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No passado a tecnologia aproximou as pessoas. Hoje, abre um abismo

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Não tenho a menor pretensão de interferir em condutas, comportamentos, hábitos. É só uma opinião, e sempre digo que opinião não é palavrão.
Desde que o satélite russo Sputnik foi lançado, em 4 de outubro de 1957 a comunicação no planeta sofreu uma revolução. Nos anos 60, 70, 80, 90, 2000 as distâncias foram diminuindo, ligações telefônicas tornaram-se imediatas, as transmissões ao vivo pela TV e rádio viraram rotina.

Hoje, com nossos smartphones ligamos para a China de qualquer muquifo, em muitos casos sem pagar nada; acessamos a internet, e blá blá blá. A humanidade ficou mais próxima de si mesma. Ao mesmo tempo, muito mais distante. E olha que sou árduo defensor da tecnologia.

As redes sociais aliadas a programas de contato imediato como Whatsapp, Viber estão acabando com o contato pessoal. Um dia desses eu estava em casa de uns amigos e o filho, no quarto, mandou uma mensagem pelo Whatsapp para a mãe, que conversava conosco na varanda. Ela comentou que já pensou até em vender seu smartphone e comprar um celular comum, sem internet, só com voz. Motivo: “as vezes fico o dia todos sem vê-los (os dois filhos).” Comentei que de fato ainda não existe afeto digitalizado e tal, e o papo deu uma brochada. Todo mundo parou para pensar.

Meses atrás, quando o prefeito do Rio anunciou o tal dilúvio que não veio, passei o dia em reuniões em Botafogo, Leblon e Ipanema. Ninguém me ligou, mas recebi várias mensagens por Whatsapp alertando sobre o temporal. Nenhuma ligação do tipo "alô, meu chapa, tudo bem? Olha, vai cair o maior toró!". Só mensagens digitais. Nem SMS (antigo torpedo, que há quem diga que virou fóssil), só programas que exigem que o smartphone esteja conectado a internet. Se eu decidisse não usar o 3G Não receberia mensagem nenhuma.

Aliás, rompi com a internet em 3G. Motivo: calça de veludo ou bunda de fora. Ou uso WiFi ou nada porque 3G e nada são a mesma coisa e, além do mais, não estou aqui para sustentar marmanjos especuladores do mercadão das telecomunicações. Dizem que a 4G é melhor, mas ando numa fase trapista e só vou trocar meu smartphone que não tem um ano daqui a...

Está havendo um exagero no uso das novas tecnologias. Médicos se relacionam com pacientes por escrito, mexem em dosagens de remédios via WWW; bate boca de comerciantes e clientes também são uma realidade e sei de muitos casos de pessoas que, em vez de reclamar com o vendedor de uma loja sobre problemas com determinado produto, preferem acessar o site Reclame Aqui, muitas vezes transformando um fato que poderia ser resolvido olho no olho numa tragédia virtual; em dias de aniversário, no lugar daquele telefone amigo cheio de energia está valendo um texto padrão no Facebook. Muito esquisitos esses novos tempos.

Desde o início dos anos 1990 uso a internet, que Darcy Ribeiro (saudade desse cara) muito bem definiu quando disse que "depois da fala e da escrita a internet é a maior invenção do ser humano". Sem a internet minha vida ia se complicar porque trabalho arduamente com mídia e afins, logo, preciso me comunicar com agilidade. Mas, na vida pessoal prefiro encontrar meus amigos num bar, dar uma volta de carro ouvindo música, consultar médicos olho no olho, desejar feliz aniversário falando ao telefone, enfim, não sou exemplo para ninguém mas prefiro humanizar ao máximo a tecnologia.


Estou certo? Estou errado?

“Refratações”*: a pancadaria entre Freud e Jung e uma questão: as guerras amadurecem?

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* Palavra inexistente                                                

Jung (a esquerda, sentado na escada), Freud (calção quadriculado 
a direita) e dois amigos numa casa de banho turco
Prólogo – “Minha ideia sobre Deus está formada pela profunda convicção emocional da presença de uma força racional superior, que se revela no incompreensível do universo” (Albert Einstein); “Não posso dizer “eu creio”. Eu sei! Tive a experiência de ter sido capturado por algo mais forte do que eu, algo a que as pessoas chamam Deus” (Carl Gustav Jung).  

A partir dessa experiência abissal, Jung descobriu o poder do espírito e a sua relação com o mentor Sigmund Freud, que já vinha se despedaçando ruiu de vez. Contam os livros que os dois estavam numa cabine de trem, em 1914, indo para Hamburgo. Jung já não suportava mais o que teria chamado de “reducionismo materialista” de Freud. Esse, por sua vez, também sentia náuseas quando o discípulo falava de inconsciente coletivo, Anima, Animus, espíritos... Foi aí  que um destemperado Freud, na cabine do trem, teria gritado “fique então com esse lixo, essa lama que são os seus espíritos”.

De acordo com Felipe Luis Melo de Souza, “com o rompimento definitivo em 1914, quando Jung deixa a presidência da recém criada Associação Psicanalítica Internacional, inicia-se a querela de atribuição de epítetos depreciadores de ambos os lados. (...) A crítica da exacerbação da sexualidade na obra do pai da psicanálise - que é feita frequentemente - esquece-se de que Freud e Jung possuíam o mesmo sonho inicial, o Falo.”

Fiz psicanálise freudiana (até a alta), existencialista (interrompida porque o terapeuta desistiu desse caminho e viramos amigos) junguiana (me dei alta), voltei para a freudiana (nova alta) e hoje estou conhecendo a Gestalt (conhecendo e gostando da ausência de teorias pouco úteis), até descobrir que avalanches inconscientes, caos, angústias, memórias, sonhos e reflexões não tem alta. Por que? Porque a alta da vida é a morte.

Apesar de analisado desde a adolescência, jamais em tempo algum abrir mão da minha visceral, radical, inquestionável fé em Deus. Jamais! E os meus analistas nunca me questionaram a respeito. Ninguém me ensinou a crer em Deus. Ninguém. Simplesmente aconteceu, como um vendaval, uma chuva de outono, enfim, Deus está em meu cotidiano como a água, o sono, a comida, o afeto.

Sobre Deus, quando estou batendo papo e meus interlocutores começam a detona-Lo, fico quieto. É automático. Quando reparo, estou olhando para uma bela mulher, lembrando de uma música, enfim, me abstraio como se queimasse um fusível interno.

Tempos atrás dois amigos (um religioso o outro ateu) batiam boca no Velho Armazém, antigo bar da orla de São Francisco (Niterói, não Califórnia), que infelizmente fechou, por causa do tema “por que Deus deixa acontecer as guerras?”. Aquilo não ia prestar e, de fato, vários chopes depois tive que intervir antes que rolasse grossa pancadaria ali mesmo.

Eles se desculparam, sugeri que mudássemos de assunto mas, na boa, minha noite deu uma amargada, tanto que fui o primeiro a pedir a conta e voltar para casa. No caminho de volta pensei que até os livrotes vagabundos tricotam freneticamente sobre o renascimento de nações que foram dizimadas por guerras. Inglaterra, Alemanha, Itália, China, Japão. A Coréia do Sul, depois de ser destruída nos anos 50/60, passou todo mundo e hoje é o país-modelo em educação. Isso sem falar em tecnologia, distribuição de renda, etc.

Já aqui no Brasil...bom na Câmara dos Deputados, que nós elegemos, a prioridade máxima continua sendo aumentar o faturamento. Deles. Li também que, além da podóloga e da consulta médica, subiu tudo. Normal, não é?
Apelo aos antropólogos e outros ólogos. Se o Brasil tivesse encarado guerras tudo mudaria ou nada mudaria? Sabe aquela antiga teoria de que o ser humano só cresce com dor, sob tensa, densa, intensa crise?? Ela se aplica a nações? O Vietnã viveu em guerra de 1910 a 1975. Japão invadiu, França invadiu, Estados Unidos invadiram. Só na guerra contra os Estados Unidos morreram 1 milhão e 500 mil vietnamitas que, em nenhum momento, largaram o osso. Foram até o fim e botaram os americanos pra fora com memoráveis chutes na bunda. Hoje o Vietnã já é quase um “tigre asiático”, com índices econômicos invejáveis, educação, saúde, etc.                                                

Parto de um princípio de que a culpa não é de quem faz, mas de quem deixa fazer. Exemplo: se puserem um caixa eletrônico em cima da Pedra do Arpoador a culpa será do banco ou da prefeitura? Com a passividade popular e eleição é a mesma coisa. A passividade popular homologa os desvios. As eleições sacramentam. Em outras palavras, qualquer pau de enchente que esteja no poder num regime democrático, o aval (culpa) é nosso.

Não vou citar exemplos de outros países que venceram o arbítrio/corrupção/canalhice porque todos (sem exceção) usaram a truculência. Mussolini foi pendurado num poste, americanos jogaram coquetéis molotov em postos de gasolina que aumentaram preços no crash de 1929, enfim, não encontro um exemplo de vitória popular que não passe pela luta. Física. Logo, como sou pacifista, fecharei a cisterna.                                     

Não estou defendendo ninguém e muito menos atacando. Estou apenas refratando diante do que vejo, sinto. E o que a História me conta, sussurrando de madrugada, é que por coincidência os povos regidos por fanatismos religiosos são os mais manipulados e miseráveis.

Os povos da Índia e África, em sua maioria, são hordas de mortos-vivos dopados por crenças fanáticas que não deixam enxergar que os seus governos roubam, matam, achacam, em nome desse mesmo fanatismo.

Para mim nada é possível sem Deus. Querem saber? Para mim tudo é impossível sem Deus. Não tenho lastro teológico algum para afirmar que Deus discorda do fanatismo religioso, mas tenho o direito de imaginar que Ele não concorda. Fanatismo paralisa, enlouquece, dopa. Fanatismo quando decreta que orelhão é sagrado os seguidores batem palmas quando o Estado não instala orelhão nenhum.

Fanatismo quando determina que peixe é sagrado seus seguidores autorizam o Estado a não investir nada em indústria pesqueira. Mao Tse Tung radicalizou quando sentenciou que “a religião é o ópio do povo”. A religião não, mas o fanatismo, mais do que o ópio, é pior do que heroína.

Por que somos tão submissos? Faltou guerra? Faltou o olhar do invasor dentro da nossa casa citando Renato Russo : “eu sou a sua morte/ vim de fazer companhia”? De vez em quando vejo carros com adesivos “Basta isso”, “Basta aquilo”. Bastar como? Como se “basta” a lambança? Como se basta o arbítrio, a corrupção, tráfico de vidas?  Out-estima, digamos.

Fato é que a gemedeira e a vitimologia continuam por aí. Continuamos pagando a tal taxa de “assinatura” dos telefones, engolindo o “matematicalogismo” que aumenta planos de saúde, luz e salários de deputados. Qual é o critério? A submissão? Qual é a saída? Quem é o inimigo, quem é você?







“Porque você é corrupto. E como corrupto é alcoólatra e como alcoólatra é viciado em cocaína e como viciado em cocaína é brocha e como brocha...e por aí vai, ladeira abaixo até a cela onde você mora hoje, seu canalha”

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- Você deixou recado no meu celular e eu não gostei. Não gostei porque desde que a sua cara imunda apareceu em todos os jornais como corrupto, safado, moleque, salafrário, minha libido foi a zero e meu celular foi grampeado. Estou falando de um orelhão, raro orelhão, mas exijo que você não dê um pio. Se falar, desligo na sua cara, seu canalha.

É nessa época do ano que fico mais encharcada e você sabe disso. Quando eu, você e Telinha fomos para aquele resort em 2012, você mentiu. Disse que o dinheiro da estadia era seu, mas uma semana depois me ligaram (ligação anônima, lembra?), denunciando que nossos loucos dias de hedonismo tropical foram bancados pela estatal. Não gostei. Sou vadia? Sou. Sou vagabunda? Sou. Sou insaciável, ninfomaníaca? Sou. Mas quem me chamar de corrupta eu mato.

Estou ligando pela última vez. Telinha nem sabe que estou no orelhão. Ligo para te dizer que não fosse por ela, seu porco, não havia existido nada entre nós. Eu só te encontrava, simulava ser sua amante, amásia, sei lá o que, para justificar a presença de Telinha, ela sim, ela sim, ela sim...um ser que me sacia justamente por ser insaciável. Isso você não vai entender nunca porque enquanto eu e ela virávamos as noites trocando nossas seivas, nutrindo nossas línguas, sangrando nossas costas, você roncava bêbado, virado para o lado, sonhando com propinas, caixa 2, lambanças.

Nem pense em me responder agora...Se disser “alô” desligo o telefone. Claro que é uma despedida, seu animal. A possibilidade de eu me tornar zoófila não é tão remota assim, mas com porcos da sua laia eu não me deitarei jamais. Por que? Porque você é corrupto. E como corrupto é alcoólatra e como alcoólatra é viciado em cocaína e como viciado em cocaína é brocha e como brocha...e por aí vai, ladeira abaixo até a cela onde você mora hoje. Está gostoso aí? Tem pó? 
Tem grana suja? Tem falsas gargalhadas? Tem carreirismo?

Você nunca mais vai me ver porque a minha suposta imoralidade foi drenada para a libido, libido que você nunca teve, escondido atrás de ternos importados cafonas, famílias formatadas por revistas de pequenos burgueses, enfim, um moralista típico como todos os salafrários são. Desafio, moleque...desafio que cite um corrupto que não seja moralista. Um só. Não agora porque, já disse, não quero ouvir sua voz. Telinha deve estar acordando e hoje nós vamos transar a noite inteira. Ela não sabe, mas será em homenagem a sua prisão, seu velhaco, biltre, bisbórria, celerado, patife, tratante.


Não diga nada! Quem diz adeus aqui sou eu. 

Feriadão - uma pensata para primeiro de maio

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O dicionário explica: “Feriado - dia de descanso, instituído pelo poder civil ou religioso, em que são suspensas as atividades públicas e particulares”. Já escrevi sobre feriados. Um artigo meio marrento, sentando o pau nos feriados, especialmente nos feriadões, que atrapalham...atrapalham...atrapalham quem? O que? Hoje, com a devida distância, digamos, histórica, confesso que foi um texto egoísta.

Sentei o pau nos feriados porque nós, jornalistas, vivemos um dilema. Se por um lado parte da Redação fica de folga, a outra rala dobrado para compensar já que imprensa não para. Mais: os jornais tem seu cronograma todo alterado por causa das gráficas e outros prazos. Não foi um texto reclamão, mas agressivo porque naquela semana um feriadão tinha me obrigado a virar noites escrevendo, antecipando trabalhos para que o cronograma não fosse para o espaço.

Com o passar do tempo fui mudando de opinião. Aliás, acho que mudar de opinião faz bem a saúde. Manter a mesma opinião por mera teimosia me cheira a burrice, o que Raul Seixas chamou, muito bem, de metamorfose ambulante. Fundamental. Mas, como eu ia dizendo, com o passar do tempo fui começando a gostar dos feriados. Mais: comecei a adorar trabalhar nos feriados porque fico de folga em dias em que as cidades ditas turísticas não estão insuportavelmente cheias. Já dei zaralhadas de plantões em viradas de ano, Natal, carnaval e adorei. Trabalhar, não me aporrinhar com multidões de paruaras e, ainda por cima, ganhar por isso.

É evidente que não costumo viajar em feriados, ou feriadões, porque meu nível de masoquismo é baixo. E já cansei de passar feriados engarrafado nas sub-estradas do Estado ou largado como uma mochila nos aeroportos lotados. Pelo que observo, muita gente tem desistido de viajar nos feriadões porque percebeu que padece nas estradas e quando chega ao destino está tudo lotado, cheio de filas,  engarrafamento humano e o de automóveis pioram, praias superlotadas, blá blá blá.

Repensando tudo temos o direito de homenagear nossos heróis, santos e afins. Temos sim! Mas o que me fez realmente mudar de idéia em relação aos feriados foi uma matéria que li sobre um relatório da Organização Internacional do Trabalho, OIT, que informava que nós, brasileiros, estamos entre os povos que mais trabalham no mundo. Claro que os chineses batem recorde, mas, muito entre nós, aquilo roça no regime de escravidão.

Os que menos trabalham (medição em horas por semana), pasmem, são os alemães. Fiquei impressionado com a quantidade de feriados na Europa, com a quantidade de horas/semana que os franceses, ingleses e italianos trabalham que é muito menor do que a nossa. Ou seja, nós que trabalhamos pra caramba merecemos dar uma descansada-extra de vez em quando.

Não importa se viro noites, não importa se os prazos ficam apertados. O que importa é que, ao contrário do que muita gente pensa (com exceção dos números da OIT) nós, brasileiros, trabalhamos muito, desde que haja emprego. Você sabe disso porque sente na carne. Além disso, os feriados desorganizam a vida de muitos outros profissionais que são submetidos a plantões, emergências, enfim, nem todo mundo bota o boi na sombra.


E começamos mais um feriadão. Ao invés de despejar ira, desejo a todos muito, mas muito descanso. Que, como já disse, é mais do que merecido.

A dor de querer saber compensa muito mais do que a dormência da ignorância

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Elas começam a chegar. As massas polares que frequentam o outono e o inverno no Brasil trazem o azul mais profundo do céu infinito, realçam o verde das árvores e nos convida a visitar a oca de nossas reflexões. Mesmo os chamados antireflexivos, sem saber, refletem sim. Ou, na pior das hipóteses, contemplam a vida com um olhar levemente crítico do tipo “o que é que estou fazendo neste filme?”.

Sou do time cujas reflexões são profundas e, muitas vezes, se tornam crises existenciais. Como o mar de marolas que vai engrossando, engrossando e de repente vira trazendo as ressacas. Ressacas, irmãs do inverno, das pedras e conchas geladas, vento soprando de leste.

Alguém disse que viver é fundamental. Refletir, idem. Em muitos momentos meus pensamentos mergulham em trilhas muito duras e sofridas, mas, graças à luz do outono/inverno, chegam a alguma conclusão saudável. Outono e inverno parecem jogar a nosso favor. Não, não tenho nada contra a primavera e o verão, mas penso que o calorão não combina com reflexões plácidas.
Caos, caos, caos.

Você teme alguns pensamentos? Confesso que já temi, especialmente os caóticos que, não se sabe por que, nos levam a becos que nós mesmos tornamos, em tese, sem saída. Repito: em tese. O noticiário dos últimos dias não tem combinado com a beleza das folhas molhadas ou com o orvalho que molha as calçadas. O noticiário dos sites, jornais, revistas, TVs está pesado e, a vezes, dá vontade de parar de querer saber o que está (ou não) acontecendo com o Brasil. Mas, não tenho vocação para a alienação.

A dor de querer saber compensa mais do que a dormência da ignorância, por si só, boçal, totalmente boçal que nos engessa numa redoma de lata sem o menor sentido. Fundamental, para mim, continuar querendo saber e, ao mesmo tempo, contemplando o azul profundo do céu levemente gelado do outono que desperta sentimentos profundos, belos e, por que não, alguns nós na garganta.

E o vento sopra, leva o orvalho, as luzes, o azul do céu de outono.


Tudo Blues; o suposto mendigo baterista; Kapitu; Lobão; Freiras pornô etc.

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Tudo Blues
Luiz Cláudio Carvalho Vasconcellos lembra que semana começa a rolar um mega festival de blues no Teatro da UFF, em Icaraí, Niterói. “Tudo Blues” só tem fera: 16 de abril – Quinta-feira | 21h GLAUCUS LINX & ANCESTRAIS FUTUROS – Convidado: Altay Veloso;17 de abril – Sexta-feira | 21h MAURÍCIO SAHADY; 18 de abril – Sábado | 21h BIG GILSON; 19 de abril – Domingo | 20h VICTOR BIGLIONE; 23 de abril – Quinta-feira | 21h; CRISTIANO CROCHEMORE & BLUES GROOVERS; 24 de abril – Sexta-feira | 21h SOULSHINE JAM BAND; 25 de abril – Sábado | 21h; BIG JOE MANFRA; 26 de abril – Domingo | 20h BLOODY MARY & THE MUNSTERS.

Ingresso: R$ 30,00 (inteira) R$15,00 (estudantes, maiores de 60 anos, menores de 21 anos e pessoas com deficiência); Censura: Livre
Teatro da UFF – Rua Miguel de Frias, 9, Icaraí, Niterói, RJ – Tel.: 3674-7511 

Informações: (21)3674-7512.
                                             

Kapitu grava segundo CD
A banda Kapitu está em estúdio gravando o seu segundo CD, que deverá ficar pronto em maio. A banda é uma das grandes revelações da nova safra do rock e blues e traz Yuri Corbal (guitarra e voz); Jahba (guitarra); Irlan Guimarães (baixo) e Rafael Marcolino (bateria).

O primeiro CD, “Utopia” está disponível para download no site www.kapitu.com.br.

                                                    

Lobão também grava

Em São Paulo, Lobão grava um novo CD, o primeiro com inéditas desde 2005. Muita expectativa em torno do novo trabalho do Grande Lobo.
                                                     
Os melhores guitarristas do mundo segundo a RS
  
No mais recente ranking da edição norte-americana da revista Rolling Stone, os 10 maiores guitarristas do mundo são: 1 – Jimi Hendrix; 2  - Eric Clapton; 3 – Jimmy Page; 4 – Keith Richards; 5 – Jeff Beck; 6 – B.B. King; 7 – Chuck Berry; 8 – Eddie Van Halen; 9 – Duane Allman; 10 – Pete Townshend.
                                                         
O suposto mendigo baterista
Está tendo muita repercussão a triste história de um suposto conhecido baterista de Niterói que acabou na mendicância. Ele teria agredido uma garota no início da semana e hoje foi levado pela polícia para a 77ª. DP.                                                        
P.S.
Livro reúne poemas eróticos escritos por e para freiras nos séculos 17 e 18
Novo lançamento da L&PM, "Que Seja em Segredo" reúne poemas eróticos de autoria de freiras ou inspirados nelas e "escritos na devassidão dos conventos brasileiros e portugueses dos séculos 17 e 18", como descreve a própria editora. Trata-se de um relançamento da obra, que já saiu pela editora Dantes nos anos 1990 e havia esgotado.

“Poeta anônimo
Quando eu estive em vossa cela
Deitado na vossa cama
Chupando nas vossas tetas
Então foi que me lembrei
Linhas brancas, linhas pretas”

Sorria, você está trabalhando de graça

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Virou moda. Além de abrirem espaço para cantores-colunistas, de qualidade para lá de discutível, muitos meios de comunicação estão transformando a vaidade de seus leitores em trabalho gratuito e eventualmente sujo.  Você entra no site do jornal e está lá “seja um repórter, envie sua foto ou vídeo via Whatsapp para cá. Clique aqui”. Só não escrevem “clique aqui babaca porque assim você estará fazendo o serviço sujo (dirty job in english) trabalhando de graça e ocupando o lugar de um profissional da imprensa, entendeu fadinha?”

Não é só o bancário que está em extinção. O jornalista também. Por falar em repórter, já que o programa é chato pra caceta não custa dar uma de chato. Repórter não é profissão, é função. Profissão é jornalista, função repórter, logo o programa Profissão Repórter além de chato foi batizado por um analfamídia digamos assim.

Quando cai um temporal você pega sua câmera digital e click click click entra no Whatsapp e manda para um jornal, para uma revista, para uma emissora de TV? Sim? Tks, tks, tks. Trabalhando de graça, minha cara, meu caro ou similares? Vamos supor que sua foto (ou gravação de imagens em movimento) saia no jornal/TV/site no dia seguinte com seu nome, você fica todo arrepiado? 
Fica? Com os pelinhos em pé como os de Leopoldina na primeira noite de núpcias com D. Pedro na Quinta da Boa Vista, cuja cruza foi tão intensa que até os cavalos relinchavam nas cocheiras a 100 metros de distância? Pois saiba que você está ajudando a desempregar jornalistas a rodo.

Me disseram que a tecnologia vai acabar com o repórter. Pode ser. Posso falar em português casca grossa? Posso? Então tá. Tenho lido muita bobagem em sites de jornais. Um dia desses um repórter escreveu ”haviam (o erro começou aí, não há plural) muitas lamas (ai!) nas ruas”. Erro de quem? Para começar desse hábito perverso de transformar estágio (em tese, ferramenta de aprendizado) em mão de obra barata. Falham também os ensinos fundamental e médio que não ensinaram esse adorável protozoário a escrever português. 

Ou, pior, não obrigou essa mula sem cabeça a ler, ler, ler até estranhar a palavra “lamas”. Estranhamento do tipo “gozado, por que lamas não me cai bem?” Vai constatar que lama não tem plural, mas com certeza ele tem MBA.
Como você se sente trabalhando de graça? Fala pra mim? Fala no meu ouvidinho. É gostoso esse frisson depois do sul da espinha, essa aflição alucinada de ver uma foto sua publicada no jornal? Que gracinha. Diga mais: quando você pensa “em vez de mim, um profissional deveria estar fazendo este trabalho” o que você sente? Pior: sua foto é uma bosta, mas as editorias de hoje estão mais flácidas, hímens muito complacentes por causa do terror do desemprego. Publicam fotos sem definição, desfocadas, mal enquadradas e você, aflitinho, ligando pros amigos, dando dinheiro para as operadoras de celular? É assim? Você já pensou em.....em...operar um cérebro? Sim, dar uma de neurocirurgião, numa boa, com a mesma consumição que te faz fotografar para jornais? Já? Então opera, baby! Que tal projetar uma casa? Ou construir uma usina nuclear? Não é vale tudo, baby?


Ah, sim, há quem mande fotus com testuz. Neste caso é só dar descarga e ir embora.

A eternidade dos Beatles se mantém intocada

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Lendo sobre o 45º. aniversário do álbum Let it Be, dos Beatles, acabei mexendo nas gavetas da memória. Comecei no Jornalismo em 1971. Tinha 16 anos, sabia que uma nuvem negra estava sobre a nação, mas só nas redações dos jornais entendi o que significava o peso de uma ditadura e como todo foca jamais um chefe de reportagem me mandou cobrir calamidades políticas. Lugar de foca era na redação, telefonando, aprendendo e, no máximo, cobrindo um princípio de incêndio, um pequeno acidente, o cotidiano.

Chegava em casa, tomava um banho, estudava e depois ligava um pequeno toca discos Philips por onde desfilavam, basicamente, Beatles, The Who, The Troggs e Led Zeppelin. Desnecessariamente nessa ordem. Eu achava que os Beatles tinham acabado em 1970, mas só com o passar do tempo percebi que, em vez de morrer, a banda ingressou no olimpo. Por sua honestidade musical, empenho existencial, ganhou a preciosa chave dos portais da eternidade onde está até hoje e, provavelmente, ficará sempre. Como Stravinsky Debussy, Mozart, Bach.

Tempos atrás peguei uma série de fotos num site que meu amigo Luiz Tiribás, também amante os Beatles, me indicou. Uma sessão de fotos de Ian Mcmillan em Abbey Road que resultou na capa do antológico álbum com o mesmo nome que, em tese, fechou a tampa do conluio de Lennon, McCartney, Starr e Harrisson. Na verdade, com a sua morte formal os Beatles estavam apenas iniciando uma nova jornada, que prevalece e, pelo que percebo, está blindada contra o tempo.

Como a maioria dos garotos da segunda metade dos anos 60, com meus 11 anos de idade, tive minhas bandas de Rock. Tocávamos covers de nossos heróis em quermesses, colégios da periferia para plateias bêbadas e atônitas porque ninguém conhecia The Troggs, a base de nosso repertório. Não ousávamos tocar The Who por incompetência musical (éramos amadores) mas arriscávamos mandar Beatles de vez em quando. A brincadeira acabou quando saiu “Revolver” (“Tomorrow Never Knows” descabelou tudo) e fomos degolados quando os quatro gênios lançaram “Sgt Pepper´s”. Não conseguimos tocar “aquilo”.

Vamos voar até 1990. De plantão em frente ao hotel onde Macca estava hospedado (ele fez o bombástico show no Maracanã) eu esperava de tudo. Eu não, nós porque havia um bando de jornalistas. E lá pelas tantas um carro parou, vidros escuros e desceram Linda e Paul. Esperava de tudo, menos que ele se aproximasse um pouco de nós e, em voz alta, dissesse “essa cidade é linda”. Deu um até logo e entrou no hotel. Fiquei me beliscando. Eu vi Paul McCartney a menos de cinco metros de distância? Vi. Vi sim. E fiquei mudo. Se fosse a Rainha da Inglaterra eu teria enfiado o microfone do gravador na boca dela e arrancado uma declaração, sabendo que provavelmente seria descredenciado e preso. Se fosse o presidente da república ou qualquer astro de qualquer dimensão cultural, eu teria avançado para entrevistar, mas Macca me congelou.

Em segundos todo o meu passado de banda de garagem, mais namoros furtivos roçando em muros de chapisco ao som dos Beatles, mais a evolução, mais....mais tudo veio a minha cabeça. Nada fiz, mas eu vi Paul McCartney. 

Anos antes estive a dois metros de George Harrisson, no autódromo do Rio e Ringo também vi umas duas vezes. Lennon? Jamais. Paul, uma vez. Eterna vez. Eterna como os Beatles.



The Who não virá tocar no Brasil

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Acabei de confirmar. The Who não virá tocar no Brasil, justamente neste ano em que se despede dos palcos após 50 anos de estrada, milhares de shows em todo mundo com exceção da América Latina.

Os empresários alegam vários motivos para não fechar com a banda: 1 – a instabilidade da economia no Brasil espanta os que investem em dólar, já que a moeda americana (base de cálculo para contratos de artistas de fora) anda muito instável; 2 – The Who, único grande grupo de rock que não se apresentou por aqui, cobra cachê milionário no exterior, fruto de sua grande popularidade. Os empresários acham que aqui no Brasil são uma banda conhecida mas incapaz de lotar, por exemplo, a Apoteose; 3 – A banda já fechou a sua agenda (veja lá embaixo).

Amigos e conhecidos assistiram a shows da banda este ano, durante a turnê mundial e dizem que o Who está tocando muito e tem deixado as plateias histéricas. O repertório traz clássicos pouco executados como “The Song is Over” e “Bargain”, ambas do álbum “Who´s Next” (1971).

Aviso a quem puder: vale embarcar e assistir a turnê de despedida dessa lenda vida do rock. Os locais:

Estados Unidos:

MAY 15 2015  COLUMBUS, OH     NATIONWIDE ARENA
MAY 17 2015  PHILADELPHIA, PA WELLS FARGO CENTER 
MAY 20 2015  UNIONDALE, NY     NASSAU COLISEUM       MAY
22 2015  ATLANTIC CITY, NJ BOARDWALK HALL
MAY 24 2015  UNCASVILLE, CT    MOHEGAN SUN ARENA 
MAY 26 2015  BROOKLYN, NY      BARCLAYS CENTER
MAY 30 2015  FOREST HILLS, NY FOREST HILLS STADIUM

Europa:

JUNE 21 2015 BELFAST ODYSSEY ARENA  
JUNE 23 2015 DUBLIN   3ARENA 
JUNE 26 2015 LONDON HYDE PARK   
JUNE 28 2015 GLASTONBURY FESTIVAL    
JUNE 30 2015 PARIS     LE ZENITH    
JULY 2 2015   AMSTERDAM   ZIGGO DOME

Estados Unidos e Canadá:

SEPTEMBER 14 2015     SAN DIEGO, CA     VALLEY VIEW
CASINO CENTER    SEPTEMBER 16 2015     ANAHEIM, CA
HONDA CENTER     SEPTEMBER 19 2015     LAS VEGAS, NV       COLOSSEUM AT CAESARS PALACE     
SEPTEMBER 21 2015     LOS ANGELES, CA  STAPLES CENTER  
SEPTEMBER 23 2015     OAKLAND, CA ORACLE ARENA     
SEPTEMBER 25 2015     PORTLAND, OR      MODA CENTER      
SEPTEMBER 27 2015     SEATTLE, WA KEY ARENA    
SEPTEMBER 29 2015     VANCOUVER, BC    PEPSI LIVE AT ROGERS ARENA   
OCTOBER 1 2015   CALGARY, AB  SCOTIABANK SADDLEDOME 
OCTOBER 3 2015   EDMONTON, AB     REXALL PLACE
OCTOBER 6 2015   SASKATOON, SK    SASKTEL CENTRE  
OCTOBER 8 2015   WINNIPEG, MB      MTS CENTRE  OCTOBER 10 2015       MINNEAPOLIS, MN TARGET CENTER   
OCTOBER 13 2015 MILWAUKEE, WI    BMO HARRIS BRADLEY CENTER   
OCTOBER 15 2015 CHICAGO, IL  UNITED CENTER   
OCTOBER 17 2015 DETROIT, MI  JOE LOUIS ARENA 
OCTOBER 19 2015 TORONTO, ON AIR CANADA CENTRE   
OCTOBER 21 2015 TORONTO, ON AIR CANADA CENTRE   
OCTOBER 23 2015 PITTSBURGH, PA    CONSOL ENERGY CENTER    
OCTOBER 25 2015 NEWARK, NJ   PRUDENTIAL CENTER   
OCTOBER 27 2015 NEW YORK, NY      MADISON SQUARE GARDEN 
OCTOBER 29 2015 BOSTON, MA  TD GARDEN   
NOVEMBER 1 2015 WASHINGTON, DC VERIZON CENTER 
NOVEMBER 4 2015 PHILADELPHIA, PA WELLS FARGO CENTER









B.B. King – o homem que conheci era um autêntico bluesman

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    O discípulo Eric Clapton conduz o rei

    Jimi Hendrix, discípulo
    Jeff Beck, discípulo
    Jimmy Page, discípulo
Participei de três entrevistas coletivas de B.B. King no Brasil, duas no Rio e uma em São Paulo. Um homem raro porque conseguia conciliar a humildade dos campos de algodão com a sua inquestionável realeza musical.

Longe de fazer o gênero “velhinho gente boa, pacato cidadão”, B.B. King nunca levou desaforo para casa. Nem nos tempos dos campos de algodão em Itta Bena, Mississippi, onde nasceu em 16 de setembro de 1925.

Batizado como Riley Ben King, aos 9 anos vivia sozinho e plantava para sobreviver. Perguntei duas, cinco, oito vezes ao longo das entrevistas se ele tinha sofrido maus tratos. Ele jamais respondeu, desviando a conversa.

Contou que jamais esqueceu de uma cena, barra pesada, quando uma roda de dezenas de membros da execrável Ku Klux Klan, que agia livremente até os anos 1960, enforcou um negro. O corpo pendurado, balançando, a euforia dos homens de branco encapuzados, são cenas que B.B. King jamais conseguiu apagar da memória. Ele disse que “naquele momento eu decidi lutar contra aquela monstruosidade, só que à minha maneira”. Em vez de fuzil, faca, B.B. King empunhou guitarras. E venceu! Alguém duvida?

Guitarras que ele, autodidata, tocou à sua maneira, solos curtos, sincopados, como rajadas ríspidas, seguras, amplificadores levemente saturados, uma invenção sua. Ele me disse “um jeito de tocar que tenta exprimir a maior quantidade possível de sentimentos”.

Sentir e tocar. Tocar e sentir. B.B. King teve com a música uma relação que durou toda uma vida e, de fato, nos momentos de solidão aguda (não foram poucos) ele ligava sua Lucille (várias guitarras batizadas com esse nome) e ficava “tirando o que ela tinha a me dizer...e ela sempre tinha muita sabedoria para me passar”, disse o mestre com um leve sorriso.

Bom lembrar que Lucille foi uma mulher que provocou uma briga entre dois homens num lugar onde B.B. King tocou.Noverão de 1949, a lenda do Blues, B.B. King, tocou em um salão de dança em Twist, Arkansas. Para aquecer o ambiente, um barril quase cheio de querosene foi aceso, um procedimento bastante comum naquela época.

Durante a performance, dois homens começaram a brigar, esbarrando no barril e espalhando combustível em chamas pelo recinto. Quase todo mundo, inclusive King, correu para fora do lugar. Do lado de fora, King percebeu que tinha esquecido sua guitarra e voltou para o edifício em chamas para recuperar sua amada Gibson 335 de 30 dólares.

Dois homens morreram no incêndio e, no dia seguinte, King descobriu que eles estavam brigando por uma mulher chamada Lucille. King subsequentemente deu esse nome à sua primeira guitarra, assim como a toda guitarra que teve desde então, como um lembrete de nunca mais fazer algo tão estúpido quanto entrar em um prédio em chamas ou brigar por uma mulher.

Numa dessas entrevistas, um colega perguntou sobre a morte. Ele ficou calado, pensou, esboçou um leve sorriso e, jocosamente, disse que não conhecia o assunto e muito menos sabia se iria para o céu ou para o inferno.

Cumprimentou-nos e foi para o palco, seu habitat natural.



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Amigo, recebi o seu e-mail. Sei que a mensagem atravessou um deserto, algumas metrópoles e o oceano Atlântico em questão de segundos. Como você bem escreveu, “chegaria da mesma forma se eu a tivesse colocado numa garrafa e atirado ao mar que cerca essa ilha de angústia transformada em alívio nos últimos dias, quando fui apresentado, pessoalmente, a Fé”.

Ando cada vez mais cauteloso com esTa Coluna, cujo volume de acessos tem crescido assustadoramente (obrigado, leitores!), já beira os 200 mil, desde que entrou no ar.  Aliás, muito entre nós meu caro amigo, sua mensagem é impublicável porque, penso, a maioria não iria entender. Entender a Fé? O momento em que a Fé entra em nossa vida, nosso corpo, nosso hálito? Como explicar? Como entender essa sublime abstração?

É como pretender explicar pela lógica o poder da música? Que sentimento nos faz ficar zonzos quando ouço Claire de Lune de Claude Debussy, de preferência com Nelson Freire ao piano, ou “Hawkmoon 269” com o U2, “Gallows Pole” com o Led Zeppelin, tudo do Who, tudo de Caetano, Milton, dessa bela morena chamada Céu, enfim, não dá para explicar e nem entender o que essas músicas fazem com a gente.

A Fé é assim. A diferença é que ela surge no horizonte quando estamos passando por algum sufoco. A minha Fé em Deus aconteceu numa noite de tempestade, raios para todos os lados, lá em 1974, ou 1975, ou 1977. Eu estava dirigindo uma Brasília na estrada e, de repente, sem mais nem menos, um Opala que vinha na pista contrária perdeu a direção e, sei lá porque, como, de que jeito, capotou e passou por cima de meu carro. Por cima, sem tocar! Parei, socorri o sujeito (que estava bêbado) e depois, bem depois, tremi. Tremi de ansiedade. Tremi de emoção. Eu tinha acabado de ser apresentado a Fé.

A Fé é etérea e justa. Justa como as coisas honestas que fazemos todos os dias, ajudando pessoas, projetos para pessoas, escrevendo para pessoas porque a vida só faz sentido se nos dedicarmos as pessoas. As coisas? As coisas vem e vão, mas também são consequências das pessoas.

Lendo sua mensagem, meu caro amigo, quase não o reconheço. Quando deixou o Brasil, naquele 2006 sob forte calor, você comentava com a sua companheira que estava saindo do caos para encontrar o cosmos. Não quis polemizar, não quis te contestar, mas essa frase é a primeira no cardápio dos iludidos. Ainda assim, te mandei um e-mail dizendo que li (acho que na obra de Carl Gustav Jung) que a ansiedade antecipatória deturpa as coisas. Ouso ir mais longe: você deformou as coisas, a ponto de tratar países como felicidade pré-paga e, não sei bem por que, não queria ouvir nada e nem ninguém que desmentisse essa sua verdade absoluta. E por causa disso, quase brigamos.

Aí aconteceu aquilo tudo, você acabou perseguido e preso, perdemos o contato. Minha amiga diplomata te ajudou, sua mulher te ajudou, até seu companheiro de cela te ajudou. Ainda assim, já solto, já com um subemprego na Holanda, você insistia na trilha da análise, das convicções cerebrais que nos diferem dos macacos. Stanley Kubrick insinuou em “2001, uma Odisséia no Espaço” que a alienação dos macacos atirou a espécie na felicidade, contrastando com HAL, o computador mau caráter.

Admito que estou falando demais, provavelmente escrevendo besteiras, tudo para te dizer (e a sua mulher) que estou feliz pra caramba por você ter encontrado a Fé. Que bom! Que bom! Para mim, a Fé é como uma daquelas ondas gigantes de 25 metros, que são quase comuns na “minha” Maverick, “minha” Califórnia, que quando descemos 70% estão nas mãos de Deus, 20% com o acaso, 5% com a sorte e somente os outros 5% com o nosso talento.
Deixe fluir, deixe rolar. Não sou teólogo, mas sei que a Fé chega até nós assim mesmo. Você quase morreu, foi salvo sabe-se lá como (li que o incêndio em seu prédio foi de grandes proporções) e hoje está inteiro.

Obrigado pela mensagem, obrigado pelas ótimas notícias e viva a nossa Fé.













É urgente o controle da natalidade. O Estado do Rio, por exemplo, superlotou. Não cabe mais ninguém!

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    Vista parcial de algumas favelas do Rio                                                                            
    Cafubá, Região Oceânica de Niterói. A esquerda, em 2005. A direita em 2015                                                                                
Morro do Beltão, Niterói. Foto Pedro Teixeira, O Globo
Vale encosta no muro do condomínio Vale de Itaipu, Niterói. Foto Pedro Teixeira, O Globo
Quem sobrevoa o Estado do Rio percebe que a chamada Região Metropolitana do Rio se tornou um mar de construções irregulares, desumanas, perigosas, antigamente tratadas como favelas mas que o cinismo burguês, aliado ao politicamente correto, mudou para “comunidades”. Choca menos.

Casas penduradas em abismos, prédios de cinco, seis andares construídos de qualquer jeito, devastação das matas, poluição dos rios, para orgasmo dos corruptos que sugam a política.

A miséria sempre foi um ótimo negócio para os moleques do poder e quanto maior a fome, quanto maior a criminalidade, mais “vozes justiceiras” surgem nas anônimas multidões faturando com isso; numa ponta ganhando mandato como parlamentar, na outra faturando bilhões de reais em corrupção com obras superfaturadas.

É lucrativo para a corrupção tratar o controle da natalidade como tabu, crime, medida desumana. Famílias bem planejadas (em todas as classes sociais) significam uma melhor ordenação do Estado, é lógico. Mas os corruptos tem horror a ordem, ao planejamento, ao bom senso porque eles ganham (e muito) na desordem, no inchaço, na desumanidade.

A desgraça para muitos mandatários e maus religiosos precisa ser ampla, geral e irrestrita porque é baseados nela, na desgraça alheia,  é que eles faturam muito. Quando mais miseráveis nascerem, quanto mais miseráveis morrerem, melhor para esses espertalhões que prometem o céu e em troca dão o inferno do roubo, da falácia, do estelionato social.

Obra, obra, obra, BRT, BRT, BRT, metrô, metrô, metrô, UPP, UPP, UPP, UPP, barca, barca, barca, nada resolve os dramas urbanos do Rio. Por que? Porque o Rio lotou, esgotou, não cabe mais ninguém. Quando falo Rio estou me referindo a capital e também região metropolitana e periferia, onde se encontram cidades como Caxias, Belford Roxo, Magé, São Gonçalo e Niterói.

Alguns fenômenos da não-natureza só servem para destruir e a especulação imobiliária gananciosa e desenfreada é um desses fenômenos. Fora do Rio anuncia um paraíso, uma Shangrilá com a população dando beijo na boca esperando o VLT (maquete) no Porto Maravilha (maquete), enfim, uma cidade inventada, cidade cenográfica.

O Rio virou um gigantesco Projac.

Aí, vendem apartamentos de 30 metros quadrados para incautos do interior, ao longo de anos (com o irrestrito apoio das autoridades), e a cidade veio inflando, inflando, inflando até explodir. Caos no Rio (Capital), caos em Caxias, Nova Iguaçu, enfim, onde existe a especulação imobiliária reina o inchaço, a criminalidade, a deformação. Soma-se a isso a falta de planejamento familiar e pou!

Solução? Havia se pudéssemos dar uma esvaziada no Rio o que, evidentemente, é impossível, mas caso os governantes tivessem um grave surto de seriedade (o que é impossível), matariam a especulação imobiliária. Aí, sim, poderíamos começar a conversar.

P.S. – Matéria no Globo-Niterói de domingo:

Sem fiscalização, favelas avançam em áreas nobres de Niterói

Em Itaipu, barracos invadem reserva e, em Santa Rosa, multiplicam-se no Morro do Beltrão

POR RENAN ALMEIDA / LEONARDO SODRÉ
18/05/2015 8:00 / ATUALIZADO 18/05/2015 10:56

NITERÓI — Morador de Santa Rosa há mais de três décadas, o administrador que pediu para ser identificado apenas como Bruno vive num prédio com vista plena para o Morro do Beltrão e pôde acompanhar todas as etapas de expansão da favela sobre a área verde do morro. Viu também o tráfico ganhar força na região e aprendeu a conviver com algumas políticas de boa vizinhança impostas pelos criminosos:

— Não posso deixar vocês subirem no térreo para fotografar. Do alto vocês vão notar o crescimento da favela, mas ao mesmo tempo vão estar de frente para a boca de fumo. Aí, se alguém de lá perceber, pode dar algum problema para o condomínio — pondera Bruno, que acrescenta: — Os próprios moradores são orientados a não ficarem na janela do prédio com o celular na mão.
Embora seja uma favela antiga, quem mora ali se queixa que as construções continuam ocupando novas áreas do morro, na parte da comunidade virada para a Rua Mário Viana. No encosta, muito íngreme, a prefeitura planeja executar uma obra de contenção, mas ainda aguarda a liberação de verba. 

Comparando imagens aéreas de 2005 e 2015 é possível notar a diferença. E a insegurança de Bruno em permitir fotografar o lugar se explica: na última terça-feira houve intensa troca de tiros na área do Beltrão durante a manhã e à noite.
Longe dali, num condomínio em Itaipu, na Região Oceânica, a imagem da desigualdade social é mais escandalosa. A partir dos anos 90, a comunidade do Rato Molhado começou a ocupar o morro aos fundos do Vale de Itaipu. Hoje, casas de luxo e barracos são separados por uma parede.

O condomínio faz fronteira com a Reserva Darcy Ribeiro e com um loteamento que dá na Avenida Central. O empresário José Eduardo mora ali, numa casa próxima à favela e lamenta ter visto árvores sendo postas abaixo no morro em frente à sua casa:

— Fiz denúncias quando derrubaram árvores para construir no morro e não deu em nada. É o absurdo do absurdo.

O síndico do condomínio, Wilson José, acompanhou a aparição dos primeiros barracos ali. Segundo ele, no início dos anos 90 o condomínio tentou em vão murar a área antes de a favelização ocupar os dois lados do morro. Embora o canto dos pássaros às vezes seja interrompido pelo barulho de tiros, Wilson diz que os traficantes vizinhos não levam problemas ao condomínio.

— A gente sabe que 90% dos moradores são de bem. Nunca tivemos problemas por conta disso, cada um vive no seu canto.

O Núcleo de Estudos e Projetos Habitacionais e Urbanos (Nephu) da UFF monitorou durante dez anos, de 2000 a 2011, o crescimento das favelas em Niterói. De acordo com o estudo, a área ocupada por assentamentos precários aumentou 11,30% no período. Em 2000, eram 30.957 domicílios em favelas. Mais de uma década depois já eram 40.655. Já um relatório da Ampla enviado à Aneel para discutir revisão tarifária de 2014 mostra que, em 2008, a empresa tinha 33.386 clientes em áreas de risco. Em 2013, esse número mais do que dobrou, saltou para 71.438, apresentando um crescimento de 113,9%.

 Isso aconteceu porque a ideia que o gestor público tinha era de que não criando moradias de interesse social na cidade não atrairia pobre, mas é uma ideia errada. Para combater a pobreza são necessárias políticas de inclusão e igualdade de renda — destaca a coordenadora do Nephu, Regina Bienenstein.

A prefeitura informou, através de nota, que acaba de concluir um estudo com base em levantamento fotográfico aéreo digital da cidade “que permitirá o monitoramento e controle adequados da expansão demográfica em todo o município”. Ainda de acordo com a nota, o mapeamento das áreas com crescimento desordenado em todas as regiões e bairros está sendo finalizado para a elaboração do novo Plano Diretor de Niterói. Somente após a conclusão desse diagnóstico será possível intensificar as fiscalizações e implementar as ações específicas que visem ao ordenamento desses territórios.

IMAGENS DE SATÉLITE MOSTRAM O CRESCIMENTO DE FAVELAS

O crescimento de algumas favelas em Niterói pode ser constatado através da comparação de imagens por satélite. Num intervalo de dez anos, é possível ver novas construções avançando sobre a mata e encostas em assentamentos precários em diferentes regiões da cidade. Na localidade do Caniçal, no Cafubá, a área verde entre as ruas 415 e Deputado José Luís Erthal foi bastante ocupada e quase desapareceu na última década. No Morro do Cavalão, entre Icaraí e São Francisco, percebe-se aumento do número de casas sobretudo nas partes altas da favela. E no Morro do Beltrão, em Santa Rosa, trechos de áreas verdes não existem mais.

— O Caniçal é uma favela antiga. Se houve o crescimento foi porque o governo não fez a regularização fundiária e urbanística nem construiu moradias populares. As pessoas precisam morar. Assim como a propriedade é um direito, garantido pela constituição, morar também é — destaca Daniel Souza, presidente do núcleo Niterói do Instituto dos Arquitetos do Brasil (IAB).

No período monitorado pelo Núcleo de Estudos e Projetos Habitacionais e Urbanos (Nephu) da UFF, de 2000 a 2011, o número de domicílios em assentamentos precários no Caniçal cresceu 47,47%: eram 297, em 2000 e passaram para 438, em 2011. No Beltrão, aumentou 8,23%, saltando de 620 para 271 casas no período. O Nephu apurou um crescimento de 35,20% na área que inclui Cavalão, Vital Brazil e Souza Soares. Entre os bairros de Icaraí e São Francisco, em 2000, havia 1.128 residências em assentamentos precários; em 2011 eram 1.525.

De acordo com o estudo, os assentamentos precários em áreas menores e de formação mais recente tiveram um crescimento percentual maior, mas a expansão foi mais significativa em favelas já consolidadas. A comunidade Cacilda Ouro, no Engenho do Mato, por exemplo, aumentou 241,67%: eram 12 casas, no ano 2000, e passou a ser 41, em 2011. Apesar de um percentual de crescimento menor no Morro do Preventório (29,67%), o aumento no número de residências foi mais considerável: de 1.028 para 1.333. Foram mais 305 casas em dez anos.

— Os assentamentos precários de Niterói ainda não chegaram na situação de descontrole como no Rio. Ainda é possível conter o crescimento e melhorar a vida de quem vive nesses locais. Para isso, é preciso urbanizá-los e fazer a regularização fundiária — alerta a coordenadora do Nephu Regina Bienenstein.
Na área de habitação, a prefeitura informa que desenvolve o programa Morar Melhor, em que 2.774 unidades estão contratadas e/ou em obras. Através de nota, acrescenta que prepara o Plano Municipal de Regularização Fundiária “que vai reverter as irregularidades fundiárias propondo melhorias habitacionais em situação ambientalmente adequada e socialmente justa, ora em fase de licitação”.





Sob o manto azul marinho de uma noite translúcida

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Como sempre faço, olhei para o céu hoje à noite, antes de entrar no carro. Senti uma emoção diferente com as luzes. Luzes das estrelas, dos aviões, das torres de comunicação, luzes da vida.

Antes de vir para casa fui até a beira de uma praia que era deserta até ontem, anos 1970. Parei o carro, saí e fiquei olhando para o céu. Ignorei a prudência coletiva que recomenda cuidado; entrar e sair rápido do carro porque a cidade está entregue aos bandidos.

Olhando o céu avistei um satélite artificial cumprindo a sua missão, em órbita constante singrando a Via Láctea. A emoção me tomou de novo, reforçada pelo ruído suave das ondas pequenas e distantes, desabando na areia.
O céu...claro!, estamos em maio, e foi em maio, em pleno outono, que com cinco anos de idade fui levado por meu pai para a praia da vila onde vivi a minha infância. Todas as pessoas com binóculos, lunetas e até um telescópio diziam estar avistando o Sputnik 4, satélite artificial russo.

Eu não entendi. Não entendi porque o Sputnik que vi nas fotos da revista O Cruzeiro não tinha nada a ver com aquele minúsculo ponto luminoso, menor do que todas as estrelas, do que todos os coleirinhos que cantavam no alto dos ingazeiros e que cortava rápido, bem rápido, o nosso céu. O Sputnik das fotos não era um ponto, mas uma esfera. Eu vi.

Meu pai explicou. Falou da distância, da luz do sol incidindo na esfera, falou do céu, das estrelas, falou de novo dos satélites artificiais, do seu brilho fixo, oposto ao cintilar eterno das estrelas. Falou, falou, falou e recitou um poema. 

Estávamos ele eu e meu irmão, quase a beira mar naquela noite translúcida. 

Meu pai recitou Olavo Bilac:

"Ora (direis) ouvir estrelas! Certo
Perdeste o senso!" E eu vos direi, no entanto,
Que, para ouvi-las, muita vez desperto
E abro as janelas, pálido de espanto...

E conversamos toda a noite, enquanto
A via-láctea, como um pálio aberto,
Cintila. E, ao vir do sol, saudoso e em pranto,
Inda as procuro pelo céu deserto.

Direis agora: "Tresloucado amigo!
Que conversas com elas? Que sentido
Tem o que dizem, quando estão contigo?"

E eu vos direi: "Amai para entendê-las!
Pois só quem ama pode ter ouvido
Capaz de ouvir e de entender estrelas."

Não entendi nada sobre a incidência da luz, o tamanho do Sputnik, gravidade, força. Mas ali, naquela noite de 15 de maio de 1960, meu pai me ensinou a ouvir estrelas.

E eu nunca mais esqueci.



Quando você diz que conhece alguém torna-se seu fiador moral

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Texto restaurado e remixado

O cara é invejoso, rancoroso, provinciano, arrivista e, dizem todas as línguas, as más inclusive, é um caloteiro, desses que não pagam a ninguém na maior cara de pau. Aí chega alguém e pergunta se você conhece o tal meliante. Você já o viu e até conversou com ele algumas vezes, mas por força de expressão acaba dizendo que “conheço sim”. Ferrou! Sem querer, virou avalista de um canalha. Melhor seria dizer, apenas, que “conheço de vista”, mas os hábitos da fala as vezes nos metem em roubada.

Por uma questão cultural dizemos que “conheço” a quem vimos algumas vezes. Pior: em muitos casos estabelecemos relações pessoais e profissionais com pessoas que não conhecemos sem tomar o cuidado de pedir referências a terceiros. Os ingleses tem esse hábito. Só fazem negócios ou se relacionam com pessoas quando três, quatro ou cinco amigos de confiança confirmam que a tal pessoa é do bem, honesta e tudo mais.

Por exemplo: não conheço nenhum Babalu, apesar de um colega, que encontrei no catamarã, ter insistido em me mandar um “abraço do Babalu”. Sabe aquele sono eventual que bate depois do almoço, você entra num catamarã social vazio e fica ao sabor da brisa? Foi o que planejei naquela tarde.

Corta! Encontrei o conhecido na chamada “fila do gado”, aquela que o povão forma para entrar na embarcação e posso afirmar do fundo do coração: o cara é chato pra cacete. Mas, fazer o que? Ele se aproximou, colou em mim e sentou a meu lado.

E tome a falar do tal Babalu que, segundo ele, é meu amigo de infância. Mentira porque passei minha infância (três a nove anos) em Angra dos Reis, não havia nenhum Babalu e, de lá, todos os meus amigos se espalharam pelo mundo.
Mas eu não estava a fim de discutir, apesar de ser rigoroso com esse papo de “fulano é seu amigo”. Não é assim.  Muitas vezes já me perguntaram “você conhece Fulano?”, e respondi, com elegância, “não, conheço só de vista”. Como disse lá em cima, dizer que conhecemos alguém nos transforma em fiadores existenciais do “conhecido”.

Não é o caso do sujeito que encontrei no catamarã que, de fato, sei quem é, mas saber quem é e conhecer são situações completamente diferentes. E quando o barco atracou no Rio, confesso que me deixei levar pela multidão e, propositalmente, me perdi do conhecido que me congestionou com uma overdose de palavras e frases soltas. Não agüentei ouvir tanta inutilidade pública e estava vendo a hora que ia pegar no sono no meio do monólogo dele.

Fui a uma reunião e, na saída, em frente ao Museu de Belas Artes, na Rio Branco, encontrei um leitor. Ele estava acompanhado da mulher, me apresentou e tal. Achei engraçado porque não o conheço e nem ele a mim, apesar de minhas crônicas e contos, eventualmente, abrirem o buraco da fechadura. O leitor estava satisfeito, cheio de “Fulaninha, esse aqui é o Luiz Antonio...” e a esposa, também constrangida, disse “muito prazer” e tudo ia muito bem até ele me perguntar para onde eu ia. Temendo que ele fosse para Niterói, sapequei um “vou até o Rio Comprido resolver uns assuntos”, quando ele rebateu “pois nós estamos indo para o Leme”.


Encerrado o encontro, quando inclusive me chamou de “amigão”, fui embora pensando. Pensando nessa profissão maluca que fabrica conhecidos pelo mundo e até amigos próximos sem que saibamos o que está acontecendo. Esquisito pra caramba.

“Eu apenas canto”

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1966, confusão sem toque de recolher. 1966, 11 anos de idade, uniforme, pasta, lápis, caneta, livros. 1966, ônibus, bombas, rock and roll, algazarra, caderneta, 10 em português, 3 em matemática. 1966, The Troggs, a banda, a minha banda, do além mar, Londres, Inglaterra, queria conhecer um dia. 1966, meu primo Cornélio tocando The Troggs, Aero Willys, ideias, sonhos, repressão, cuidados, pipa no alto, balão, brigas, lutas, amor, beijo na boca. 1966, 11 anos, o primeiro gozo, a primeira vertigem, a primeira pedra no mamilo esquerdo. 1966, The Troggs no pequeno toca-discos, amigos, bola, jogo de taco, garotas, meninas, beijos relapsos, dança torta, pernas trocando. 1966, amigos, cuba livre, cachaça, campari, coma alcoólica, mães no hospital, esporro, lágrimas, alta de manhã, escola, castigo, pedradas, vidraças rachadas, polícia nas ruas. 1966, meu irmão César, amigos Márcio, Renatinho, os Vergara, Raulzinho, Ronaldo, Beto, a casa da Rose no centro da cidade, o sexo só oferecido aos mais velhos. 1966, nós? Virgens, ávidos, curiosos, temerosos, roqueiros, tentando sem conseguir a alienação do The Troggs que mandava “I Just Sing” quando as coisas apertavam. Compromissos, provas, férias ameaçadas, rock and roll, a primeira banda, festinhas, quermesses, garotas, garotas, garotas, frustração a meia noite e meia, hora limite, “I Just Sing” no quarto...não havia “I Just Sing”, lágrimas, choro contido no travesseiro. Perguntas, muitas, voos espaciais, drogas entre amigos mais velhos, LSD, mescalina, maconha, bolinha, éter, a primeira morte, o primeiro corpo, o primeiro enterro, o primeiro amigo afogado no mar, doidão. Nada de “I Just Sing”, mas viva “I Just Sing”! Sempre, The Troggs.

André Midani, um predestinado que mantém um pacto com o sucesso

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Estou lendo a autobiografia de André Midani, chamada “Do Vinil ao Download”. Tento ler devagar para curtir cada linha, mas o texto é tão bom (praticamente linguagem falada, que gosto muito), tão curioso, as histórias são tão impressionantes, que em duas noites já passei da metade.

Uma história muito rica, que começa em Damasco, Síria, em 1932, atravessa a II Guerra Mundial, um milhão de outras situações, atravessa o Atlântico, chega ao Brasil e ...bom, quando terminar a leitura farei uma resenha detalhada.
Homem de excelente caráter, André Midani é um dos maiores executivos do mercado fonográfico mundial. Tive o privilégio de conhece-lo lá por 1980, quando estava fazendo uma matéria sobre as estrelas do mercado. André tinha deixado a presidência da gravadora Polygram (hoje Universal Music) para assumir a presidência da Warner no Brasil.

Ele assumiu a Warner com 3% do mercado brasileiro. Após contratar artistas como Elis Regina, Tom Jobim, Gilberto Gil, Belchior, Hermeto Pascoal, Paulinho da Viola, Ney Matogrosso, Marina Lima, Baby Consuelo (hoje Baby do Brasil), Pepeu Gomes, A Cor do Som, Banda Black Rio e As Frenéticas, entre outros, viu sua participação de mercado subir para 14%.

Na década de 1980, Midani resolveu apostar no rock brasileiro, contratando artistas como Titãs, Ultraje a Rigor, Ira!, Inocentes, Kid Abelha, Camisa de Vênus, Lulu Santos entre outros. Em 1983, levou a Warner também para a Argentina, e, em 1984, para o México. Em 1990, foi transferido para Nova York, onde assumiu o cargo de presidente da Warner para toda a América Latina.

Ao longo de minha vida profissional sou extremamente grato a algumas pessoas que me mostraram caminhos, apontaram rumos, trilhas, alternativas. No jornalismo musical e no rádio, destaco amigos como Roberto Menescal,Carlos Celles (in memoriam) Marcos Kilzer, Jorge Davidson, Miguel Aranega que me deram (e dão) muita força. E, é claro, entre eles está André Midani.

No tempo da Rádio Fluminense FM, quando a dirigi entre março de 1982 e abril de 1985 e depois em 1989 e 1990, ia de 15 em 15 dias dar um giro nas gravadoras para conversar com esses meus amigos. André Midani foi um deles. 

Perguntava muito pela rádio, pelos artistas, opinião dos colegas de lá, dos ouvintes. Até hoje, Midani é um GPS, ligado dia e noite e tem um faro impressionante para o sucesso. Impressionante! Ele gostava de ouvir, ouvir muito. Eventualmente anotava o que mais chamava atenção num bloco com uma elegante caneta tinteiro.

Lembro que quando a rádio tinha acabado de entrar no ar e tocava cópias de fitinhas K7 de bandas nacionais novas, o produtor Ricardo Silveira (homônimo do musico) apareceu lá. Ele era produtor da Warner e, em nome do André Midani, tinha ido lá pegar fitinhas K7 para fazer um disco. Entregamos e as fitinhas, sem qualquer “maquiagem”, viraram o disco Rock Voador, parceria da rádio com o Circo Voador. Os artistas: Celso Blues Boy, Kid Abelha, Sangue da Cidade, Maurício Mello e Companha Mágica, Papel de Mil e Malu Vianna.

Enfim, enquanto leio André Midani na primeira pessoa penso que sua vida daria não só um outro livro (pessoas contando suas histórias) como um excelente filme. André Midani é raro, muito raro.

Aqui, uma breve sinopse do livro segundo a editora Nova Fronteira:

Testemunha ocular do Dia D, desertor da Guerra na Argélia, confeiteiro em Paris, executivo da Odeon, Phonogram e WEA, pioneiro na iniciativa de análises qualitativas de mercado, negociador da libertação do publicitário Washington Olivetto.

A autobiografia de André Midani é mais do que um depoimento de quem desde a década de 50 observa sob um ângulo privilegiado os bastidores do mercado musical brasileiro.


Além de viver alguns dos grandes momentos da história, Midani participou ativamente do nascimento da bossa nova, da tropicália e do rock nacional, dos grandes festivais de música e das jogadas de marketing das gravadoras para projetar seus ídolos.



















O meu afeto não se encerra

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Passei o dia resolvendo assuntos diretamente ligados a meu afeto profundo. Muito profundo, abissal. A cada lugar que fui, lembranças, muitas lembranças e um sentimento bem mais poderoso do que a saudade. É quando sentimos falta, muita falta, de pessoas e momentos que se eternizam no afeto profundo, lá embaixo, no abissal e mistérios inconsciente.

Óbvio, ninguém é igual. O ser humano é diferente até dele mesmo já que a coerência radical, prima bem próxima da teimosia, é eventualmente burra. Por isso, por essa livre e saudável ausência de isonomia afetiva, cada humano tem com o afeto uma relação distinta. Com o afeto profundo, essas diferenças se abrem como grandes abismos e muita gente sente dificuldade de lidar com ausências.

Pessoas que acham que o choro é fraqueza, que o lamento é covardia dispensável, que o “estado blues” que nos acomete tem que ser massacrado, assassinado, deletado, arquivado, atirado no lixo, em nome de uma suposta superioridade existencial. Dizem que os ocidentais, em especial os pequeno-burgueses (também chamados de “coxinhas”), preferem ignorar o afeto profundo e substituir, por exemplo, pela trilogia cerveja-futebol-churrasco. É mais fácil? Não. Essa trilogia é como um cheque pré-datado, daqueles que batem na conta lá na frente, com juros e correção.

O meu dia foi especial porque mergulhei até o afeto profundo. Nó na garganta quando o cheiro do mar misturado ao de óleo combustível dos navios de guerra me bateu na alma. Foi bom. Foi bom homenagear quem eu queria que fosse homenageado, através de lembranças, poemas, vento do litoral, o azul profundo do céu de outono.


O meu afeto não se encerra. Prefere transmutar como as auroras boreais. Nunca as mesmas. Sempre as mesmas. Assim é. Assim será. Sempre.

Sonhando com “Starship Trooper”, do Yes, tocando numa praça em Teresópolis

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                         Texto restaurado e remixado
Sonhei que era 1973 e eu ouvia/via, na primeira fila, o Yes tocando a magistral “Starship Trooper”, no alto da nossa pedra de fé fincava na praça Ginda Bloch, Teresópolis, caminho para a Cascata dos Amores. Acordei cedo com a música na cabeça e enquanto tomava café lembrei de alguns momentos do Yes na minha vida e da minha vida no Yes.

Em janeiro de 1985, Rock in Rio I, convidado por André Midani, fui almoçar com o grupo no hotel Marina, em Ipanema. Não só o Yes, mas boa parte dos artistas da Warner (gravadora que o André presidiu) que participou do festival.

Fiz questão de cumprimentar Chris Squire, meu baixista-herói, tão importante como músico como Paul McCartney e John Entwistle. Afinal, como Macca e Entwistle, Squire tirou o contrabaixo da cozinha e colocou no salão principal da Música, transformando numa espécie de segunda guitarra.

Por falar em segunda guitarra, balbuciei algumas palavras com o sul africano Trevor Rabin, na época sucessor de Steve Howe nas guitarras. Impressionante a levada desse cara, especialmente na segunda parte de “Starship Trooper”, aquele instrumental hipnótico. Vão perguntar “é melhor do que o Howe?” e a resposta me parece muito simples: nada a ver. O estilo de um está longe do estilo do outro, mas apesar da levada final da guitarra em Starship ter sido composta por Howe, para o meu gosto prefiro a versão rascante e demolidora de Rabin.

Alguns dias não saem da nossa lembrança. O Yes Album (disco de 1971) rodando no toca discos da pracinha de Teresópolis, onde meu irmão Fernando César e nossos amigos sorvíamos os delírios da adolescência, mais esse encontro com o Yes em 1985, cara a cara, com certeza nunca mais esquecerei. A ponto de sonhar com eles hoje, sem qualquer motivo aparente. Melhor ouvir de novo.

Faz bem.                                                      

A verdade sobre a luta armada no Brasil, ou, a ditadura chegou a proibir que as rádios falassem em epidemia de meningite

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O candidato a vice na chapa de Aécio Neves a presidente foi um homem importante na luta armada no Brasil. Aloysio Nunes Ferreira, preso várias vezes mas nunca torturado, avalia hoje que a opção pelas armas foi um erro da oposição brasileira. Um tema que mexe com os nervos, becos, artérias do inconsciente coletivo nacional.

Desde que foi criada a Comissão da Verdade tenho recebido correntes com e-mails enaltecendo o golpe de 1964, os algozes como alternativa moral para o país, detonando quem se engajou na luta armada que, nessas mensagens, são tratados como bandidos, ladrões, assassinos. Como se na ditadura vivêssemos numa Shangri-la tropical.

Entendo a revolta das pessoas (minha, inclusive) contra aqueles que se dão bem graças a vitimologia. Gente que ganha milhares de reais por mês de indenização, sem terem tocado num pedaço de pau nos anos de chumbo. Também é justificável o desprezo coletivo (meu também) com ex-guerrilheiros que quando chegaram ao poder caíram de boca no dinheiro público no maior cinismo. Mas pretendo falar de regras e não de exceções.

Tempos atrás recebi uma mensagem que me deu vontade de golfar. O remetente, que copiou o e-mail para dezenas de pessoas, clamava que nós, segundo ele “brasileiros autênticos” pedíssemos que os militares saíssem dos quartéis para acabar com os comunistas que tomaram conta do Brasil, como em 1964.

O tal remetente disse que o golpe de 64 salvou o país das “garras vermelhas” (chega a ser engraçada essa expressão), mas que hoje o país clama pela volta dos fardados ao poder para que possamos viver livres, definitivamente, dos “comunas”.

O que esses fabricantes de e-mails (escritos aos milhares) querem é convencer que “naqueles tempos” (ditadura) não havia ladrões, vivia-se o milagre brasileiro na economia, enfim, um lixo de informações distorcidas e propositalmente equivocadas.

Na ditadura os meios de Comunicação estavam sob censura, especialmente a partir do famigerado AI-5, baixado pelo marechal-presidente Arthur da Costa e Silva em 13 de dezembro de 1968 que degolou todos os direitos de liberdade de expressão no país.

A ditadura manipulava a inflação, o crescimento econômico, epidemias, enfim, sob o lema “Brasil, ame-o ou deixe-o” roubaram muito. Só na construção da Transamazônica, usina de Itaipu e Perimetral Norte (sim, existiu uma estrada ao norte com esse nome) foram bilhões.

Em 1974, para combater uma gravíssima epidemia de meningite no país, que matou muita gente, a ditadura (na época sob o comando de Ernesto Geisel), em vez de fazer vacinas decidiu censurar a imprensa. Eu trabalhava no jornalismo Radio Tupi AM, uma emissora popular, e chegavam várias ordens de censura da Polícia Federal proibindo a emissora de mencionar a palavra meningite.

Até o AI-5 a oposição conseguia funcionar relativamente, mas a partir dele todas as vozes que não babassem os ovos dos ditadores eram cassadas ou assassinadas/torturadas. Foi quando a luta armada de esquerda começou a ganhar força, tentando peitar a ditadura.

Hoje já está mais do que claro que foi um erro, um gravíssimo erro. A História (sempre ela, sábia) explica que os verdugos, a tortura, a matança na ditadura foi uma reação à luta armada, um argumento com o qual nunca concordei.
No Araguaia, pouco mais de 60 militantes do PC do B (Partido Comunista do Brasil, hoje o mesmo que em 2008 elegeu vereador em São Paulo – urgh! – o cantor Netinho de Paula) entraram em confronto com as tropas do Exército. Coube ao general Hugo Abreu, que entrevistei em 1978, a missão de fazer a chacina.

Ele chegou lá com centenas de militares e até napalm usou. Pendurou guerrilheiros mortos de cabeça para baixo em helicópteros e, munido de um alto-falante, alertava a população sobre o perigo de dar apoio aos comunistas. Morreu muita gente no Araguaia. Pior: sumiu muita gente naquela selva e é isso que a Comissão da Verdade ainda pretende desvendar.

No círculo civil (aliás, havia muitos civis beijando a boca da ditadura) o maior carrasco foi o delegado do Dops de São Paulo Sergio Paranhos Fleury, o homem que matou Carlos Marighella e torturou e matou outras dezenas e mais dezenas de pessoas. Dizem que ele morreu assassinado em seu iate.

Para se ter uma breve ideia do que acontecia naqueles tempos vale à pena procurar o filme “Pra Frente Brasil”, de 1982, dirigido por Roberto Farias. Mas quem quiser ir fundo no assunto, leia a coleção “As Ilusões Armadas”, quatro livros de Élio Gaspari que vão ser relançados não e deixam dúvidas.

Como se sabe, a luta armada perdeu. Muitos morreram, a maioria (dizem) desapareceu e outros tantos foram para o exílio. Em 1979, o general presidente João Baptista Figueiredo assinou a anistia e todos voltaram. Todos, sem distinção, mesmo os mais ferrenhos radicais, disseram que a luta armada foi um erro e que a democracia deveria ser conquistada através de meios pacíficos, o que, de fato acabou acontecendo.

E a democracia, digam o que disserem, é o melhor regime já inventado. O fato de poder escrever essas linhas na certeza de que não serei preso e detonado por causa disso é um exemplo. Mínimo, mas é.


A importância visceral de Nova Friburgo

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Ontem estava conversando com uma amiga sobre cidades serranas. Tudo começou quando ela entrou no Message do Facebook comentando o texto “Meu Afeto não se Encerra” que publiquei essa semana aqui na Coluna (http://www.colunadolam.blogspot.com.br/2015/05/o-meu-afeto-nao-se-encerra.html) . Foi quando lembrei que, afetivamente falando, Nova Friburgo teve uma importância crucial em minha evolução afetiva.

Nos anos 1980 me senti tão íntimo da cidade serrana que também comecei a chama-la apenas de Friburgo, abolindo o Nova, como fazem os locais que vivem lá e as pessoas que há anos curtem a cidade.

Também para mim os anos 80 foram cruciais, muita coisa aconteceu nos terrenos afetivo, profissional, existencial, transcendental, uma década de decisões (muitas) e indecisões (várias), que surfei na medida do possível. As trilhas de Friburgo, em especial de Macaé de Cima (Gaudinópolis, Lumiar, São Pedro, Rio Bonito de Cima) testemunharam momentos meus de total entrega e devoção aos sentimentos mais nobres, poéticos, singulares.

Se nas férias em Teresópolis vivi intensamente a segunda fase da minha adolescência, em Friburgo mergulhei na intimidade do afeto adulto, menos volátil, mais relaxado e contemplativo. Mergulhei nele como mergulhava nos rios que cortam a serra, sem medo, sem receios, sem condições. O afeto de Friburgo me ensinou a ser afetivamente incondicional.

Se sinto saudade? Não. Meus momentos em Friburgo (foram milhares), movidos a amanteigados, picanha na Rosa Amarela, maça do amor, circo com Egberto Gismonti tocando “Palhaço”, estão muito bem guardados em meus cofres, ao lado de outras vivências abundantes, generosas, íntimas.

Talvez por isso nunca mais tenha voltado a Friburgo porque, diz a lenda, não devemos retornar a lugares onde fomos afetivamente muito felizes porque a cena é outra e, principalmente, as protagonistas não estão mais lá. Ou seja, a Friburgo que tenho guardada não é a mesma que está a 200 quilômetros daqui.

Será?


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