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Fernando Brant, Milton Nascimento e o Clube da Esquina em Niterói

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Bela e merecida homenagem
Beto Guedes, Milton e Lô Borges. Praia de Piratinga, Niterói.

        Fernando BRant e Milton
Esquerda para a direita: Toninho Horta, Nelson Angelo, Fernando Brant, Márcio Borges, Murilo Antunes e Beto Guedes recentemente.
A morte de Fernando Brant, sexta-feira passada, me esmurrou pesado. Todo mundo (?) sabia que ele era o conspirador-mor do Clube da Esquina, aquela entidade informal (que muitos taxaram de imoral) que tomou Minas Gerais na virada dos anos 1960 para 70 tendo à bordo Miltol Nascimento, o Fenando, Beto Guedes, Lô e Márcio Borges, enfim, não vou ficar repetindo.
A nova conspiração mineira tomou o Brasil e mostrou ao público uma nova MPB, claramente influenciada pelo rock, pelos Beatles, por François Truffaut (eles viram “Jules et Jim” pelo menos 50 vezes, Milton me disse em entrevista em 1987) pela vanguarda da vanguarda da vanguarda mas movida pela genialidade da poesia das Gerais, seus trilhos, trilhas, ferro, aço, diamantes. Fernando Brant, via Milton e todos os outros, mostrou a sua pena, a sua escrita, onde despejava a alma sem cerimônia e tornou-se um dos maiores poetas brasileiros de todos os tempos.
Lembrei de um texto que publiquei aqui em 30 de junho de 2012:
Esperei para assistir ao programa Som Brasil na Globo, que fez uma homenagem aos 40 anos do Clube da Esquina. Abriu com Milton Nascimento e Lô Borges cantando “Para Lennon & McCartney”, canção que (pouca gente sabe disso) foi composta na casa de O “Clube” alugou na praia de Piratininga, em Niterói. Eles teriam se trancado na casa com um pacto: só poderiam sair quando Fernando Brant, Lô e Márcio Borges terminassem de compor a música. Estamos falando do início dos anos 70, quando o Clube da Esquina, que nasceu em Belo Horizonte depois de assistir a mais de 50 vezes a “Jules et Jim”, de François Truffaut, detonou a nova música popular mineira. Genial!
O programa foi ótimo. Fernanda Takai, a meu ver, foi o grande destaque e enquanto assistia, notando que o sereno apertava lá fora, a memória entrou em cena. Conheci Milton pessoalmente na sala de baixo da casa do saudoso médico e terapeuta José Maria Monteiro de Barros, que ficava numa vila entre as ruas Álvares de Azevedo e Pereira da Silva, na Praia de Icaraí. Lembro bem. Eu estava sentado no sofá debaixo pensando na vida e contemplando os peixes que o Zé gostava de criar num aquário que ficava encostado na parede. De repente, descendo a escada, vi aquele homem magro, negro, com um boné. Demorou a cair a ficha: era Milton Nascimento, de macacão jeans, completamente “Bituca” seu apelido desde Três Pontas, MG. Na época eu trabalhava como repórter da Rádio Jornal do Brasil AM, a mais respeitada do Brasil e quando Milton vinha passando em frente ao aquário me apresentei.
Acabei engatando um papo que, garanti, jamais seria publicado. Milton encheu a bola do nosso Zé Maria e fomos ele e eu, caminhando pela vila por volta das 11 da noite. Milton não é falador, ao contrário, parece mudo, mas não resistiu quando viu a lua cheia bem em cima de nós.
Lá em Piratininga a lua era igual”, sorriu mansamente. Acabei perguntando um pouco mais sobre a estada do Clube da Esquina (ele, Beto Guedes, Lô Borges e Fernando Brant no comando) em Piratininga e o grande cantor e compositor disse que foi um dos melhores períodos de sua vida. Sorrindo levemente confirmou que “Para Lennon & McCartney” foi feita lá, mas “para que terminássemos a música, tivemos que trancar a porta da casa e proibir a saída de qualquer um. O Fernando quase enlouqueceu.”
Bom, um carro o esperava na esquina da Praia com a vila do Zé Maria e ele foi embora. Antes, marcamos uma entrevista para uma semana depois, entrevista essa que acabou acontecendo com a participação de Zé Maria (saudade que eu sinto dele) na Fiorentina, no Leme, que era uma extensão de seu consultório.
O papo começou por volta de 10 da noite e saímos de lá por volta das 3 horas da manhã. Zé, Milton e uma amiga do mineiro com olhos de diamante chamada Cristiana. Foi uma das melhores entrevistas que fiz em todos esses anos de jornalismo e quase a coloquei no meu livro MANUAL DE SOBREVIVÊNCIA NA SELVA DO JORNALISMO. Seria uma homenagem que desejei fazer ao Jornalismo, a Zé Maria, ao Milton, cujos discos “Minas” e Geraes” não saíram de meu toca-discos ao longo de anos e, é claro, ao Clube da Esquina de Piratininga. Ali em “Minas” está a melhor versão de “Paula e Bebeto”*, parceria de Milton com Caetano.
Fiquei muito feliz em saber que Milton Nascimento guardou a minha cidade, Niterói, com carinho em seu cofre afetivo. Como ele viveu histórias incríveis na minha terra. Impressionante. E essas histórias foram só uma parte. Fico aqui imaginando o que ele deve ter contado pro José Maria Monteiro de Barros, nosso terapeuta, amigo, enfim, o que posso dizer de um gênio afetuoso e que dedicou a vida aos outros?
Ao Fernando Brant, uma homenagem rústica e breve. Uma lembrança de seus tempos de ondas, céu azul, gaivotas, coração americano e tudo mais.

No auge da violência Prefeitura de Niterói decide maquiar rua de Icaraí

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Um amigo ia se mudar da Tijuca para Icaraí uns meses atrás. Foi convencido de que seria uma tolice quando leu no jornal que a cidade está praticamente (?) sem emergência em hospitais públicos e os poucos particulares que sobraram vivem superlotados. Esse foi só um dos motivos que fez o meu amigo capitular. O outro, a violência em que a cidade está afundada graças a impotência da Prefeitura em conseguir convencer o governador a aumentar o efetivo da PM que, ainda por cima, divide com a cidade de Maricá.

Todo mundo sabe que a escória humana do Rio pegou bombas e bagagens e mudou para cá fugindo das UPPs. Niterói está com todas as favelas tomadas por facções da guerrilha urbana que pouca gente quer enxergar, especialmente os políticos de ocasião. Desprestigiado, o prefeito de Niterói pede a população o ajude. Ajudar como?

Só pode ser deboche. Diante da crise na saúde, na segurança, no controle urbano, a Prefeitura anunciou que vai fazer uma maquiagem na rua coronel Moreira César, eixo comercial de Icaraí. Vai torrar dinheiro em perfumaria e, para agravar, fechará ruas em pontos cruciais complicando ainda mais o caótico trânsito da cidade (des) graças a incompetência ampla, geral e irrestrita das autoridades (?) do trânsito que só sabem fazer três coisas: multar, multar e multar. A Prefeitura de Niterói é PhD em multas.

Na mesma Moreira César e em todas as ruas da Zona Sul, famílias vivem nas ruas, vindas da periferia do Rio sem que a Prefeitura daqui faça alguma coisa. Ou melhor, não faz NADA. Mantém até uma secretaria de nome pomposo, a tal Secretaria Municipal de Assistência Social e Direitos Humanos, que nada faz e a mendicância avança pela cidade.

Para piorar o prefeito anunciou que vai armar a Guarda Municipal, surfando num decreto da presidente (?) Dilma que autorizou o bangue bangue oficial. A Prefeitura vai por nas mãos de uma guarda despreparada até para prender passarinhos, armas de grosso calibre. É exagero dizer que vem aí uma milícia oficial?

Pão e circo. Gente morrendo sem hospitais, gente morrendo a bala, gente jogada nas ruas, cidade num apagão administrativo, no meio disso, o circo da Moreira César que vai ser maquiada para se transformar numa via “coxinha”.

Parece filme de Luis Buñuel.





Coluna chega aos 200 mil acessos

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Esta Coluna está chegando a marca dos 200 mil acessos. Que bom! Comecei a escrever no início de 2013 e venho mantendo a oca aberta até hoje com o apoio dos amigos, do pessoal do Facebook, Twitter, Google Plus, etc.

Sinto muito prazer em compartilhar vivências, afetos, opiniões, dilemas, abismos, sonhos, memórias, reflexões, mas o mais gratificante é sentir o retorno dos leitores nos comentários ou via e-mail. Dá para perceber que este ano a indignação em relação ao país é gigante e vem de pessoas que não tem qualquer vínculo político e muito menos partidário.

O trabalhismo escroque que tomou o poder, aparelhando o Estado em benefício próprio, não só quebrou o Brasil como devastou sonhos, objetivos, propostas existenciais de milhões de pessoas. É duro chegar aqui, em pleno 2015, reféns da inflação e tendo que dança nas mãos sujas da recessão.

A Coluna também mostra que a maioria absoluta dos leitores busca a música de qualidade para ouvir e cada vez que falo de um Led Zeppelin, Beck, Milton Nascimento a audiência dispara. Há uma revolta enorme com a “molambalização” da mídia como um todo, tomada por um bando de espertalhões que praticam o sertanejo industrializado, o pagode de shopping e outras facções ligadas ao miserê artístico.

A Coluna é um radar que busca inspiração no cotidiano, no dia a dia, mas também no absurdo, no amor, na compaixão, em sentimentos nobres que se mantém acima da ganância, arrogância e de outras patologias sociais graves. Participar dessa onda positiva me enche de prazer. Mais: sentir que a onda cresce (mesmo que no terreno alternativo) enche de gás, de tesão.

Que venham mais 200 mil acessos! Agradeço a todos que frequentam essa animada cabana e compartilham as ideias. Lembro que a reprodução dos textos aqui postados está autorizada, desde que citada a fonte etc.

Vamos lá! Para cima e para frente!

“Selva do Metal”, um culto aos decibéis

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                         Philippe Mello
Neste domingo as 18 horas, meu sobrinho Philippe Mello estréia no rádio.  Administrador de empresas, guitarrista e profundo conhecedor de rock ele produz e apresenta o programa “Selva do Metal” na super webradio Cult FM que fica em http://www.radiocultfm.com . Ou seja, pode ser ouvida em qualquer ponto do planeta.

A estréia do programa me lembrou de um artigo (postado aqui há tempos) que escrevi nas páginas amarelas da revista Veja em janeiro de 1985, explicando ao público o que eram os metaleiros que, me explica Philippe, mudaram, criaram novas ramificações, tendências musicais. Trinta anos se passaram e é bem provável que o metaleiro que descrevi na Veja tenha desaparecido do mapa.
Título do artigo: Um Culto aos Decibéis. Vamos a ele:

Chegou a hora dessa gente esverdeada mostrar seu valor. Finalmente a partir de 21 de janeiro, o day after do rock in Rio, o país terá que conviver com uma estranha tribo. Uma tribo de roqueiros que tem no heavy metal sua base existencial e a ele se entrega como a um deus urbano e contemporâneo.

Esses rockers, conhecidos entre nós como metaleiros, são absolutamente peculiares e vivem uma puberdade conflitante e confusa como todos os adolescentes. Além de serem discriminados dentro de casa (de certa forma a causa que os levou ao encontro dos “heavy deuses”), os metaleiros acabaram sitiados numa caverna onde somente outros metaleiros são capazes de descobri-los. Dentro do rock eles também são arremessados para o subsolo por outros roqueiros de outras tribos que veem nos metaleiros apenas um bando de débeis mentais.

O Brasil, hoje, tem mais de 100 mil desses garotos que buscam na mais ensurdecedora das guitarras a catarse que muitos barbados procuram, por exemplo, dentro da psicanálise. Em sua maioria, vivem a margem das cidades, compondo uma espessa parede de compreensões que acaba transformando o grito em linguagem e o sangue (artificial) em forma de expressão. 
São amantes da fantasia. Sabem que os integrantes do Kiss são vegetarianos, não bebem e não se drogam. Mas preferem acreditar num Kiss que mata pintos sobre o palco, se embebeda sem parar e no final destrói os hotéis por onde passa. Os metaleiros sabem que os Scorpions vivem com mulheres e filhos mas preferem vê-los como um grupo que adora jaulas com cobras e aranhas venenosas, além de intermináveis orgias. 

Em bando eles se juntam (só homens) para audições coletivas de obras fonográficas decibélicas e depois saem as ruas em busca de filmes de terror ou de qualquer obra do diretor Steven Spielberg, ídolo de todos, nas telas. E, apesar das pulseiras cheias de pregos e tachinhas, cabelos enormes, roupas de couro ou curvim, correntes e cadeados espalhados pelos braços, os metaleiros não são violentos nas ruas.
São porém capazes de tudo dentro de um recinto fechado, principalmente se ali estiverem se apresentando bandas ao vivo. Se um desses grupos tocar algo distante do que os metaleiros entendem como rock, não restará cadeira sobre cadeira. 

Cercados entre os tensos e intensos 12 e 18 anos de idade, os metaleiros querem que o Brasil se dane. Para eles, os políticos não passam de ladrões, os generais de “canas“  e só comparecem a comícios se os oradores partirem para o total radicalismo.

Esses garotos, responsáveis pelo sustento-base das gravadoras (os discos internacionais mais vendidos em todo o mundo são de heavy metal), não leem jornais, considerados farsas. São alienados profissionais e acham que uma letra do grupo AC/DC vale mais que um editorial em qualquer jornal do mundo. 

Temem o sexo, optando pela masturbação. Temem a mulher, optando pelo machismo, que é pregado fartamente nas letras de seus grupos prediletos. Só não temem três coisas: pai, mãe e polícia. Recentemente o músico Lobão, do grupo Lobão e os Ronaldos, fez declarações grosseiras sobre os metaleiros. 
Mas não foi só ele quem falou e fala mal dessa tribo. Muitos músicos de outras facções não cansam de tentar espatifar ou rachar esse grupo que não acredita em poder. Em contrapartida, parece que, em caso de vingança as palavras de ordem dos metaleiros são “lata no palco e desprezo nas ruas”. 

Os metaleiros serão muito mais numerosos depois do Rock in Rio, mas o Brasil não precisa temê-los. Eles só querem rock pesado e uma gravação pirada no Thin Lizzy. São ou serão eleitores de votos nulos, se drogam pouco (no máximo maconha) e querem que vá tudo, literalmente, para o inferno. O inferno para eles é o céu. Parece que o demônio é rei, mas também dentro da fantasia. 

A religião, propriamente, nunca chegou perto dos metaleiros mais próximos dos rituais hollywoodianos, pintados pelos grupos em suas músicas. Eles não tem e não querem formar opinião sobre coisa alguma. Difícil é a situação dos pais desses garotos. Entre um psiquiatra e outro, para onde costumam arrastar seus metaleiros, acabam, convencidos que esse barulho todo não passa de uma fase adolescente do roqueiro, que só se eterniza entre os profissionais e assim mesmo na base da cenografia. Afinal, quando Ozzy Osbourne enforca anões no palco e arranca cabeças de morcego com os dentes, ele próprio sabe que isso não passa de uma grande e lucrativa piada. Só que, no início da carreira, o grupo ao qual pertenceu se envolvia com magia negra e transcrevia suas experiências nos discos.

Tentar entender os metaleiros é tentar desvendar mistérios adolescentes. Eles estão presentes no mundo inteiro, colocando abaixo promessas e perspectivas e endeusando o que não existe. Acima de tudo, o movimento cresce pela falta de ídolos universais. Parece mais confortável acreditar no que não existe dos que nas alianças políticas entre gregos e troianos ou na inflação de 300%. Em última análise, os metaleiros não fazem mal a ninguém. Só que também não acreditam em ninguém.

Descabelando o abutre nas dunas de Jaconé, ou, nunca fui hippie porque não sei armar barraca

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Apesar da fama de mal agouro o urubu é protegido por lei no Brasil. Quem for pego molestando um teoricamente vai em cana. Se não rolar um por fora. Dou a maior força porque acho os urubus sensacionais, sinceros, honestos. Gostam de carniça sim, e daí?

Os pombos, ratos voadores, aves aladas de caráter duvidoso que transmitem, pelo menos, 15 doenças, também são protegidas por lei e, pior, são o símbolo da paz. Todo papa gosta de uma pomba e de vez em quando liberta uma daquela varandinha no Vaticano. Qualquer manifestação pela paz tem pomba no meio, sei lá por que? Alguém aí sabe?

Três anos atrás perguntei a um mendigo perto do Amarelinho, na Cinelândia (Rio) por que ele não comia pombos. O mendigo me olhou, olhou, olhou e disse “você acha que eu sou doido? Comer pombo mata”. Me pediu cinco reais, negociei, dei dois e saí andando pensando em dezenas de pombos que comi na pré-adolescência com meus amigos. A noite, alguém subia nos telhados, pegava 10, 12 pombos e fritávamos num fogareiro Jacaré numa esquina com banha de porco e alho. Todos chegávamos em casa e golfávamos a noite toda. Tinha alguma coisa errada ali.

Os mais assustados diziam que era maldição de um cara mais velho, o Bambam, macumbeiro que ficava nos telhados alisando um gato com a mão esquerda (imaginando vulvas) e se masturbando com a direita. Logicamente que quando alguém subia para pegar pombos tirava Bambam da concentração e ele caia de porrada. Mau pra cacete.

Não fui hippie nos anos 70 por uma razão muito simples: nunca soube armar barraca (sem duplo sentido). Certa vez uns amigos me chamaram para pescar em Jaconé, perto de um camping que, me disseram, tinha mulher pra caramba. Mas meus amigos iam acampar na praia, levaram caniços de primeira linha, caixas cheias de anzóis de vários tamanhos, iscas coloridas que rebolavam e eu...levei um violão.

Chegamos lá, os caras armaram as barracas e eu fiquei olhando para a minha, que na verdade tinha comprado a prestação dias antes e sequer havia desembrulhado. Rapidamente meus amigos montaram suas cabanas, pegaram os caniços e foram para a beira dágua pescar enquanto eu, como um baiano ouvindo Bob Marley, lentamente desembrulhava aquele enigma.

Ferros, ferrinhos, presilhas, uma espécie de lona azul que não era lona. Olhei, olhei, até que tentei montar aquele teorema e lá pelas tantas, furioso comigo mesmo, espetei um bambu na areia e pus a cobertura da barraca em cima. Uma espécie de instalação contemporânea, parecida com aquela obra de Hélio Oiticica “Seja Marginal, Seja Herói”, homenagem ao bandido light Cara de Cavalo.

Sem caniço, sem linha, sem anzol, sem isca e, principalmente, sem saber pescar caminhei como Gandhi no sol quente até atingir um botequim chamado “Suzete Drink´s” a 1,5 KM de distância, que acabou virando nome de banda de rock nos anos 1990. Ali, num calor de 42 graus sem sombra, comi uma feijoada acompanhada de um litro de Coca Cola com gelo, sem limão. Na época era viciado nessa droga pesadíssima.

Paguei o equivalente, hoje, a 20 reais. Comi meia lata de goiabada, dois copos dos grandes de café, saquei 25 reais e paguei a conta. Agradeci, fumei três cigarros acendendo um no outro sentado numa mesa virtual que ficava dentro do botequim (naquela época fumava) e em seguida levantei. Bateu uma tonteira. Sentei. Respirei fundo, achei que ia ter um ataque de pânico. Levantei de novo e, felizmente, nada mais aconteceu.

Parecia uma iguana bêbada caminhando pela restinga na beira da estrada de terra com minha sandália Havaiana. Volta e meia um espinho espetava e desabava a tempestade de pensamentos torpes como “vou tacar fogo nessa restinga. Essa merda serve pra que?”, mas como já era ecologista combati os pensamentos até nocauteá-los. Um carro passou voando, levantou uma poeirada desgraçada, engoli, engasguei e golfei a feijoada ali mesmo.

Cheguei no local da pescaria com o sol se pondo. Meus amigos não tinham pescado nada e me perguntaram quando eu iria armar a barraca. Nada respondi. Eles levaram iguarias, salsicha em lata, macarrão, fizeram uma gororoba e estranharam quando agradeci e disse que não jantaria. Afinal, eles sabiam que eu era um bom garfo, faca, pauzinho de restaurante japonês, mas não comentei que havia derrubado (e devolvido) uma feijoada.

Apaguei embaixo da bandeira punk que era a minha “barraca”. O problema é que acordei as duas da manhã enquanto todos eles estavam dormindo, com seus caniços na água. Ouvi um “tum, tum, tum” vindo de longe. Como um primata segui o faro. Era música dançante no tal camping onde mulheres dançavam. Entrei, dei boa noite, sentei num canto na maior cara de pau. Uma das dançarinas sentou ao lado, disse que era de Conceição do Macabú, nunca tinha visto o mar, papo vem, papo vai, fomos para uma duna e crau! crau! crau! até de manhã.

Voltei para o point de pesca dos amigos, me despedi, vendi a minha barraca para um deles pela metade do preço e fui para Conceição do Macau de ônibus com a dama de Jaconé. É por essas e por outras que pergunto: para que saber montar barracas?


Carta aberta ao inverno, estação romântica, civilizada e a prova de molambos

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Inverno, meu chapa, enfim você chegou como percebo pela chuva fina, pela brisa fria, pelas ruas vazias e pela minha alegria interior que mais parece uma festa junina. Sempre gostei de você. Sempre. Provavelmente porque nasci no alto verão, fevereiro, e desde o berço padeço com o calor, o vento quente, a falsa euforia das pessoas atiçadas pelo marketing que determina que “o verão é a melhor estação”. Não é.

Gosto muito de você e de seu primo próximo, o outono, que pegou um ônibus há pouco rumo ao infinito. Inverno, além de gente boa você provou que os lugares mais frios são mais deselvolvidos. Por exemplo, não ouvi falar de arrastões no inverno, de brigas em, praias lotadas no inverno, de barbáries como o carnaval de rua feito nas coxas no inverno, tragédias provocadas por temporais no inverno. É tudo no verão e na primavera.

Quando você chega os predadores da cidade - molambada que sai por aí destruindo tudo em nome do tal “verão maravilha, anarquia, que se danem os outros ”- as mulheres surgem mais elegantes e atraentes na paisagem afirmando que tive razão nos anos 1990, quando escrevi que o universo feminino no inverno é mais autêntico (logo, belo) do que no suadouro marqueteiro do verão. 

A programação cultural noturna fica muito melhor, os lugares mais vazios, a música de qualidade quase destrona a pagodagem e a patologia sertaneja que nos tortura no verão. Ah, inverno, lembra da micareta? Aquela baderna em torno de um trio elétrico, todo mundo bêbado currando as meninas? Sumiu, né. Mas li que alguém quer retomar aquela bosta, naturalmente no verão.

Para mim o ideal seria que você durasse 12 meses, temperatura média de 25 durante o dia e chegando a 15 durante a noite. Sem estresse, suadouro, ar condionado pifado nas lojas, gente se esbofeteando com árvores de Natal. Sejamos civilizados, meu chapa. Viva você, viva o outono!

Quanto a primavera e o verão, você deve estar sabendo que o governo roubou tanto, é tão incompetente que faliu o Brasil. E quem paga a conta desde 1808 quando, encagaçado com a chegada de Napoleão a Portugal, Dom. João Sexto fugiu com a Corte para cá e inaugurou a corrupção? Quem paga a conta somos nós, plebe, que rala, rola, bate, apanha 24 horas por dia para a cambada comer canário belga com fritas no Planaldo e adjacênciuas (Congresso, etc.).

No mais, bem vindo inverno. E, por favor, não seja rápido. Seja pleno.

P.S. - “Os lugares públicos mais íntegros e éticos de Brasília são os bordéis”. Yuka Una, cover de Yoko Ono.






“Thin Lizzy”, uma grande mulher que detestaria que eu sofresse sozinho na cidade deserta

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Ela e eu tínhamos a mesma idade e estávamos saindo da adolescência. Eu a apresentei ao Thin Lizzy, mega banda inglesa, no começo dos anos 70 e imediatamente ela se apaixonou. Gravei num K-7 o álbum “Night Life”, de 1974.
Ela não parava de ouvir e por isso a apelidei de Thin Lizzy, codinome que só nós dois conhecíamos. Ninguém mais, em parte alguma do mundo, sabe que um dia ela foi apelidada de Thin Lizzy. Eu sei.
Quatroanos atrás dobrei uma esquina apressado perto de casa, por volta das duas da tarde. Um cara me abordou “sabe, meu irmão, desculpe te parar assim no meio da rua... você certamente me conhece de vista... enfim, não me leve a mal, mas a Fulana morreu”.
Foi assim que soube que Thin Lizzy tinha partido. Acidente de carro. Um amigo de um dos irmãos dela me parou na rua, disparou aquele míssil no meu ouvido e foi embora. Fiquei em pé na esquina, sem saber o que fazer, sem saber no que pensar, e, confesso numa boa, cheio de culpa porque não via Thin Lizzy desde os anos 1980.
Sentei num banco bem perto de um quiosque de flores. Vontade de comprar flores do campo...comprei flores do campo e subi o Parque da Cidade. Da rampa de vôo livre, vazia, atirei as flores, mas infelizmente não consegui chorar. Um choro que Thin Lizzy merecia.
Ela foi uma mulher maravilhosa, que me apresentou a um monte de coisas que pairam pelo mundo, pelos poros, pelos mares, enfim, até então eu não conhecia muita coisa, ou, quem sabe, de coisa alguma. Senti vontade de entrar num ônibus qualquer, sem saber qual e só parar no ponto final.
Muitas coisas ainda me lembram Thin Lizzy (e mesmo assim nunca telefonei para desejar feliz ano novo) porque, durante os três anos de namoro, nós fazíamos o nosso “Reveillon” numa praia minúscula e erma da cidade, para onde levávamos alguma coisa para comer, champanhe para ela, coca cola para mim e ficávamos lá, vendo as estrelas e, logicamente, ouvindo muita música num aparelhinho de som que suportou bravamente três das nossas viradas de ano.
É lógico que colocávamos discos do Thin Lizzy porque, de alguma maneira, além de Quadrophenia do Who, o Lizzy tinha a ver com a gente, com nossas conversas e objetivos de vida, nossa cáustica adolescência que se aproximava do crepúsculo.
Rebelde, livre, Thin Lizzy foi expulsa de casa algumas vezes. Nessas fases moramos em alguma espelunca no centro da cidade já que orçamento de adolescentes é e sempre foi arrochado. Aí, ela se acertava com a família e, três, quatro dias depois voltava para casa. Querem saber? Amei profundamente aquela garota que vi virar mulher. Amei e sabia que estava amando, sem esse papo de “só anos depois percebi o que estava sentindo”. Nada disso. Foi tudo em tempo real. Amei, sabia que estava amando e vivia dizendo a ela que a amava.
No final do ano passado fui dar uma volta de carro, cabeça quente, vi uns presépios, a luz do Rio, um avião e lembrei da Thin Lizzy que, repito, não vejo desde os 80 e, evidentemente, não verei mais. Pus uma canção do Lizzy chamada “Fats”, de 1981, que meu querido e muito saudoso amigo Alex Mariano vivia programando na Rádio Fluminense FM, Maldita (ele era produtor lá) e fiz uma oração para a Thin Lizzy. E para o Alex também.Sem drama, sem nó na garganta, sem nada de ruim porque ela detestaria que eu sofresse sozinho na cidade deserta ao som de “Fats”, que certamente ela conheceu.

Não sei porque escrevi esse texto torto, mas dizem que os blogs são para isso mesmo.

Viva São João! Fogueira, balões, lembranças e o cover de Danny Devito arrumando a mala pelo celular a bordo do catamarã

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Neste 24 de junho é comemorado o dia de São João, padroeiro de minha cidade, Niterói. Feriado municipal e pouquíssimos arraiais acontecendo. Não sei por que. No entanto dizem que há muitas festas fora da cidade, o que me lembrou um episódio curioso.
Tempos atrás almocei com o amigo Eduardo Lamas da “Mais e Melhores Produções Artísticas” (www.maisemelhores.com.br)no sempre agradabilíssimo bistrô “Arlequim”, no Paço Imperial, centro do Rio. Muitos papos, ótimos planos, conversa regada a muitos CDs e DVDs raros que frequentam o magistral acervo da loja.
Na volta, a caminho do catamarã para Niterói, vi na Praça 15 (não uso algarismos romanos) um cartaz anunciando uma festa junina. Típica e tradicional. O desenho trazia uma fogueira, gente fantasiada e até os perigosos(e hoje inviáveis) balões. Embarquei e a meu lado sentou um sujeito que era a cara do Danny Devito: baixo, gordo, careca, que não largava o celular.
Fez várias ligações porque a linha caia. Ele orientava uma mulher do outro lado da linha que arrumava a mala dele. Foi gozado. Ele dizia “não, gravata não precisa, vou descansar...bota as duas escovas de dentes, muitas meias e cuecas de algodão porque lá faz frio...não, o casaco de courvin vou levar na mão caso esfrie no caminho. Ah, leva meu radinho” e assim o cara veio até Niterói falando, gesticulando, arfando.
Curioso, quando a embarcação atracou fiquei ouvindo a conversa engraçadíssima sobre o tal fim de semana na serra que o cover do Devito ia ter. Devito que, lá pelas tantas, disparou: “não esqueça da minha roupa para o casamento na roça. Os arraiais de lá são imperdíveis”. Onde seriam esses arraiais, num lugar frio, onde o nosso personagem cai na gandaia? Cara de pau, perguntei. Sorridente, ele respondeu “em Santa Maria Madalena, é claro. Onde mais?” Pois é, onde mais?
Voltando ao cartaz da festa junina, me bateu uma profunda saudade. Saudade das grandes festasque frequentei ao longo do tempo, onde mergulhei em arraiais com fogueiras gigantescas, bandeirinhas, pau-de-sebo, comidas típicas, quadrilhas,namoradas. Muitas.
Saudade da minha infância, apesar de ter frequentado os arraiais até 1999, eu acho. Saudade daquele cheiro de lenha queimada, do som primitivo dos conjuntos tocando e, logicamente, dos balões, meu fascínio desde que nasci. Saudade de um arraial gigantesco que fui certa vez em Teresópolis, outro em Friburgo, mais um outro em Araruama, vários no Rio e em Niterói e em Porto Alegre também. Foi no arraial da minha querida POA que soube que São João também é padroeiro de lá, como é de Niterói.

Este ano vou correr atrás de pelo menos uma festa julina. Meu lado lúdico cobra, quase implora. Merece. Com bombas, crianças a caráter e tudo mais. Quem procura, acha. 

Meu negócio é midia de massa. Escrever para ninguém é coisa de eunuco

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Estou comemorando os 200 mil acessos a esta Coluna por uma razão muito simples. Desde novo, quando a Comunicação me tragou, fiquei fascinado com a possibilidade de falar para milhares, milhões de pessoas, o que os americanos batizaram de mass media, mídia de massa. Gosto, gosto muito porque é bom compartilhar, ouvir opiniões, sugestões, enfim, gosto de escrever no epicentro do caos.
Muita gente pergunta porque quase não tenho mais postado vídeos no meu Facebook. De fato, tive uma fase em que postava direto, compartilhava o prazer da música com todas as pessoas que estão lá. Só que, de uma hora para a outra, ficando mais tempo na rua, na chuva, na fazenda, meio que abandonei o hábito de entrar na internet de madrugada.
Mas as pessoas continuam perguntando. Lembrei do amigo Miguel Aranega que, como eu, também postava muitos vídeos musicais em sua página. Um dia, ele escreveu um longo texto dizendo que iria parar de postar por uma série de razões e eu até deixei uma mensagem para ele protestando. Depois foi o Lula Tiribás, Sonia Toledo, Débora Dumar, enfim, todos os meus amigos (reais, conheço há anos) pararam de postar músicas.
Não sei se a falta de contato com eles durante a postagem, a troca de comentários e informações sobre as músicas, foram me desestimulando ou se a rua, a chuva e a fazenda, por alguma razão, se tornaram mais interessantes. Mas, fato é, que realmente parei de postar as músicas.
Lembro dos tempos do Fotolog. Tive um chamado Quadrophenia 1973 só sobre The Who. Todos os dias, durante meses a fio, eu publicava um texto baseado em alguma foto inédita da banda. Havia dezenas de pessoas de várias partes do mundo acompanhando, comentando, enfim, interagindo.
Até que um dia tiraram o meu Fotolog do ar. Vim a saber que foi por causa de direitos de imagem, algo que não discuto. Direito é direito. Mas, não nego, foi uma ducha de água fria porque, afinal de contas, sou fã da banda e tá havia postado centenas de páginas fartamente ilustradas.
Por causa disso, me distanciei das mídias sociais, mas quando me apresentaram ao Facebook gostei. Quanto a este blog está nítido que é minha mídia predileta, que não pretendo abandonar. O número de acessos só cresce, o retorno está sendo ótimo. Gosto de compartilhar o que sinto, penso, vejo, e mais ainda de ouvir/ler opiniões. Se eu fosse um intelectualóide masturbador diria que sou “midiático” (urgh!).
Nunca tive diários, não gosto de escrever bilhetinhos essas coisas porque meu negócio é escancarar, de preferência para milhares por dia, possibilidade que este blog vê como altamente viável em breve. Com a força de vocês, amigos, colegas leitores, sem o que nada, absolutamente nada faz sentido.





Xô, baixo astral! Depenando urubus nas redes sociais

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Tempos atrás, meio tarde, meio cedo, estava no Facebook conversando com pessoas visíveis, invisíveis, reais, virtuais. Logo que entrei vi que a caixa de mensagens estava cheia e das oito ou 10, umas quatro eram do mais indigno baixo astral, daquele que faz hiena gemer sem sentir dor.

Percebi logo que as pessoas que estavam depositando ali seus rancores, ódios, complexos, frustrações eram as mesmas, transformando aquele lugar, entre aspas, numa espécie de caderneta de poupança de fracassos, ou lixão da desesperança. Usam as redes sociais para contaminar o ambiente, todo dia, toda hora. Não falo das pessoas que desabafam, que compartilham problemas, aflições, angústias, mas daquelas que são viciadas em tragédias, em negativismo, em pessimismo, provavelmente amantes do jornalismo mundo cão.

O que fiz? Impensadamente deletei todas as hienas da minha lista. Digo impensadamente porque se eu fosse refletir mais cinco ou 10 minutos com certeza ia relevar, argumentando para mim mesmo que “coitado, deve estar passando por uma fase difícil”. Mas, o ato impensado contra-argumentou que tem gente que está em fase difícil desde que nasceu por uma razão muito simples: gosta de gemer. Gosta de reclamar. Gosta de criticar com base do azedume. E, numa boa, com toda a franqueza, eu não sou telhado pra urubu largar barro em cima.

Deletei os personagens e expliquei lá mesmo no Facebook que estava cheio de baixo astral e que, por isso, tinha feito uma devassa em minha lista de “amigos”, degolando vários que, por sinal, não conheço. Sob a montagem visual, escrevi um texto em maiúsculas: “FIZ UMA LIMPEZA NA MINHA RELAÇÃO DE “AMIGOS” AQUI NO FB. DETONEI TODOS OS PESSIMISTAS, NEGATIVÓIDES, GENTE DE MAL COM A VIDA QUE EM VEZ DE PARTIR PARA CRÍTICAS CONSTRUTIVAS DECIDIU OPTAR PELA LAMÚRIA, PELO FARFALHAR DO "DESGRACISMO". BASTA!!! NÃO TENHO MAIS SACO.
EGOÍSMO? NÃO. O NOME DISSO É QUALIDADE DE VIDA. CHATO VOCÊ DIZER QUE ESTÁ CHOVENDO E OUVIR O CRI CRI CRI DOS GRILÓIDES. AÍ VOCÊ FALA QUE ESTÁ UM BELO DIA E CRI CRI CRI. NÃO AGUENTEI. SAÍ DETELANDO, SUAVEMENTE. NUMA BOA. NÃO FOI EXPURGO A LA MAO TSÉ TUNG.”

Para a minha surpresa, no dia seguinte lá estavam 246 comentários apoiando o que fiz. Sim, 246! Ou seja, quando os reis da animação inventaram a hiena Hardy Ha Ha (“ó vida...”) sabiam que havia demanda.

Criticar é fundamental. Por exemplo, um dia desses choveu e o trânsito deu um nóem toda a região metropolitana do Rio. Engarrafamentos, aeroportos com filas, aquele suplício habitual. Muita gente reclamou, com razão.

Logo, não estou condenando o senso crítico, ou o desabafo de um mau momento que todo ser humano tem. Eu limei, passei a foice, nos viciados em baixo astral, “droga” que a meu ver está entre as piores porque é transmitida até pela internet e acaba contaminando.

Estou longe de ser um alienado, daqueles que solta pipa perto de cabos de alta tensão, mas usar redes pessoais, sociais e até pensamentos que servem única e exclusivamente a lamúria, aos horrores, ao “tudo está errado”, tô fora.



Domingo as 23h30m na Cult FM Ponto Com voltarei ao rádio depois de uma longa ausência

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Luck Veloso
André Luiz Costa
Há muitos anos estou fora do rádio musical, mas não fui eu quem o tirou da minha cena existencial. O rádio me excluiu ao ser submetido a uma impiedosa asfixia cultural, artística, a um processo cruel de banalização que substituiu a criatividade, a ousadia, a coragem, o bom gosto, a vontade de alimentar a cultura e se alimentar dela. Foi acometido de “mesmose”, rabo entre as pernas, pobreza de espírito, corrupção (conhecida carinhosamente como jabá), enfim, o que um amigo muito bem definiu como “molambalização ampla, geral e irrestrita”.

Atirado nos braços da ignorância, falta de criatividade, tédio, o rádio empacou. Parou no tempo, no espaço, num armário velho cheio de mofo e infestado de traças e cupins. Os bons colegas que ainda resistem não escondem a decepção, a falta de tesão, de impulso para fazer alguma coisa porque quem está no andar de cima não deixa. Não deixa porque não quer. Não quer porque não entende de rádio, de música, de arte, de cultura, de vida. Entende de dinheiro fácil e de politicagem barata.

Isso tudo depois da histórica Radio Nacional lá atrás (e ainda hoje, graças a  resistência de colegas que lá estão e tentam fazer direito), da Mundial que Big Boy inventou em 1966 (fora do ar), da Eldo Pop que o mesmo Big Boy criou em 1971 (fora do ar), da Federal, roqueira de Niterói, inventada por Carlos Siegelman, Marcos Kilzer e Jorge Davidson em 1972 (fora do ar), da Cidade FM em 1977, da Antena 1 de 1981, com Romilson Luiz e Eládio Sandoval à frente (fora do ar) a Fluminense FM de 1982 (fora do ar) e depois.............o que? O que aconteceu depois? Alguém tem algo a dizer?

No ano 2000, 15 anos atrás, eu os amigos André Valle e Aline Rios fundamos a primeira rádio de rock do mundo na internet. Chamou-se Rocknet e funcionava no estúdio El Sonoro (um marco na história cultural do Estado do Rio) do super músico Felipe Melo, o maior intérprete de Jimi Hendrix que ouvi até hoje.

A internet ainda tinha conexão discada. Você acessava por uma linha telefônica. Conexão fraca, vivia caindo, travando e, ainda por cima, quem usava pagava a conta do telefone, que subia mil, dois mil por cento. Mesmo assim a Rocknet surpreendeu registrando uma grande audiência de todo o Brasil (e exterior), em especial do Rio, São Paulo e Porto Alegre. Eu e Aline gravávamos todos os módulos musicais (média de 12 músicas por hora) e fazíamos sozinhos a programação e a locução das 24 horas do dia. Com o maior prazer.

Enquanto isso, o André, roqueiro dos bons e uma das maiores autoridades em Tecnologia da Informação, alugava provedores e servidores nos Estados Unidos. Na época, custavam 10% do valor do mesmo serviço no Brasil, país que  não tem infraestrutura decente desde 1.500 por culpa de macro-corrupção galopante e crescente em todos os níveis de poder. Notadamente a partir de 1808 quando, todo borrado, D. João VI desembarcou no Rio esbaforido (trazendo toda a Corte) fugindo de Napoleão e implantou aqui a roubalheira institucional. Detalhes nos livros “1808” e “1822”, de Laurentino Gomes.

A Rocknet durou três meses. Para cada mil ouvintes, pagávamos uma nota de streaming, que é o equivalente a onda de rádio só que gerada por engenhocas digitais “carregando” o áudio até os computadores. Por causa da conexão discada, mais o custo que cada grupo de ouvintes exigia (a cada 100 ouvintes pagávamos mais e mais) e a falta de anunciantes adiamos o projeto. Batemos em quatro mil ouvintes e não tínhamos como crescer, continuar. Faltou um profissional da área comercial para vender anúncios, fechar patrocínios, cuidar do marketing, etc. 

Não jogamos a toalha, apenas sentamos e avaliamos a situação com a certeza de que um dia a banda larga ia tomar conta do país, não por vontade dos governos mas por necessidade de sobrevivência do país dentro de uma economia globalizada, já que o Brasil não fica em Plutão. Veio a globalização e o país teve que se arreganhar, privatizar aqueles monstrengos estatais e hoje, bem ou mal, estamos com um serviço de internet bem mais decente. Pelo menos, mais decente do que no ano 2000. Mas lembro, sempre lembro, que a Rocknet foi adiada e não enterrada viva.

De lá para cá recebi alguns convites para voltar ao rádio, em alguns casos como diretor e a primeira pergunta que fiz foi “quem vai cuidar da área comercial?”. Meus interlocutores titubiavam, diziam que iam cuidar disso depois, que o importante é o produto e eu, escaldado, afirmava que “produto e o comercial andam juntos desde o começo”. E educadamente recusava. Por que? Porque quando uma rádio quebra ou de repente em vez de tocar jazz, blues e bossa nova passa a tocar sertanejo de quinta e pagode de shopping, os ouvintes acham que a culpa é do executivo que cuida da programação musical e não incompetência (ou inexistência) do comercial que não soube vender. E essa culpa (que não seria minha) eu não quis carregar.

Até que recentemente conheci a rádio Cult FM Ponto Com (http://www.radiocultfm.com), através do programa Jam Sessions de meu milenar amigo e colega Jamari França (no ar aos domingos, 22 horas). Fui ouvindo, ouvindo e domingo passado, as 18 horas, Philippe Mello (meu sobrinho) estreou seu programa “Selva do Metal” .

Depois de conhecer melhor o Luck Veloso e o André Luiz Costa senti aquela inquietação boa, aquele desejo de compartilhar algumas coisas que acho que sei com algumas músicas que gosto e surgiu a ideia de fazer o programa “Cafofo do LAM”, que vai estrear neste domingo, as 23h30. O horário dele será as 23 horas, mas neste domingo o Jamari vai fazer um mega especial com o Raul Seixas que, se estivesse aqui, faria 70 anos. Pensamos até em adiar a estreia para o outro domingo mas a minha galopante ansiedade não deixou.

Meu programa deveria ter duas horas de duração mas, empolgado como um garoto iniciante, embalei e hoje o André me disse que ele está com três horas! Cacete! Claro, pedi para cortar uma hora, mas ele argumentou que como é estreia e tudo mais, vai deixar rolar. Bom! Bom porque cada música que programei foi milimetricamente sentida (muito sentida) e pensada. Escolhi durante duas noites que passei em claro (o que não é nenhuma novidade) ouvindo, sei lá, uns 200, 250 takes de música. Não sei se o resultado é o melhor programa de soft rock do planeta, mas com certeza eu me empenhei pesado para que seja.

Na Rádio estão o Luck Veloso, André Luiz Costa, Rogério Bezerra, Andréa Alves, Verônica Viana, Beta Accioli e Marcello Evangelista. Mais o Jamari, Philippe e eu. O bando é bom, gosta de uma boa guerrilha e começa a construir uma história bem interessante no meio deste deserto radiofônico deprimente, anêmico de ideias, conceitos, conteúdo e, SOBRETUDO, cultura e educação. O rádio nunca esteve tão alienado, ignorante e burro como atualmente. 

Por isso, acredito na internet, a mídia mais poderosa já inventada para transportar pelo planeta nossas ideias, conceitos, devaneios, representados por músicos e músicas que selecionamos. E a Radio Cult FM Ponto Com tem tudo para ser a cabeça de ponte que faltava para essa revolução acontecer. Como foi o sniper russo Vassili Zaitsev, que matou oficialmente 468 nazistas em Stalingrado em 1944 e deu início a virada da União Soviética sobre a Alemanha na II Guerra.

Para mim é muito bom estar a bordo da Cult FM Ponto Com.

Espero todo mundo domingo, 23h30m, em http://www.radiocultfm.com/ . Bote na agenda, vá até a rádio agora, dê uma ouvida na programação, ponha nos favoritos de seu Google Chrome, Safari, Firefox, Opera, Explorer. Você poderá ouvir a rádio (e o Cafofo do LAM) em desktop, tablet, notebook e smartphone Apple e Android. Para ouvir em Android basta ir até a Play Store e baixar o aplicativo “Tune in Radio”, que tem um ícone verde com uma figura em branco. É só instalar, procurar e achar a Radio Cullt FM no menu. Qualquer dúvida acesse http://www.radiocultfm.com/#!contato/c21nl e pergunte.

Vamos lá. Para frente e para cima! Rock on!!!

Raul Seixas 70 anos: “não quero ser famoso e duro; não quero ser um mito depois de morto”

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Raul Seixas faria 70 anos neste domingo. Muitas homenagens por todo o Brasil, lembrando o homem que, a meu ver, foi um dos inventores do rock brasileiro ao misturar o som nativo dos Estados Unidos com ingredientes, fazendo uma mágica que o celebrou. Neste domingo, as 22 horas, o jornalista Jamari França vai apresentar uma edição especial de seu programa Jam Sessions na Radio Cult FM Ponto Com, que fica em http://www.radiocultfm.com/

Entrevistei o Raul umas três ou quatro vezes, mas um dos momentos mais marcantes foi em meados 1981. Eu trabalhava como jornalista da consagrada Rádio Jornal do Brasil AM e bati um papo com ele lá mesmo num dos estúdios da rádio no sétimo andar do prédio do Jornal do Brasil na avenida Brasil, hoje sede do Into.

Raul estava muito down depois de ter tido seu contrato sido rompido pela gravadora CBS (hoje Sony Music) e falou abertamente, a maneira dele, do tema “fama e dureza”. Ele me disse “não quero ser famoso e duro, não quero ser um mito depois de morto. Cara, eu estou duro e as pessoas não entendem que aplausos, gritos, autógrafos não pagam a conta de luz, o condomínio, o médico”.

Sugeri que gravássemos a conversa para transformar numa matéria mas ele disse que não. Que era um desabafo, coisas pessoais. E voltou a dar risadas, falar absurdos, enfim, reincorporou o “Maluca Beleza” e fizemos uma entrevista formal sobre discos, shows e música. Encontrei com ele só de “raspão” a partir daí e, naturalmente, no dia de sua morte em 21 de agosto de 1989 lembrei da nossa conversa na Rádio JB; “não quero ser famoso e duro, não quero ser um mito depois de morto”.

E foi justamente o que aconteceu. Depois de morto Raul enriqueceu, virou mito, lenda. Ficou ainda mais famoso do que no auge de sua carreira e é cultuado, inclusive, por adolescentes que nem sonhavam em ser nascido quando o criador de “Mosca na Sopa” estava por aqui. Uma história que a biografia formal evita contar. Aqui, trechos da Wikipédia:


Raul Santos Seixas nasceu em 28 de Junho de 1945 numa família de classe média baiana que vivia na Avenida Sete de Setembro, Salvador.  Em julho de 1957 fundou o Elvis Rock Club com o amigo Waldir Serrão. O clube era como uma gangue que procurava brigas na rua, fazia arruaça, roubava bugigangas e quebrava vidraças. Embora Raul não gostasse muito disso, "ia na onda, pois o rock (pelo menos a meu ver) tinha toda uma maneira de ser", disse uma vez.

A família resolveu matricular Raul num colégio de padres, o Colégio Interno Marista, onde ele alcançou a terceira série em 1960, mas acabou repetindo o estágio em 1961. Ao que tudo indica, nessa época Raul Seixas começou a se interessar pela leitura. O pai de Raul Seixas amava os livros e possuía uma vasta biblioteca em casa. Tão logo decifrou o mistério das letras, o garoto pôs-se a ler os volumes que encontrava na biblioteca do pai Raul.

As histórias que lia na biblioteca fermentavam sua imaginação e, com os cadernos do colégio, fazia desenhos, criava personagens, enredos, para depois vender ao irmão quatro anos mais novo, que acabava ficando interessado e comprava os esboços. Segundo Raul, um dos personagens principais dessas histórias era um cientista maluco chamado "Mêlo" (algo como "amalucado"), que viajava para diversos lugares imáginarios como o Nada, o Tudo, Vírgula Xis Ao Cubo, Oceanos de Cores. Segundo ele Melô era sua "outra parte, a que buscava as respostas, o eu fantástico, viajando fora da lógica em uma maquinazinha em que só cabia um só passageiro... Melô-eu."

Embora Raul mantivesse um gosto muito sincero pela música, seu sonho maior era ser escritor como Jorge Amado. Na sua cidade, escutavam Luiz Gonzaga todos os dias, nas praças, nas casas, em todos os estabelecimentos. Enquanto isso, Raul junta-se a cena do Rock que se formava em Salvador. "Em 54/55, ninguém sabia o que era rock. Eu tocava e me atirava no chão imitando Little Richard."

Com o passar do tempo, a banda que chegou a ter diversos nomes, como Relâmpagos do Rock, formadas então pelos irmãos Délcio e Thildo Gama,21 passa por várias formações e em 1963, passa a se chamar The Panters, banda que agora já se tornara sensação de Salvador. A fama se espalha, e a banda é rebatizada pelo nome Os Panteras, tendo em sua formação definitiva além de Raulzito, os integrantes Mariano Lanat, Eládio Gilbraz e Carleba.

Em1967, Raul Seixas começou a namorar Edith Wisner, filha de um pastor protestante americano. O pai de Edith não aceita o namoro da filha. Em seis meses, completa o segundo grau, faz cursinho pré-vestibular e passa em Direito, Psicologia e Filosofia. Com isso, casa-se com Edith. Logo em seguida, abandona os estudos, volta a reunir os Panteras e aceita o convite de Jerry Adriani para ir para o Rio de Janeiro. 

Em 1968, Raulzito e Os Panteras gravam seu primeiro e único disco na gravadora EMI-Odeon, após encontrarem Chico Anysio e Roberto Carlos, que os reconheceu nos corredores. O disco no entanto não teria sucesso de critica nem de público. Eládio Gilbraz, um dos panteras, disse: "De um lado havia a inexperiência de quatro rapazes, recém-chegados da Bahia, falando em qualidade musical, agnosticismo, mudança de conceitos e sonhos. Do outro lado, uma multinacional que só falava em "comercial".

A partir daí, Raulzito e Os Panteras passariam sérias dificuldades no Rio de Janeiro. Raul morava em Ipanema e ia a pé até o centro da cidade para tentar divulgar suas músicas, não obtendo sucesso. Algumas vezes os Panteras recebiam ajuda de Jerry Adriani, tocando como banda de apoio, o que, segundo o próprio Raul, lhe deu muita experiência e lhe ajudou a descobrir como se comunicar, pois suas "músicas eram muito herméticas". Raulzito passaria então fome no Rio de Janeiro  como mais tarde escreveria em “Ouro de Tolo”.

Raul Seixas estava arrasado com o fracasso de Os Panteras, e a sua volta a Salvador. Escreveu: "Passava o dia inteiro trancado no quarto lendo filosofia, só com uma luz bem fraquinha, o que acabou me estragando a vista [...] Eu comprei uma motocicleta e fazia loucuras pela rua." No entanto a sorte começou a mudar quando um dia conheceu na Bahia um diretor da  gravadora CBS, hoje Sony. Mais tarde ele convidaria Raul para ser produtor da gravadora.

Sem pensar duas vezes, ele faz as malas junto a mulher Edith e voltou para o Rio para usar seus enciclopédicos conhecimentos de música como produtor fonográfico. Na CBS fez grandes aliados e amigos. Ainda em 1968, a dupla Os Jovens e a banda The Sunshines apostaram em suas letras. No entanto, Raul faria um grande amigo e parceiro: Leno, da dupla Leno e Lilian.

 Jerry Adriani decidiu convocar Raulzito para ser o produtor de seus discos. No álbum de 1969, aproveitou para gravar uma de suas músicas, “Tudo Que É Bom Dura Pouco”. Naquela mesma época, outros ídolos da Jovem Guarda também apadrinharam Raulzito gravando suas letras como Ed Wilson, Renato e seus Blue Caps, Jerry Adriani, Odair José. O ano de 1970marcou o início de uma fase muito ativa na carreira de Raul como produtor da CBS.

Primeiramente, suas composições passaram a ser gravadas pelos artistas do cast da gravadora. Passou o ano produzindo discos para Tony & Frankye, Osvaldo Nunes, Jerry Adriani, Edy Star e Diana, além de escrever uma quantidade enorme de músicas para os colegas da gravadora. Algumas de muito sucesso, como “Doce doce amor” (Jerry Adriani), “Ainda Queima a Esperança” (Diana) e “Se ainda existe amor” (Balthazar).

Bem sucedido e conceituado produtor e compositor, Raul não se conformava apenas com isso, especialmente quando conheceu o amigo e parceiro Sérgio Sampaio, passando cada vez mais a realimentar os sonhos de quando ainda morava em Salvador, que era ser um cantor.

Um projeto mal sucedido seria o LP , lSociedade da Grã-Ordem Kavernista Apresenta Sessão das 10 lançado em 1971, com a parceria de Sérgio Sampaio, Miriam Batucada e Edy Star, onde Raul Seixas deu inicio a produção de um projeto de ópera-rock, tendo as letras mutiladas pela censura do regime militar.

O Sociedade Grã Ordem Kavernista era um disco Anarquico, inspirado em Frank Zappa e no célebre  dos Sgt. Pepper's Lonely Hearts Club Band misturado a elementos brasileiros como samba, chorinho, baião. Quando lançado, o disco não obteve sucesso de público e nem de crítica. Foi abandonado à própria sorte até mesmo pela gravadora, cujos executivos tanto no Brasil como na matriz, nos Estados Unidos não gostaram do resultado final.

Com isso, não houve investimento em divulgação do trabalho nas rádios e programas musicais da época. Muitas lendas cercam esse disco que traz 11 faixas intercaladas por vinhetas. A principal delas diz que Raul, Sérgio, Edy e Míriam gravaram as músicas às escondidas, à noite, sem que ninguém na CBS soubesse e que por esse motivo, Raul Seixas, então um bem-sucedido produtor da gravadora, teria sido demitido.

No entanto, segundo Edy Star, único sobrevivente dos quatro artistas, o trabalho foi profissional e feito com o conhecimento da gravadora. E Raul não foi demitido. Tanto que no ano seguinte, em 1972, produziu o compacto Diabo no Corpo, de Míriam Batucada, e o LP de estreia da cantora Diana, na própria CBS. Raul só saiu da gravadora meses depois desse último trabalho, sendo contratado pela RCA Victor.

Em 1972, Raul Seixas decide participar do Festival Internacional da Canção, sendo convencido por Sérgio Sampaio. O cantor compõe duas músicas, "Let Me Sing, Let Me Sing", defendida pelo próprio Raul e "Eu Sou Eu e Nicuri é o Diabo", defendida por Lena Rios & Os Lobos. Ambas chegam a final, obtendo sucesso de critica e de público. Rapidamente, Raul foi contratado pela gravadora Philips. Na época, ele também se interessa por um artigo sobre extraterrestres publicado na revista A Pomba e tem o seu primeiro contato com o escritor Paulo Coelho, que mais tarde, se tornaria seu parceiro musical.

No ano de 1973, Raul faz grande sucesso com a música "Ouro de Tolo" no álbum Krig-ha, Bandolo!. A música debocha da ditadura e do "milagre econômico". No mesmo LP outras músicas que se tornaram grandes sucessos, como "Metamorfose Ambulante", "Mosca na Sopa" e "Al Capone". Raul Seixas finalmente alcançou grande repercussão nacional, virou ícone popular. Porém, logo a imprensa e os fãs da época, foram aos poucos percebendo que Raul não era apenas um cantor e compositor.

Ainda em 1973, Raul resolve homenagear algumas músicas clássicas do rock americano e brasileiro no disco Os 24 Maiores Sucessos da Era do Rock. No entanto foi proibido pela gravadora de assinar seu nome no disco de covers, pois ela achou que o álbum poderia prejudicar as vendas de . Krig-ha, Bandolo!A solução foi creditar o álbum a uma certa banda fictícia chamada Rock Generation, com o nome de Raul presente apenas na contracapa, como diretor de produção. O álbum não teve qualquer tipo de divulgação e acabou inicialmente sendo esquecido nas lojas, mas com os sucessos posteriores de Raul alcançando grandes vendagens, a gravadora Philips acabou por divulgar melhor o trabalho.

Em1974, Raul Seixas e Paulo Coelho criam a Sociedade Alternativa, uma sociedade baseada nos preceitos do bruxo inglês Aleister Crowley, praticamente repetindo o chamado Livro da Lei. O cantor foi levado pelo escritor a conhecer uma ordem filosófica baseada na Lei de Thelema, desenvolvida por Crowley. A Sociedade Alternativa, com sede alugada, papel timbrado e relatórios mensais, chegou a anunciar a aquisição de um terreno em Minas Gerais, para a construção da Cidade das Estrelas, uma comunidade onde a única lei era “Faz o que tu queres, há de ser tudo da lei.” Em todos os seus shows, Raul divulgava a Sociedade Alternativa com a música de mesmo nome.

A obsessão de Raul Seixas e Paulo Coelho em construir “uma verdadeira civilização thelêmica”, evidentemente, trouxe problemas com a censura. A letra da música "Como Vovó já Dizia" composta pelos dois, teve de ser mudada. Logo no show de lançamento, a polícia apreendeu o gibi/manifesto "A Fundação de Krig-Ha" e o queimou como material subversivo. A ditadura, prendeu Raul e Paulo, pensando que a Sociedade Alternativa fosse um movimento armado contra o governo.

"Veio uma ordem de prisão do Exército e me detiveram no Aterro do Flamengo. Me levaram para um lugar que não sei onde era. Imagine a situação: estava nu, com uma carapuça preta. E veio de lá mil barbaridades. Tudo para eu dizer os nomes de quem fazia parte da Sociedade Alternativa, que, segundo eles, era um movimento revolucionário contra o governo. O que não era. Era uma coisa mais espiritual. Preferiria dizer que tinha pacto com o demônio a dizer que tinha parte com a revolução. Então foi isso, me escoltaram até o aeroporto." (...)"
—Raul Seixas sobre o exílio ocorrido em1974, em uma entrevista publicada na revista Bizz, em março de 1987.

Depois de torturados, Raul e Paulo foram exilados para os Estados Unidos, com suas respectivas esposas, Edith Wisner e Adalgisa Rios. Muitas histórias são contadas sobre a estadia de Raul Seixas nos Estados Unidos, como seu encontro com John Lennon, mas ninguém sabe ao certo se são verdadeiras.
 No entanto, o LP Gita gravado poucos meses antes faz tanto sucesso, que forçou a ditadura a trazê-los de volta para o Brasil. O álbum Gita rendeu à Raul um disco de ouro, após vender 600 mil cópias, o LP de maior sucesso de sua carreira. Ainda neste ano, Raul separou-se de Edith, que vai para os Estados Unidos com a filha do casal, Simone.

Em 1975, Raul Seixas casou-se com Glória Vaquer, e grava o LP , Novo Aeon onde compôs junto com Paulo Coelho, uma de suas músicas mais conhecidas, "Tente Outra Vez", que seria creditada juntamente com Marcelo Motta, por quem eram discipulados na Astrum Argentum (AA). O LP, porém, vendeu menos de 60 mil cópias. Ainda em 1975, Raul lê um manifesto e canta a Sociedade Alternativa no documentário Ritmo Alucinante, que foi um festival de rock realizado no Rio de Janeiro, gravado no álbum Hollywood Rock, lançado no mesmo ano. Em 1976, Raul supera a má-vendagem do disco Novo Aeon com o álbum Há Dez Mil Anos Atrás. Neste mesmo ano, nasce sua segunda filha, Scarlet. Chega então ao fim o seu contrato com a gravadora Philips e sua parceria com Paulo Coelho, embora continuassem amigos.

Jay Vaquer, músico e cunhado de Raul na época, coletou material para fazer um novo disco, Raul Rock Seixas, que diziam ser um álbum feito de resto de gravações, mas na verdade a história era outra. Raul escolheu as músicas, e Jay começou a fazer os arranjos. Porém, antes de Raul Seixas e Jay Vaquer terminarem de mixá-lo devido à suas ausências por causa dos shows, a Philips lançou o disco sem avisá-los, sob o selo da Fontana/Phonogram, mixando-o por conta própria. Segundo Jay Vaquer, isso prejudicou o trabalho que ambos haviam planejado anteriormente, destruindo o LP, porque finalmente seu nome estava num LP de Raul como produtor, arranjador, e guitarrista, e seu trabalho foi muito mal representado.

Em 1977, nasce no Brasil uma nova gravadora, a WEA, que se interessa em contratar Raul Seixas. Por volta deste período, intensifica-se a parceria com o amigo Cláudio Roberto, com quem Raul compôs várias de suas canções mais conhecidas. Juntos, fizeram o LP O Dia Em Que A Terra Parou. A crítica não gostou. Foi dito que não mantinha o mesmo nível dos trabalhos anteriores. Mas os fãs se deliciam com “Maluco Beleza”, “Sapato 36” e a faixa-título.

Naquele final de década as coisas começaram a ficar ruins para Raul. A partir do ano de 1978, começa a ter problemas de saúde devido ao alcoolismo lhe causando a perda de 1/3 do pâncreas. Ele passou alguns meses numa fazenda na Bahia para se recuperar da pancreatite. Separou-se de Glória, que, assim como Edith, também voltou aos Estados Unidos levando a filha Scarlet. Neste ano, conhece Tania Menna Barreto, com quem passa a viver. Lança o LP Mata Virgem que conta com a volta de Paulo Coelho mas ambos chegam a conclusão de que essa parceria já não tinha mais como dar certo. Além disso, a má divugação atrapalhou as vendas do disco e a crítica também não ajudou.

No ano de 1979, Raul separou-se de Tania. Raul Seixas entrou em depressão e foi internado para tratar do alcoolismo. Conhece Angela Affonso Costa, a Kika Seixas, sua quarta companheira. Lança seu último LP com a WEA, Por Quem os Sinos Dobram, em parceria com o amigo Oscar Rasmussen e logo após, rescinde o contrato com a gravadora.

Em 1980, assinou novo contrato com a CBS (desta vez como cantor) lançando mais um álbum, Abre-te Sésamo, que contém outros sucessos e têm as faixas "Rock das Aranha" e "Aluga-se" censuradas. Logo depois, o contrato é rescindido. Em 1981, nasce a terceira filha, Vivian, fruto de seu casamento com Kika. Em 1982, faz um show na praia do Gonzaga, em Santos, reunindo mais de 150 mil pessoas. No mesmo ano, Raul apresenta-se bêbado em Caieiras, São Paulo, e é quase linchado pela platéia que não acredita que Raul é o próprio, mas um impostor.

Desde 1980, Raul estava sem gravadora e perspectiva de um novo contrato. Mergulhado na depressão, Raul afunda-se nas drogas, mas em 1983, Raul é convidado para gravar um disco pelo Estúdio Eldorado. Logo depois, Raul é convidado para gravar o especial infantil Plunct, Plact, Zuuum da Rede Globo, onde canta a música "Carimbador Maluco". O álbum Raul Seixas (1983), que continha a canção, dá à Raul mais um disco de ouro. Em 1984, grava o LP "Metrô Linha 743" pela gravadora Som Livre, com a maior parte das composições em parceria com sua companheira Kika Seixas e uma das faixas, Mas I Love You (Pra Ser Feliz), em parceria com seu guitarrista Rick Ferreira, que teve participação em todos os discos de Raul, a partir de Gita. Mas depois, Raul teve as portas fechadas novamente, devido ao seu consumo excessivo de álcool e constantes internações para desintoxicação.

Também em 1984, a Eldorado lança o disco .Ao Vivo - Único e Exclusivo
Em 1985 separou-se de Kika Seixas. Faz um show em 1 de dezembro 1985, no Estádio Lauro Gomes, na cidade de São Caetano do Sul e deixou a cena. Só voltaria a pisar no palco no ano de 1988, ao lado de Marcelo Nova. Com um contrato com a gravadora Copacabana, em 1986 ,de propriedade da EMI, grava um disco que foi lançado somente no ano seguinte, devido ao alcoolismo de Raul. O disco Uah-Bap-Lu-Bap-Lah-Béin-Bum! faz grande sucesso entre os fãs, chegando a ganhar disco de ouro e estando presente até em programas de televisão, como o Fantástico. Nesta época, conhece Lena Coutinho, que se torna sua companheira.

A partir desse ano, estreita relações com Marcelo Nova (fazendo uma participação no disco Duplo Sentido, da banda Camisa de Vênus). Um ano mais tarde, 1988, já separado de Lena, faz seu último álbum solo, A Pedra do Gênesis. A convite de Marcelo Nova, faz alguns shows em Salvador, após três anos sem pisar num palco. No ano de 1989, fez uma turnê com Marcelo Nova, agora parceiro musical, totalizando 50 apresentações pelo Brasil. Durante os shows, Raul mostra-se debilitado. Tanto que só participa de metade do show.

As 50 apresentações pelo Brasil resultaram naquele que seria o último disco lançado em vida por Raul Seixas. O disco foi intitulado de A Panela do Diabo, que foi lançado pela Warner Music Brasil no dia 22 de agosto de 1989. Na manhã do dia 21 de agosto, Raul Seixas foi encontrado morto sobre a cama , por volta das oito horas da manhã em seu apartamento em São Paulo, vítima de uma parada cardíaca: seu alcoolismo, agravado pelo fato de ser diabético, e por não ter tomado insulina na noite anterior, causaram-lhe uma pancreatite aguda fulminante.

O LP A Panela do Diabo vendeu 150 mil cópias, rendendo a Raul um disco de ouro póstumo, entregue à sua família e também a Marcelo Nova, tornando-se assim um dos discos de maior sucesso de sua carreira. Raul foi velado pelo resto do dia no Palácio das Convenções do Anhembi. No dia seguinte seu corpo foi levado por via aérea até Salvador e sepultado às 17 horas, no Cemitério Jardim da Saudade.

Depois de sua morte, Raul permaneceu entre as paradas de sucesso. Foram produzidos vários álbuns póstumos, como O Baú do Raul (1992), Raul Vivo (1993 - Eldorado), Se o Rádio não Toca... (1994 - Eldorado) e Documento (1998). Inúmeras coletâneas também foram lançadas, como Os Grandes Sucessos de Raul Seixas de (1993), a grande maioria sem novidades, mas algumas com músicas inéditas como As Profecias (com uma versão ao vivo de "Rock das Aranhas") de 1991 e Anarkilópolis (com "Cowboy Fora da Lei Nº2") de 2003.

Sua penúltima mulher, Kika, já produziu um livro do cantor (O Baú do Raul), baseado em escritos dos diários de Raul Seixas desde os seis anos de idade até a sua morte. Em 2004, o canal a cabo Multishow promoveu um show especial de tributo a Raul, intitulado O Baú do Raul: Uma Homenagem a Raul Seixas. O show, gravado na Fundição Progresso (Rio de Janeiro) e lançado em CD e DVD, contou com artistas como Toni Garrido,CPM 22, Marcelo D2, Gabriel o Pensador, Arnaldo Brandão, Raimundos, Nasi, Caetano Veloso, Pitty e Marcelo Nova (os três últimos baianos, como Raul). Mesmo depois de sua morte, Raul Seixas continua fazendo sucesso entre novas gerações.

Vinte anos depois de sua morte, o produtor musical Mazzola, amigo pessoal de Raul, divulgou a canção inédita "Gospel", censurada na década de 1970. A canção foi incluída na trilha sonora da telenovela Viver a Vida, da Rede Globo. Em 2013, o cantor americano Bruce Springsteen cantou "Sociedade Alternativa" na abertura de seu show no Rock in Rio 2013. Em junho de 2014, a Rede Record definiu a música "Tente outra vez", como tema de abertura da novela Vitória. 





O show da banda Kapitu e a estreia de meu programa hoje, 23h30m, na Radio Cult FM Ponto Com

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Na noite deste sábado assisti a um dos melhores shows de rock brasileiro dos últimos tempos. A banda Kapitu se apresentou no Teatro Popular Oscar Niemeyer em Niterói durante uma hora e quinze. A plateia (lotada), não parava de aplaudir, participar.

Um show mais do que especial no momento em que volto ao rádio. Lembro que hoje (domingo) as 23h30m estarei apresentando a primeira edição do programa CAFOFO DO LAM, que também produzo, na Radio Cult FM Ponto Com que fica em http://www.radiocultfm.com/ com o melhor do soft rock.

Espalhe a notícia entre os amigos, conhecidos, desafetos, ponha na agenda, despertador, enfim, OUÇA ! e, mais do que isso, OPINE! Vou divulgar exaustivamente o e-mail do CAFOFO ao longo do programa.

Kapitu. Fundada em 2008 a banda faz o melhor hard rock contemporâneo e está lançando o seu segundo CD, que se chama “Vermelho”. Discaço! A banda me enviou uma cópia da mixagem final há 10 dias e não paro de ouvir. 

Mais amadurecida, com letras magistrais de Benito Corbal, a banda está absolutamente fulminante. No show, o som distorcido das guitarras, somado ao baixo preciso e a bateria descabelante acabou sendo aplaudido de pé pela plateia ensandecida.

É formada por Yuri Corbal (guitarra e voz) Jahba (guitarra) Irlan Guimarães (baixo) e Rafael Marcolino (bateria) e tem como vocalista convidada Lis Vanelle. O show de lançamento do álbum “Vermelho” consumiu dias e mais dias de muito ensaio. No site da banda, a Kapitu se apresenta:

“De início veio a inquietude. Deixando de lado o bate-boca se a cena rocker é boa, péssima ou já deu pro gasto, pra eles o que se via não era suficiente. Trazendo referências diversas do Rock, Blues, R'n'B, o que se ouve é algo maduro ou, pros maiores pessimistas, coerente. Aliás o nome KAPITU não vem à toa, aqui não se tem dependência amorosa, comodismo ou frigidez. 
Letra e som demarcam liberdade, atitude e pressa por viver. Se um dia a referência do nome da personagem de Assis serviu como tradução ao som dos quatro roqueiros de Niterói-RJ, pra eles, hoje, KAPITU soa quase óbvio.” 

No CAFOFO DO LAM do outro domingo, dia 5 de julho, vou mostrar três faixas desse segundo CD da Kapitu. Aliás, o horário original do CAFOFO é 23 horas, mas neste domingo (hoje) a partir das 22 horas, o amigo Jamari França vai fazer uma bela homenagem ao Raul Seixas no seu programa JAM SESSIONS. Raul faria 70 anos hoje e o Jama vai atacar!

Valeu Kapitu! O show me fez bem pois há tempos não ouço rock and roll do bom, visceral, distorcido, com letras ricas, reflexivas e, por que não, contemplativas. Vamos em frente, sempre!

P.S. - Para conhecer (e baixar) o álbum “Vermelho” é só acessar www.kapitu.com.br

Gravado em Março/2015 no estúdio Cantos do Trilho (RJ) por Pedro Garcia
Mixado por Pedro Garcia
Masterizado Chris Hanzsek no Hanzsek Audio (Seattle, USA)
Produzido por Kapitu
Co-produzido por Pedro Garcia
Produção executiva por Benito Corbal
Fotografia por Daryan Dornelles
Arte gráfica por Flavio Albino

Yuri Corbal (guitarra e vocal)
Jahba (guitarra)
Irlan Guimarães (baixo)
Rafael Marcolino (bateria e percussão)
Teclados nas faixas 3, 4, 5, 8 e 10 por Gê Fonseca
Vocais adicionais nas faixas 1, 3, 4, 8 e 10 por Lis Vanelle

Lançado em 2015 (independente)

“Existem homens presos na rua e livres na prisão. É uma questão de consciência” (Mahatma Gandhi)

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                                          Banda defende Sid Vicious                                                                            
Na noite deste domingo assisti o documentário “Who Killed Nancy”, no Canal Bis(devia se chamar TV Oasis), sobre a morte do ex-baixista da banda punkinglesa Sex Pistols, Sid Vicious (John Simon Ritchie), aos 21 anose de sua namorada Nancy Spungen, 20. Em outubro de 1978 ela foi encontrada morta numbanheiro em Nova Iorquea culpa caiu sobre Sid, acusado de tê-la matado. Viciado em heroína e cocaína, Sid raramente foi vistolúcido desde a criação do Pistols em 1975 em Londres (a banda durou até janeiro de 1978), e, é lógico, o filme coloca em questão o “uso abusivo” da liberdade.

Como todo mundo estava prevendo, Sid morreu de overdose de heroína em fevereiro de 1979, antes de ser julgado pelo suposto crime. Mas é lógico que procurava a morte, como ele prório deixou claro em sua última entrevista, mostrada no documentário. O jornalista perguntou “onde você gostaria de estar agora?” e Sid responde “embaixo da terra”.

Liberdade?

Estou relendo “O Homem e seus Símbolos” (1875-1961), clássico do psicanalista Carl Gustav Jung, que aborda em profundidade a questão dos arquétipos, delírios, possibilidades, barreiras existencais quase instransponíveis.

O maior feirão de fantasias da história da civilização está a poucos centímetros de pelo menos 3,5 bilhões de pessoas que acessam a internet. Ofertas, propostas, convites, tentações. Por outro lado o medo, o travamento do politicamente correto, os regulamentos, a castração e, em oposição, a obsessão de querer realizar o impossível, o utópico, o inalcansável.

Em 1970 David Crosby compôs uma canção chamada “Triad” sobre um menage a trois. Um cara e duas mulheres. Desde o quilometro zero da civilização, menage a trois é a fantasia de bilhões de pessoas, seja no formato homem/mulher/mulher, como na configuração mulher/homem/homem. Sempre existiu. Sempre. Em especial na Roma antiga.

Mas a opressão é tamanha (interna e externa), que a maioria absoluta das pessoas nasce, vive e morre com essa fantasia não realizada. Outros fazem pior: contrariando seus princípios bem sedimentados ao longo de anos, se atiram na experiência e sabe-se lá como saem do outro lado. Em geral espatifados, moídos, detonados. Dois filmes do genial Luis Buñuel deixam essa questão do extremismo existencial (?) bem clara: “A Bela da Tarde”, de 1967, e ”O Fantasma da Liberdade”, 1974.

As toneladas de liberdade oferecidas a poucos centímetros de nós revive aquela equação levantada pela psicanálise: repressão=pervesão=psicopatia social? Em muitos casos, as fantasias não realizadas (sexuais ou não) se transformam em patologias porque, até segunda desordem, nosso inconsciente detém o comando de boa parte de nossas ações ou das “não ações”. No entanto, como em tese somos saudáveis, temos a “obrigação” de decidir o que o inconciente deve fazer e, sobretudo, o que não fazer. Viver fantasias? Qual o problema? Ser obrigado a realizá-las? Que problemão.

O nome já diz: fantasia é fantasia. Por que temê-la? Exemplo: paixão platônica, sentimento alimentado por “prováveis possibilidades” que concretamente não existem. Que mal há em acordar e dormir pensando numa pessoa que sequer conhecemos? Mal nenhum. Desde que saibamos tratar-se de uma fantasia.

Quando uma fantasia começa a se vestir de neurose é melhor abrir a porta e convidá-la a se retirar porque a partir daí dá lugar ao padecimento, escárnio, loucura. Como a cabeça de Cinderela na hora em que a carruagem virou abóbora.

Conviver com fantasias parece ser saudável desde que não se transforme em mania, obsessão, neura. Podemos ter fantasias consumistas como um apartamento de frente para o mar, uma Ferrari na garagem, tudo bem. O problema é abandonar a vida real trocando-a por um sonho que tem o aroma típico dos pesadelos. O pesadelo de se sentir na obrigação de concretizar fantasias impossíveis.

Quem se permite sonhar, divagar, especular, fantasiar em tese não terá confrontos com a sanidade emocional/mental. Os que forçam a barra e resolvem realizar coisas que estão muito acima de sua capacidade de digestão, estão fadados ao sofrimento. E os que ficam horrizados com as suas fantasias, sejam de consumo, de viagem (passar um mês no Afeganistão, por exemplo), de relações afetivas/sexuais também vão se ver nus diante da loucura.

O fantasma da liberdade cavalga em todos nós. Seja num roqueiro punk viciado, numa mulher de classe média que realiza a fantasia de se tornar prostitura depois do almoço (“A Bela da Tarde”), seja naqueles que acham que fantasias devem se tornar fatos “custem o que custar”.

Haja cacife.



Quadrophenia: ainda há ingressos para este domingo no Royal Albert Hall (Londres): lançamento mundial da versão sinfônica da ópera-rock de Pete Townshend (The Who)

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Tem uma grana, bons contatos em agências de viagem que operam para a Europa, em especial Londres? Quer assistir um dos mais importantes concertos sinfônicos do ano do célebre Royal Albert Hall? Então corra porque vai sere no próximo domingo e no site do Albert Hall há pouquíssimos ingressos à venda.

O que é, afina? Como parte das comemorações do aniversário de 50 anos do The Who, a consagrada gravadora alemã Deutsche Grammophon vai apresentar o concerto de estreia mundial da nova versão sinfônica da ópera-rock Quadrophenia, escrita por Pete Townshend e gravada por sua banda, The Who que a lançou em 1973. A uma nova versão orquestral deste marco na história do rock foi orquestrada por Rachel Fuller (atual mulher de Townshend), compositora e regente.                                                  


                                              
A nova e revolucionária versão de Quadrophenia vai ser lançada domingo, dia 5 de julho com um concerto-estreia mundial no Royal Albert Hall (Londres), com a Orquestra Filarmônica Real de Londres, com regência de Robert Ziegler e estrelado por Pete Townshend e Alfie Boe, que cantam as partes originalmente cantadas por Roger Daltrey no disco do Who.

Na década de 1960, Pete Townshend e The Who definiram o conceito de "ópera rock" com Tommy, dando um passo à frente com Quadrophenia. Concebida e escrita por Townshend, Quadrophenia acabou se tornando um ícone.

Townshend tornou públicos os seus traumas em Tommy (1969) e Quadrophenia (1973), para mim o melhor disco da história do Who. E é sobre ele que escrevo hoje. Acho que para o criador da banda, guitarrista, cantor, compositor, poeta, romancista, teatrólogo, cineasta Peter Dennis Blanford Townshend, londrino de 70 anos, é a obra-prima do Who.                                                     

   Album original, 1973
Desde 1973, ano em que Quadrophenia foi lançado, não conheço (nem ouvi falar) de um show do Who, ou de Townshend sozinho, que não tenha sido incluída uma faixa do álbum duplo. Quem me apresentou ao disco foi Zé da Gaita, no verão de 1974. Ele estava em Teresópolis, nos encontramos e descemos a serra ouvindo a fitinha aos berros na Variant de meu pai. Nunca mais Quadrophenia me deixou, nem eu a ele.

Álbum duplo conceitual, essencialmente ópera-rock, Quadrophenia foi lançado no mesmo ano de The Dark Side of The Moon, do Pink Floyd, outro álbum genial. Mas o que Townshend escreveu fez com que vários críticos, biógrafos e fãs começassem a chamar de  “álbum da minha vida” porque, de ponta a ponta, ele aborda todos os tipos, formas e conseqüências do hediondo e deformador sentimento de rejeição, tão ou mais grave e dilacerador quanto a culpa. 

Na minha adolescência a rejeição era o sentimento dominante que, eventualmente, ainda se mantém a flor da pele. Quadrophenia me trouxe alívio porque mostrou que não estou sozinho nessa ilha estranha, erma, cinzenta, cercada de relações utilitárias, mercantilistas, eventualmente sonsas, outras vezes cínicas e calhordas.                             
Em 1979 o diretor Franc Roddam lançou o filme que, evidentemente, contou com a consultoria de Pete Townshend que numa dessas pisadas na jaca que eventualmente dá, entregou a direção musical a John Entwistle, baixista do Who, que deve a delicadeza de destruir a obra original. Até flauta doce o saudoso baixista (morto de cocaína com vinho em 2002) meteu na trilha sonora que, comprei, ouvi uma única vez e derreti em seguida, transformando o vinil em cinzeiro, como já havia feito com uma série de outros discos, para mim, execráveis.

Assisti ao filme Quadrophenia em 1981, mas sem legenda. Até os ingleses tem dificuldade de entender o dialeto mod (grupo de pós-adolescentes que formavam quadrilhas de lambretas em Londres no inicio dos anos 60) mas um dia, para a minha surpresa, o filme passou no Corujão da Rede Globo, tipo três horas da madrugada de uma quinta para sexta-feira, dublado. Há coisas nesse mundo que desisti de entender, como, por exemplo, Quadrophenia na Rede Globo.

O filme é ambientado em 1963 e conta a história de um garoto chamado Jimmy Cooper (vivido pelo ator Phil Daniels) que, com a sua lambreta, vive rodando com os outros colegas mods (expressão de que vem de moderns), filhos de operários, que são molestados e perseguidos pelos rockers, de classe média, montados em potentes motocicletas.

Jimmy briga em casa e é expulso com tapas na cara, chamado de vagabundo. Vai trabalhar, se defende de uma injustiça, manda o chefe tomar no rabo e é demitido. Se apaixona por uma garota, mas durante uma viagem do bando a Brighton, litoral onde rolou de fato uma batalha campal com os rockers, dezenas de presos e feridos, ele flagra a namorada com um cara dando amassos num beco.

E as rejeições vão se acumulando, Jimmy ingerindo cada vez mais doses cavalares de anfetaminas, até perceber que o único sentido de sua vida é o bando, a ideologia mod. Bando este que tinha um líder, rebelde radical que no filme é vivido por Sting, admirado, cultuado por Jimmy Cooper. A lambreta do personagem de Sting é cromada, cheia de espelhos, enfim, “cavalo” de um verdadeiro líder.

Até que um dia, atravessando mais uma crise de angústia, Jimmy vê a lambreta do líder encostada em frente a um hotel. Pior: flagra o próprio líder anarquista trabalhando como carregador de malas (“Bell Boy”), dizendo “sim, senhor”, “sim, senhora”, recebendo gorjetas, enfim, um capacho social. Indignado, Jimmy espera Sting entrar e rouba a lambreta dele. Sem família, sem mulher, sem trabalho, sem grupo de amigos, decide se atirar de uma escarpa britânica. Com a lambreta do personagem de Sting.* Mas, há sempre um mas, Townshend deixa em aberto se Jimmy Cooper morreu pois a lambreta cai no abismo vazia.                                            
Os danos das rejeições são profundamente tratados nesse filme que a crítica mundial classificou como “drama”. Aos que perguntam se é uma autobiografia de Townshend, a resposta é não. Aos que perguntam se retrata a adolescência de mais de 80% dos fãs do Who, com certeza a resposta é sim. Eu que o diga.



A confusão gerada pelos e-mails mal escritos

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Há tempos acolega Cora Rónai, do Globo, uma das maiores autoridades em informáticaque conheço escreveu que os e-mails estão entrando em extinção. Segundo ela, as pessoas estão optando pelo uso de outras ferramentas mais ágeis como o whatsapp e as mensagens reservadas (inbox) no Facebook. Mas, enquanto isso, segue a barbárie.
Um amigo tem horror as chamadas novas tecnologias. Ele é um sujeito de opiniões fortes e sempre muito bem humoradas. Como exemplo desse seu horror ao que chama de “maquininhas” está um fato curioso. Ano passado ele participava de uma reunião, mesa grande, várias pessoas e percebeu que duas delas não paravam de mexer em seus celulares. A reunião acabou e ele, curioso, perguntou o que as duas estavam fazendo. “Estavam trocando mensagens pelos smartphones, ali, um de frente para o outro”, conta ele entre fulo da vida e achando graça. “Por que não esperaram a reunião acabar e foram bater um papo ao vivo?”, pergunta.                                                     

O começo
 Tenho uma relação íntima com as novas tecnologias dacomunicação desde osanos 90. Com prazer mantenho estaCOLUNA DO LAM, escrevo para alguns outros sites, lancei um livro eletrônico, vulgo e-book, enfim, vou fundo. Mas sou extremamente cauteloso quando o assunto é enviar e-mail.
A maioria das pessoas que troca e-mails comigo é desconhecida. Uma maioria que não sabe escrever direito e, por isso, gera uma série de confusões, ruídos na comunicação e, muitas vezes, o que era para ser simples acaba numa grande babel regida pelo mal entendido. Se a nova comunicação, em vez de e-mail, adotasse a pintura ou o desenho eu estava ferrado. Não sei desenhar a mais tosca das árvores. Continuaria utilizando o telefone, telegrama, carta no correio, mas pintura e desenho jamais.                                                                         
                                                                       
Só que muita gente, mesmo sem saber escrever (deixo claro que ninguém é obrigado a nada) dispara e-mails que chegam as raias do surrealismo. Mensagens respondendo “aquilo que você disse não é bem assim. Fui verificar e vi que não é”. Como? Que confusão.
Se eu não soubesse escrever, o máximo que teclaria num e-mail seria, por exemplo, “preciso falar com você” ou então, como disse ali em cima, partiria para o telegrama e telefone. Ainda mais agora que as operadoras de celulares estão se comendo no escuro e, tudo indica, essa caríssima modalidade de comunicação tende a ficar menos extorsiva.

Não solto pipa perto das redes elétricas. Nunca enviei um desenho para qualquer pessoa como forma de comunicação. Aliás, francamente, desisti de desenhar aos 15, 16 anos, quando percebi que não dou para isso. Quanto a quem manda e-mails sem saber escrever, sugiro que...sugerir o que? Que situação constrangedora. Tá bom, sugiro que não envie para mim porque detesto charadas.



                                                                    
                                                                             

A sensação de que o ontem parece melhor do que o hoje

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Nesta quarta-feira participei de um painelcom a querida jornalista, escritora e radialista Maria Estrella na exposição Maldita 3.0,que está em seus últimos dias no Centro Cultural dos Correios, em Niterói. Opainelfoi mediado pelo curador e coordenador da exposição Alessandro ALR, do Grupo Fluminense Multimídia. Quem gosta da história da Rádio Fluminen se FM e ainda não foi, não pode perder. O último dia é sábado, dia 11.
Maria Estrella é autora do livroRádio Fluminense FM - A porta de entrada do rock brasileiro nos anos 80” e produz e apresenta o programa “Vale Tudo” as quintas-feiras (hoje), 21 horas na Radio Vitrola que fica em http://radiovitrola.net/ .
É óbvio que o tema da conversa com a plateia foi o início da rádio, como aconteceu, o que aconteceu, as pessoas envolvidas. Falamos da importância da Fluminense FM especialmente entre 1982 e 1985 e também da necessidade crucial de surgirem outras “Malditas” no mercado.                                                     
Maria Estrella
Alessandro ALR

                           Auge do trampolim da Praia de Icarai, anos 1960. Sonho
O fim do trampolim. Implodido por causar muitos acidentes. Realidade
Naturalmente, lembrando de pessoas (amigos meus), de fatos, de músicas, bateu uma nostalgia. Aliás, percebo que volta e meia uma onda saudosista varre nossa história pessoal. Muita gente, toda hora, posta músicas dos anos 60, 70 e 80 no Facebook, onde os frequentadores de uma página dedicada a lendária Radio Jornal do Brasil AM, minha escola de jornalismo, também lembram de momentos que nos foram tão belos, lúdicos, sensacionais na programação musical da emissora.

Meses atrás fiquei postando anos 70 no Facebook. Bandas alemães de 70, 71, 72, Deep Purple lançando Machine Head, Jards Macalé cantando “Farrapo Humano” e por aí fui. Por que? Não sei. Deu vontade.
Na verdade, quando posto canções antigas (não serei hipócrita) busco o virtual sossego do passado. Que sossego? O sossego comum, vizinho da calma, da tranquilidade, aquela que aparentemente enxergamos naqueles pescadores empunhando caniços nos litorais do mundo. O passado é um ótimo lugar ponto de fuga (pra que dourar pílulas?) para acharmos o sossego porque, em várias situações, ele surge. E a música tem o poder de nos transportar através do tempo.
Nas ilhas de edição de vídeo podemos mexer com tudo, dar a definição que acharmos melhor. É o caso das lembranças. Em geral, lembramos do que foi bom, do que foi legal, sensacional, porque só um masoquista lembra de momentos ruins o tempo todo. Como numa ilha de edição, montamos na mente um vídeo só com os melhores momentos.
Lembro que no tal dia que postei anos 70 no Facebook, me emocionei com a maciez do grupo Neu, depois um pouco de Mike Oldfield e, é claro, o Tangerine Dream, mesmo hoje, 40 anos depois, nos leva a “lugares” virtualmente sossegados.
Não sei quem inventou os jargões “recordar é viver”, “saudade não tem idade” e outros. O fato é que muita gente (maioria ?) relembra, revê, relê, como se o presente não estivesse robusto o suficiente para atender as suas demandas. As pessoas que falam de Beatles, TV Tupi, Lambretta, trampolim da praia de Icaraí, Torrão de Açúcar em Buzios, por exemplo, são chamadas de saudosistas. Mas e a maioria que sente/pensa o mesmo e não revela, não abre o jogo?
Por que o passado ganha do presente? Por que o presente perde para o futuro? O que há de errado com o aqui e agora? Não sou filósofo, nem psicólogo social, mas os livros dizem que sempre foi assim. Tem um verso do Caetano (canção “Cajuína”) que quando ouvi a primeira vez achei que era uma resposta, mas depois, ouvindo seguidas vezes, percebi se tratar de uma gigantesca pergunta:”Existirmos: a que será que se destina”.
Especulo que o presente nos força a existir. Soltar amarras, enfrentar, resistir, voar, partir para a urgência, executar. O texto que escrevo agora é este, não há outro. Mais: pensamos uma coisa de cada vez. Mais: temos o direito de sentir saudade, sim. De pessoas, tempos, coisas, cidades, mas, recomendam os mais experientes, não devemos voltar lá. Decepção.
Passei minha infância feliz da vida numa vila militar em Angra dos Reis, onde meu pai serviu como oficial de Marinha. Voltei lá nos anos 90. A vila está a mesma coisa e, confesso aqui muito particularmente que até chorei de emoção, mas Angra? Angra virou o maior favelão, não tem mais o trem onde brincávamos, a praia do Anil está cheia de urubus e a recepcionista da cidade não é mais uma sabiá-laranjeira e sim uma usina nuclear.
Alguém escreveu que não devemos voltar onde fomos felizes e que o lugar do bom passado é num dos arquivos de nossa memória afetiva. Mas, por que sinto o coração apertar quando ouço “I´m not in Love”, do 10 cc, que antes de virar sucesso em todas as rádios tocava na não menos saudosa Eldo Pop FM?
Como explicar os cinco, seis, sete e-mails que respondo por dia sobre a Rádio Fluminense FM que criamos há 33 anos? Pior: a maioria dos leitores desta Coluna não era sequer nascida quando a rádio existia? Alguém explica?
Um dia desses alguém me disse “saudade é uma coisa, saudosismo é outra”. Quando encontro amigos da adolescência lembro nitidamente de cada dia, cada momento, mas esqueço de trazer a tona as angústias, a reprovação no colégio, a queda de uma onda que me custou 11 pontos na perna. Por que a nossa mente só edita bons momentos do passado? Por que até pessoas que se revelaram molecas no presente hoje tem um lugar carinhoso em nossos escaninhos?
Alguém tem as respostas?

O caso escandaloso do filosofo Luiz Carlos Maciel, do Pasquim – site www.gutemblog.com

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Luiz Carlos Maciel é um de meus heróis. Adolescente já acompanhava o seu trabalho como fundador e diretor da edição brasileira de revista Rolling Stone, porta-voz maior da contracultura e da maravilhosa anarquia que tentava reinar no país no início dos anos 1970, mas que a censura degolava. Ele também foi um dos fundadores do semanários O Pasquim.

Maciel escreveu vários livros sensacionais entre eles o visceral “Geração em Transe”,* de 1996 (Ediouro) que me deu um forte sacode. Maciel fez televisão, cinema, literatura, Maciel fez cabeças, oxigenou a filosofia contemporâneea, sempre contornou a medfiocridade do esquemaão evitando conflitos (ele tinha mais o que fazer) e foi um fundadores da Casa da Criação, uma ideia de Dias Gomes, que a Rede Globo implantou no Horto, Rio. Lá nasceram grandes programas, análises, conceitos, sempre a orientação do grande Luiz Carlos Maciel.

Tudo bem? Não. Luiz Carlos Maciel, a lenda, o mito, um dos mais robustos intelectuais contemporâneos do planeta está desempregado e passando por sérias dificuldades. A ponto de desabafar em sua página no Facebook. Trits, indignado, puto, reproduzo abaixo uma matéria de Arthur Gama, com pesquisa de Maria Helena Verissimo, publicada no site Gutemblog, editado por Luiz Gutemberg e que fica em http://gutemblog.com/2015/06/30/77-anos-desempregado-bela-biografia-e-sem-dinheiro/

A hipocrisia brasileira – que se encrespa contra todo tipo de preconceito e assumiu a vanguarda mundial pelo reconhecimento dos direitos humanos de homossexuais, negros e quem quer que por alguma razão seja discriminado socialmente, e acaba de quebrar os grilhões da aposentadoria compulsória de magistrados aos 70 anos – podia dormir sem o inesperado anúncio do filosofo e escritor Luiz Carlos Maciel acaba de publicar na internet:

Um tanto constrangido, é verdade, mas sem outro jeito, aproveito esse meio de comunicação, típico da era contemporânea e de suas maravilhas, para levar ao conhecimento público o fato desagradável de que estou sem trabalho e, por conseguinte, sem dinheiro. É triste, mas é verdade. Estou desempregado há quase um ano. Preciso urgentemente de um trabalho que me dê uma grana capaz de aliviar este verdadeiro sufoco. Sei ler e escrever, sei dar aulas, já fiz direções de teatro e de cinema, já escrevi para o teatro, o cinema e a televisão. 

Publiquei vários livros, inclusive sobre técnicas de roteiro, faço supervisão nessas áreas de minha experiência, dou consultoria, tenho – permitam-me que o confesse – muitas competências. Na mídia impressa, já escrevi artigos, crônicas, reportagens… O que vier, eu traço. Até represento, só não danço nem canto. Será que não há um jeito honesto de ganhar a vida com o suor de meu rosto? Luiz Carlos Maciel. lcfmaciel@gmail.com

No país que quebra e criminaliza preconceitos de todo tipo – de cor, raça, gênero, região – é espantoso que o envelhecimento seja tão duramente perseguido com o afastamento compulsório dos idosos de atividades econômicas, profissionais, culturais – da própria vida útil.

Gaúcho, nascido em 1938, professor de teatro, com referências no currículo de temporadas na Universidade da Bahia (nos tempos de Glauber, Ana Adler, João Augusto e Eros Martins Gonçalves) e no Carnegie Institute, de Pittsburgh, nos Estados Unidos e idolatrado no Rio como interprete do filosofo Herbert Marcuse e autor de textos no Pasquim (segundo a lenda, era um craque em psicanálise e admirado por Millôr Fernandes, extremamente seletivo na seleção de amigos), Luiz Carlos Maciel marcou época na Rede Globo, onde talento e validade artística são medidos de forma implacável pelo sucesso comercial. Casado com a bela e talentosa atriz Maria Claudia, protagonista de novelas, filmes e peças de teatro, não lhe faltava nada para fazer o encanto dos cariocas. Escrevia livros, teleteatro, dirigia espetáculos.

De repente, sumiu. Tal como Maria Claudia, que teve problemas com as cordas vocais, depois voltou milagrosamente recuperada e novamente sumiu. Imaginava-se que estava recolhido, ensinando ou trabalhando discretamente em algum jornal ou editora.

Agora, com esse anúncio patético – um SOS desesperado, ainda por cima dando sinais de humor com a frase “O que vier, eu traço. Até represento, só não danço nem canto. ” – Luiz Carlos Maciel joga na cara da sociedade brasileira o abandono dos idosos. Se ele, um intelectual com tal bagagem, confessa-se sem dinheiro, imagine os idosos sem currículo e sem referências…

Aliás, há neste momento outro sinal escandaloso da repugnância nacional pela velhice. O fracasso da novela Babilônia, que apesar do grande elenco e dos autores famosos está perdendo em audiência para os outros três seriados da Globo, inclusive Malhação, está sendo atribuído aos papéis das atrizes Fernanda Montenegro e Nathalia Timberg, que brilham como um casal homossexual ativo (e além de ativo, intelectual e passional). Segundo analistas da área de pesquisa, o público aceita e idolatra Fernanda em papéis cômicos e Nathalia em papéis dramáticos de velhinha caduca ou coadjuvante, jamais no vigor humano e sexual que desfrutam além dos 80 anos.

A expectativa de sobrevivência atém dos 70, além dos 80, em condições físicas e mentais normais, é um castigo para homens e mulheres brasileiras que pretendam exercitar plenamente seus papéis profissionais e resistam à aposentadoria. Como está demonstrando, via Internet, o filosofo Luiz Carlos Maciel, 77 anos, notável saber, desempregado.”




* Livro “Geração em Transe”, de Luiz Carlos Maciel - O relato das memórias de 'Geração em Transe' inicia com Glauber, em seu percurso cinematográfico, tiradas proféticas e percepção aguçada. Catalisador da vontade de inovar estilos e tradições culturais, seus pronunciamentos sempre polêmicos tornaram-se símbolos do período. A obra tem prosseguimento com o acompanhamento da trajetória de Zé Celso, a importância de suas experimentações no teatro, e de Caetano, compondo as primeiras canções do tropicalismo. O autor mostra o movimento tropicalista em seu cotidiano, através de pequenos acontecimentos, notícias e discussões paralelas, apresentando a busca e o surgimento da liberdade, prazer e energia do movimento. 

O chato nosso de cada dia

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A voz das ruas sussurra que 90% dos chatos não sabem que são chatos. Já os 10% tem certeza absoluta de que são pessoas sensacionais, raras, indispensáveis e, claro, pouco modestas.
Tempos atrás encontrei com um chato que não sabe que é chato e conversei sobre um outro chato que se julga o belo, o tesouro, o garanhão, mas que não passa de um larápio mal sucedido (se fosse um bom larápio ninguém saberia), metido a tradição, família e propriedade mas que pouca gente atura.
Já ouvi dizer que ele é uma espécie Amaury Junior dos submergentes sociais. Não é raro vê-lo “chorando” em ocasiões de seu interesse. Não é raro ouvirmos que ele é usuário de “cristal japonês”, substância usada por atores e que faz os olhos lacrimejarem abundantemente em cenas de choradeira. É derivado do mentol e no Google há boas definições para o produto.
O chato que não sabe que é chato que encontrei é uma pessoa extremamente bem intencionada. Só que quando chega perto, sempre falando muito e alto, eu rosno, xingo em pensamento, mas, sinceramente, me sinto contra a parede. O cara é gente boa, se dedica as pessoas, torce por um mundo melhor, mas, coitado, é chato pra cacete.
Ao contrário do molambão do Amaury Junior paraguaio (também conhecido como G.B.O. – Grande, Bobo e Otário), o chato do bem não tira onda, não se acha, nem se coloca acima do bem e do mal. Já me disseram que ele divide tudo o que tem com todo mundo, não tolera a pobreza de espírito e nem a material, é um democrata, mas, coitado, é chato pra caramba.
O que fazer? Afinal todos nós temos pelo menos um chato em nosso pé e, diz o povo, elenão sabe disso. E quem teria a coragem de chegar para o sujeito, pegar carinhosamente pelo braço, levar para um canto e, emvoz baixa, dizer “desculpe a minha franqueza, meu caro. Mas você está se excedendo...com o passar do tempo tornou-se quase inconveniente, provavelmente um pouco chato”.
Eu não teria coragem de fazer isso. Para mim, deixem o chato chatear, finjam que não ouviram e toquem a vida porque em algum momento de sua existência ele saberá que é chato. Através de terceiros ou, o que é raro, graças a um insight, um mergulho interior, sonhos, sei lá.
Chato. Definição que nasceu (des) graças aquele primo do piolho que habita os pelos pubianos de quem é fraco no quesito higiene. O chato, inseto, é chato, porque coça, coça, coça, coça e a aflição é tamanha que há relatos de pessoas que chegaram a jogar álcool para arder bem. Por isso, o chato é chato.
Matá-los é constrangedor já que a substância mais eficiente é o Neocid em pó. Aquele que vem numa latinha que faz “plém, plém, plém” quando o usuário aperta para o pó sair. Logo, quando se houve “plém, plém plém” nas imediações de algum banheiro o grito anônimo do tipo “eita, chatoooo!” é comum.
Mas e o chato humano? O que fazer? Não há Neocid em pó para ele. Fugir, fingir que não viu, abrir o verbo? Pois é, está aí uma questão que parece não ter solução.





Implacável, a internet enterra as rádios em FM

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Não era preciso ser Chico Xavier para prever, no final dos anos 1990, que num curto espaço de tempo as rádios na internet associadas aos serviços de música por streaming (Spotify, Rdio e outros) iriam enterrar as FMs convencionais. É o que já acontece em todo o planeta, segundo todas as pesquisas que mostram as chamadas webradios subindo e as FMs desabando.

No Brasil não é diferente. Com o avanço das webradios, mais os serviços de streaming e a chegada, agora, da Apple Music que contratou a peso de ouro os melhores radialistas ingleses para tocarem o projeto (todos estão morando em mansões bancadas pela Apple em Los Angeles), as FMs minguam. Pìor: em vez de tentarem reagir indo para frente, para cima, ousando, buscando o novo, as chamadas emissoras do “público jovem” e adulto contemporâneo preferem optar pelo atraso, velhas e manjadas fórmulas que ouvinte nenhum aguenta mais.

Para que a Apple não reine sozinha três gigantes vão investir no mercado de rádio: Android (leia-se Google), Spotify e Rdio. Em pesquisa encomendada pela MTV norte-americana foi revelado que o brasileiro é o segundo povo mais curioso do planeta quando o assunto é música. Em primeiro lugar estão os australianos. O que as rádios cariocas (não tive ânimo de ouvir as do resto do país) fazem? Entopem o dial de velharias forçando a já cansada audiência a fugir para a internet.

Ando muito de táxi e ônibus. Nos táxis, aumenta cada vez mais a quantidade de carros sintonizados em webradios via 4G e 3G. Nos ônibus, muitas linhas já contam com wifi. A Via Dutra, que liga o Rio a São Paulo, tem wifi em todo o percurso. Aí você entra num ônibus e vê a cena; a maioria do passageiros com os pequenos fones de seus celulares espetados no ouvido, ouvindo rádios na internet, ou suas músicas preferias ou streaming. Tudo, menos a mofada velharia e decadência.

A quantidade de rádios na internet é avassaladora. Acesse www.radios.com.br e confira. Tem de tudo para todos: música clássica, missa católica, música folclórica do Afeganistão, atos religiosos em mesquitas do Oriente Médio, enfim vale conferir. Em FM só ouço a CBN e a Bandnews, mesmo assim via internet. Não tenho mais receptor de rádio em casa, nem no carro. Eu e milhões de outros brasileiros.

Em 1995 o genial Alvin Toffler lançou “Powershift: As Mudanças do Poder”. Ao longo de 616 páginas o mestre prova, por A + B, que o século 21 seria regido pelo conhecimento. Bingo, Mister Toffler! Hoje o que difere a qualidade das mídias, das lojas, dos aviôes é o CONHECIMENTO. Subentende-se que os imbecis já estão sendo deletados, como você previu.

Sergio Vasconcellos vai inaugurar no dia 10 de julho a sua “Dial 360 – Music 4 all”, que já transmite em fase experimental em http://www.dial360.com.br/ . Mauricio Valladares é outro que saiu da FM e entrou de sola da Web e arrebenta com o seu programa Ronca Ronca em www.roncaronca.com.br . Eu mesmo voltei ao rádio domingo passado com o programa “Cafofo do LAM”, as 11 da noite na Radio Cult FM Ponto Com (www.radiocultfm.com ) Carlos Mayrink toca a sua Radio Vitrola em www.radiovitrola.net, enfim, poderia ficar a noite e o dia todos citando outros exemplos.

Fato é que a web já impera e as FMs convencionais estão naufragando. Não sou eu quem digo, mas as frias, duras, drásticas e honestas pesquisas. Viva Alvin Toffler! Viva o poder do conhecimento! Viva Powershift! Viva a internet!




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