindas de qualquer jeito.

Na praia de Itaipu quando chove e o vento trás aquela bruma branca ela parece com a costa da Escócia, que conheço via cinema. Nos dias frios, de céu azul profundo, lembra a Indonésia. Já sob densa tempestade lembra a capa de “Love Over Gold”, um dos grandes discos do Dire Straits. É por isso que tenho certeza de que Itaipu é a mais gostosa das filhas de Ryan.

Não sei se o fato de trabalhar 13 horas por dia interfere no meu relógio biológico. Há quem diga que isso é estresse. Só que eu nunca estou estressado, eu sou estressado. Gosto de trabalhar sob pressão, do desafio dos prazos, e quando perdi meu primeiro computador, cuja placa mãe derreteu por causa de não sei o que, fantasiei algo do tipo “nem os computadores resistem a mim...”. Quanta babaquice.

Uma vez disseram que sou masoquista, que gasto muita energia, etc. Só que, em 1985, experimentei ficar sem fazer nada durante três meses. Larguei tudo. Em menos de 20 dias estava de volta ao jornal, de joelhos, pedindo perdão. 

Dormia o dia inteiro, comia pouco, tinha sonhos melancólicos, que depressão! Isso sim é masoquismo. No dia em que levantei para voltar ao jornal, fui fazer a barba e vi, no espelho, que estava com aquele semblante típico dos “à toas”. O suor cheira a naftalina, a cobertor das Casas Pernambucanas.

É evidente que não pretendo fazer apologia do sono “flash”, da popular e temida insônia. José Maria Monteiro de Barros (saudade desse meu amigo) me fez observar com calma aves e mamíferos. Fora as criaturas da noite, todos se recolhem no crepúsculo e se levantam na alvorada. Leio numa que os primeiros homens dormiam cedo e acordavam cedo. O que me assustou no texto foi a média de vida deles: 16 anos.

Essa lenda de relógio biológico só deve ser terrível para as pessoas que não gostam de dormir de dia ou sofrem amargamente com a solidão. Quem vira uma noite, no início da carreira, tem que se habituar com dois sons altamente depressivos: 1) Caminhão de leite; 2) Canto dos pardais e bentevis. Já quem convive mal com o dia e ama a noite é obrigado a engolir outros dois sons, também tristíssimos, de fim de tarde: 1) Canto de cigarra; 2) Sirene de obra informando que o acabou o expediente. É horrível.

Já tentei acertar meu relógio biológico para ficar mais próximo da lânguida rotina da humanidade. De 1974 a 1976 trabalhei no horário das 5 da manhã ao meio dia. Rádio tem dessas coisas. Uma ótima oportunidade para acertar o tal relógio. Não deu. Chegava em casa, tomava um banho, almoçava e dormia até as seis da tarde. A noite ia para a gandaia, ou para a faculdade, que na verdade eram a mesma coisa.

Mas pouca coisa foi pior do que uma noite em que acordei as 3 horas numa pousada na serra da Bocaina, sem luz, sem livros (ler à luz de velas é terrível) e, ainda por cima, chovendo. Confesso que sofri. Sofri mais ainda com o barulho de um rio que me deixou alucinado, com uma estúpida vontade de desligá-lo. Não tem jeito. Sou bicho do mar mesmo.


Em suma, o relógio biológico não é atômico e muito menos Rolex. O meu é um paraguaio, desses de camelô. E com licença que já são quatro da matina e preciso rever “O Resgate do Soldado Ryan” no DVD. O "meu" filme.


Um amigo vale mais do que zaralhadas de partidos e eleições

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Ano que vem teremos nova campanha politica mas percebo que o tumulto já começou. Semana passada vi dois sujeitosque são amigos baterem boca numa esquina. Motivo: discussão sobre eleições. Acabei me metendo na confusão para esfriar o clima e, lá pelas tantas, disse sei lá porque algo do gênero $a politica não nos merece$. Ponto.

Quando os dois pararam de discutir (a coisa caminhava para uma grossa pancadaria) e fomos, os três, tomar um café numa padaria. Falamos do peso imensuravel de uma amizade perante as coisas da vida. Coisas de uma maneira geral e, em particular, política, eleições.

O curioso é que ambos são eleitores com o perfil muito parecido, mas um disse que um candidato do outro é um salafrário, as ofensas foram se amplificando e os dois acabaram se xingando mutuamente, chegando muito perto da bofetada. Coisas da paixão, do estresse, enfim, temas como política e futebol descabelam as pessoas. Alguns se tornam temporariamente insanos e partem para o desatino amplo, geral e irrestrito.

Se esses dois (que conheço há algum tempo) quase se estapearam, mas chegaram a um acordo. Em outras eleições lembro que não foi bem assim. Já levei para o hospital gente atingida por pau de bandeira no rosto, isso sem falar de tapas, socos, chutes, garrafadas, enfim, os temas apaixonantes tem o poder de nos fazer retornar a condição de primatas. Aí, passa o tempo (as vezes, muito tempo) e concluímos que fomos ridículos e, por conta disso, perdemos um, dois, três, vários preciosos amigos.

Ando cada vez mais moderado. Quando carregamos a bandeira de candidatos corremos o risco de ouvir piadinhas de militantes do outro lado. Na ultima campanha o pau comeu feio, muito feio. Dizem que com o passar do tempo vamos nos tornando mais plácidos. Que bom! Imaginem se fosse o contrário.
Daqui a pouco tudo de novo. “Santinhos” eleitorais no Facebook, alguém vai gritar “campanha política aqui, não!”, como se aquele espaço não fosse público e sim exclusivo de gênios olimpo da filosofia contemporânea, quando na verdade até ditados no estilo “o pluto é filho da pluta” eu já vi lá. E teve quem achou graça.

O Facebook pertence a uns norte-americanos espertos, inteligentes, nerds que o inventaram, encheram a rabiola de dinheiro e hoje também são donos da Califórnia. Nós somos inquilinos gratuitos dessa invenção onde, seguindo as regras lacerdistas (leia-se falso moralistas) deles, somos submetidos a uma série de normas de conduta que, fácil fácil, podemos chamar de censura. Mas, o espaço é privado.

Muitos vivenciaram, e a história confirmou, que o Brasil ficou anos e mais anos no limbo da democracia. Gente morrendo, gente sendo torturada, gente perseguida, exilada, lutando pela liberdade de um modo geral e, pela democracia de uma forma mais precisa. Em outras palavras, lutamos muito para poder ir até a urna e votar, um direito que se tornou sagrado.

Por isso, sou extremamente tolerante com aqueles que postam seus panfletos eleitorais no Facebook, apesar de achar que eles deveriam usar somente os seus murais e não o de todo mundo, como volta e meia vejo. As redes sociais nasceram da necessidade de comunicação instantânea entre os animais racionais que tem acesso a alta tecnologia. Por que as campanhas políticas ficariam de fora? No Facebook dos Estados Unidos o pau está comendo entre os candidatos de democratas e republicanos.

Defendo a propaganda política no Facebook, Twitter e Google +. Defendo e pratico porque sou um daqueles milhões que sentiu muita saudade da democracia quando ela foi banida do país e quase não voltou mais. Mas, como sou democrata, também defendo o direito de todos de deletarem o que quiserem do Facebook, do Twitter, da internet e da vida.


Menos a amizade.

O bolinador de Tel Aviv e a bandeirinha de Magé

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Para quem não conhece, Magé é a capital fluminense do absurdo. Calor absurdo, buracos absurdos, humor absurdo, falta d´água absurda, mulheres maravilhosamente absurdas. Fica no calcanhar da Serra de Teresópolis e nos anos 1970 um vereador de lá protestou enlouquecidamente nos jornais.
Indignado com uma publicidade de Teresópolis utilizando a imagem do Dedo de Deus, o vereador berrava que a bela montanha não pertencia a Teresópolis e sim a Magé. Um político teresopolitano, notório apreciador de aguardentes em geral, estava na pastelaria do China, que na verdade era filipino, fincada na Várzea (centro da cidade) e disparou: “Ah, o Dedo é de Magé? Então bota numa Kombi e leva, vereador!”.
A partir daí, lenda, pura lenda. O povo diz que o vereador mageense apareceu na pastelaria com uma arma na cintura procurando o político para “meter uma bala nos cornos daquele viado campeiro, porque se é de Teresópolis é viado campeiro sim”. Diante do calibre da arma do político, ninguém questionou.
Magé, cidade onde, também nos anos 1970, um grande amigo meu, míope, desviou de uma vaca que atravessava a rua, bateu com a roda do carro no meio fio e capotou. Quase desmaiado ao volante, Bidú ouviu o comentário “vamos ter que operar a cabeça dele”. Meu amigo voltou ao ar. Berrou “ninguém mete a porra da mão em mim”. Foi salvo por uma ambulância que, fora da rota (o motorista foi levar a amante em casa), passava por Magé. Recolheu meu amigo e o levou para o Hospital Antonio Pedro, em Niterói, que já foi uma referência nacional em emergência (fechada há anos) e os médicos o salvaram operando, de fato, a sua cabeça.
Tive um tórrido e proibido romance com uma mageense que era recepcionista de um jornal onde eu trabalhava. Ela estava estudando para ser bandeirinha de futebol, mas não direi mais nada porque os meus amigos e colegas já estão sabendo de quem estou falando. Ela saiu do jornal quando o Bolinador de Tel Aviv saiu do elevador, não conteve uma crise de alta libido e se atirou na recepcionista, agarrando seus belos seios balbuciando frases desconexas.Foi um escândalo que resultou na demissão de todas as recepcionistas do jornal, substituídas por homens. 99,9% dos jornalistas romperam relações com o Bolinador de Tel Aviv (ele continuou lá)e 0,1% restante era gay.
Uma hora após o ataque (que ocorreu por volta das duas da tarde), ela me ligou pelo interno. “Já soube, paixão?”. Eu disse que sim, que estava preocupado, indignado, injuriado. Ela prosseguiu dizendo que “querem que eu processe aquele senhor, mas eu não vou processar não...dá muito trabalho...mas eu não liguei para isso, não”. Enquanto terminava de editar uma entrevista sobre a usina nuclear de Angra, perguntei “ligou para que?”. Ela me pediu que a levasse a Magé a noite. “Hoje não vai dar para dormir no nosso cafofo, paixão. Vou ter que ir a Magé porque parece que esse ataque do tarado deu até no rádio. Tenho que ver mamãe, papai, sabe como é?”.
Concordei em levá-la a Magé, pois adorava concordar com os desejos dela. Liguei para o hotelzinho em Benfica, perto da rua Capitão Abdalla Chama, vulgo rua dos Lustres, onde só tem lojas de luminárias, lâmpadas, lustres em geral e falei com Jonas, gerente, camareiro, garçom e vigia, cancelando a reserva do cafofo aquela noite.
As sete e meia da noite, escondidos no meu carro, peguei-a num ponto de ônibus perto do jornal e rumamos para Magé. Chateada, preocupada, visivelmente tensa, ela rapidamente acendeu um cigarro e jogou a cabeça no meu colo pagando um boquete digno de Oscar+ Grammy+Mega Sena+Bingo clandestino.
Embolados como dois caranguejos ouvindo Nação Zumbi, singramos a avenida Brasil como os protagonistas de “Black Emanuelle”, o filme erótico menos hipócrita que já assisti. Quando chegamos na altura da Reduc eu estava completamentenu. Não é simbolismo. Estava nu mesmo, da cabeça aos pés e mirei o carro na porta do Motel Pisca Pisca que, eu sabia, aceitava cheque pré-datado.
Como duas capivaras no cio atravessamos a noite. Só paramos no Corujão, televisãozinha Philco caindo aos pedaços, mostrando o que achei se tratar de um filme de terror. Não me contive e fiz o que gostava de fazer: acendi a luz do teto e brinquei de galeto na brasa, sabe como é? Não sabe? Você pede para ela ficar girando e você contempla aquela obra de arte murmurando para si mesmo “coisa linda...coisa linda, isso é bossa nova, isso é muito natural”.
Cinco da manhã. Ela entrava no jornal as nove e eu uma e meia da tarde. Acabou que Magé dançou, mas ela conseguiu convencer a telefonista do motel a ligar para lá dizendo que estava na casa de Fulaninha, que de manhã cedo ia a Casa das Linhas trocar um presente e de lá direto para o jornal.
Fiz uma manobra absurda, boçal, inglória mas consegui chegar no posto do Alemão onde tomamos o café da manhã. Saímos e, a poucos metros do posto, puf puf puf, acabou a gasolina. Desci, peguei um galão no posto, pus dois litros, paguei um menor abandonado para tirar o filtro de ar e despejar a gasolina, o carro pegou, dei marcha a ré no acostamento, pus mais um quarto de gasolina (estava duro), saí e as oito e quarenta deixei minha bandeirinha perto do jornal. De lá, fui para um hotel meia estrela perto da rodoviária Novo Rio (que também aceitava chequepré-datado) e dormi até meio dia e meia.
Quando cheguei ao jornal, uma da tarde em ponto, a notícia. O Bolinador de Tel Aviv fora mantido e todas as recepcionistas demitidas. Luto no prédio. Luto total. Fui falar com ela. Estava de olheiras, tadinha. Pediu para ficar comigo. Claro. Saiu do jornal as três da tarde e foi me esperar em nosso Cafofo em Benfica, onde ficamos internados quatro dias e cinco noites. Era semana santa. Foi quando descobri que estava apaixonado pela bandeirinha de Magé que, pena, casou 15 dias depois.
P.S. – Falarei mais de Magé outro dia. A saudade me pegou e por isso dediquei essa quase crônica a ela, codinome Nicole.



Prefeito Rodrigo Neves, armar a Guarda Municipal é, no mínimo, irresponsável de sua parte

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Excelentíssimo Senhor Prefeito de Niterói, Rodrigo Neves

Estarrecido como boa parte da cidade (gosto de andar por Niterói ouvindo os concidadãos) li a reportagem do Globo-Niterói desta sexta-feira, dia 5 de junho.

Manchete: Niterói inicia processo para que agentes da Guarda Municipal atuem com armas de foto. Reportagem de Igor Mello.

“Niterói está prestes a ser a primeira cidade da Região Metropolitana do Rio a contar com guardas municipais armados nas ruas, a exemplo do que já acontece em cidades como São Paulo, Florianópolis, Porto Alegre, Vitória e Curitiba — como antecipou O GLOBO-Niterói em novembro. A prefeitura iniciará na semana que vem o processo junto à Polícia Federal (PF) para permitir à Guarda Municipal (GM) operar com armas de fogo. De acordo com o prefeito Rodrigo Neves, as tratativas começaram na semana passada, durante uma visita às obras do Centro Integrado de Segurança Pública (Cisp). Na semana que vem, a prefeitura deve apresentar o protocolo de intenções, documento que inicia o processo junto à PF.(...)”

Andei por Icaraí e Ingá. Mais tarde, de carro, fui a São Francisco e Santa Rosa para resolver assuntos pessoais, mas sempre abordando as pessoas sobre o assunto. Senhor prefeito, a maioria acha que armar a Guarda Municipal seria inconstitucional. Não sabiam que a presidente Dilma Rousseff assinou a Lei número 13.022 de 8 de agosto de 2014 que, secamente, diz em seu artigo 16o.:


“Aos guardas municipais é autorizado o porte de arma de fogo, conforme previsto em lei.” 

Sabemos que no ano que vem haverá eleição municipal e que o senhor vai concorrer a reeleição, mas penso que tudo na vida (até na vida política) tem um limite. Responder a angústia da população de Niterói, refém do crime, da bandidagem, do descalabro administrativo transformando a Guarda Municipal numa milícia, me parece insano.


Pelo que ouço nas ruas (e aqui nesta Coluna) é que as pessoas exigem que o senhor arranque do governador mais policiais para a cidade. A população sabe muito bem que com a instalação das UPPs no Rio, boa parte do crime organizado mudou-se, com  seus AK 47 e AR 15, para Niterói. 

Penso que caberia ao senhor, como prefeito, exigir que o governador tomasse várias atitudades, resolvendo, por exemplo, essa infame situação do 12o. Batalhão da PM que atende a Niterói e Maricá, que conta com minguados 700 e poucos homens. O que é isso? Como o senhor admite isso? Pior: em 1974, antes da fusão com o Rio, o mesmo 12o. Batalhão tinha cerca de 1.800 homens.


Mas ao que parece segundo a sua ótica, armar a Guarda Municipal dá mais visibilidade eleitoral. Será? Não quero nem entrar na questão partidária, que o senhor como uma estrela do PT, teoricamente teria força junto a presidente Dilma, também petista, para melhorar as coisas por aqui. Não irei por esse caminho. O que nos assombra é, da noite para o dia, armar mais de 400 homens e mulheres de uma Guarda sem consultar a população. 

Ano passado, um leitor de 87 anos, me mandou um e-mail diendo que estava precisando de uma informação sobre uma linha de ônibus, ali na rua Barão do Amazonas perto do Jardim São João. Eram duas da tarde e dois guardas municipais caminhavam. Ele se dirigiu aos dois, perguntou pela linha de ônibus e sabe o que ouviu?. “Isso não é conosco”. Os dois viraram as costas e seguiram frente.

O senhor dirá que é um episódio “pontual”, mas eu quase fui destratado por um guarda seu no Campo de São Bento, também no ano passado, quando defendi uma idosa, flagelada, pobre, que o guarda queria por para fora do lugar. Ela não fazia nada, apenas descansava numa sombra. 

Esqueci o escabroso valor do IPTU que pago, ignorei o fato de ser um cidadão e decidi resolver de homem para homem. Senhor prefeito, se o seu guarda estivesse armado teria me matado, com certeza, mas, desarmado, ele não atirou  e nem jogou “a velha fora” (ele disse isso!) e se afastou de mim. Várias pessoas, contribuintes como eu, apoiaram a pobre senhora.

Não sei onde o senhor nasceu, nem onde passou a infância e a adolescência, mas com toda a franqueza acho essa sua insana atitude típica de quem não conhece a população desta cidade; solidária, generosa, pacífica. Preparar homens armados é um problema grave para as Forças Armadas (sou reservista, filho de oficial de alta patente reformado), para a Polícia Militar (basta ler os jornais), enfim, é uma questão dramática.

O senhor acha que pode armar uma guarda do dia para a noite, a toque de caixa. Mesmo com o suporte da Polícia Federal eu e várias pessoas achamos que o seu governo vai abrir a era do banho de sangue. Até as pessoas que o criticam, afirmando que sua prioridade é fazer o povo andar de bicicleta, deixaram esse e outros temas de lado (saúde um caos, por exemplo) por causa dessa nova milícia que surge no horizonte, com a sua chancela, anuência e empenho.

Exagero meu? Não, senhor prefeito. Não é exagero não. 

É vivência.

Figuraça de Hoje: Luiz Carlos Lacerda, o Bigode, cineasta

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                                     Bastidores do novo filme                                                                          
   Luiz Carlos Lacerda com o amigo Nelson Pereira dos Santos
Cineasta, roteirista e produtor carioca, Luiz Carlos Lacerda, o Bigode, lança em breve mais um filmaço: “Introdução a Música do Sangue”, com Ney Latorraca, Bete Mendes, Armando Babaioff e Greta Antoine.

Há 50 anos ele recebeu de Lúcio Cardoso o roteiro.
Bigode contou ao site Divirta-se Uai que “Lúcio me entregou um papel, mas não entendi nada do que falou”, relembra enquanto passeia pela plataforma da antiga estação de trem de Abaíba, lugarejo entre Cataguases e Leopoldina, na Zona da Mata, a 340 quilômetros de BH. O cineasta descreve a cena de 50 anos atrás, quando o escritor mineiro Lúcio Cardoso lhe deu o argumento de Introdução à música do sangue.

“Foi Lelena Cardoso, a irmã de Lúcio, quem ajudou o jovem aspirante a diretor a entender o recado, pois a fala do escritor ficara comprometida depois de ele sofrer um acidente vascular cerebral (AVC). “Isto aqui é para você filmar um dia”, traduziu ela.
Não é exagero afirmar que Luiz Carlos Lacerda é genial. De acordo com o conceituado site Filme B, ele tem como realização muito marcante o filme Leila Diniz (1987), retrato de um dos maiores ícones femininos do país, de quem foi grande amigo.

Aos 19 anos, começou a trabalhar como assistente de direção de Onde a Terra começa, (1965) de Ruy Santos. Mas sua "escola" no cinema foi o set dos filmes de Nelson Pereira dos Santos, de quem foi assistente de direção em diversos filmes, entre eles, Azyllo muito louco(1969) e Como era gostoso o meu francês (1970).

Na área da produção, participou de Chuvas de verão (1978), de Carlos Diegues, Eu te amo (1981), de Arnaldo Jabor, e O homem da capa preta (1986), de Sérgio Rezende, entre outros. Estreou na direção com uma adaptação do romance homônimo de Lúcio Cardoso, Mãos vazias (1971). Também fez filmes publicitários, produziu seriados e novelas para a Rede Globo.

Roteirizou e dirigiu cerca de 30 curtas-metragens e vídeos, todos sobre temas ou personalidades da cultura brasileira, como Lúcio Cardoso, Cecília Meirelles, Antonio Parreiras, Barão de Itararé, entre outros. Entre 1992 e 1993, foi professor da Escuela Internacional de Cine e TV de San Antonio de Los Baños (Cuba), em 1999, passou a dar aulas de cinema da Universidade Estácio de Sá.

Filmografia selecionada:

Diretor

A mulher de longe (2012)
Casa 9 (2011)
Viva sapato! (2004)
For all – O trampolim da vitória (1997). Codirigido com Buza Ferraz.
Leila Diniz (1987)
O princípio do prazer (1978)
Mãos vazias (1971)

Roteirista

Viva sapato! (2004)
For all – O trampolim da vitória (1997). Codirigido com Buza Ferraz.
Leila Diniz (1987)
O princípio do prazer (1978)
Mãos vazias (1971)


Produtor

For all – O trampolim da vitória (1997). Codirigido com Buza Ferraz.
Leila Diniz (1987)
O rei do Rio (1978), de Fábio Barreto
O princípio do prazer (1978)

Diretor de produção

O homem da capa preta (1986), de Sérgio Rezende
Bar Esperança: o último que fecha (1982), de Hugo Carvana
Tensão no Rio (1982), de Gustavo Dahl
Eu te amo (1981), de Arnaldo Jabor
Amor bandido (1978), de Bruno Barreto
Chuvas de verão (1978), de Carlos Diegues

Assistente de direção

Amuleto de Ogum (1973), de Nelson Pereira dos Santos
Quem é Beta? (1972), de Nelson Pereira dos Santos
Como era gostoso o meu francês (1970), de Nelson Pereira dos Santos
Azyllo muito louco (1969), de Nelson Pereira dos Santos
Fome de amor (1967), de Nelson Pereira dos Santos
El justicero (1966), de Nelson Pereira dos Santos
Onde a Terra começa, (1965) de Ruy Santos

Trinta dias

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Havia um banco de cimento bem perto da praia. Pequena praia, sem ondas, estreita faixa de areia, água muito clara, transparente, mais para verde do que para azul. A canção parecia brotar das nuvens, duas, brancas, destacando o azul profundo do céu limpo, sem fumaça, sem mordaça.

Deitado no banco de cimento, sorve o som da saudade de si. Por que não? Por que não deixar que a melancolia sopre a nuvem e produza o som dos tempos, da travessia das eras, das lutas, da vida dura levada a ferro e fogo? Por que ele, somente ele, não teria direito a sua melancolia, ao silencio de seus oceanos interiores, que ele não teve tempo de conhecer? Saudade e melancolia, antigas vizinhas, por mais novas que sejam as nuvens, por mais eterno que seja o céu.

Melancolia, um direito. Como a folia, a euforia, a delírio. Saudade, dona de sons típicos e raros, que brotam de nuvens brancas e vadias, mapeando o céu como se nada mais existisse. Existe? Deitado no banco de cimento, olhos fechados, ouvindo o som das nuvens, uma lágrima escorre do olho direito.

O homem é amigo. Parceiro. Desde o dia em que bateram em suas costas e disseram “é um menino”. Será suficiente? Ele não sabe. O mundo não é espelho, o afeto não é reflexo, a saudade é mais que sensação. Livre sensação.

Tem tentado tudo. Deitado no banco de cimento, cansado, reconhece o empenho, a luta, a solidariedade. Será suficiente? Não sabe, não pode, não quer perguntar. Impossível mensurar intenções.

Busca paz. Afeto. Cores. Nuvens. Saudade, muita saudade, de um tempo que não viu por absoluta falta de tempo. As nuvens tem a resposta, mas ele só as contempla. Quieto. Como uma música. Música do acaso. Música do sonho, da vontade, música do afeto. Profundo, azul, marinho afeto.

Afeto que não se encerra.

Jamais.

Brasileiro bonzinho? Bonzinho é o cacete!

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Nós, brasileiros, não somos e nunca fomos bonzinhos. Fatos coidianos como gente que taca fogo em gente, assassinatos de crianças e idosos, as duas privadas atiradas do alto de um estádio de futebol em Recife (uma pessoa morreu) ano passado, linchamentos mostram que embaixo do chamado tecido social do Brasil, cultuado como bonzinho, reside ódio, rancor, atrocidade.

Em seu “Diário de Viagem”, o filósofo Albert Camus conta que quando esteve no Rioem 1949, ciceroneado pelo grande Abdias Nascimento, pediu para conhecer um centro de umbanda. Era agosto, um agosto mais para verão do que para inverno. Abdias providenciou um táxi e foram, ele e Camus, em direção da Baixada Fluminense onde ficava o centro. Só que, no caminho, nas imediações da Praça da Bandeira, um caminhão atropelou e matou um homem.

Antes da ambulância, da polícia e dos bombeiros, um Camus boquiaberto viu chegar um grupo de pessoas que levantava o rosto do atropelado só para ter o prazer de ver. Horrorizado ele conta ainda que em seguida, “surgidos do nada”, pedaços de jornal e velas. O corpo foi coberto, as velas acesas e as pessoas em volta. De vez em quando um ia lá e levantava o jornal para ver a cara do morto. Camus não entendeu nada e Abdias não soube explicar.

A espécie humana é perversa, uma falha que veio surfando em nosso DNA. A audiência cavalar de programas mundo cão, em todo o mundo, é uma prova disso, mas aqui no Brasil o processo é mais descarado. Simulando horror, as pessoas se amontoam em frente a TV para ver como foi feito o buraco onde umamadrasta enterrou uma criança no sul. Chegam mais perto da TV para verem as imagens da privada atingindo e matando umtorcedor de futebolno nordeste e fingem que se envergonham ao saberem que uma inocente, acusada de sequestradora, foi linchada por engano no Guarujá.

Contemplam a sua cota diária de horror, tomam um cafezinho e seguem para o lar onde, ainda na TV, pegam o controle remoto e passam a noite catando sangue.

Nos anos 1970 a atriz Kate Lyra (norte-americana, na época casada com o compositor e cantor Carlos Lyra) tinha um quadro de humor na TV cujo dobrão, debochado, era “brasileiro é tão bonzinho...”. Bonzinho é o cacete!


Laurentino Gomes, o homem que invadiu de sunga o falido palácio dos acadêmicos. “Como uma rainha louca, um príncipe medroso e uma corte corrupta enganaram Napoleão e mudaram a História de Portugal e do Brasil”

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    Foto da NASA
                                                                             
    Laurentino Gomes
Reli “1889”, última e sensacional obra do jornalista Laurentino Gomes, que escreveu (e também li) “1808” e “1822”, ambos magistrais.

Laurentino é umescritor best seller que está prestes a atingir a marca de trêsmilhões delivros vendidos. Ele não fala difícil, não dá asas para o provincianismo e o rococó e nem usa fantasias inventadas pela cronicamente decadente aristocracia que baixou no Brasil quando a corte portuguesa fugiu de Napoleão (milhares de pessoas) e veio se esconder no Rio, encagada, toda borrada, ladra e corrupa em 1808.
Laurentino Gomes é acima de tudojornalista e seu livro também campeão de vendas chamado “1808” trata dessa vexatória fuga da corte. Sob o título do livro, a frase: “Como uma rainha louca, um príncipe medroso e uma corte corrupta enganaram Napoleão e mudaram a História de Portugal e do Brasil”. Como resistir? Como não comprar e devorar este livro?
O autor pertence a nova geração de historiadores, escritores e educadores que chutaram o corporativismo do academicismo e da empáfia para o lixo. Ele usa linguagem informal, não constrói frases rebuscadas inventadas por trás da balaustrada que escondia os intelectualóides.
Objetivo, dono de um texto jornalístico baseado em farta pesquisa realizada em diversos países, ele escreveu, também, sobre o nascimento do Brasil independente. “1822”, outro livraço. Subtítulo: “Como um homem sábio, uma princesa triste e um escocês louco por dinheiro ajudaram D. Pedro a criar o Brasil – um país que tinha tudo para dar errado”.
O homem que entrou de sunga na igrejinha dos insolentes e presunçosos, curte, merecidamente, o topo dasvendas com“1889”. Subtexto na capa: “Como um imperador cansado, um marechal vaidoso e um professor injustiçado contribuíram para o fim da Monarquia e a Proclamação da República no Brasil”. A contundente transição do Brasil Império para a República, na verdade um violento golpe de estado que envolveu vários nomes honrados, mas também arrivistas, carreiristas e moleques em geral.
No lançamento, em 2013, “1889”o livro foi anunciado em horário nobre nas redes de TV, o que, sinceramente, nunca vi acontecer. Até a chegada delibertadores como Laurentino, livros de História eram produzidos sob o manto do terror reverencial.
A nova geração de historiadores abriu o baú, tacou naftalina dentro e libertou a nossa História refém dos acadêmicos que agora está aberta a visitação pública. Sem rococós, adornos, leques, o que é ótimo para todo mundo. Menos para eles, os altivos que ainda se deslocam pelas sombras ardendo em leve desespero.
A qualidade do texto e da pesquisa de Laurentino Gomes convida à leitura. Ele não teve receio de falar das intimidades de D. João VI e muito menos de D. Pedro I, ou da personalidade golpista e arrivista de Carlota Joaquina, porque pesquisou fundo antes de sentar no computador para escrever.
Sim, temos um escritor que virou pop star! E isso é muito bom para todos os brasileiros. Todos! 

Sem Jeito me mandou um abraço

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Meu sobrinho Philippe, filho de meu irmão Fernando César, é administrador de empresas de primeira linha, profissional de ponta. Além disso conhece tudo, absolutamente tudo, de computadores e rock, especialmente metal. Como vou fazer um upgrade na memória de meu computador, falei com ele que se prontificou a trocar para mim (valeu!), mas o gozado foi o e-mail que ele me mandou.

Com um vídeo do You Tube anexado, onde um sujeito aparece trocando a memória de um HP All in One igual ao meu (aliás, notei que o desktop está em extinção, só se fala em All in One) ele comentou: “Veja como é ridículo e simples” (trocar a memória). Vi o vídeo e constatei que se eu fosse trocar, de cara não ia conseguir abrir o computador (chave Philips, tem que ter aquele jeitinho que não tenho), acabaria quebrando a tampa e, quem sabe, destruindo a máquina sem sequer chegar no buraco onde fica a memória.

Segunda-feira provou que sou um sujeito totalmente desastrado quando o assunto é serviços domésticos e similares. Três exemplos. De manhã cedo, por volta das 8 horas da manhã, escovava os dentes depois do banho e resolvi trocar a lâmpada do banheiro. A que fica no teto, que com as duas nas laterais da pia, formam um conjunto, uma especie de power trio de lâmpadas

Fui na área de serviço peguei a fatídica escadinha de alumínio (ela mesma, a de colocar ponteira em árvore de Natal), abri, pus embaixo do lustre e subi. Vamos direto aos fatos: 1 – quando retirava o lustre, deixei que ele escapasse da minha mão, juntamente com a lâmpada. Explodiu no chão em centenas de pedaços. Sem problemas. Desci, peguei a lâmpada nova, subi de novo na escadinha e consegui retirar a queimada, o que para mim cheirou a vitória.

Mas na hora de enroscar a lâmpada nova, Sem Jeito baixou de novo. Apertei demais e a lâmpada estourou na minha mão e só não me cortei porque, já prevendo uma nova calamidade doméstica, estava com uma toalha enrolada. Em suma: como era dia da diarista deixei que ela providenciasse a troca da lâmpada, o que ela fez em menos de três minutos.

Fato dois: peguei o carro e fui para o primeiro compromisso do dia. A direção estava pesada e lembrei quehá 20 dias não calibrava os pneus, quando o recomendado é uma vez por semana. Parei num posto e, eu mesmo, desci e fui naquela engenhoca digital de encher pneus. Cravei lá 27 libras e fui espetar a mangueira no primeiro pneu. Inexplicavelmente, depois de alguns minutos, percebi que o pneu estava esvaziando. Teimoso, continuei a insistir até o pneu ficar totalmente vazio.

Chamei um frentista que, sem saber que estava diante de um búfalo urbano (eu) comentou “seu pneu está muito vazio...como é que o carro estava andando?” E, como a diarista, em menos de cinco minutos encheu os quatro pneus do carro.

No final do dia cheguei em casa e aí foi um combo de asneiras domésticas. Tomei o segundo banho e sentei no sofá. Olhei para a mesinha, sem mais nem porque peguei o telefone sem fio e comecei a mexer, com o pensamento longe. Fiz alguma besteira ali e apaguei todos, mas todos os números da agenda. Não satisfeito, levantei e tropecei num cabo de alimentação do DVD que, detonado, foi ao chão.

Só me resta ficar parado, quieto, e assumir definitivamente que sou um mamífero, bípede, completamente irracional quando o assunto é “tarefas cotidianas que exigem a mágica palavra Jeito”. Com J de jumento.




Blogueiro é o cacete!, ou, vale tudo para praticar a evasão de privacidade (genial sacada de Tutty Vasquez)

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Com a boca mais seca do que as represas do sudeste, um colega me abordou na rua. Centro do Rio, duas da tarde, temperatura amena, céu nublado. Não o via há anos. Estava enfurecido porque vinha recebendo e-mails onde era chamado de “Caro blogueiro” ou coisa parecida. Jornalista como eu, ele estava indignado e resumiu sua fúria numa frase: “Estou na trincheira das letras tórridas há mais de 30 anos, ralei nas ostras estudando Comunicação quatro anos e vem esses vagabundos me chamarem de blogueiro. Blogueiro é o cacete! (ele não disse cacete, mas não gosto de escrever palavrões). Sou jornalista, ainda com muito orgulho.”
Eu também ficaria indignado se alguém me chamasse de blogueiro. Estou nas redações da vida desde o início dos anos 1970 (comecei com 15 anos), fiz curso superior, iniciei quatro pós-graduações que tive que abandonar por falta de tempo (trabalhava ou estudava) e, essa não, chegar agora e ouvir que sou um skatista das letras, um arrivista das entrelinhas, também conhecido como blogueiro? Meu chapa, de jeito nenhum. Não tenho nada contra os blogueiros, mas que boa parte deles é picareta, aventureiro, metido a escritor fashion, jornalista up to date e tudo mais, isso é.
Tanto que essa cabana não se chama Blog do LAM e sim Coluna do LAM, e caminha para os 200 mil acessos desde que entrou no ar, no final de 2012. Tudo bem que a extensão blogspot.com pode confundir alguns, mas aí o problema não é meu. 
Felizmente nunca me chamaram de blogueiro. Nunca! Talvez porque já me conheçam de outros woodstocks, sabem que ralo como um lobo na savana e não tolero esses modismos de amadores, gente que adora praticar a “evasão de privacidade” como bem sentenciou, anos atrás, o grande Tutty Vasquez. Especialmente quem escreve de graça para fazer lobby com a sociedade. São os skatistas da imbecilidade, estafetas do estrume jornalístico que, muitas vezes, são endeusados. Não tolero amadores (e arrivistas, molambeiros, barangas) em nenhum setor dessa louca e sempre bela vida.
Concordo com 130% de meus colegas que afirmam que a qualidade do jornalismo despencou nos últimos anos. É verdade. Escrever mal virou regra. A concordância verbal, em muitos casos, parece ter virado artigo de luxo ou ficção não científica. Mas o mais grave, aliás, gravíssimo, são as falhas na apuração das notícias, lei maior da mídia. 
O que leio de erros primários de apuração, notícias com fontes trocadas, informações truncadas e até incoerentes, é de fazer chorar. Meus colegas dizem que as empresas de comunicação optaram por mão de obra muitíssimo barata, logo de baixa qualidade, e que esses erros vão se avolumando alucinadamente. 
Um dia desses li a seguinte chamada: “Trânsito segue parado em Laranjeiras”. Como assim? Como é que um trânsito segue se está parado? Daí para falhas lamentáveis em cultura, política, economia, ciência é só um salto. E o leitor? O leitor que se dane, ao que parece. O leitor que vá ler blogs e não encha o saco.
Isso na chamada mídia convencional. Imagine nesses blogs que muitos picaretosos salta-pocinhas escrevem, publicam e saem charlando por aí como se o Pluto fosse filho da Pluta e que se dane o avião. Por isso, meu colega tem razão: blogueiro é o cacete! 
Sou jornalista, adestrado para apurar exaustivamente as informações, escrever respeitando normas muito rígidas e publicar com o máximo de firmeza possível. Por que? Porque os bons leitores exigem, merecem e, pelo que aprendi, os bons leitores são nossa razão de existir. O resto? Problema da Comlurb.

A nova coluna Disco do Dia; também por isso acho o Facebook sensacional

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Num dia qualquer do final de 2014 estava no Facebook e escrevi algumas linhas sobre um disco. Não me lembro qual. Pus o título “Disco do Dia” e postei com a capa e duas ou três fotos. Em 24 horas, dezenas de pessoas comentaram e curtiram.

No dia seguinte, escrevi outro “Disco do Dia” e assim fui levando. Hoje quase meio ano depois, descobro com o maior prazer que a despretensiosa “Disco do Dia” virou o maior sucesso. Para primorá-la, criei um espaço farto no Blogger dias atrás e agora posto o texto aqui e os vídeos, fotos (de preferência raras) e tudo mais lá em www.discosdodia.blogspot.com

É por essas e muitas outras que acho o Facebook sensacional. Tempos atrás cheguei a escrever este texto sobre a rede social:

Estou no Facebook desde 2012. Reencontrei muitos amigos que vagam pelo planeta, colegas de jornalismo, produção musical, literatura e até parentes que não vejo há décadas, além de muitos leitores, ouvintes, telespectadores. Só por isso, já valeu à pena.

Via Facebook, fui e vou a reuniões de amigos e colegas que estavam dispersos, sem contato, no deserto e hoje voltaram a frequentar minha agenda. Dezenas de ouvintes, telespectadores, leitores dos anos 1970, 80, 90, 2000 e hoje de minha Coluna do LAM (essa aqui), além de viciados em rock, blues, jazz, progressivo, new age etc. etc. etc. Todo mundo no Facebook.

Os contatos profissionais que faço tem resultado em muitos e ótimos trabalhos, já que desde o ano 2006 decidi militar radicalmente na guerrilha dos freelancers. Enfim, não tenho o que reclamar do Facebook que, sabendo usar, não aporrinha ninguém.

Vejo lá algumas pessoas chiando, se queixando, talvez por não terem notado ou se tocado que o Facebook é uma mídia extremamente poderosa e abrangente. Tudo o que publicamos (até o que consideramos insignificante), gera reações e até baixarias. Logo, como escreveu Caetano Veloso, é preciso estar atento e forte porque se pisamos na bola o Facebook vira carcará; pega, mata e come.

Mantenho o número de contatos na faixa de 4.900 já que o limite é de 5 mil. Não conheço mais de 90% das pessoas que chegam até a minha página em consequência do meu trabalho ao longo de quatro décadas dedicadas a Comunicação. É extremamente gratificante esse retorno.

Como nunca me aporrinhei no Facebook (talvez pelo fato de tratá-lo como poderosa mídia e não diário pessoal), gosto muito de bater papo, postar vídeos, fotos, divulgar minhas colunas, livros, discos. Mas, o mais importante é o contato permanente com amigos e colegas ( mais leitores, ouvintes), sem o que mídia social alguma faria o menor sentido.
Assisti ao filme “A Rede Social” na estreia, em 2010, mas acabei revendo quando passou na TV. É sobre a criação e fundação do Facebook e seus desdobramentos. O filme foi dirigido por David Fincher.

O roteiro de Aaron Sorkin é uma adaptação do livro “The Accidental Billionaires” de Ben Mezrich. Nenhum funcionário Facebook, ou seu fundador Mark Zuckerberg, se envolveu na produção, embora o brasileiro Eduardo Saverin (33 anos, co-fundador da rede; suas ações bateram os 4 bilhões de dólares ano passado) tenha funcionado como consultor para o livro de Mezrich.
Após vender metade dos 5% das ações do Facebook que tinha, detém 2,5% das ações da rede social. Nasceu em São Paulo, indo estudar em Harvard na pós-adolescência onde conheceu Mark Zuckenberg. 

Sobre o Facebook, diz a Wikipédia: Em 2003, na Universidade de Harvard, o estudante nerd Mark Zuckerberg teve a ideia de criar um website para medir a beleza das estudantes de Harvard após levar um pé na bunda da namorada Erica Albright.

Mark invadiu as bases de dados de vários alojamentos, baixou as fotos e os nomes das estudantes e, em algumas horas, usando um algoritmo fornecido por seu melhor amigo, o brasileiro Eduardo Saverin, ele criou o "FaceMash", onde os estudantes homens escolhiam quais das estudantes apresentadas eram mais bonitas e/ou gostosas.

Mark foi punido com seis meses de suspensão depois que as visitas ao site derrubaram os servidores de Harvard. Ele se tornou uma espécie de "vilão" para a comunidade feminina de universidade. 

No entanto, a popularidade do "FaceMash" que ele criou completamente bêbado chamou a atenção dos gêmeos Cameron e Tyler Winklevoss, da equipe de remo, e seu parceiro Divya Narendra. 

Mark começou a trabalhar para os Winklevoss como programador do site "Harvard Connection". Pouco tempo depois, ele falou com Eduardo sobre sua ideia para o site "Thefacebook", uma rede social exclusiva dos estudantes de Harvard. Explicou que isso iria permitir que as pessoas compartilhassem suas informações pessoais e sociais em segurança. 

Eduardo concordou em ajudar Mark dando a ele mil dólares para iniciar o site. Eles distribuíram o link para as conexões de Eduardo no Phoenix S-K Club, e rapidamente se transformou em sucesso entre os estudantes. Quando os Winklevoss e Narendra descobriram sobre o Thefacebook, acharam que Zuckerberg havia roubado suas ideias. 
Tyler e Divya queriam processar Mark por roubo de propriedade intelectual, mas Cameron os convenceu que eles podiam resolver o assunto como "Cavalheiros de Harvard", sem precisar recorrer ao tribunal.

Após uma palestra de Bill Gates, a também estudante de Harvard Christy Lee se apresentou, com sua amiga Alice, para Eduardo e Mark. Ela pede aos garotos que "nos adicionem no Facebook"; a frase impressiona os dois. Christy os convida para irem ao bar, onde ela e Eduardo acabam transando loucamente no banheiro. Mark depois encontrou sua ex-namorada, que não conhecia o Facebook por não ser uma estudante de Harvard. Por isso ele decidiu expandir o site para outras escolas.

Por intermédio de Christy Lee, agora namorada de Eduardo, eles conseguiram marcar um encontro com Sean Parker, co-fundador do Napster. Quando Christy, Eduardo e Mark encontraram com Parker, o brasileiro desconfia dele, questionando sua personalidade problemática e sua história profissional. Christy notou que Eduardo estava com inveja de Parker e tentou acalmá-lo para evitar um constrangimento. 

Mark, entretanto, ficou impressionado com Parker por sua visão parecida com a dele. Apesar de nenhum acordo feito, Parker sugeriu que eles tirassem o "The" de "Thefacebook" e deixassem o nome do site apenas como "Facebook". Eduardo mais tarde reconheceu que essa foi a única contribuição de Parker para o projeto.

Seguindo uma sugestão de Parker, Mark mudou a sede da companhia para Palo Alto (Califórnia) enquanto Eduardo permaneceu em Nova York para procurar anunciantes. Quando Eduardo os visitou ficou louco de raiva encontrar Sean Parker vivendo na casa que eles alugaram e decidindo sobre os negócios do Facebook. Depois de discutir com Mark Zuckerberg, Eduardo congelou a conta bancária da companhia e voltou para Nova York. Quando chegou a NYC, Christy brigou com ele por causa do seu perfil no Facebook, onde aparece como "solteiro". 

Quando ela perguntou o por que dele não ter alterado seu perfil, Eduardo disse que não sabia como fazer. Christy achou que ele estava mentindo e disse que ele a estava traindo com uma mulher do Vale do Silício. Tacou fogo no cachecol que tinha ganho dele como presente e enquanto Eduardo tentava apagar o fogo, Mark revelava pelo telefone que eles haviam recebido uma nota preta de um investidor através dos contatos de Parker.

Enquanto isso, na Inglaterra, enquanto competiam em uma regata em Henley, os irmãos Winklevoss descobriram que o Facebook se expandiu para três universidades de lá. Decidiram finalmente processar Mark. Ao mesmo tempo, Eduardo descobriu que o acordo que ele havia assinado com os investidores de Parker lhes permitiu diluir a sua parte na empresa de 34% para 0,03%, enquanto mantinha a parte de todos os outros. Uma tentativa de golpe? Faltou sinceridade e sobrou cinismo em Mark Zuckerberg? Não sei. O filme deixa as conclusões em nossas mãos.

Eduardo Saverin peitou Zuckenberg e disse que iria processá-lo. Mais tarde, ainda naquela noite durante a festa comemorando um milhão de membros do Facebook, Sean Parker e algumas estagiárias do Facebook foram presos por porte de cocaína.

O filme mostra Mark Zuckerberg respondendo a dois processos: um dos irmãos Winklevoss e outro por Eduardo Saverin. Na última cena, uma das advogadas de Mark o aconselha a fazer um acordo com Eduardo, já que os detalhes da fundação do Facebook e a personalidade de Mark fariam o júri ficar contrário a ele. Segundo ela, Mark perderia a ação nos primeiros cinco minutos de audiência. 

O acordo feito com os Winklevoss foi de 65 milhões de dólares. Outro acordo de valor desconhecido foi feito com o brasileiro Eduardo. 
O filme termina com Mark Zuckenberg mandando um pedido de amizade para sua antiga namorada, Erica Albright, via Facebook, atualizando a página à espera de uma resposta.

32 anos depois hoje pousei no Circo Voador do Arpoador. E foi demais!

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1982
                                                                            2015                                 
Hoje, com Maria Juçá e Jamari França
Convidado pela Lu Araújo, diretor da Lume Arte Marketing Cultural, participei hoje do Fórum de Idéias no Circo Voador no Arpoador. Estávamos no palco do Circo Maria Juçá, Jamari França e eu, diante de uma platéia lotada.
Juçá falou de quando o Circo Voador estava pousado ali naquela praia mágica em 1982 e depois voou para Lapa, onde está até hoje. O do Arpoador de hoje é uma réplica que será desmontada nesta segunda-feira. Seguindo o projeto original, é uma homenagem aos 30 anos de carreira de Cazuza.
Nós três falamos muito, muito mesmo, rimos pra caramba, contamos histórias engraçadas (a platéia rolou de rir) de nossas experiências naqueles anos 80. Eu na Rádio Fluminense FM, Jamari França na trincheira que armou no Jornal do Brasil e Maria Juça no Circo.
Uma hora e meia que voou, como voou. Claro, a saudade bateu. Quando cheguei, andando, vi o sol querendo se por na pedra superlotada de gente do Arpoador, o mar alto lotado de  surfistas, bicicletas, skates, lindas mulheres no calçadão e lá no fundo o Circo. Por alguns instantes parece que voei até 1982, sentindo aquela paz, aquele astral, aquele cheio de mar, música, arte. Que bom!

Valeu Lu Araújo, valeu amigos Juçá, Jamari, Circo Voador, valeu platéia,  amigos, colegas, ouvintes, leitores. Foi um sábado mágico e inesquecível.

Confirma a programação deste domingo, último dia do Circo no Arpoador clicando aqui: http://www.midiorama.com.br/works/news/29553/circo-voador-no-arpoador-exagerado-3o-anos/ 

Figuraça de hoje: Peter Grant, o homem que viabilizou o Led Zeppelin...na base da porrada

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               Led Zeppelin num de seus últimos shows. O fesival de Knebworth em 1979          

    Com John Bonham e Jimmy Page
Peter Grant tinha dois metros de altura, quase 180 quilos e jogava duro, pesado. Foi ele quem viabilizou o Led Zeppelin, uma das maiores bandas da história do rock. Não fosse sua sagacidade, ambição e truculência, a banda criada por Jimmy Page com certeza não teria voado tão alto e se tornasse bilhardária. Aqui, um texto de Guilherme Camardella do site Wiplash com base no livro “Led Zeppelin, quando os gigantes caminhavam sobre a Terra”, de Mick Wall.


Peter Grant nasceu em 5 de abril de 1935, no sul de Londres um subúrbio chamado South Norwood. Foi filho de mãe solteira. Como em toda família de classe operária, Grant se viu obrigado a trabalhar em indústrias e servir ao exercito até se deparar com o sonho da indústria do entretenimento. 

Jovem e alto primeiro tentou ser ator e vinha obtendo relativos “êxitos”. Sempre com pontas ou papéis pequenos, é possível vê-lo por exemplo em “Canhões de Navarone” ou “Cleópatra”. Na TV a mesma coisa, porém com mais destaque em “O Santo”, aonde atuou como um barman e trociu falas com Roger Moore.

No início da década de 60 ele começou a trabalhar com Don Arden (pai de Sharon Osbourne), um empresário que utilizava de meios não muito convencionais (leia-se porrada) para obter os seus resultados. Grant era o empresário das turnês britânicas de artistas como Little Richard, Chuck Berry, The Animals, etc. Ali, Grant aprendeu todos os macetes e se tornou empresário do rock.

Em 1966, já gerindo os seus próprios negócios – junto ao seu sócio Mickie Most – Grant foi convidado para cuidar da carreira dos Yardbirds, ban de médio sucesso no Reino Unido e maior prestígio nos Estados Unidos cujo destaque ficava por conta dos guitarristas Jimmy Page e Jeff Beck. Grant já pegou a banda em decadência e nada pode fazer. Em 68 já estava decretado o fim dos Yardbirds após uma turnê americana.

Em uma conversa com o então jovem Jimmy Page, Grant ouviu sobre os passos que o músico pensava em dar após o término de sua banda. Numa nova banda chamada New Yardbirds. Peter teve faro e notou que o talento daquele jovem guitarrista era diferente e que de fato valeria a aposta. Acreditou tanto, que se reuniu com o sócio Mickie e ofereceu a sua parte do The Jeff Beck Gruop que naquele mesmo ano já conquistava sucesso internacional com o álbum “Truth”. Mickie topou.

Após recrutarem os outros membros para o chamado “quarteto de ouro da história do rock”, o New Yardbirds se viu obrigado a mudar de nome por problemas judiciais com um ex-membro da antiga banda. Assim nasceu o Led Zeppelin. Grant estabeleceu uma relação muito forte com Jimmy Page e somado a isso, deu total liberdade criativa para o grupo; sem pressões, levando a risca o lema “meu artista em primeiro lugar”, ou como John Paul Jones (baixista e tecladista) disse a Mick Wall em “Quando os Gigantes caminhavam sobre a Terra”: 

“Peter confiava em nós para fazer a música e então mantinha todo mundo a distância, garantindo-nos espaço para fazer o que quiséssemos sem a interferência de ninguém – imprensa, gravadora, promotores. 
“Ele só tinha a nós como clientes e reconhecia que, se fôssemos bem, ele também iria. Sempre acreditou que seríamos muito famosos, e as pessoas tinham medo de não aceitar seus termos e perder algo. Mas todo esse negócio de renegociar contratos na base da intimidação é bobagem. Ele não pendurava as pessoas na janela e todas essas besteiras.” 

Com o dinheiro do bolso de Jimmy Page (estava financeiramente bem após passar anos trabalhando como músico de estúdio) ainda em 1968, nasceu o álbum Led Zeppelin I. Não se sabe até que ponto era lenda ou verdade sobre a fama de Peter Grant ser um pressionador/intimidador, mas ele obteve coisas nunca antes conseguidas a um artista com gravadoras e promotores de shows. 

Com uma obra prima pronta embaixo dos braços, Peter Grant voou para os Estados Unidos a fim de conseguir uma gravadora e não só assinou com a Atlantic Records por cinco anos, como voltou para o Reino Unido com o maior adiantamento da história para um artista não contratado: 143.000 dólares, sem que a Atlantic sequer tenha visto-os tocar.

Em 1968 isso era uma quantia muito mais considerável do se imagina. A Atlantic fabricava, distribuia, promovia os discos e só. Não se metia no trabalho do Zeppelin. A produção artística dos álbuns era de Jimmy Page e a Produção Executiva de Peter Grant.

O empresário sacou que no mercado americano Page era relativamente famoso por causa do Yardbirds. O foco nos Estados Unidos teve papel fundamental e ajudou o Zeppelin a vender milhões de discos e a bater recordes de bilheteria em turnês.
Peter Grant via os membros do Led Zeppelin como amigos (de fato eram) e Jimmy Page como um filho. Nessa época era de praxe que os promotores pagassem aos artistas 10, 20 por cento da bilheteria. Com os seus “métodos” Peter conseguiu que ficassem com 90 por cento do lucro de todas as turnês, o que futuramente faria com que todos os recordes – antes pertencentes aos Beatles e Stones – de faturamento e popularidade fossem quebrados. 

Em 1974 Peter lançou junto ao Zeppelin a própria gravadora da banda, o Swan Song, com distribuição da Atlantic. Seguindo a tendência iniciada pelo Apple dos Beatles, Grant fez mais dinheiro e autonomia artística, sendo também responsável por outros nomes como o Bad Company, de Paul Rodgers.

A segunda metade da década de 70 trouxe o declínio do Led Zeppelin e o de Peter Grant consequentemente. Diversos contratempos fora dos palcos, muito atribuídos ao abuso de drogas, outros pelo “suposto” envolvimento de Jimmy Page com o ocultismo, acidentes e a morte inexplicável do filho de Robert Plant de cinco anos fizeram o Led descer em queda livre. Grant não tinha mais forças para “segurar” a barra. 

Após ter se separado da mulher ele mergulhou de cabeça na cocaína e na bebida. Ficava horas trancado em seu escritório cheirando pó. Isso o tornou mais psicótico e a síndrome do pânico passou a assombrar  a sua vida. Essa vida para um sujeito rude não poderia ser pior. Em 77, em um show em Oakland (EUA) um segurança local foi acusado de esbofetear o rosto do filho de Grant. 

O segurança foi levado para um banheiro onde foi selvagemente espancado por ele, Richard Cole e o baterista John Bonham, fazendo com que uma equipe da SWAT entrasse no hotel em que eles estavam hospedados e os prendessem. 

Em 79 o episódio para a negociação dos dois shows em Peter Grant tinha quase dos metros de altura, quase 180 quilos e jogava duro, pesado. Foi ele quem viabilizou o Led Zeppelin, uma das kaiores bandas da história do rock. Não fosse sua sagacidade, ambição e truculência, a banda criada por jimmy Page com certeza não teria decolado. Aqui, um texto de Guilherme Camardella do site Wiplash que, por sua vez, recorreu ao livro “ Led Zeppelin, quando os gigantes caminhavam sobre a Terra”, de Mick Wall.

Peter Grant nasceu em 5 de abril de 1935, no sul de Londres um subúrbio chamado South Norwood. Foi filho de mãe solteira. Como em toda família de classe operária, Grant se viu obrigado a trabalhar em indústrias e servir ao exercito até se deparar com o sonho da indústria do entretenimento. 

Jovem e alto primeiro tentou ser ator e vinha obtendo relativos “êxitos”. Sempre com pontas ou papéis pequenos, é possível vê-lo por exemplo em “Canhões de Navarone” ou “Cleópatra”. Na TV a mesma coisa, porém com mais destaque em “O Santo”, aonde atuou como um barman e trociu falas com Roger Moore.

No início da década de 60 ele começou a trabalhar com Don Arden (pai de Sharon Osbourne), um empresário que utilizava de meios não muito convencionais (leia-se porrada) para obter os seus resultados. Grant era o empresário das turnês britânicas de artistas como Little Richard, Chuck Berry, The Animals, etc. Ali, Grant aprendeu todos os macetes e se tornou empresário do rock.
Em 1966, já gerindo os seus próprios negócios – junto ao seu sócio Mickie Most – Grant foi convidado para cuidar da carreira dos Yardbirds, ban de médio sucesso no Reino Unido e maior prestígio nos Estados Unidos cujo destaque ficava por conta dos guitarristas Jimmy Page e Jeff Beck. Grant já pegou a banda em decadência e nada pode fazer. Em 68 já estava decretado o fim dos Yardbirds após uma turnê americana.
Em uma conversa com o então jovem Jimmy Page, Grant ouviu sobre os passos que o músico pensava em dar após o término de sua banda. Numa nova banda chamada New Yardbirds. Peter teve faro e notou que o talento daquele jovem guitarrista era diferente e que de fato valeria a aposta. Acreditou tanto, que se reuniu com o sócio Mickie e ofereceu a sua parte do The Jeff Beck Gruop que naquele mesmo ano já conquistava sucesso internacional com o álbum “Truth”. Claro que Mickie topou.
Após recrutarem os outros membros para o chamado “quarteto de ouro da história do rock”, o New Yardbirds se viu obrigado a mudar de nome por problemas judiciais com um ex-membro da antiga banda. Assim nasceu o Led Zeppelin. Grant estabeleceu uma relação muito forte com Jimmy Page e somado a isso, deu total liberdade criativa para o grupo; sem pressões, levando a risca o lema “meu artista em primeiro lugar”, ou como John Paul Jones (baixista e tecladista) disse a Mick Wall em “Quando os Gigantes caminhavam sobre a Terra”: 
“Peter confiava em nós para fazer a música e então mantinha todo mundo a distância, garantindo-nos espaço para fazer o que quiséssemos sem a interferência de ninguém – imprensa, gravadora, promotores. 
“Ele só tinha a nós como clientes e reconhecia que, se fôssemos bem, ele também iria. Sempre acreditou que seríamos muito famosos, e as pessoas tinham medo de não aceitar seus termos e perder algo. Mas todo esse negócio de renegociar contratos na base da intimidação é bobagem. Ele não pendurava as pessoas na janela e todas essas besteiras.” 
Com o dinheiro do bolso de Jimmy Page (estava financeiramente bem após passar anos trabalhando como m´suico de estúdio) ainda em 1968, nasceu o álbum Led Zeppelin I. Não se sabe até que ponto era lenda ou verdade sobre a fama de Peter Grant ser um pressionador/intimidador, mas ele obteve coisas nunca antes conseguidas a um artista com gravadoras e promotores de shows. 
Com uma obra-prima pronta embaixo dos braços, Peter Grant voou para os Estados Unidos a fim de conseguir uma gravadora e não só assinou com a Atlantic Records por cinco anos, como voltou para o Reino Unido com o maior adiantamento da história para um artista não contratado: 143.000 dólares, sem que a Atlantic sequer tenha visto-os tocar.
Em 1968 isso era uma quantia muito mais considerável do se imagina. A Atlantic fabricava, distribuia, promovia os discos e só. Não se metia no trabalho do Zeppelin. A produção artística dos álbuns era de Jimmy Page e a Produção Executiva de Peter Grant.

O empresário sacou que no mercado americano Page era relativamente famoso por causa do Yardbirds. O foco nos Estados Unidos teve papel fundamental e ajudou o Zeppelin a vender milhões de discos e a bater recordes de bulheteria em turnês.
Peter Grant via os membros do Led Zeppelin como amigos (de fato eram) e Jimmy Page como um filho. Nessa época era de praxe que os promotores pagassem aos artistas 10, 20 por cento da bilheteria. Com os seus “métodos” Peter conseguiu que ficassem com 90 por cento do lucro de todas as turnês, o que futuramente faria com que todos os recordes – antes pertencentes aos Beatles e Stones – de faturamento e popularidade fossem quebrados. 
Em 1974 Peter Grant lançou junto ao Zeppelin a própria gravadora da banda, o Swan Song, com distribuição da Atlantic. Seguindo a tendência iniciada pelo Apple dos Beatles, Grant dá mais dinheiro e autonomia artística, sendo também responsável por artistas lucrativos como o Bad Company, de Paul Rodgers.
A segunda metade da década de 70 trouxe o declínio do Led Zeppeline o de Peter Grant consequentemente. Diversos contratempos fora dos palcos, muito atribuídos ao abuso de drogas, outros pelo “suposto” envolvimento de Jimmy Page com o ocultismo, acidentes e a morte inexplicável do filho de Robert Plant, fizeram o Led descer em queda livre. Grant não tinha mais forças para “segurar” a barra. 
Após ter se separado de sua esposa, Peter Grant entrou de cabeça na cocaína e ficava horas trancado em seu escritório cheirando pó. Isso o tornou mais psicótico e a síndrome do pânico passou a assombrar sua vida. Essa chapação para um sujeito rude não poderia ser pior. Em 77, em um show em Oakland um segurança local foi acusado de esbofetear o rosto do filho de Grant. O segurança foi levado para um banheiro onde foi selvagemente espancado por ele, Richard Cole e o baterista John Bonham, fazendo com que uma equipe da SWAT entrasse no hotel em que eles estavam hospedados e os prendessem. 
Em 79 o episódio para a negociação dos dois shows em Knebworth também foi envolvido de muita ameaça e paranóias. Com um acordo para dois dias para 250 mil pessoas, ao ver que o número não havia nem chegado próximo, Grant exigiu o pagamento total dos valores ameaçando os promotores do show e dando o maior prejuizo. Peter Grant nunca foi santo, porém sempre esteve disposto a tudo pelo Led Zeppelin. 
A morte de John Bonham em setembro de 1980 foi uma pá de cal não só para o grupo mas também para Peter Grant. Cada vez mais viciado em cocaína, imensamente gordo e abandonado pela esposa, Peter se fechou em seu império e raramente apareceu publicamente.
Morreu de ataque cardíaco em 1995.
Peter Grant foi um personagem marcante em uma história muito rica, a do Led Zeppelin. Um homem raro de se encontrar no showbizz.




O amor em tempos sem cólera

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As 3:11 (15/06/2015) - Por motivos não alheios a minha vontade meu fuso horário deu uma virada e pelo visto terei uma longa madrugada pela frente. Não gosto de escrever e publicar quando estou emocionado e ontem, domingo, passei o dia tomado pela saudade, ausência, sentindo falta. Por isso, escrevo agora mas só vou publicar quando voltar da pauleira no início da noite.

As 3:14 - O amor é um sentimento tão profundo, tão abissal, tão blues que não conseguimos explicá-lo. Nenhum intelectual das letras conseguiu, nenhum filósofo, sociólogo, antropólogo. Uma vez escrevi num trabalho de faculdade (cadeira de Psicologia Social) que o que mais nos difere dos chamados irracionais não é a inteligência mas a consciência do afeto. O professor não gostou por achar. Conversamos, ele disse que viveu uma experiência num lugar bem perto de uma família de gorilas, o que virou a sua cabeça. Passou a achar que, de alguma maneira, os animais irracionais também tem essa percepção e me deu nota 7. No final do mês a nota tinha subido para 9. Perguntei por que a a resposta veio vaga: “Realocação de novos conceitos”, ele disse.

Não quis reclamar porque estava apaixonado por uma garota (tínhamos 20 anos, ela e eu) e ingressava mais uma vez na ante-sala do amor comocional, aquele que ignora os raios e vendavais e nos faz rolar por virtuais calçadas encharcadas as nove horas da noite. Era o que faziamos. Um namoro que durou, foi maravilhoso e nele eu tive a possibilidade de viver mais uma vez o amor sem explicações e, sobretudo, complicações. Mas jamais incondicional, papo de existencialista amador. O ser humano é condicional em sua essência.

Mas sabe como é o destino. Ela queria, eu também queria casar, ter filhos, mas o destino nos chamou no centro de uma praça e disse que não ia rolar não. E não rolou. Saímos da praça, eu a levei até a porta de casa em meu Karmann Guia TC bege igual ao da foto (sem banda branca nos pneus), que toda a faculdade conhecia e venerava. Ela desceu do carro, eu também, fomos até a portaria do prédio, nos olhamos (olhos marejados) sem nada dizer apenas ouvindo ao longe, baixinho, o rádio do Karmann Guia TC na Eldo Pop FM tocando o Renaissance, ao vivo em Londres. Não esquecerei a música: At The Harbour, a que ela mais gostava. Sincronicidade. E como a música é a linha de tempo e afeto de minha vida, jamais desvinculei “At The Harbour” dela.

Ela entrou no prédio. Peguei o Karmann Guia TC e resolvi dar uma volta pela orla do Rio. Fui até o final do Leblon e voltei. Em Copacabana parei numa carrocinha da Geneal, comi duas mini pizzas olhando para o mar escuro e mexido (como eu), pensando naquela história de amor que havia acabado. Pensei que o amor sozinho não sustenta, como Machado de Assis já havia mostrado no século 19 e nem quando ela me pediu desculpas em prantos consegui reverter aquela sensação estranha, um vácuo chamado “perdeu”. Amor condicional.

Não desisti do amor nem ele de mim. Essa história real, que publiquei aqui ano passado, é uma pequena amostra:

A minha estreia numa praia de nudismo, distante mais de dois mil quilômetros daqui (Rio de Janeiro), quase na linha do Equador, foi inusitada por um único e crucial motivo. Cheguei lá sem saber que era praia de nudismo. Eu e uma namorada alemã que falava mal o inglês e não dizia, sequer, “cerveja” em português. Naturalmente, não falo e nem entendo nada de alemão, meu inglês aprendi com The Who e The Beatles, mas acabei descobrindo que o meu espanhol dá para sobreviver a uma tourada mexicana. O dela também. Foi assim, via espanhol carioca que mantivemos acesa a nossa intensa (e felizmente tensa) comunicação.

O início.

Ela tinha tido uma estafa no Rio, durante um estágio numa rede de TV onde trabalhei. Caiu desmaiada numa ilha de edição, onde, felizmente, a temperatura em geral não passa dos 17 graus. Como já havíamos trocado olhares e aromas pelos corredores, cabotinamente fui lá socorrê-la. Levei ao departamento médico onde vi seus olhos verdes marejados de lágrimas que ela tentava esconder com o cabelo castanho claro muito liso. Linda. Como era (e provavelmente ainda é) linda a editora de imagens da TV de Frankfurt, que veio para cá aprender a fazer TV (somos craques nisso) numa emissora aqui da América do Sul.

Coincidentemente (falando sério) eu também andava estressado e precisava parar. Fui assuntar e me disseram que eu tinha férias vencidas e como havia combinado de levar a alemã ao hotel (estava muito fragilizada), no caminho, a bordo de um táxi sem ar condicionado, falei que ia tirar férias, que estava cansado, escalavrado. Ela perguntou, num espanhol que parecia Richard Wagner esculhambando uma orquestra, onde eu iria passar as férias. Arremessei o lugar te improviso e ela, com aquela disposição de quem nasceu numa cultura que sobreviveu a urgência existencial de duas guerras, disparou: “posso ir com você?”. Saí do hotel dela três dias depois.

Fomos a TV, anunciamos as férias (empolgado falei em casamento com alguns colegas), fomos para o Galeão e vrrruuuuummmmm, escreveria Jack Kerouac.
Praia de nudismo. Estacionei o bugre (o correto é bug, já que Bugre é marca), junto a uma restinga. 26 graus, ventinho bom, céu azul profundo, jangadas no horizonte, gaivotas, coleirinhos cantando, só faltava meu amigo Roberto Menescal aparecer com Nara Leão cantando “O Barquinho”.

Ainda sem perceber que era praia de nudismo, peguei minha dama pela mão e desci uma trilha estreita que desembocava na areia da praia. Na areia, ela estendeu uma canga, ficou nua, correu para o mar manso e mergulhou. Sentei e fiquei quieto. Assim que ela retornasse eu diria que não era hábito brasileiro ficar nu na praia. Moralismo meu? Não. Era ciúme mesmo. Descobri naquele momento que também sou um cara ciumento, uma constatação que me fez muito bem porque a ausência do ciúme na minha vida me transformava numa medusa diante dos outros mortais.

Eu também era (e sou) ciumento, especialmente quando estou apaixonado. E eu não estava só apaixonado pela alemã. Estava louco por ela. Tanto que, na cama, sem camisinha, não tomava cuidado quando ejaculava com sinistras intenções de engravidá-la, o que não aconteceu porque, no meio da noite, ainda no Rio, levantei para fazer xixi e vi as caixa de pílulas na mesinha de cabeceira dela.

Quando ela voltou do mar, linda, linda, linda, esguia, eu já ia repreender mas vi dois casais passando nus. Depois, quatro crianças, dois idosos de uns 80 anos, um sorveteiro e até um salva-vidas. Todo mundo nu. Não me restou outra opção a não ser, constrangido, tirar a sunga também. Ela me pegou pela mão para passearmos na praia e aí eu confessei: “eu nunca fiquei nu em lugares públicos...com exceção dos bordeis que frequentei na adolescência”. Achei que ela iria me ridicularizar. Erro. Ela me deu um beijo. O mais puro e profundo de todos os beijos que trocamos ao longo de nossa tórrida, apaixonada e até ali infinita relação. E veioa ereção proibida naquele lugar, o mergulho de emergência, a gargalhada dela, o meu constrangimento.

Fomos passear pela praia, como todo mundo fazia. Em menos de 10 minutos me habituei com meu corpo nu em público e, meia hora depois, já havia até esquecido que estava sem roupa. O único problema era minha libido que, naqueles momentos pertencia (que maravilha) a minha alemã. Queríamos transar no mar, mas expliquei que praias de nudistas tem normas e protocolos muito rígidos para não se transformarem em esbórnia. Ela concordou. E lá pela meia noite e meia pegamos o bug e fomos para a pousada onde não dormimos até 10 horas da manhã do dia seguinte quando enchemos a cara de tapioca, bolo de laranja, café, abacaxi, pão francês, queijo minas fresco, beijos na boca.

Ficamos 15 dias naquele lugar, explorando outros de bug alugado. Andamos de jegue (de roupa), surfamos de peito (de biquíni e sunga) e fizemos amor sob uma lua nova que nunca vi igual; pálida e quase ofuscada por uma estrela que por pouco não me fez chorar de emoção. Foi nessa hora que pedi para casar com ela. Foi nessa hora que ela aceitou. Foi nessa hora que pedi que ela jogasse as pílulas fora. Foi nessa hora que ela concordou. Foi nessa hora que o mundo se tornou muito pequeno diante da onda que sentíamos. Onda que, provavelmente, nem álcool + maconha + cocaína + heroína conseguiriam proporcionar.

No décimo sexto dia entramos no avião de volta ao Rio. Meu estado de espírito não era dos melhores e comentei com ela. Ela disse que também sentia “um vácuo na garganta”. O avião decolou, ela dormiu no meu ombro enquanto eu tentava ler uma revista, pensando se seria uma boa ideia mudar para Frankfurt e trabalhar como... como...como o que? Não havia como trabalhar em Comunicação em língua alemã, mesmo que eu estudasse o idioma cinco anos.

Chegamos e fomos para o hotel dela, onde passei a morar e rachar a conta até o estágio da alemã terminar, várias semanas depois. E um dia terminou. E naquele dia ela tomou umas 12 caipirinhas no bar Veneziano (Largo do Machado), chorou, acho que também chorei afogado em quase três litros de Coca Cola comum. E ali trocamos as mais sinceras e profundas juras de amor, eu pensando em Machado de Assis, ela em Hermann Hesse.

No dia seguinte, o do embarque dela para Frankfurt aconteceu o que prevíamos mas não confessamos mutuamente: nos transformamos em sonhos. Ela, no meu. Eu, no dela. Sonhos de amor eterno, dedicação integral, pureza, entrega, tudo o que seria possível se eu embarcasse com ela confrontando o desconhecido.

Subi para o deck de observação do Galeão. O Boeing 747 da Lufthansa taxiava arrastando meus pensamentos. Decolou na minha frente, levando a bordo um dos mais profundos sonhos meus. Certamente um dos mais lindos e, quem sabe, possíveis. Mas ela e eu não pagamos para ver. Preferimos transformar aquelas semanas num mito. Mito que arde vivo até hoje.


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