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Paul McCartney: “Lançamos Sgt. Pepper´s na sexta e domingo Jimi Hendrix tocou o tema no Saville Theatre em Londres; os Beatles chegaram a um ponto em que implodiram - todos tinham dinheiro e fama e, de vez em quando, era inevitável que nos irritássemos uns com os outros.”

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   "Sempre que me perguntavam como eu gostaria de ser lembrado, respondia "com um sorriso". Mas gostaria que as pessoas entendessem o que eu fiz e pensassem que há uma enorme força naquilo."
"Eu me lembro do impacto de Sgt. Pepper's como algo instantâneo e onipresente, tocando em toda casa noturna, toda loja de roupa, toda loja de discos."                                                        

"Naquele domingo Jimi Hendrix tocaria no Saville Theatre no West End de Londres, e ele abriu o show com o tema de Sgt. Pepper's."                                                      

"Isso veio de uma história que tínhamos lido a respeito do Cadillac de ouro do Elvis fazendo turnê. Achamos que era uma ideia maravilhosa: ele não sai em turnê, só manda o Cadillac. Fantástico! Então, pensamos: "Vamos despachar um disco". E o resultado foi Sgt. Pepper's Lonely Hearts Club Band"
                                                  
"Foi o pior momento da minha vida, quando me informaram que não poderia me opor a esse tal de Allen Klein, esse "suposto empresário norte-americano". Como ele não era uma das partes de nenhum dos nossos acordos, precisei brigar contra os outros três caras."                                                    
"Esta é a pior parte de ficar adulto. Você perde amigos, é inevitável. Não é exatamente uma surpresa, mas é terrível. É muito triste."


A conversa franca de Paul McCartney com Anthony Decurtis, da Rolling Stone americana, três anos atrás, toca em temas que ele pouco ou nunca comentou em profundidade como o fim do grupo, a amizade retomada com Lennon, a saudade de Harrison. Leia:

Como foi o "verão do Amor" (1967) para você?

Legal pra caramba. Tínhamos acabado de decidir que suspenderíamos as turnês porque já não estava mais valendo muito a pena. Parecia que não estávamos progredindo, o público continuava berrando, mas a gente se encheu daquilo. Tínhamos a ideia de fazer um disco que sairia em turnê por nós.

Isso veio de uma história que tínhamos lido a respeito do Cadillac de ouro do Elvis fazendo turnê. Achamos que era uma ideia maravilhosa: ele não sai em turnê, só manda o Cadillac. Fantástico! Então, pensamos: "Vamos despachar um disco". Passamos mais tempo em estúdio e o resultado foi Sgt. Pepper's Lonely Hearts Club Band (1967). Então, foi maravilhoso. Estávamos amadurecendo? Não sei.

Olhando em retrospecto agora, éramos praticamente crianças, apesar de nos sentirmos muito adultos. Tanta coisa tinha acontecido com tanta rapidez desde a viagem dos Beatles para os Estados Unidos em 1964. Em essência, aqueles três anos foram a diferença entre "I Want to Hold Your Hand" e "Sgt. Pepper's."

Os tempos estavam mudando, como senhor Dylan disse. Só estávamos seguindo nossos instintos, mas havia um grande arroubo de energia, as ideias vinham rápidas e consistentes.

Todos os tipos de ideias novas - artísticas, políticas, musicais. Começamos a escrever coisas que eram diferentes porque nossas conversas, nossos pensamentos e nossos sentimentos eram diferentes. Estávamos passando muito mais tempo longe da estrada, com outros artistas, e isso nos permitiu investigar outras coisas.

Tínhamos muitos amigos no mundo da música e no mundo da arte, e havia uma grande fertilização cruzada. Foi uma época ótima para experimentar coisas e tudo isso penetrou na nossa música e no nosso estilo de vida.

Eu me lembro do impacto de Sgt. Pepper's como algo instantâneo e onipresente, tocando em toda casa noturna, toda loja de roupa, toda loja de discos.

Você fazia ideia de que teria esse tipo de efeito?

Foi ótimo, para falar a verdade. Como tínhamos parado de excursionar, a mídia começava a sentir que as coisas estavam calmas demais, o que criou um vácuo, de modo que puderam falar mal de nós. Diziam: "Ah, a fonte secou". Mas nós sabíamos que não tinha secado. Sabíamos o que estávamos fazendo e sabíamos que nossa fonte estava longe de secar.

Na verdade, o oposto estava acontecendo - vivíamos uma enorme explosão de forças criativas. Nós pressentimos isso. Realmente não comentamos o assunto com muita gente. Tocávamos uma demo aqui, outra ali [para os amigos] e tal, mas o mundo de maneira geral não sabia de nada.

O que alguns críticos comentavam era "ah, eles estão acabados". Enquanto isso, estávamos lá trabalhando com alegria, como os Sete Anões - "Trabalho, trabalho, trabalho, trabalho, trabalho, trabalho, trabalho!" [risos]. Estávamos nos divertindo muito, obviamente, montando essa coisa.

Daí, quando saiu, foi fantástico. Naquela época, costumávamos lançar [álbuns] na sexta-feira, e aquele fim de semana foi uma coisa. Eu me lembro de ter recebido telegramas que diziam coisas como "vida longa a Sgt. Pepper's!". Esse era o sentimento geral, e era maravilhoso.

Naquele domingo Jimi Hendrix tocaria no Saville Theatre no West End de Londres, e ele abriu o show com o tema de Sgt. Pepper's. Cara, o disco estava mesmo em todo lugar! E é claro que nós só ficamos surfando naquela onda artística. Foi bem bacana exercer tanta influência assim.

Como eu disse, era verão, e o sol brilhava e lá estávamos todos nós, no maior astral [risos]! Eu me sinto muito privilegiado por ter vivido aquilo, em primeiro lugar e, em segundo, por ter sido o epicentro dos acontecimentos.

Deve ter sido uma sensação muito estranha - passar por mudanças enormes e, simultaneamente, gerar mudanças similares para milhões de outras pessoas.

Foi sobrenatural. Nós tínhamos nos acostumado com uma parte disso simplesmente por sermos os Beatles. Até "I Want to Hold Your Hand" tinha deixado as pessoas loucas. Mas em 67 a coisa passava para outro nível. 
Estávamos entrando no coração e na mente de todos.

Parecia muito que Sgt. Pepper's fazia parte do sentimento daquela época em que, de algum modo, tudo iria se transformar, que nada jamais voltaria a ser como antes.

É engraçado, conheço muita gente que, depois dos anos 60, teve uma sensação de decepção que nunca passou. Eu pessoalmente achava que, ao passo que tudo estava mudando, não necessariamente significava que tudo mudaria. Nós tínhamos longas discussões a respeito de como um dia as pessoas da nossa geração se tornariam primeiros-ministros e seria bem sobrenatural [para eles] o fato de terem sido afetados por esse período.

Mas, ao mesmo tempo, éramos realistas, e pensávamos "é, mas vão continuar sendo políticos". Dava para saber que tudo que estava acontecendo no mundo mudaria a ordem das coisas em alguns aspectos, mas não em todos. E isso está provado pelos nossos líderes atuais. Eles continuam presos aos anos 40 ou algo assim.

Houve algum acontecimento específico que fez com que você achasse que os anos 60 não cumpririam suas promessas?

Suponho que preciso considerar o rompimento dos Beatles como o momento mais sombrio. Os Beatles chegaram a um ponto em que implodiram - todos tinham dinheiro e fama e, de vez em quando, era inevitável que nos irritássemos uns com os outros.

Eu tinha conduzido a dança um pouco em Sgt. Pepper's. Para mim, o título e a ideia toda foi inspirada pela época e pela fertilização cruzada com os outros artistas. Queria que fosse algo do tipo "uau, cada um de nós tem sua lista de heróis [na capa] e vamos assumir estes alter egos. Seremos pessoas novas fazendo este disco, e podemos mais ou menos viver nestes corpos novos e fazer um álbum como se fôssemos outra banda". Aquilo foi libertador.

Mas, depois disso, não dava para sentir que era possível seguir em frente como aquela outra banda. Você inevitavelmente voltava à terra, fazia parte dos Beatles.

E foi aí que os problemas começaram...

Foi quando começamos a discutir assuntos comerciais, principalmente com o advento de Allen Klein - ou "um certo empresário norte-americano", ou seja lá como somos obrigados a nos referir a ele. Deixemos para o departamento jurídico resolver. As conversas passaram a ser assim: "Ah, que merda, vamos ter mesmo que pensar sobre isso agora ou perderemos tudo?". E isso causou um racha tremendo.

Você acabou processando os outros Beatles.

Foi o pior momento da minha vida, quando me informaram que não poderia me opor a esse tal de Klein, esse "suposto empresário norte-americano". Como ele não era uma das partes de nenhum dos nossos acordos, precisei brigar contra os outros três caras. Foi uma situação com a qual me debati durante meses. Ou era "não, não brigue com esses caras e perca tudo para todo o sempre" ou "brigue com esses caras e salve tudo". Foi um dilema. No final, pensei "acho que eles não sabem o que estão fazendo, estão cometendo um erro pavoroso".

Então eu, de fato, briguei no Tribunal Superior e venci, por sorte.
Isso criou um estigma terrível para mim, como sabia que criaria - não tinha entrado naquilo de bobo. Sabia qual seria o preço. Mas achei que, no fim, as pessoas descobririam que tinha razão. E foi gratificante quando todos os caras, no final, piscaram para mim e disseram: "Foi bom você ter feito aquilo". Até Yoko [Ono] reconheceu isso. Mas foi uma coisa horrorosa de se viver. Foi quando o sonho se desfez para mim.

Houve um ponto em que você sentiu que, apesar da dissolução da banda, seria capaz de seguir em frente e continuar a se divertir?

Fazer o álbum McCartney (1970) foi bom para mim nesse aspecto, porque realmente retornei às raízes. Eu me senti bem, e isso é bom. Até hoje, as pessoas reparam naquele álbum. Com freqüência acontece com os artistas e os músicos - eu ia dizer especialmente, mas acho que está mais para igualmente - de o trabalho ser aquilo que faz você se compreender.

A música é especialmente boa para isso, é uma boa terapia. Estava passando pela coisa terrível de perder a amizade daqueles meus camaradas da vida toda, e para quê? Bom, a mim parecia que o motivo era tentar salvar a vida deles. Aliás, não existiria uma [gravadora] Apple para estar em litígio com a Apple de Steve Jobs - e não existe mesmo, falando nisso, já foi tudo resolvido -, mas não existiria uma Apple Records hoje. Tudo teria desaparecido; a coisa toda simplesmente não existiria.

Não haveria nenhum show em Las Vegas, não haveria nenhuma destas coisas que agora estão aí tão gloriosas se não tivesse tomado aquela atitude. Mas foi uma decisão dura de verdade. Foi uma daquelas coisas que exigem terapia depois, e para mim, voltar à música foi essa terapia. E, é claro, com a enorme ajuda de Linda. Ela foi uma das grandes responsáveis por me fazer voltar à vida e seguir em frente. Ela era um bastão de força naquele momento. Isso e produzir música fizeram com que atravessasse aquele período.

Você, George e Ringo puderam desfrutar os ressurgimentos dos Beatles. John, é claro, morreu antes de boa parte disso acontecer e George também se foi.

Esta é a pior parte de ficar adulto. Você perde amigos, é inevitável. Não é exatamente uma surpresa, mas é terrível. É muito triste. Conhecia John intimamente há tanto tempo. Sempre me admiro com o fato de eu ter sido o cara que se sentava com John para escrever todas aquelas coisas. Éramos só ele e eu em uma sala e isso era bem especial. Então, perdê-lo foi horrível.

E foi especialmente triste porque tínhamos superado a desavença dos Beatles. Apesar de ele estar morando em Nova York, nós conversávamos com bastante regularidade. Simplesmente conversávamos sobre coisas cotidianas - sobre o filho dele, Sean, e sobre a vida em geral, sobre os pães que ele assava. Trocávamos receitas de pão, era ótimo. Então, simplesmente foi uma tragédia horrível ele ter sido arrancado daquele jeito.

No caso de George, foi igualmente trágico. Eram meninos tão lindos, sabe? [Ele faz uma pausa, e sua voz treme] George era simplesmente um sujeito ótimo. Ele era um garotinho que eu conheci em Speke, Liverpool, só um garotinho que entrou no meu ônibus. Eu subi no ponto anterior ao dele, ele entrou e nós começamos a conversar sobre guitarras e rock'n'roll. Depois, quando estávamos procurando um guitarrista, e eu mencionei o nome dele a John, George se juntou ao grupo. E daí passou a ser apenas o sábio George. Ele era um sujeito lindo que não aguentava gente burra. Era uma alma muito linda. Nem me deixe começar, cara. É um horror ter perdido aqueles caras. Mas ser adulto é uma verdade terrível.

Você tem ideia do que continua a tocar as pessoas com os Beatles depois de todos esses anos?

Acho que, basicamente, é a magia. Os Beatles eram mágicos. Para mim, a vida é um campo de energia, um punhado de moléculas. E essas moléculas específicas se formaram para que aqueles quatro caras virassem os Beatles e fizessem todo aquele trabalho. Preciso pensar que foi algo metafísico. Uma coisa que deve ser considerada mágica. Estou sendo muito extravagante?

Se você quiser ser prático, acho que as músicas eram muito bem estruturadas. Quando as canto atualmente em shows, penso "isso aí é bom, é sim. Que verso bom. Ah, entendi!". É uma redescoberta. Você simplesmente lembra "ah, foi por isso que fiz assim". Então, elas também têm uma força física, é trabalho bem-feito.

Você teve papel importantíssimo depois dos ataques de 11 de setembro, organizando o Concerto para a Cidade de Nova York e ajudando a reconstruir a confiança da cidade. Mas muita coisa aconteceu para complicar nossa noção do que houve naquele dia. Quando você pensa em 11 de setembro hoje, o que lhe vem à mente?

Bom, tenho minhas lembranças pessoais de estar no [aeroporto de Nova York] JFK e de ver a fumaça das torres gêmeas. O aeroporto fechou, nosso voo foi cancelado, fomos para Long Island, ouvimos o noticiário e assistimos a TV. E depois pensei em fazer meu próprio concerto, mas tudo culminou no Concerto para Nova York, que foi ótimo, porque muita gente queria fazer alguma coisa.

Foi ótimo fazer parte daquilo - ajudar os norte-americanos em particular, mas o mundo de maneira geral, a colocar seus sentimentos em algum lugar. A oportunidade perdida foi que as pessoas ficaram com um enorme sentimento de solidariedade em relação ao povo americano, e as ações políticas que se seguiram a 11 de setembro desperdiçaram a oportunidade. Foi como se alguém no playground tivesse apanhado, mas não sabia quem tinha batido, e por isso resolveu descontar na pessoa mais próxima - e isso se transformou no Iraque. A agenda política é a culpada.

Olhando para a frente, quais são as principais questões que se colocam agora?

Fazer algum avanço em direção à paz mundial. Seria ótimo se as pessoas com diferenças no mundo hoje percebessem que não existem diferenças - é um campo de energia. Precisamos da mesma velha coisa de sempre: paz e amor. Não sendo frívolo, mas esse continua sendo o grande objetivo. Bom, e vocês aí precisam de um novo líder [risos]! Quer dizer, isso ajudaria.

Nem brinque...

O ambiente é uma realidade. Algumas pessoas me dizem "há tantas causas, não sei quais apoiar". Minas terrestres, os maus-tratos com animais, só para mencionar duas pelas quais me interesso. É como se considerassem este o problema: "Qual causa apoiar?". Eu respondo: "Não entre em pânico, apenas escolha uma que o agrade e vá em frente. Todas estão conectadas". Mas eu sou otimista, tem muita gente bacana por aí. No momento, temos montículos de terra. E tudo bem. Isso é bom. Mas precisamos que se transformem em uma montanha. Tem muita gente inteligente por aí, mas, infelizmente, também tem um monte de imbecis. Mas o meu otimismo me leva a torcer para que os inteligentes construam a montanha.

E qual você gostaria que fosse seu legado pessoal?

Sempre que me perguntavam como eu gostaria de ser lembrado, respondia "com um sorriso". Mas gostaria que as pessoas entendessem o que eu fiz e pensassem que há uma enorme força naquilo. Gostaria que as pessoas pensassem que uma parte daquilo chega a ser demoníaco de tão forte. Isso me bastaria.



Trilha sonora da era Collor, sertanejo rouba até a estética do rock

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Trilha sonora da era Collor, o sertanejo brasileiro é a vertente musical que mais ganha dinheiro na América Latina. Envolve alguns bilhões (isso mesmo, bilhões) de dólares por ano.

Eles podem comprar tudo, até a tradição. Jorge e Mateus cantaram no tradicional teatro Royal Albert Hall de Londres onde gravaram CD e DVD em setembro de 2012. Com capacidade para mais de 8 mil pessoas, o RAH foi inaugurado em 29 de março de 1871 pela rainha Vitória, em memória do seu falecido consorte Albert de Saxe-Coburgo-Gota.

Palco da nata da dramaturgia europeia, de grandes concertos eruditos e do que há de melhor em rock e blues, o Albert Hall foi tomado por uma horda de fãs de Jorge e Mateus que descarregaram seu repertório para uma plateia ensandecida.

Semana passada, do outro lado do Atlântico, Chitãozinho e Xororó invadiram o lendário Café Wha? Em Nova Iorque onde muita gente boa toca e tocou blues, rock, jazz. Foi lá que Chas Chandler ouviu Jimi Hendrix pela primeira vez, em 1966, e o levou para Londres. Hendrix estourou graças ao Cafe Wha? alugado pelo sertanejo que graças a Collor fincou as patas no Brasil. Como Collor, hoje senador, o sertanejo só deixará o poder quando quiser.

Não conheço nenhum roqueiro que tenha tido overdose de rivotril com campari, mas os sertanejos universitários, bando de milionários que comete um som que está muito distante da autêntica música regional e também do pop urbano, apelam na maior cara de pau.
É só um toque. Já repararam que esses neo-sertanejos roubaram, à luz do dia, toda a estética cênica do rock? Os palcos são iguais, as guitarras, contrabaixos, violões são Gibson, Fender, Krammer, Ibanez, Takamini, as baterias DW, Premier, Ludwig, Pearl, os teclados Yamaha, Fender e nos P.A.s (caixas gigantes que jogam o som do palco para a platéia) toneladas de coliformes fecais em estado bruto. E eles usam camisetas de bandas de rock, a luz é semelhante a de grandes bandas, enfim, levaram tudo.

Ano passado assisti numa TV paga o pedaço de um show desses doidões de rivotril com campari e estavam lá os canhões de luz e movies a La Roger Waters, a parede de amplificadores Marshall a La AC/DC, as guitarras, preciosas, a La Hendrix e Pete Townshend. Tudo por um nada autoral, invisibilidade cultural. Até os aviões desses sertanejos são iguais aos das bandas internacionais de rock.

Já que é assim, que sigam assim, pagando mico musical em nome da imbecilidade ampla, geral e irrestrita. De fato, o Brasil vive tempos muito difíceis.

“O iPhone dá status”

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Essa eu ouvi no catamarã essa semana, atravessando do Rio para Niterói. Dois sujeitos conversavam a meu lado, ambos com smartphones, um deles um iPhone da Apple. Curioso, gosto de ouvir o que se passa à minha volta.

Lá pelas tantas, a sentença: “O iPhone dá status. Você chega num lugar e faz aquela presença quando mostra a maça”. O outro, com um smartphone comum (por sinal igual ao meu), tentou se defender dizendo que “para mim o importante é que funcione direito e o meu está legal”, mas a realidade, a pura, sensacional e bem humorada realidade brasileira mostra que, para muita gente, iPhone dá status sim.

Ano passado vi uma notícia num site de tecnologia que frequento que me fez rolar de rir. Uma empresa em São Paulo está faturando alto alugando iPhones para festas. O cara chega, aluga o aparelho por 80 reais (período de oito horas) a diária e vai surfar no status com a maçã do celular. O dono da empresa explicou, muito bem, dizendo que “é como alugar um smoking ou um carro. O iPhone é hoje um item de elegância”.

O que pouca gente sabe (ou na verdade nunca procurou saber) é que existem iPhones chineses falsos que custam em torno de 400 reais que são idênticos aos originais da Apple (FOTO). Basta entrar no Google e digitar “réplicas de iPhone”. Vão aparecer todos os modelos com algumas vantagens adicionais: alguns tem dois chips, outros memória com cartão, enfim, plus que os modelos originais não oferecem e com o mais importante: a maça cravada.

Os dois amigos do catamarã continuaram a conversa e percebi que o que não tinha o smartphone da maçã estava inquieto, não gostou de constatar o que já suspeitava: para ele mais do que telefone, iPhone é um passaporte para tirar uma onda, quem sabe conquistar uma barangola de perfil mais arrivista e tal. Foi quando me meti na conversa e falei sobre a réplica.

Os dois ficaram animados quando eu disse que, para não levar prejuízo em assalto, tenho um conhecido que só usa relógio Rolex falso (italiano, comprado na internet) que custa 400 reais, tênis falso, calça Levi´s falsa, enfim, ele seu hobbie agora é curtir com a cara dos coxinhas (versão atualizada do mauricinho). Ele afirma que na sociedade de consumo desvairado como a brasileira o que vale é a marca e não a qualidade e me mostrou a foto de uma bela guitarra Gibson Les Paul Custom...também falsa.

Apesar de quente, muito quente e desconfortável, o catamarã é rápido. Chegamos logo a Niterói e percebi que o dono do iPhone deu uma distanciada do amigo quando caminhávamos lentamente (no calor poucos caminham rápido) para a saída da embarcação. Rindo, ele me puxou pelo braço e disparou “o meu iPhone é falso. Só não fala nada com ele (referindo-se ao amigo) porque estou tirando onda.”

E assim cavalga a humanidade. Gosto muito da criatividade brasileira para estar na onda de qualquer maneira e lembro de um conhecido que pintou seu carro esportivo de fibra de vidro de vermelho e colocou uma logomarca da Ferrari no capô.
Pior: anos atrás li no jornal uma entrevista com o dono de uma Ferrari que, em 
seus passeios de domingo (ele só saia com o carro uma vez por semana), a caminho de Petrópolis, enguiçou na avenida Brasil, bem na altura de Benfica. Apavorado, viu uma legião de mal encarados se aproximar e pensou “pronto, vão levar a minha Ferrari”. Mas um dos sujeitos, sem camisa, desfez o pânico ao perguntar “é motor de Santana?”. Ele achou que a Ferrari era falsa.


Rádio Fluminense FM: 33 anos hoje...mas na verdade a rádio estreou no dia 2. Você sabia?

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    Jornal O Fluminense na véspera do nascimento da rádio. Sergio Vasconcellos, eu e Amaury Santos
    Samuel Wainer Filho, meu saudoso amigo, teve que deixar o projeto em outubro de 1982. Morto em acidente de carro.                                                                             
   Alex Mariano, um grande e saudoso amigo desde a adolescência, produtor da rádio e meu sucessor  na direção em 1985. Assassinado num assalto a luz do dia no centro de Niteroi em 2013. Foto de Mauricio Valladares.
                                                                        
   Carlos Lacombe, também amigo também saudoso, um gênio das promoções. Morto em acidente  de carro.                                                                           
    Mauricio Valladares, amigo desde os anos 70, produtor da primeira equipe da rádio. Fazia o programa Rock Alive, edições de segundas e sextas feiras, e abastecia a programação com a vanguarda internacional e nacional. Foi ele quem lançou os Paralamas do Sucesso e a Legião Urbana em fitinhas caseiras.                                                                    
    Primeira equipe de locutoras, da esquerda para a direita: Monika Venerabille, Edna Mayo, Liliane Yusim, Cristina Carvalho, Selma Boiron e Selma Vieira.                                                                            
    Selma Boiron a primeira voz da Maldita.                                                                             
                             Meu irmão Fernando Cesar Mello, em  Paris. Levando fitas da Fluminense para tocar em rádios piratas embaixo da Torre Eiffel.
                                                                           
                             Meu livro bomba. Esgotado, não quis fazer uma segunda edição.
                                                                            
                            Livro de Maria Estrella: quem pariu, criou e matou a rádio.
                                                                           
Hoje é uma data especial para muita gente. A Rádio Fluminense FM faz 33 anos de existência, depois de um parto extremamente difícil, caótico e maravilhoso em 1 de março de 1982. 
Mais ou menos como me sinto agora quando escrevo; meio down, eufórico, cansado, otimista, pessimista, com vontade de fazer um monte de coisas enquanto faço um monte de coisas o dia todo, a noite toda, a madrugada., ah...madrugada, eu te amo, madrugada. Você me deixa em paz nesses dias quando acordo muitas vezes com um nó na garganta e com vontade de pegar um táxi para o infinito. Sabe como é, madrugada? Sabe sim. Você não burla, madrugada. Você não finge, não simula, não engana. A Fluminense FM só deu certo porque nasceu de madrugada. Se fosse as 7 da manhã estaria lascada porque nada dá certo as 7 horas da manhã.

O quilômetro zero da biografia da rádio está na metade de 1981, quando comecei a trabalhar no projeto com Samuel Wainer Filho (Smuca), Sergio Vasconcellos, Alex Mariano, Amaury Santos e Maurício Valladares. Esse foi o primeiro time de produtores da rádio. Locutoras: Selma Boiron, Selma Vieira, Monika Venerabille, Liliane Yusim, Edna Mayo e Cristina Carvalho. O gerente de promoção era Carlos Lacombe.

Minha história na Fluminense FM vai de 1981 até 1 de abril de 1985 quando me demiti e retornei em 1990 onde fiquei alguns meses na direção. Uma fase ótima, por sinal. Em suma, assinei a certidão de nascimento da rádio e não o seu atestado de óbito. Por isso me orgulho muito (e sempre) quando me chamam de pai da Maldita. Sou sim, com muita honra.

Sei que quando deixei a rádio em 1985 ela estava num honroso terceiro lugar no Ibope no Estado do Rio. Depois? Não vi, não ouvi. Li o que aconteceu no livro da jornalista e pesquisadora Maria Estrella “Rádio Fluminense FM – A Porta de Entrada do Rock Brasileiro dos anos 80”. Os coveiros da Maldita estão lá, enfileirados como corvos.

O que pouca gente sabe é que a Fluminense FM que estreou em 1 de março de 1982 foi apagada, deletada, jogada no lixo por mim, Amaury Santos, Sergio Vasconcellos e Alex Mariano. Para contar o que aconteceu, fui na estante, peguei um raro exemplar de meu livro “A Onda Maldita – como nasceu e quem assassinou a Fluminense FM” e copiei os capítulos 18 e 19, que chamo de módulos.

Está tudo aqui. Nosso pulso, nosso suor, nossas lágrimas as 6 horas da manhã de uma noite insone, caótica e orgásmica. Módulo 18

“Fluminense, FM, Maldita!!!”

Eram oito da noite de domingo, 28 de fevereiro de 1982. estávamos arrasados, quando o operador de áudio subiu com a cara espantada e disse que, inexplicavelmente, os zumbidos e chiados tinham parado. Desci as escadas como um mico-leão dourado nas selvas de Silva Jardim. Cheguei ao parque gráfico e constatei, quase chorando de emoção, que as máquinas não tinham parado de cuspir jornal. Ou seja, a chiadeira tinha sumido porque... porque... quis.

Eu, Serginho (Sergio Vasconcellos) e Amaury (Amaury Santos) mergulhamos no estúdio de gravação e fomos de oito da noite às cinco e meia da manhã gravando vinhetas, chamadas, a base da rádio. Foi pesado, foi cansativo, foi tudo, mas acima de tudo, foi uma vitória. Usamos a voz de veludo persa de Amaury para as vinhetas e prefixos. Uma maneira de aliviar qualquer provável saturação de voz feminina no ar. Faltavam dez minutos para as seis da manhã. 

A Rádio Fluminense FM, nova em folha, ia entrar no ar às seis horas. Em ponto. A locutora Selma Boiron já estava no estúdio fazia uma hora, concentrada. Todos estávamos nervosos, mas não podíamos passar nada para a locutora. Pela primeira vez em sua vida ela ia entrar no ar. Qualquer hipótese de insegurança nossa e picas, meu amigo.

Faltavam cinco minutos para as seis horas. Tudo pronto no estúdio e no Sumaré. Céu claro, temperatura amena naquele histórico 1º de março. Eu, Amaury e Serginho tínhamos gravado, sei lá, umas 20 ou 30 vinhetas que iam sendo encartuchadas. Entre uma e outra, nos abraçávamos. Chegamos à conclusão de que tínhamos, finalmente, inventado uma rádio ousada, criativa, audaciosa, independente, como os malditos da arte, da ciência... Aí não se sabe por que, pedimos ao operador que abrisse o microfone e juntos, os três disparamos: “Fluminense FM, Maldita!” Absolutamente sem querer.

Foi a última vinheta a ser gravada. Sem trilha sonora. Só oz. Acidentalmente, foi a vinheta que definiu tudo aquilo que pensávamos, que trabalhávamos. Era um produto maldito, como os quadros de Van Gogh, não entendidos em sua época, ou como os poemas de Jim Morrison. Os sermões de Jesus Cristo, os sons de Hermeto Paschoal, os delírios de Jorge Mautner e Jards Macalé, os fuzis de Carlos Lamarca, ou os mergulhos de Tangerine Dream, Revolution 9, de Lennon, o som de Hendrix, a imagem de Glauber, a vida de Leila Diniz. Choramos pra cacete. Dois minutos depois, pilotada por Selma Boiron, a Maldita entrou no ar.

A primeira música já estava decidida há muito tempo. Todo mundo sabia de meu fascínio pelo The Who. Por isso, não quis me meter na história. Mas foi Serginho quem lutou para que a primeira música a ir ao ar fosse The Kids Are Alright, com The Who. Uma gravação do primeiro álbum da banda ("My Generation", 1965), que tinha muito a ver com o som da fase pré-histórica dos Beatles. A letra, em seu refrão cantado para o Rio de Janeiro que ainda se contorcia nos trens, ônibus e camas, àquela hora da manhã, dizia: “Os garotos têm razão, os garotos têm razão.” Valeu Townshend! Valeu Serginho!

Sem comer, sem dormir, lá pelas oito horas nós três estávamos no farrapo. Sim, a coisa estava apenas começando. Foi quando apareceu o Alex (Alex Mariano), que segurou a peteca. Fui para casa dormir, ouvindo a rádio. Tudo corria bem, ou melhor, quase bem, ou melhor ainda, uma merda. Achei que a programação musical estava péssima, caída. Não entendi. Foram meses de trabalho e pesquisa e estava uma merda?

Resolvi tomar um café e ir dormir. Poderia ser impressão, estressadas impressões que muitas vezes nos levam a atitudes babacas. Dormi pouco. Meio-dia já estava de pé. A programação ao meu ver, continuava muito ruim. Triste, triste, triste. Por mais que Jimmy Page fizesse a guitarra gemer, a Maldita estava triste. E foi com esse pensamento que peguei o carro e rumei lentamente para a rua Visconde de Itaboraí, onde ficava a rádio. Passei pelo nono andar e a locutora Selma Vieira disse que o telefone não parava de tocar. 

Todo mundo adorando. Falou que Regina Echeverria, na época repórter da revista Isto É, estava a fim de fazer uma matéria sobre a rádio. Peguei a programação, conferi módulo por módulo. Era aquilo mesmo que tínhamos programado. Só me senti satisfeito quando Serginho, Alex e Amaury disseram que também tinham achado a rádio uma merda. Que alívio. Começamos a fazer tudo de novo, só que com o prazo de 24 horas. Mergulhamos.

Módulo 19

“Isso até que daria um livro”

A carta do meu irmão, que morava em Paris, abria com esta frase. Eu contei a ele o que tinha sido o primeiro dia da Maldita e, no envelope, mandei uma fitinha cassete com a programação musical. Na verdade, em 48 horas, a Fluminense foi três rádios diferentes. A antiga, misturando Sex Pistols com Nélson Gonçalves, a segunda, que estreou no dia 1º de março, e a terceira, que foi ao ar no dia seguinte, completamente modificada. Aquela sim, pegou na testa.

Nota do autor: Meu irmão tinha uns amigos franceses ligados a rádios piratas móveis que funcionavam em furgões que rodavam pela cidade. Inclusive, ele não confessa, mas entre suas idas e vindas a Sorbonne, trabalhava numa rádio pirata. Ele pegou a fita da Fluminense e com o Fiat de uma amiga, Marília Câmara Torres, estacionou sob a Torre Eiffel, onde costumava ir para ouvir em ondas curtas os jogos do Flamengo. Lá chegando, viu um furgão pirata “jampeando” uma transmissão nas ferragens da Torre. Não é que meu querido irmão caçula deu as fitas da Fluminense para os caras que, imediatamente, jogaram a rádio no ar, em plena Paris, com locução, anúncio e tudo? Foi uma sensação que me custou caro, pois eu tinha que mandar fita toda semana para a sucursal Paris da Fluminense FM. Mas, de pirata em pirata, foi ouvida até na Bélgica. E foi por causa destas transmissões piratas que o violonista Didier Locwood – não é assim que se escreve – quis conhecer a Maldita, o que acabou acontecendo dois anos depois.

No dia 2 de março de 82, um ouvinte apareceu com um cassete gravado no Circo Voador, que ainda estava pousado no Arpoador. Trazia uma gravação caótica de uma banda chamada Blitz. Na bateria, Lobão. A música era engraçada, absolutamente teatral. Pusemos no ar Você não soube me amar. 

Com ela, um guitarrista carioca, um certo Celso Carvalho, que mais tarde virou Blues Boy. A rádio estava cheia de ouvintes. Um deles, Mário Neto, era da única banda de Rock progressivo do Rio: Bacamarte. Levou uma fita de estúdio, com Jane Duboc nos vocais. Foi para o ar.

Nesta primeira fase foi fundamental a presença de Ignácio Machado, dublê de produtor de Rock (Lobão) e executivo do Ibope. Ignácio surgiu com um fitão o braço, gravado em 24 canais. Era o primeiro disco-solo de Lobão, que já estava com um pé fora da Blitz. Aliás, a passagem do grande Lobo por ali foi rápida como uma pedrada. Ignácio passou uma manhã inteira conversando sobre o disco, detalhes de produção. O título era curioso: Cena de Cinema, nome da faixa principal. Na capa, Lobão de cabelo curto quebrando a bateria. Dentro, Lulu Santos na guitarra base, Marina Lima nos backing vocals.

Carlos Lacombe tinha errado a data e só apareceu para trabalhar no dia 8 de março. Tudo bem. Chegou com a ideia de fazermos uma festa de lançamento da Fluminense no dia 15. Fui contra. Disse que a rádio não tinha audiência para lotar um fusca. Lacombe insistia dizendo: “Está todo mundo ouvindo, só se fala na Fluminense.” Expliquei que funciono basicamente em cima de pesquisas e que aquele falatório podia ser impressão. No meio da conversa toca o telefone. Era o Ignácio do Ibope. “Luiz Antonio, a rádio está subindo como uma flecha... Estou com umas parciais não fechadas da Zona Sul... Estou impressionado.” Desliguei o telefone e disse ao Lacombe: “Vamos fazer a festa.”

Fechamos com a danceteria do Hotel Sheraton numa quarta-feira. A Fluminense tinha entrado no ar como Maldita em penúltimo lugar na audiência e nós íamos fazer uma festa de lançamento numa quarta-feira, num hotel que fica encravado no morro, entre o Leblon e São Conrado. Isto sim é desafiar a lógica.

As chamadas entraram no ar. O telefone não parava. Tivemos um retorno fantástico. O nome da festa foi “Quarta é Dia de Rock”. Lacombe negociou com o hotel dizendo que a Fluminense era uma rádio de alto nível, que os ouvintes era de classe, enfim, que não haveria problema algum. Foram dez dias de chamadas, sem parar.

No dia da festa fomos tomados por nova onda de euforia. Quarta-feira, 17 de março de 1982, entrou para a nossa história profissional e pessoal. Saí tarde da rádio, nove da noite. A festa estava prevista para nove e meia a exatamente 31km da minha sala, distância que foi coberta rapidamente.

Na subida da Avenida Niemeyer o trânsito estava lento. Eram nove e meia, bem depois da hora do rush que normalmente tumultua a região. Achei que tinha acontecido um acidente. Botei a cabeça para fora e perguntei a um transeunte se tinha acontecido alguma coisa. Com aquela voz solidaria, mistura de Macunaíma com Amigo da Onça, o popular detonou: “Tá o maior quebra-quebra numa festa lá no Sheraton.” E continuou descendo, calmo como um monge tibetano. Só podia ser a nossa festa. Mesmo assim, eu e as pessoas que estavam no carro, chegamos a duvidar da informação. “Vai ver que é no Hotel Nacional... O cara deve ter feito confusão.” No íntimo sabíamos que aquilo era coisa da Maldita. Principalmente depois que um carro de reportagem do jornal O Dia, na época um banco de sangue impresso, passou pela contramão. O repórter abrir passagem dando socos na porta do carro.

Boca seca. Não pude controlar uns vagalhões de pensamentos negativos que estouravam na praia de Ramos em que se havia transformado a minha cabeça. Imaginei as manchetes de O Dia: “Roqueiros furiosos matam e esfolam em orgia de drogas”. Ou então: “Roqueiros drogados incendeiam hotel e matam 200 pessoas” Que loucura! Quando chegamos a uns 30 metros do hotel, as primeiras imagens. Uns dez camburões pardos. Cordões de isolamento policiais dando geral em todo mundo. Muita tensão no ar.

Fui logo me apresentando e imediatamente desmoralizado. Não tinha carteira funcional da Rádio Fluminense provando que eu era o diretor. Aliás, a Rádio Fluminense não tinha carteira funcional. A sorte é que ainda guardava de lembrança o crachá do Jornal do Brasil. Acho que, por baixo, deviam estar ali umas duas mil pessoas, do lado de fora, forçando as portas de blindex do hotel. 

Queriam entrar. O vidro parecia uma bolha prestes a explodir. Os funcionários do hotel informavam que a lotação lá dentro já estava esgotada. Vi muitos ouvintes sendo presos, 90% por desacato a autoridade. Me apresentei ao comandante da operação e pedi que liberasse os ouvintes detidos, que foram colocados dentro do camburão. O PM, um oficial, concordaria desde que eu assumisse a responsabilidade da festa por escrito e que botasse aqueles ouvintes para correr.

Assumir a responsabilidade da festa significava, em claro e bom português, suspender tudo. Seria um desastre para todo mundo. Fui lá dentro e constatei que, de fato, o ambiente estava tomado. Não havia lugar para absolutamente mais ninguém. Consegui telefonar para Niterói, para a rádio, e pedi à locutora Edna Mayo que lesse no ar uma nota pedindo aos ouvintes que não fossem mais para o Sheraton. Como tinha muita gente de carro, ouvindo a Fluminense de porta aberta no epicentro do caos, aproveitei para mandar a mensagem: “Para que a Fluminense não seja acusada de vandalismo, pedimos para que os ouvintes deixem a porta do Hotel Sheraton.” Foi emocionante. Eu e Lacombe, que ofegava e praticamente relinchava de nervosismo, assistimos à primeira demonstração de solidariedade da audiência. Os ouvintes se retiravam.

Pareciam noviças metaleiras. Foi quando Lacombe, quase chorando, disparou: “Eles estão do nosso lado, meu irmão!” Certamente eles não suportavam mais ver rádios de Rock fecharem por preconceito. Os caras sacaram que pintou sujeira. Tanto que, depois, o comandante da PM veio me cumprimentar: “As notícias que saíam no rádio intimidaram.” Que equívoco misturar consciência com intimidação. Confissão: assinei o termo de responsabilidade com o nome do então superintendente.

É isso aí. A todos os profissionais que passaram pela rádio entre 1982 e 1985 (muitos se tornaram meus amigos), um abraço.

P.S. - Para entender a rádio, ouça o que foi ao ar as 6 horas da manhã do dia 1 de março de 1982. Clique aqui: https://www.youtube.com/watch?v=98KzcSUYVaU&list=PLIw0u5BOwbFzsuKCEfJr6JYi8RjUHJ_tY&index=23


Na TV, a série definitiva sobre a história do rock brasileiro

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                               "Muito tempo eu andei contra o vento mas agora é hora de mudar..."                                                                            
         Darcy Bürger
     Isabela Saboia
                       Danielle Immendorff
                             Fernanda Flores
     Juliana Torres                                                   

                                                                      


Chama-se “A Trilha do Rock no Brasil” a série definitiva que vai contar toda a história do rock brasileiro, dos anos 1950 até hoje. Vão ser 13 episódios com exibição no Canal Brasil. Produzida pela B2 Filmes*, a série é dirigida por Darcy Bürger, com argumento e roteiros meus.

As gravações já começaram e a cada dia ficamos mais empolgados com as entrevistas dos convidados. A previsão é que, pelo menos, 60 pessoas diretamente ligadas a música, de diversos segmentos, sejam ouvidas pelo programa.

Há muito tempo o rock brasileiro merecia ter a sua história contada em profundidade na TV, através de pessoas, músicas e imagens que mudaram o país. Afinal, aquela música norte-americana que desembarcou aqui em 1955, a bordo do filme norte-americano “Semente das Violência”, dirigido por Richard Brooks, no mesmo ano ganharia a sua primeira gravação (ironicamente feita pela diva do samba canção, Nora Ney) de “Rock Around The Clock”, que foi sucesso nacional.

O filme começava com a trilha de Bill Halley and His Comets tocando “Rock Around...” e todo mundo, no Rio, São Paulo, Minas, Rio Grande do Sul, levantava das cadeiras e partia para a dança nas salas de exibição, no meio da escuridão. A moda pegou, os cinemas foram tomados por hordas de aficionados por aquela nova música elétrica e de ritmo febril, o tal do rock and roll. Alguns mais exaltados partiram para o quebra-quebra e os moralistas de plantão pediram até que o rock fosse banido das rádios. Em Brasília havia preocupação.

“A Trilha do Rock no Brasil” sai de 1955, entra nos anos 1960 com o rock dos bailes e a Jovem Guarda, mergulha no Tropicalismo dos anos 60, no o AI-5, o rock progressivo dos anos 1970, a explosão do Rock Brasil nos 1980 e, numa narrativa muito bem costurada, chega até os dias de hoje. Além de entrevistas, muitas imagens raras, algumas exclusivas, fotos, ícones de época, enfim, um filme de rock com uma linguagem nova, intensa e muito ágil. Vale à pena esperar.

Equipe B2 Filmes:

Direção: Darcy Bürger

Assistência de Direção: Isabela Saboia

Argumento/roteiro: Luiz Antonio Mello

Produção: Danielle Immendorff

Assistente de produção: Fernanda Flores

Direção de Fotografia: Rodrigo Sampaio

Operador de Câmera: Rudá Capriles

Assistente de câmera: Ricardo Canário

Som Direto: Guilherme Lage

Still: Juliana Torres

* Fundada por Darcy Bürger em 2008, a B2 Filmes atua em diversos segmentos do setor audiovisual, como a produção de documentários, programas de TV, DVDs Musicais e filmes publicitários.

Entre seus principais projetos destacam-se as séries "100 Anos de Samba", sobre a história do gênero no Brasil; "MPBambas", apresentada por Tárik de Souza; "O Som do Vinil", apresentada por Charles Gavin; "Compositores Unidos", apresentada por Jorge Vercillo e Dudu Falcão; e a série "Clara", sobre a vida e obra da cantora Clara Nunes, todas elas exibidas no Canal Brasil. Contamos com profissionais fixos e terceirizados, que atuam desde a pré-produção até a finalização dos produtos. Nossa infraestrutura é ampla e inclui ilhas de edição e finalização, além de equipamentos próprios de filmagem.

A B2 tem uma parceria de sucesso com três grandes produtoras do Rio de Janeiro: Carioca Filmes, MMR Produções e Vitória Régia Produções. Seus sócios têm a possibilidade de trabalhar em conjunto de forma estratégica para garantir resultados de qualidade.

                      

O amigo que perdeu a mulher

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Um amigo desabafou com o outro pelo celular. Quase chorou. Quase, não. Chorou copiosamente. Ligou dizendo que estava sozinho sentado numa lanchonete no shopping Bay Market que fica ao lado da estação das barcas, em Niterói. O amigo estranhou porque era sábado e a maioria das pessoas não atravessa a baía. Preocupado, pegou o carro e foi até lá bater um papo.

Nem tinha sentado quando o outro começou a falar. Uma história reta, direta, objetiva. Num dia daquela semana, decidiu ir trabalhar de catamarã, deixando o carro num estacionamento no Centro de Niterói. Na volta do Rio, por volta das sete da noite, optou por pegar um ônibus com ar condicionado. Afinal, estava vazio.

Veio sentado na penúltima fila, segundo ele, com os pensamentos flutuando naquela noite calma e quase fria de outono. Três ou quatro paradas depois, uma mulher subiu, segundo ele, linda, traços delicados, pele muito morena, mais ou menos alta. Ela sentou no banco ao lado do dele, corredor do ônibus no meio. Trocaram olhares. Duas, três, seis vezes, dezesseis vezes.

O ônibus ainda estava no Rio quando ele sorriu, ela sorriu, ele levantou e sentou ao lado dela. Nada falaram. Kamikaze ele a beijou. Longamente. Ela correspondeu. Ato reflexo, ele a pegou pela mão e a conduziu para o último banco. Beijos, beijos, beijos, uma quase mão no seio direito interrompida por ela, mais beijos, muitos.

Trânsito lento, devagar. Para felicidade dos dois. Só no final da ponte Rio-Niterói ele balbuciou alguma coisa do tipo “você mora onde?” e ela sussurrou “São Gonçalo”. Mais beijos e carícias. O ônibus parou em frente ao shopping Bay Market e ela disse que ia descer. Ele também. Lógico. Sorrindo, ofereceu uma carona. Ela aceitou. De mãos dadas caminharam até o estacionamento, entraram no carro dele, mais beijos. Saíram.

Ele não ia a São Gonçalo – cidade vizinha de Niterói -  há pelo menos uns 15 anos, mas não teve a menor dificuldade de chegar lá. Também sorrindo, ela dizia “entre ali, depois daquele orelhão, agora lá, na rua daquele muro de tijolos. Suba aquela ladeirinha, entre ali, lá, na outra rua você dobra, vai. Pode parar na esquina”, pediu. Marcaram um jantar para o dia seguinte. Mais um beijo, ela disse o nome, ele também. Ela desceu do carro e seguiu andando lentamente, até desaparecer numa esquina.

Completamente apaixonado, ele ligou o som do carro e ouviu suas músicas preferidas quando retornava para Niterói. Seu coração estava congelado há alguns anos. Vamos batizá-la de Paula já que, é lógico, não publicarei seu verdadeiro nome. Paula degelou aquele coração.

Voltando para casa, o amigo comemorava sozinho aquele golpe do destino. Destino que o fez atravessar a baía de catamarã na ida para o Rio e ter entrado naquele ônibus vazio na volta. Feliz, chegou em casa, tomou um banho, comeu alguma coisa, falou com as duas irmãs que notaram a sua euforia, desatento meio que assistiu a um filme na TV por assinatura e foi dormir por volta da meia noite.

No dia seguinte, antes de ir para o trabalho, parou num posto e deu uma ducha no carro. Aproveitou para encher o tanque. No trabalho todos notaram a sua animação e até piadinhas ouviu com bom humor. Bom humor que não perdeu nem quando enfrentou o rotineiro para e anda do trânsito na ponte a caminho do trabalho na avenida Beira Mar, Centro do Rio.

Passou o dia olhando o relógio que só usava em ocasiões muito especiais, um elegante Casio EMA-100D-1A2V que havia comprado em sua última ida a Miami a negócios. Trabalhou muito, mas não parava de distribuir sorrisos até a hora que achou que já poderia sair. Afinal, tinha marcado com Paula as nove da noite. As seis e meia já estava dirigindo rumo a ponte. Para e anda, para e anda. Sem problemas. Nada seria problema naquela noite especial.

Atravessou a ponte entrou na avenida do Contorno por volta das oito e quinze, feliz, levemente ansioso, música aos berros. Passou em frente a quadra da Escola de Samba Viradouro e chegou ao Barreto, seguindo por uma avenida...que ele não reconhecia. Não reconhecia. Esfregou os olhos com as mãos, diminuiu a velocidade na altura de Neves, um bairro que ele achava que ficava bem mais à frente.

Parou o carro.

- Amigo, que bairro é esse?
- Vila Lage.

Não fez diferença. Percebeu naquele momento, as oito e vinte e sete que havia poucas placas indicativas em São Gonçalo. Um leve desespero parecia ter entrado pelo parabrisas. Acelerou e sentiu o baque da suspensão do carro que subia em trilhos de trem. Ele tinha certeza que o trilho de trem ficava à direita e que não atravessava a via principal. Mas atravessou. Não, não quis perguntar o nome daquela avenida porque não faria nenhuma diferença. Tentou lembrar o tempo da viagem que fizera com Paula na noite anterior. Não mediu. Estavam aos beijos a 40 quilômetros por hora, muitos ônibus e caminhões em volta. O leve desespero se transformara em pânico quando chegou a um bairro ironicamente chamado Paraiso e praticamente jogou o carro num posto de gasolina, perto da Uerj.

- Amigo, isso aqui vai dar onde?
- Depende.
- Depende de que?
- Ora, se seguir em frente direto vai parar em Alcântara, Jardim Catarina...O senhor quer ir para onde?
- Não sei...não sei...ela não disse.
- ?
- Eu não perguntei...
- O senhor está passando bem?
- Não...

Saiu do posto e quase foi atingido por uma van que vinha em alta velocidade. Tinha que admitir: estava perdido. Pior: tinha perdido a provável mulher de sua vida. Envolto na paixão que nascia, no aroma do perfume de Paula, nos prováveis mamilos graúdos, na boca morna, esqueceu do básico: telefone, endereço, bairro.

“Ela deve estar achando que furei, que dei um perdido...Ela deve estar pensando que sou um moleque, que só quis me dar bem, dar uns amassos e cair fora...Ela deve estar sentindo...gritou, urrou, sovou o volante e parou de novo. Quase nove e meia e um gari que perambulava por ali disse que aquele lugar se chamava Parada 40.

Esgotado, achou que ia chorar. Nó na garganta, boca seca, respiração ofegante, palpitação. Ninguém podia ajuda-lo a chegar num lugar que ele não sabia onde ficava. Ele literalmente perdeu a mulher de sua vida. A suspeita se tornara realidade, naquele oceano de dor que o afogava.

Acelerou forte, muito forte. Zé Garoto, Mauá, Antonina, lugares mais estranhos do que Marte, Júpiter, Saturno. “Seu merda”, dizia para si mesmo. “Por que não pegou o telefone, não perguntou onde ela trabalha, por que, por que, por que?”. Foi em frente, já em prantos e sem camisa, apesar da quase fria noite de outono e do ar condicionado do carro.

Alcântara. Eram mais de 10 horas. As ruas estavam quase desertas e ele parado. Em que bairro ela morava? Que avenida? Que rua? Que vila? Que picada? Que terreno baldio? Que bordel? Não importava, ele iria atrás. Uma placa meio caída anunciava o Jardim Catarina e, na sequência, Guaxindiba. Lembrou que já tinha estado em Guaxindiba, no enterro do cachorro de sua prima muitos anos antes. Em Guaxindiba fica um dos maiores cemitérios de cachorros do Brasil.

Voltou. Fez o percurso Guaxindiba-Barreto inúmeras vezes, ao longo de horas, entrando em ruelas, subindo ladeiras, favelas. Teve que parar para colocar gasolina completamente fora de si. Pensou em tomar uma cerveja, mas era só o que faltava perder a mulher de sua vida, ficar bêbado, bater com o carro e morrer em local desconhecido.

A última viagem Barreto-Guaxindiba-Barreto (parador) foi as cinco e meia da manhã, quando São Gonçalo começava a acordar para ir trabalhar. O homem apaixonado, deprimido, devastado tomava café com leite e comia pão com manteiga num bar próximo a um cemitério. De gente.

Chegou em casa, tomou um banho e foi direto trabalhar. Todos notaram que estava devastado, arrasado, escalavrado. Nenhuma pergunta, mas muitas dúvidas no ar. O que teria acontecido com aquele homem alegre, gentil e risonho do dia anterior?

Durante 27 dias deu plantão no terminal de Niterói, entre as sete e nove da noite, olhando fixamente para cada mulher que entrava nos ônibus. Eram milhares. De mulheres e de ônibus. Pensou em colocar um anúncio em um jornal de São Gonçalo como uma nota de coluna social. Uma foto sua, grande, dizendo qualquer coisa para chamar atenção da futura mãe de seus filhos.

- Então foi isso...eu perdi a mãe de meus filhos, avó de meus netos, companheira de uma vida inteira.

O amigo pagou a conta da lanchonete no Bay Market e disse “isso acontece”.

- Não, isso não acontece, respondeu o entrevado homem.
- Tem razão, isso não acontece mesmo não.



A Boca do Silêncio

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Prometo não machucá-la sob qualquer hipótese. Prometo não submetê-la ao medo e ao terror. Prometo não expô-la aos risos sórdidos desta cidade. Prometo meu silêncio acima de tudo, de todos, de nós. Prometo manter trancado tudo o que sinto. Prometo jogar a chave desse cofre no mar. Prometo jamais roubar teu riso lindo. Prometo jamais falar, sugerir ou comentar. Prometo respeitá-la como mulher e garota. Prometo jamais deixá-la sob o frio da garoa. Prometo não sangrar ninguém por nossa causa. Prometo integridade, caráter, amor. Prometo resistir a tua voz arisca. Prometo resistir ao teu olhar atento. Prometo preservar a tua alma pura. Prometo ficar mudo, parado, quieto. Prometo riscar a luz do meu futuro paralela a sua, deixando que os ventos da vida me levem para onde a vida quiser, para o que der e vier, para o que não der e o que não vier, essa guitarra linda e improvisada chamada destino, solando aguda e distorcida na trilha do acaso, do perfeito, do imperfeito, o que for. Prometo não cobrar, não espremer, não pressionar, sabendo que os tempos são dois tempos, as histórias duas histórias e que viver é redenção. Prometo orar por nossas liberdades, nossos barcos sobre mares muito azuis, à deriva como a sombra das montanhas, à deriva como os sonhos e os devaneios. Prometo me atirar no imprevisível, como herói da resistência em teu nome, flutuar parado e quieto no teus dedos, tão secreto quanto a origem do Universo. Prometo honrá-la sempre na memória se o destino e o inusitado se unirem, separando nossos barcos nossos mares, nossos sonhos, nossas glórias e moinhos. Prometo enfrentar nossos algozes, com o silêncio da inocência a meu favor, mesmo que o acaso submeta-me a tortura, jamais pronunciarei teu nome em vão. Prometo, prometo, prometo, como seu cavalheiro, cavaleiro e confessor, ajudá-la a domar o impossível, sob o manto do segredo redentor. Prometo não mudar essa paisagem, onde apareces livre, linda e úmida, mesmo que em outros braços, outras bocas, outros homens, não importa, o meu amor é generoso e altruísta. Prometo revelar os meus perigos, meu desejos, meu encanto, meu furor. Agora eu vou gozar em algum recanto, como um garoto às escondidas, madrugada. Vou gozar sobre você e sob a luz do pensamento desvairado, e só eu saberei o que sentir com a lama quente escorrendo por minhas pernas, meus lençóis, meu edredom. Você mais uma vez no pensamento, pela vigésima quinta hora consecutiva, no segredo de meu corpo, da minha mente, que ninguém ousará querer entrar. Sim, eu posso. Eu posso, eu posso beber o cheiro do teu cio, mamar o bico dos teus seios, fazer-me seu até o último Anel de Brooklyn. Apenas eu, no meu silêncio, sentirei o que é tê-la entre os braços, entre as pernas imaginando os seus gemidos, os seus gritos, as suas falas, suas mordidas. Mulher, que bom que estás distante e dormindo. Se aqui estivesse ceifaríamos o imoralismo por três dias e três noites, todas as cruzas impossíveis e boçais, dos amantes que se agarram e se espremem, se engalfinham até as últimas inconsequências. Vou honrá-la agora mesmo na água quente, do chuveiro minha única testemunha, estraçalhado de paixão e felicidade, desonrando o desonrável sem pudor. Homem. Sou teu homem, seu amigo e feiticeiro, afogado em suas doidas fantasias, inquietas e sadias taras. Jorrar uma avalanche no colo, útero; lágrimas, prazer, rosto avermelhado. Retornar ao meu silêncio sem promessas, em teu nome, em nosso nome, luar vadio, cama do Universo.

Falando sozinho, dormindo acordado, churros nos braços, céu da boca estrelado, Jules et Jim, blues, blues, blues

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O homem estava na esquina da cidade; Los Angeles, São Paulo, Rio de Janeiro. Mão no ombro direito.

- Você já me conhece em sonho. Sou seu anjo.

- Sim, já te vi antes.

- Você me chamou.

- Vamos sentar naquele banco?

-  Me pague um churro. Dizem que anjo não gosta de churros, pura balela.

- Bom te encontrar

Qual é o problema?

- Nenhum. Chamei para agradecer por ter me livrado daquela confusão.

- Difícil...

- Difícil o que?

- Difícil um anjo ser chamado por mera gratidão.

- Saiba, meu chapa, que eu só tenho gratidão por você. Seus livramentos diários, toques quando estou dormindo e sonhando.

- Churro gostoso, esse.

- Esse cara é bom. Ele está te vendo?

- Está sim. Todo mundo está me vendo. Fique tranquilo que você não está “falando sozinho”. Somos dois caras batendo papo.

- Obrigado por mais essa força.

- Qual?

- O livramento mais recente. Você me tirou da roubada na hora certa. Eu ia me ferrar feio lá na frente.

- Ia mesmo. Te livrei porque você pediu em um de seus sonhos.

- Confiança.

- Fé.

- Um dia quero conversar sobre a fé.

- É um longo papo.

- Meses atrás um aluno me perguntou o que é fé no meio de uma aula.

- Adolescentes desafiam até os anjos.

- Quase te chamei.

- Devia.

- Anjos como você não são táxis que a gente chama quando quer.

- Quando você não me chama a sua fé me liga.

- Fé...coisa linda a fé.

- Me paga outro churro?

- Claro.

- Então está combinando. Vou indo.

- Não suma.

- Não posso.

- Assuma.

- Claro.









Paulo Coelho volta a minha Coluna, depois de um leve mal entendido

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    Paulo Coelho sentado. Anos 70.
    Sociedade Alternativa, de Paulo Coelho e Raul Seixas. Perseguida pela ditadura.
                                                                         
                                                                            


No início da noite de anteontem escrevi aqui que Paulo Coelho não viria mais ao Brasil, conforme ele teria dito a um grande amigo comum. Dele e meu.
Logo que postei o artigo, intitulado “Paulo Coelho desistiu do Brasil. Ou, a inveja é uma merda”, o Paulo disparou essa mensagem aqui nos Comentários:

"Não desisti do Brasil. Foram os leitores brasileiros que me levaram a ser traduzido no mundo inteiro. Seu amigo deve estar mal informado.

O que nunca tentei foi agradar os críticos (hoje inexistentes) ou não teria passado de O Diário de um Mago.

O que gosto é de morar em lugares isolados, e isso já ocorreu nos Pirineus (França) e agora ocorre em Genebra.

Finalmente, para não fugir à fama de arrogante: me considero um excelente escritor, como aliás a maioria dos críticos no mundo me consideram."

Ontem de manhã bem cedo, excluí a matéria da Coluna respeitando o desmentido, apesar dos ecos, da reverberação generalizada. Até colegas jornalistas me ligaram querendo saber o que estava acontecendo. Bom, tirei o artigo e fui trabalhar. Por volta das 10 horas, pelo Twitter, Paulo Coelho me perguntou por que eu havia deletado a matéria.

De fato, poderia parecer que ele tivesse pedido para eu retirar, chateado, furioso, quando não foi nada disso. Ele desmentiu a história mas em nenhum momento se mostrou destemperado ou sequer insinuou que eu marretasse o texto. Por isso, republico a baixo o texto equivocado:


Paulo Coelho, 67 anos, lançou seu primeiro livro (“O Teatro na Educação”) em 1974. Até o ano passado já são 19 obras, entre elas os mega best sellers “Diário de um Mago”, “O Alquimista” e “Brida” que venderam muitos milhões de exemplares em todo o planeta. Seus livros já foram traduzidos mais de 70 idiomas. Não é um Lima Barreto, um Machado de Assis, um Rubem Fonseca. Longe disso. Ele está longe de ser é um giga-escritor; sabe que não é, sabe que é limitado mas (e daí?) passa a sua mensagem.

Dele, só li “As Valquírias”. Gostei. Por que não li os outros? Não é meu estilo. Mas o fato de não ser meu estilo não significa que é ruim. Essa linha de raciocínio é muito onipotente. Há quem não goste de Marisa Monte. Tudo bem. Mas ruim ela não é. A distância entre não gostar e achar de má qualidade é abissal.

O sucesso nunca subiu à cabeça de Paulo Coelho, mas a inveja alheia, amarga, mal humorada e sem argumentos tentou e tenta derrubar a sua que alguns protozoários chamam de subliteratura. Como se Paulo tivesse pretendido, um dia, se tornar um intelectual esverdeado, cafonoso e ultrapassado, desses que ainda acham que ir à praia é coisa de pequeno-burguês.

No lugar de um escritor empolado, envernizado, que come mexilhão e arrota caviar, o Brasil escolheu um homem simples, ex-doidão hippie nos anos 1970, letrista de músicas compostas para Elis Regina e Rita Lee. Com Raul Seixas foi parceiro em mais de 60 canções.Foi diretor da gravadora CBS (hoje Sony Music) editor do jornal Express Underground, professor de teatro e secretário de redação do jornal O Globo.


A obra de Paulo Coelho levou milhões de pessoas a lotar as livrarias, rompendo a estranha barreira (essa sim, pequeno burguesa) elitista que se achava dona da literatura. Quase 30 anos depois do lançamento de “O Diário de um Mago” o mercado de livros no Brasil é outra coisa. Vende bem, pessoas de todas as classes sociais estão adquirindo o saudável hábito da leitura, feiras como Flip e bienais são um explosivo sucesso de público. Tanto que, em 2002, ele foi eleito imortal da Academia Brasileira de Letras.

Paulo Coelho continua invejado, patrulhado, perseguido. Não com aquela intensidade de antes, mas ainda assim muitos não admitem o sucesso de um homem que sentou, escreveu, publicou e aconteceu. Ponto. Que mal há? Que culpa tem Paulo Coelho se milhões de pessoas, em todo o mundo, o transformaram num best seller? Definitivamente, a inveja é uma merda.

P.S. - Em entrevista a Léo Gerchman, do jornal gaúcho Zero Hora, Paulo Coelho abriu o verbo. Extraí alguns trechos:

- O senhor acha que, sem o LSD, os Beatles teriam elaborado e gravado Sgt. Pepper’s?

- É óbvio que os Beatles teriam gravado Sgt. Pepper’s sem LSD. Já me droguei muito, mas fui parando aos poucos. LSD eu acho que tomei a última vez em 1972, cocaína em 1974 e maconha em 1982. A droga dá uma falsa sensação de criatividade. Os Beatles devem ter gravado Sgt. Pepper’s totalmente caretas. Quando você está na droga, você pode dar uma viajada que aquilo é legal, mas, quando escuta, é diferente. Escrevi muito sob o efeito de drogas e depois, quando ia ler, achava tudo um horror.

(...) As pessoas estão muito insatisfeitas com suas vidas cotidianas neste século 21? Por quê?

Acho isso bom, pois, se não estivessem, não estariam evoluindo. Acho que a insatisfação faz a gente andar para frente.

O movimento da “sociedade alternativa” ainda é uma resposta a isso?

É uma ideia minha e do Raul que foi ótima nos anos 1970. Mas, hoje em dia, já é impossível, inclusive de ser colocada em prática, pois, graças à internet, tudo está muito interligado. Você não pode se afastar de alguma coisa. Nós somos nós mesmos e nossas circunstâncias, como dizia Ortega y Gasset.

Desde livros como Brida e O Alquimista, como se deu sua evolução como escritor?

Eu mantenho uma coisa muito importante na minha vida que é ser direto sem ser superficial. A primeira versão de um livro meu tem muito mais páginas, mas, quando é publicado, eu já cortei tudo que era excesso, sem perder a essência. Era meu estilo na música, e é na literatura. Isso atravessa todos os meus livros.

Que tipo de música o senhor estaria fazendo hoje em parceria com Raul Seixas?

Eu não estaria hoje fazendo música. Acho que música tem data, as letras que eu fazia eram sucesso no Brasil inteiro. Parei de compor no momento em que estava em alta, porque achei que a música era uma coisa da juventude. Eu já tinha mais de 30 anos e não conseguia acompanhar direito. Achei melhor parar do que ficar fazendo música por fazer. Você tem de ser honesto com o que você se propõe a fazer. Se você se propõe a fazer música, enquanto ela reflete sua alma, está boa, mas depois fazer porque você tem ali uma máquina registradora na máquina de escrever, isso não está com nada. Parei e não me arrependo. Nunca mais fiz música, apesar de ter tido grandes propostas de artistas internacionais, especialmente depois que fui traduzido para outros países e descobriram que eu fui letrista.

Vivemos hoje em um mundo melhor? O senhor acredita em evolução?

Eu não sei se a gente vive hoje em um mundo melhor, mas certamente em um mundo mais consciente, graças às comunidades sociais, aos meios de comunicação, mais participante. Eu não estou falando do “cliqueativismo”, daquela pessoa que clica em uma petição e acha que vai salvar as crianças em Angola. Mas a gente tem consciência e se decidir agir, agirá. Ou ficará omisso, mas não vai ficar omisso alegando que não sabe o que está acontecendo no mundo.

Qual foi o maior erro da sua vida?

Ih, é uma coleção, de modo que eu não saberia dizer qual foi o maior. Eu errei, erro e errarei. O problema não é errar, mas se deixar paralisar por esse erro.

                                                                 

O marinheiro punk da barca Rio-Niterói numa noite de Luis Buñuel

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                                          Nektar                                                                            


Ontem, encontrei um conhecido que é saudosista mas não é chato nem burro. Raridade. No momento ele anda com muita saudade da barca Rio-Niterói de antigamente, segundo ele mais romântica, varrida por uma brisa marinha, alguns boêmios e vadios dormitando nas escadas, a presença do profeta Gentileza, blá blá blá blá. Eu estava num camelô contemplando relógios falsificados, chocado com o baixíssimo nível das “réplicas” atuais.

Não comentei com ele para não prolongar a conversa, mas não tenho saudade de quase nada, inclusive da barca Rio-Niterói dos anos 1970 (eu atravessava a Baía de Guanabara diariamente) que era suja, quente, lenta. A travessia levava quase meia hora e elas pareciam bonitinhas e “vintage” só para os turistas ou por quem não era obrigado a usar.

No entanto, duas vantagens inegáveis que os atuais catamarãs (que atravessam a baía em nove minutos), muito quentes e caros, porém limpos, sem profetas e vendedores de enciclopédias não tem: belas e gostosas mulheres em profusão e uma varandinha que ficava na popa onde eventualmente namorávamos durante a travessia, usando a bandeira do Brasil que tremulava num pequeno mastro como toalha para higiene íntima.

Havia um marinheiro (a barca era do governo federal e funcionava muito bem) na madrugada que era grosso, estúpido, amargo, mal humorado, boçal mas eficiente. A partir de meia noite quando o sono engolia muitos passageiros (sem falar dos bêbados), o marinheiro punk batia com o jornal nos encostos das cadeiras de madeira e gritava “a barca chegou, cambada! Quem não levantar volta para o Rio”.

Um primo meu garante que o marinheiro punk foi transferido para a madrugada depois que, num dia de semana, por volta das três da tarde, os passageiros sentiram que algo errado acontecia. Foi quando o nosso personagem foi para a frente das fileiras de cadeiras do segundo andar e gritou “o leme da barca quebrou, por isso ela está rodando”, e saiu. Muita gente passou mal e os passageiros tiveram que ser transferidos para outra embarcação em pleno mar.
Alguém denunciou o marinheiro como “fomentador de pânico” e ele foi transferido para a madrugada, barca de passageiros, digamos, profissionais. Ali, o marinheiro podia gritar até que estava afundando e ninguém se importaria.

Um conhecido que adorava andar a pé pelo Rio (por isso ganhou o apelido de Gandhi) voltava de um forró no Méier as 2 e meia da madrugada, de sexta para sábado. Eu retornava da semifinal do concurso Miss Shortinho, em Bangu. As barcas funcionavam 24 horas. Hoje param de circular as 23h30m, obrigando todo mundo a pegar um ônibus.

Na estação da Praça 15, aguardando a barca das 3 horas, Gandhi falou comigo, eu respondi “rapá, há quanto tempo, e tal”, mas ambos, ele e eu, estávamos chamuscados pelo sono. Suspeito que Gandhi estava levemente biritado, mas não pude confirmar. As barcas de três, três e meia, e quatro da manhã eram chamadas de “balsa dos desesperados”, o que fazia sentido.

Propus a Gandhi que sentássemos perto um do outro. Chumbado de sono pedi que ele me acordasse quando chegasse a estação de Niterói. Ele foi franco e me disse, voz levemente pastosa, que “também estou morto de sono e assim que sentar na barca vou apagar”. Combinamos, então, que cada um dormiria 15 minutos, começando por mim. Ele topou.

Quando a barca deu o terceiro apito anunciando a partida, encostei as pernas na cadeira da frente, cruzei os braços, olhei em volta (muitos bêbados), me aninhei e apaguei. Tudo muito rápido. Só que Gandhi também dormiu e o marinheiro punk, aquele que acordava todo mundo batendo com o jornal, não estava trabalhando; todos os outros marinheiros sumiram, como era de praxe.

Acordei com a embarcação encostando na estação, dando uns trancos que eram tradicionais. Olhei para o lado, Gandhi roncava e babava. Acordei o meu conhecido e saímos da barca e notamos logo que...tínhamos voltado para o Rio.
O marinheiro punk bem que poderia ter trabalhado naquela madrugada, pensei enquanto saia de novo na Praça 15 em direção a uma carrocinha de milho verde que iria estraçalhar antes de embarcar novamente tentando voltar para Niterói.

- Parece “O Anjo Exterminador”, de Buñuel, comentei com Gandhi que sequer respondeu.

Provavelmente não sabia do que se tratava, mas quer saber, ele tinha razão: tínhamos que voltar para Niterói, uma obsessão que tomou conta também dos personagens do filme de Buñuel, pessoas ricas que se veem presas numa das salas de uma mansão após um jantar formal. Não há nada físico que os impeça de sair, porém algo os faz refém de portas e grades imaginárias.

Para evitar problemas, duas decisões: a) subi para o segundo andar da barca e fui para a varandinha da proa, de cara para o vento da baía. Impossível dormir em pé com o vento na cara; b) me distanciei de Gandhi porque cismei ele estava mesmo bebum e que o seu estado emocional contaminava.

Cheguei em casa, tomei um banho, bebi um café e fui para a cama. Liguei o rádio baixinho, sintonizado na Eldo Pop FM de Big Boy e tocava a banda alemã Nektar tocando “A Tab in the Ocean”. Com certeza não conseguiria dormir. Quem gosta de música boa e de cama, não dorme com uma dessas. Ou então é blefe. Não gosta nem de música, nem de cama, mas isso é outro assunto, para outra hora. Foi o que pensei, desligando o rádio.

Off.

O fog psicodélico de Itaipu

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Foto de Caíque Fellows
Quando vi essa foto que Caíque Fellows fez do por do sol da praia de Itaipu, imediatamente pedi autorização para colocá-la na capa de minha página no Facebook. Ela está lá. Renomado arquiteto, fotógrafo de mão cheia, intelectual de primeira e muitíssimo gente boa, Caíque era consultor do sempre muito saudoso Alex Mariano, amigo comum, que era produtor da Rádio Fluminense FM onde fazia de tudo, inclusive o programa Satisfaction sobre os Rolling Stones.

Meu amigo desde o início dos anos 1970, Alex e eu brigávamos muito por causa do Satisfaction. Briga de irmãos, daquelas que invariavelmente terminavam em cafezinhos nos botequins fincados no entorno da rodoviária de Niterói. Explico: os Beatles tinham um programa diário na rádio, o Revolution, produzido e apresentado por Sérgio Vasconcellos. Achei justo fazer duas horas de Stones aos sábados e, por isso, sugeri que o Alex fosse o produtor.

A reação dele foi bizarra. Me xingou, ficou vermelho, quase deu socos na mesa, acendeu um cigarro atrás do outro, recusando o programa. Ele achava que os Stones não tinham material suficiente para três meses de programa. Mantive a decisão e ele, gago (quando ficava nervoso gaguejava), me disse “sa sa sa ca ca ca ca na na na na gem gem gem sua...não vou esquecer isso”.

E não esqueceu. Todos os dias, Alex reclamava do programa e me xingava pelos corredores. Mas o Ibope estava alto, os ouvintes adoravam, ou seja, contrariado, enfurecido, remando contra a corrente o cara era profissional e fazia um super programa. Ao lado dele o Caíque, que levava preciosidades, gravações exclusivas, shows piratas, entrevistas, enfim, quando um dia eu disse ao Alex que “você está fazendo o melhor programa sobre Stones do rádio brasileiro”, ele se enfureceu e me mandou a merda”. Magoado, quase o demiti.

No fim do dia, pediu desculpas e respondi que o problema não tinha sido me mandar a merda esse ter posto o dedo na minha cara, etc etc etc, e nunca mais ele reclamou do Satisfaction. Saudade, muita saudade do Alex Mariano.

Assim são os fogs de Itaipu. Não tem explicação, só comoção. Eles são muito raros, pouca gente os viu. Se aproximam da areia trazidos por uma bruma azulada que, lentamente, faz a volta e ruma em direção ao canal de Camboinhas, a direita da praia. Meu cachorro Titã (um basset marrom, raça também chama dedachshund) uivava quando o fog passava. Aliás, há quem diga que esse fog tem poderes mágicos, especialmente quando os que apreciam uma boa bebida atingem a cota de 12 latas de cerveja.                                                  

    Bar do Neno. Foto de Caíque Fellows
Anos atrás o grande amigo Hélio Nóbrega, o Neno, dono do Sabino Bar eu e outras pessoas passamos o Réveillon lá, sentados no deck do bar, na cara do mar. Noite azulada, trafego intenso de estrelas cadentes, satélites. Chegamos cedo, umas 10 da noite, quando uma bruma varria lentamente a beirada do mar tendo ao fundo as luzes da entrada da Baía de Guanabara e, também, de parte de Copacabana.

Não vi, mas senti o fog. Estávamos todos calados, submersos em devaneios de fim de ano turbinados pelas estrelas, o mar escuro, as luzes da metrópole ao longe. Foi durante um desses fogs que escrevi “Copacabana meu amor”, um artigo muito fraco, cartesiano, careta, vestido de tergal que, sei lá porque, muita gente gostou. Mora em http://colunadolam.blogspot.com.br/2013/06/copacabana-meu-amor.html

Essa foto do Caíque lá em cima mostra a alma de Itaipu, que ela só exibe para quem confia. E o Caíque conhece bem a essência desse lugar mitológico que se transforma, se reinventa, totalmente blues de Chicago que habita os corações mais sensíveis e encachaça os fígados dos imbecis que nos domingos de verão transformam essa acrilírica praia numa versão mais sórdida dos brejos do fundo da baía. Pobre Itaipu. Se pudesse riscava os domingos do calendário.

Por falar em Caíque, há uns anos ele tem utilizado vários iPhones seus fotografando cenas urbanas, paisagens, componente ilógico, enfim, demais! Como algumas das fotos extraordinárias ele publica em sua página no Facebook (https://www.facebook.com/caique.fellows?fref=ufi&pnref=story) e pintou a ideia de fazer uma exposição chamada “Na rua com o iPhone”.

Ele me convidou e aceitei, honrado, ser o curador e até já mandei um email para a Apple para ver se ela topa patrocinar. Se não patrocinar vou sugerir que tirem a maçã mordida da logomarca e no lugar ponham uma anta bêbada.

Laura, Beth and Me

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Chicago, Illinois, EUA - Me chamam Charles, Anjo 45. Vivo num lugar praticamente inacessível, consequência de uma série de equívocos existenciais fomentados pelos algozes da culpa. Vivo enjaulado em mim mesmo, temendo a rua, temendo a lua, temendo o sol. Escravo da culpa. 
Crime: amei. Amei como nenhum outro aqui neste Ocidente doente de preconceito e perversão. Amei e fui amado por Laura e Beth, com quem vivi os anos mais quase felizes de minha vida.

Há tempos já passei dos 50 e quando Laura e Beth chegaram a minha vida dei por encerrado meu poema cáustico. Escrevia minha vida como uma peça dramática, dura, desolada. Quando desci de Chicago para Los Angeles em boléias de caminhão, tentando reviver o que Jack Kerouac sentiu em seu clássico livro “On The Road”, percebi mais uma fraude. Eu não estava fazendo uma viagem minha mas a dele. Vivia vidas alheias, emoções terceirizadas.
                                                
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Laura, Beth and Me. Nós nos batizamos assim em homenagem a Neil and Jack and Me. Quem leu Jack Kerouac (“On The Road”) sabe o que digo. Quem ouve “Beat” do King Crimson, entende. E desentende aqui:
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Não tínhamos uma casa. Havia um lar. Em Laura e Beth despejei todos os poemas disponíveis em minhas veias trancadas pela incompetência crônica dos vadios. A elas dediquei todas as flores, o sereno que bebi em Lumiar, avenida Paulista, Bairro Peixoto, Largo da Batalha. Largo a batalha? Não. Me atirei naquele abismo. Morno, confortável. Como homem, marido, amigo, amante, servo e algoz. Laura e Beth abriram minhas janelas. Todas. Emperradas pela “descoragem” afetiva, burocracia do medo, vulgo medo de amar.
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 Néctar em profusão. Gritos, gozo, marcas nas nucas, nas costas. De Laura, Beth and Me. Nossos fogos não eram de artifício. Quando Laura tossia à noite eu adorava pegar sua cabeça entre as mãos e dar uma colher de xarope. E quando Beth era maltrada pela coluna, eu me deliciava passando noites em claro contemplando a dor passar. E quando eu tinha minhas crises de culpa, Laura e Beth me velavam, durante horas, horas, horas. 
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Chute na porta. “Deitado no chão, vagabundo! Eu sou a sua morte!”. O medo chegou. Acordei com a cabeça pesada, culpando a garrafa de rum Varadero que bebemos na noite anterior. Impossível. Sempre tomávamos rum Varadero nas noites anteriores. Mas é mais fácil culpar uma garrafa de rum. Presídios estão cheios porque as garrafas estão vazias? Só rindo. 
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Seis da manhã. Fui para a cozinha preparar um café forte. Peguei a xícara. Janela. Dei de cara com a culpa presidindo um macabro tribunal armado na praça que ficava em frente. O meu Vesúvio explodiu. Críticas, regras, posturas. Me vi réu. Sentado. Mãos frias, cabeça baixa. Réu por ser livre, réu por amar, réu por ser amado, réu por ser bígamo, réu por não pensar, reú, réu, réu. Promotores, promotores, promotores. Não restam advogados para quem se condena.
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Sem acordar Laura e Beth fiz as malas e parti. Sem bilhete. Sem as flores que normalmente deixava na mesa da sala quando saia mais cedo. Nada. O Nada saia sem deixar nada. Nem um verso. Nem um beijo. História de amor sangrada em blues de abandono, covardia. Como se Neal and Jack tivessem mesmo optado por Denver, Colorado em “On The Road”. Parti. Zonzo? Sonso? Parti. Sem olhar para trás. Vergonha da coragem, visivelmente desolada, balançando a cabeça.

Hoje, anos depois, acesso a internet e leio sobre a liberdade. Compulsivamente. Laura e Beth. Bocas mornas e úmidas, cheiros, sorrisos fartos, deliciosas e severas intervenções intelectuais, amor, amor, amor.

                                                
Uma onda de desejo me atira contra a parede, 6 da manhã, numa cidade estranha onde vivo há 15 anos. Cidade encravada num lugar sinistro. Na cidade onde vivo nem rum Varadero existe.

Como decretou o figurino, AI-5 social, casei. “É de bom tom”, sentenciou o Tribunal. Me divorciei. “A vida é assim mesmo”, martelou o Tribunal. Depois, a coragem me visitou. Conversamos três dias, três noites. Woodstock. Foi quando fiz três filhos lindos, que não gostaria que fossem de Laura, Beth and Me. Gosto que sejam de quem são.               
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Janela. Cidade escura. Neve. Carros lutando. Ela acaricia minha nuca, me abraça por trás. Mãe de meus filhos. “Os fantasmas te acordaram, mon cher?”. Ela lê meus neurotransmissores como sertralina. E o seu cheiro me faz bem. Serenata. É francesa, do sul. Nice. Jamais me deixou dormir só. Mesmo sob a mais dura nevasca emocional. Ela resume Laura, Beth, and Me. Tem mais essência, mais coragem, mais abrigo do que abismo. Pede que eu conte a história. Mais uma vez. Eu conto. Reconto. E ela me beija. Sabe que é assim que eliminamos fantasmas. Beija e diz “não foi desvio, mon cher. Foi vida. E já passou”. Eu digo “eu te amo, garota”. Parece que ela chora. Parece que de alegria.
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Não gostaria de rever Laura e Beth. Dor, mágoa. Desejo que elas leiam esse disparo, emocionado, puro e estéril como são os pedidos de desculpas. Como o sêmen que inundou a nossa cama e o sopro de óleo diesel que o vento traz da avenida principal. Laura e Beth, perdão por me sentir feliz. “Seu sorriso me faz cambalear/ Seu beijo me faz bandido / Seu amor é como heroína/ Vicia e amadurece / Não pretendo parecer ridículo / Mas é como se um pouco fosse o bastante”. (Pete Townshend em “A Little is Enough”).


O novo nome da ponte Rio-Niterói

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    Vargas, patrono da carnificina                                                                              
                        Costa e Silva: ditadura comprava capas de revistas                                                                               
     Depois do AI-5                                                                            
     Sucessor de Costa e Silva, o general Médici inaugurou a ponte no auge do horror da ditadura
Parece que vão mesmo mudar o nome da ponte Rio-Niterói que, oficialmente, se chama Ponte Presidente Costa e Silva em homenagem ao sanguinário marechal que, entre outras barbáries, baixou o AI-5 no fatídico 13 de dezembro de 1968 atirando o Brasil nas trevas.

Por princípio não gosto de dar nomes de pessoas a locais públicos já que ninguém, absolutamente ninguém, é blindado contra deslizes, falhas, vacilos. Leio no ótimo livro “1942 – o Brasil e sua guerra quase desconhecida”, de João Barone (baterista dos Paralamas) que os submarinos alemães na Segunda Guerra eram batizados, apenas, com a letra U (inicial de submarino em alemão) e um número. Por exemplo, o U-507 fez um arraso no litoral brasileiro em 1942, afundando vários navios mercantes. Substituir nomes por letras e números talvez o único bom exemplo daquela horda de boçais comandados pelo inclassificável Adolf Hitler.

Nossas estradas, aeroportos portos, cidades, ilhas, ruas, vilas, avenidas deveriam ser nomeados apenas com um código. Existem até cidade brasileiras batizadas com nomes de larápios. O ex- simpatizante do nazifascismo Getúlio Vargas (quem sabe da vida dele é a biografia de Filinto Müller “Falta alguém em Nuremberg”, de David Nasser) é o recordista em nome de ruas, avenidas e estradas e que até o polêmico Che Guevara (a história dele ainda não está fechada) é nome de escolas, estradas, etc.

Há alguns nomes sugeridos para rebatizarem a ponte, a maioria gente de fora sem qualquer vínculo com Niterói. Mas o mais grave, a meu ver, não é a falta de vínculo com a cidade, mas a possibilidade de fazerem média com políticos que, como o restante dos mortais, tem suas biografias vasculhadas o tempo todo. A possibilidade de um santinho de hoje virar moleque amanhã é grande.
Niterói já homenageou alguns facínoras, como aquele açougueiro do coronel Moreira César (o carrasco de Canudos) que dá nome a uma das principais ruas do mais populoso bairro da cidade, Icaraí. Andando pelas vias niteroienses vemos muitos nomes polêmicos devidamente homenageados.

Na minha opinião, o nome de Costa e Silva deve ser removido e atirado na privada, sim, mas em seu lugar, simples, muito simples. Chamar a ponte de “Rio-Niterói” e fim de papo. Oficializar logo o apelido já que não conheço ninguém que chame a ponte pelo nome do hediondo marechal.

Opinião não é palavrão. Essa é a minha.


                                                                    
                                                                                   

Acordei ouvindo “Immigrant Song com o Led Zeppelin, ao vivo em Los Angeles

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 Acordei ouvindo o Led Zeppelin, relativamente aos berros no computador. Immigrant Song, gravação ao vivo feita em Los Angeles, 1972, faixa do explosivo álbum triplo de raridades “How The West Was On”, garimpado por Jimmy Page em maio de 2003. Como veio com o DVD, assisti, também relativamente aos berros, ao peso, fúria, genialidade da banda que tanta falta faz. Assista aqui: https://www.youtube.com/watch?v=Vm6w4J4wXf4&list=LLnE4H8vRqUGsqsDrZPj2yiw

Lembrei de uma matéria que escrevi contando a história do grupo, cujas tendências musicais (muitas) foram fundidas no seu quarto álbum, sem título, que é usualmente chamado simplesmente de Led Zeppelin IV.

O álbum não tinha nome e o nome da banda também não apareceu na capa, para desespero da gravadora que achava que seria um fiasco. Erro. Foi mais um recorde de vendagem. O Led Zeppelin IV viajou em temas pesados como "Black Dog", o misticismo folk de "The Battle of Evermore" (cuja letra, de Robert Plant, foi inspirada em "O Senhor dos Anéis") e a combinação dos dois estilos em "Stairway to Heaven", um sucesso estrondoso nas rádios (a única música tocada no Brasil), aclamada por muitos como sendo o maior clássico do rock de todos os tempos. O álbum traz ainda uma memorável regravação de "When the Levee Breaks" de Memphis Minnie.

O álbum seguinte, Houses of the Holy, lançado em 1973, continha músicas mais longas e experimentais, com o uso de sintetizadores e arranjos de cordas feitos por John Paul Jones em músicas como "The Song Remains the Same", "No Quarter" e "D'yer Mak'er".

Em 1974 o grupo inaugurou a sua própria gravadora, a Swan Song Records. Swan Song era o título de uma música do Led Zeppelin que nunca foi lançada, tendo sido gravada posteriormente com o nome "Midnight Moonlight" no primeiro álbum do "The Firm", banda criada por Jimmy Page e Paul Rodges (ex-Free e Bad Company) após o fim do Led Zeppelin. Além de discos do próprio Led Zeppelin a "Swan Song" editou álbuns de Bad Company, Pretty Things, Maggie Bell, Detective, Dave Edmunds, Midnight Flyer, Sad Café e Wildlife.

Em 1975 foi lançado Physical Graffiti, o primeiro álbum duplo para a "Swan Song". Incluiu músicas que sobraram dos três discos anteriores e algumas inéditas. Mais uma vez a banda mostrou a sua enorme diversidade de estilos, que iam do folk ao hard rock.

Pouco tempo depois do lançamento de Physical Graffiti toda a produção anterior do Led Zeppelin atingiu a lista dos 200 mais vendidos, o que nunca tinha acontecido anteriormente. A banda embarcou para mais uma turnê pelos EUA, batendo novos recordes de público. Em maio de 75 tocaram cinco noites seguidas no Earl’s Court (esses concertos foram gravados em vídeo e çançados quase 30 anos depois em DVD). Nessa altura, no pico da sua carreira, eram considerados por muitos como a "a maior banda de rock do mundo".

Se a popularidade da banda em palco era impressionante, a sua fama pelos excessos era ainda maior. Eles viajavam num Boeing alugado, ocupavam andares inteiros de hotéis e tornaram-se objeto de algumas das orgias mais famosas, acompanhadas de quebra-quebra de quartos de hotel e abuso de drogas.

Em novembro de 1978 o grupo gravou no Polar Studios em Estocolmo, Suécia. O álbum In Through the Out Door é, na minha opinião, o mais fraco do grupo. Uso exagerado de teclados, canção anti-zeppelin como a baba “All my Love” mas ainda chegou rapidamente ao primeiro lugar nas paradas do Reino Unido e Estados Unidos em apenas uma semana.

Em agosto de 1979, depois de dois shows de aquecimento em Copenhague, o Led Zeppelin anunciou dois concertos no Festival de   Knebworth, tocando para cerca de 104 mil pessoas na primeira noite. Uma breve e discreta turnê europeia foi realizada entre junho e julho de 1980, mostrando uma banda despojada, sem os longos e habituais solos. Em 27 de junho, em um show em Nuremberg, na Alemanha, o show parou abruptamente. O baterista John Bonham teve um colapso no palco e foi levado às pressas para o hospital. Segundo a imprensa o colapso estava ligado ao consumo excessivo de álcool e drogas, mas a banda afirmou que ele simplesmente comeu demais.

Uma turnê norte-americana, a primeira da banda desde 1977, foi programada para se iniciar em 17 de outubro de 1980. Em 24 de setembro, Bonham foi pego pelo assistente do Led Zeppelin, Rex King para assistir aos ensaios no Bray Studios. Durante a viagem Bonham pediu para parar para o café da manhã quando bebeu quatro vodkas quádruplas (450 ml) com um pedaço de presunto. Depois de dar uma mordida no pedaço de presunto, ele disse ao seu assistente, "café da manhã". Bonham continuou a beber muito quando chegou ao estúdio. 

Os ensaios foram interrompidos a tarde e a banda foi para a casa de Jimmy Page — a Old Mill House em Clewer, Windsor.
Depois da meia noite, Bonham, que havia caído no sono, foi levado para a cama. À 1:45 do dia seguinte Benji LeFevre (gerente da nova turnê do Led Zeppelin) e John Paul Jones encontraram o baterista morto. A causa da morte foi asfixia de vômito; uma autópsia não encontrou outras drogas em seu corpo. 

Bonham foi cremado em 10 de outubro de 1980, e suas cinzas foram enterradas na igreja paroquial de Rushock em Droitwich, Worcestershire. O veredito de morte acidental foi devolvido a um inquérito realizado em 27 de outubro.
A planejada turnê norte-americana foi cancelada e apesar de boatos de que Cozy Powell, Carmine Appice, Barriemore Barlow, Simon Kirke ou Bev Bevan iriam se juntar ao grupo como seu substituto, os membros restantes decidiram se dissolver. Um comunicado de imprensa em 4 de dezembro 1980 declarou que, "queremos que se saiba que a perda de nosso querido amigo e do profundo sentimento de harmonia indivisível sentida por nós mesmos e nosso empresário, nos levaram a decidir que não poderíamos continuar como éramos", assinado Led Zeppelin.                                                                          

Por ordem de Lula, o “general” João Pedro Stédile vai jogar seus paramilitares do MST contra os manifestantes domingo

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                                          Neste vídeo, Lula convoca o exército de Stédile                                                                                                                    
    Filinto Muller, o nazista a serviço de Vargas
                     Gregório Fortunato, jagunço de Vargas
    Delegado Sergio Paranhos Fleury, o exterminador da ditadura militar
    O "general" de Lula, João Pedro Stédile, circula de carro oficial
O exército de Stédile
O dono do MST, João Pedro Stédile, já garantiu a Lula que está tudo pronto para atender a convocação pública do que o ex-presidente chamou de “seu exército” (assista ao vídeo aí em cima). Como todos sabemos, Lula convocou o “exército do Sédile” para combater os outros brasileiros que pretendem protestar, de forma pacífica, contra a incompetência, a corrupção, a falência do país nas ruas, no próximo domingo, dia 15.

Stédile, hoje um mega-burguês, é economista graduado pela Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul e pós-graduado pela Universidade Nacional Autônoma do México. É marxista por formação, defende abertamente a insubordinação legal e a luta armada.

Em um artigo sobre a deposição do presidente do Paraguai, Fernando Lugo, em 2012, ressaltou: "Se a sociedade paraguaia estivesse dividida e armada, certamente os defensores do presidente Lugo não aceitariam pacificamente o golpe".

Aqui no Brasil, João Pedro Stédile funciona como jagunço de luxo de Lula, Dilma e outros poderosos da elite que está no poder. Ele se presta a qualquer serviço, mesmo os mais sujos, para se manter alinhado com a cúpula. Por isso, Lula, frio, calculista, incapaz de deslizes, convocou o “exército de Stédile” no vídeo acima, sabendo que a mídia iria repercutir. E está repercutindo.

Os ditadores fardados que tomaram Brasília em 1964 procuravam usar a mão de obra suja de elementos como, por exemplo, o delegado Sergio Paranhos Fleury, torturador cruel, corrupto, que em troca de milhões de dólares exterminou a luta armada no Brasil também com o seu “exercito”, conhecido como “tigrada”. Os ditadores sabiam que podiam contar com as mãos porcas de Fleury, contra tudo e contra todos, a qualquer hora do dia e da noite. 
Pessoalmente, Fleury matou Carlos Marighella e, indiretamente, Carlos Lamarca. Ambos covardemente.

Getúlio Vargas, ditador que chegou a se alinhar informalmente com o fascismo e com nazismo nos anos 1930, contava com os “préstimos” de dois carrascos de fé: Filinto Strubing Müller, amigo pessoal do não menos hediondo Heinrich Himmler, comandante das SS alemãs na II Guerra e chefe da polícia política de Vargas. Centenas morreram em suas mãos, torturados, assassinados na rua ou deportados para fornos do nazismo como foi o abominável caso de Olga Benário Prestes, que Filinto Muller (a mando de Vargas) mandou para    Barnimstrasse, prisão de mulheres da Gestapo e depois para o campo de extermínio de Bernburg, onde morreu na câmara de gás com outras 120 prisioneiras.

Outro jagunço de Getúlio foi Gregório Fortunato, conhecido como “Anjo Negro”, foi o chefe da guarda pessoal de Getúlio e teria sido o mentor do assassinato do major da aeronáutica Rubens Vaz, em Copacabana, na noite de 5 de agosto de 1954. O atentado desencadeou uma crise política que culminou com o suicídio de Getúlio Vargas, com um tiro no coração, em 24 de agosto de 1954.

Em 1956, os acusados do crime da rua Tonelero foram levados a um primeiro julgamento: Gregório Fortunato foi condenado a 25 anos como mandante do crime, pena reduzida a 20 anos por JK e a 15 por Jango.

Em 23 de outubro de 1962, Fortunato foi assassinado na penitenciária Frei Caneca, no Rio de Janeiro, pelo também detento Feliciano Emiliano Damas, o que é apontado por muitos como queima de arquivo, já que o "Anjo Negro" escrevera um caderno de anotações, único objeto de sua propriedade que desapareceu na prisão após sua morte.

Ao convocar o “exército de Stédile”, Lula não só ameaça. Ele reconhece publicamente o poder paralelo do líder do MST. Stédile acha, de fato, que a sua milícia de milhares é mais forte do que as forças armadas brasileiras. Ele acredita que, reunindo os “atores sociais” (ele gosta de usar essa expressão) os militares desequipados, despreparados e desmotivados, caem “na primeira alvorada”.

Várias vezes perguntaram ao “general de Lula”, como é chamado por alguns, se ele já matou alguém. Nunca respondeu. Nem que sim, nem que não. Mas, em seguida, informa que “nós (ele e seu exército de milhares) estamos prontos para o que der e vier”.

Acatando a ordem de Lula (leia-se, também, Dilma e todo o alto comissariado do governo), domingo muitos provocadores de Stédile vão se infiltrar nas manifestações contra o governo. Vão bater, provocar, quem sabe incendiar ônibus, lojas, fachadas de bancos, a princípio para jogar a culpa nos manifestantes e depois, quem sabe, “matar ou matar”, uma máxima que Stédile costuma usar quando vai a Venezuela exportar anarquia.

Portanto, é preciso estar atento e forte neste domingo.


Depenando urubus nas redes sociais

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Tempos atrás, meio tarde, meio cedo, estava no Facebook conversando com pessoas visíveis, invisíveis, reais, virtuais e tudo mais. Logo que entrei vi que a caixa de mensagens estava cheia e das oito ou 10, umas quatro eram do mais indigno baixo astral, daquele que faz hiena gemer sem sentir dor.

As pessoas estavam depositando ali seus rancores, ódios, complexos, frustrações, transformando aquele lugar virtual, entre aspas, numa espécie de caderneta de poupança de fracassos, ou lixão da desesperança. Pessoas que usam as redes sociais para contaminar o ambiente, todo dia, toda hora. Não falo dos que desabafam, que compartilham problemas, aflições, angústias, mas daqueles que são viciados em tragédias, em negativismo, em pessimismo, provavelmente amantes do jornalismo mundo cão.

O que fiz? Impensadamente deletei todas as hienas da minha lista. Digo impensadamente porque se eu fosse refletir mais cinco ou 10 minutos com certeza ia relevar, argumentando para mim mesmo que “coitado, deve estar passando por uma fase difícil”. Mas, o ato impensado contra-argumentou que tem gente que está em fase difícil desde que nasceu por uma razão muito simples: gosta de gemer. Gosta de reclamar. Gosta de criticar com base do azedume. E, numa boa, com toda a franqueza, eu não sou telhado pra urubu largar barro em cima.

Deletei os personagens e expliquei lá mesmo no Facebook que estava cheio de baixo astral e que, por isso, tinha feito uma devassa em minha lista de “amigos”, degolando vários que, por sinal, não conheço. Sob a montagem visual, escrevi um texto em maiúsculas: “FIZ UMA LIMPEZA NA MINHA RELAÇÃO DE “AMIGOS” AQUI NO FB. DETONEI TODOS OS PESSIMISTAS, NEGATIVÓIDES, GENTE DE MAL COM A VIDA QUE EM VEZ DE PARTIR PARA CRÍTICAS CONSTRUTIVAS DECIDIU OPTAR PELA LAMÚRIA, PELO FARFALHAR DO "DESGRACISMO". BASTA!!! NÃO TENHO MAIS SACO.
EGOÍSMO? NÃO. O NOME DISSO É QUALIDADE DE VIDA. CHATO VOCÊ DIZER QUE ESTÁ CHOVENDO E OUVIR O CRI CRI CRI DOS GRILÓIDES. AÍ VOCÊ FALA QUE ESTÁ UM BELO DIA E CRI CRI CRI. NÃO AGUENTEI. SAÍ DETELANDO, SUAVEMENTE. NUMA BOA. NÃO FOI EXPURGO A LA MAO TSÉ TUNG.”

Para a minha surpresa, no dia seguinte lá estavam 346 comentários apoiando o que fiz. Sim, 346! Ou seja, quando os reis da animação inventaram a hiena Hardy Har Har (“ó vida...”) sabiam que havia demanda.

Criticar é fundamental. Por exemplo, um dia desses choveu e o trânsito deu um no em toda a região metropolitana do Rio. Engarrafamentos, aeroportos com filas, aquele suplício habitual. Muita gente reclamou, com razão.
Não estou condenando o senso crítico, ou o desabafo de um mau momento, que todo ser humano tem. Eu limei, passei a foice, nos viciados em baixo astral, “droga” que a meu ver está entre as piores porque é transmitida até pela internet e acaba contaminando.

Estou longe de ser um alienado, daqueles que soltam pipa perto de cabos de alta tensão, mas usar redes pessoais, sociais e até pensamentos que servem única e exclusivamente a lamúria, aos horrores, ao “tudo está errado”, tô fora.



Viciado em si mesmo, o ególatra vampiriza as ideias

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Tempos atrás encontrei um ególatra na rua. Eu estava andando rápido pelo centro do Rio em direção a uma livraria e o ególatra vinha no sentido contrário. Vinha sozinho, é claro, porque ególatras são seres socialmente insulares. Tentei escapar, mas quase fui atropelado por um táxi. Caí no alçapão. O cara me encheu o saco por exatos 53 minutos de monólogo, já que ególatras não conversam, eles ditam regras, procedimentos, enfim, montam seu diálogo interno.

Contou uma longa história que na verdade pertencia a outra pessoa. Disse que fez um vitorioso projeto na área ambiental que todo mundo (ou quase todo mundo) sabe que é de autoria de outro. Só que essa outra pessoa morreu e o ególatra simplesmente vampirizou o projeto. Assumiu como dele, patologicamente convencido que é mesmo dele e até andou tentando vender para algumas empresas que, alertadas, não fecharam o negócio. Continua andando por aí, sempre babando ovos, puxando sacos dos poderosos, milionários, de preferência corruptos. Como diz um amigo meu “essa laia é como tatu. É só ver um buraco que entra”.

Ele se convidou para tomar um café e já que eu estava junto acabei indo. Estávamos na rua do Ouvidor onde gosto de tomar café em silêncio, imaginando Machado de Assis, sempre muito discreto e tímido, sussurrando com seus contemporâneos: Artur de Azevedo, João do Rio e, quem sabe, Euclides da Cunha.  Mas o ególatra não permite que façamos silêncio. Falando (de si) sem parar, papos envolvendo delirantes milhões de dólares, ele pediu o café, pediu o adoçante, pingou na minha xícara, mas eu estava tão absorto diante daquele espetáculo imbecil e calhorda que deixei rolar. Para o ególatra não existe tu-eles-nós-vós-eles. Só existe o EU.

“Eu fui ver Roger Waters no Morumbi, ele disse. Fiquei na primeira fila e durante vários minutos percebi que Roger tocava olhando para mim. Já aconteceu isso com você?”, perguntou misturando o cafezinho. Eu disse que não. Ele fez uma cara de “só comigo porque sou f*$@#&*%oda, isso não é para qualquer um”. O pior da história foi quando ele me confidenciou: “muito entre nós porque, você sabe, sou low profile, mas Roger Waters me procurou e pediu que eu ajudasse na escolha do repertório do show”. Doença? Não. Transtorno mental? Não. É mau caratismo mesmo.

Eu, eu, eu. “Eu fiz, eu comi, eu fui, eu voltei, eu decidi, eu...cof! cof! cof!”. O ególatra engasgou com o café quente, teve uma crise de tosse e golfou na calçada. O dono do bar, grosseiro, não fez por menos: “pô, isso aqui não é lugar de bêbado”. O ególatra não reagiu. Estava transtornado com o vexame. O vexame de ser gente. Gente comum com crise de refluxo. 
Determinou que eu pagasse os cafés e saiu correndo, literalmente. O dono do bar olhou pra mim com uma cara esquisita, resmungou, eu disse “o cara passou mal, mas não estava bêbado”, o homem deu de ombros e iniciei o caminho de volta a praça 15 para embarcar no catamarã.

Pensei no ególatra. O que é pior? Sofrer de baixa estima, se achar um cocô, um réptil e mesmo assim brilhar, fazer coisas, acontecer ou se achar um Nero, um clone dos outros, um estelionatário existencial, uma versão bípede de Zeus e não fazer coisa alguma? Afinal, 100% dos ególatras que conheço estão existencialmente falidos. Mulher nenhuma atura e, no trabalho, são logo despachados porque rapidamente assumem a postura de “donos do estabelecimento”, quando na verdade são empregados. Ahhhh, pobre de ti se “xingar” um ególatra de empregado. Ele vai quebrar o espelho. Na sua cara.

Atravessando a Baía de Guanabara pensei no sujeito. Não, nada de “coitado, é uma vítima de si mesmo”. Ao longo da vida prejudicou muita gente. Roubou propriedades intelectuais, surrou mulheres, bateu em homens velhos, fez qualquer negócio (de preferência os mais imundos) para chegar onde acha que chegou. Naquele momento, em algum lugar do Rio de Janeiro, um homem perigoso, alma perigosa, apaixonado crônico por si mesmo, procurava a próxima vítima.

Quem?


Outono/inverno: brisa da beleza e das agudas reflexões

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Hoje é o último domingo deste verão, bem mais quente do que o do ano passado e segundo previsões catastróficas o do ano que vem vai ser pior. Não importa. Resisto ao verão como posso, sem reclamar, porque afinal de contas isso aqui não é Europa. Assim como tem gente que gosta de apanhar, há quem adore o verão. Fazer o que? Mas, o que mais gosto do verão é esse final, quando começam as projeções sobre o outono.

Imagino a massa polar que frequenta o outono e o inverno no Brasil e traz o azul mais profundo do céu infinito, realça o verde das árvores (onde ainda existem) e nos convida para visitar a oca das reflexões. Mesmo os chamados anti-reflexivos refletem sem saber. Na pior das hipóteses, contemplam a vida com um olhar levemente crítico do tipo “o que é que estou fazendo nesse filme?”.

Sou do time cujas reflexões são profundas e, muitas vezes, se transformam em crises existenciais, minhas velhas conhecidas. Como o mar de marolas que vai engrossando, engrossando e de repente vira trazendo as ressacas. Ressacas, irmãs do inverno, das pedras e conchas geladas, vento soprando de leste, quase frio.

Se viver é fundamental, refleti é crucial. Em muitos momentos pensamentos mergulham em trilhas muito duras e sofridas mas graças à luz do outono/inverno, chegam a alguma conclusão saudável, ou possível. Outono e inverno parecem jogar a nosso favor. Não, não tenho nada contra a primavera e o verão, mas penso que o calorão não combina com reflexões plácidas. É só caos, caos, caos.

Confesso que já fugi (ou tentei fugir) de alguns pensamentos, especialmente os caóticos que, não se sabe por que, nos levam a becos que nós mesmos tornamos sem saída. Em tese. O noticiário dos últimos dias não tem combinado com a beleza das folhas molhadas ou com o orvalho que molha as calçadas dos lugares arborizados. O noticiário dos sites, jornais, revistas, TVs está pesado e, a vezes, dá vontade de parar de querer saber o que está (ou não) acontecendo com o Brasil. Mas, não tenho vocação para a alienação.

A dor de querer saber compensa mais do que a dormência da ignorância, por si só, boçal, totalmente boçal, nos engessa numa redoma de lata sem o menor sentido. Fundamental, para mim, continuar querendo saber e, ao mesmo tempo, contemplando o azul profundo do céu levemente gelado do outono que desperta sentimentos profundos, belos e, porque não, alguns nós na garganta.

E o vento sopra, carrega o orvalho, as luzes, o azul do céu de outono.


Dois milhões de brasileiros foram para a ruas porque não aguentam mais. Aqui, os 10 pecados capitais de Dilma Rousseff na economia

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A presidentE Dilma Rousseff tomou posse no seu segundo governo há um mês e meio. Aliás, não consigo entender como ela ganhou a eleição, mas ela ganhou e ponto. Ao longo desses 45 dias, Dilma foi parar no inferno.

O assalto a Petrobrás veio à tona com detalhes sórdidos que deixaram o Brasil estarrecido. Deixaram e deixam porque o escândalo está apenas começando, mas a população estrá pagando na bomba de gasolina a conta pelo descalabro do governo. Em outro flanco, por pura incompetência, Dilma perdeu o controle da inflação e foi encurralada pelos empresários do setor elétrico que puseram uma faca no seu pescoço.

A temida Dilma Rousseff, aquela que foi capaz de esculhambar tanto um general de quatro estrelas que ele deixou o gabinete presidencial chorando, acabou acuada. Cedeu ao setor elétrico que, oportunista, cravou aumentos de tarifas absurdos nas costas de milhões de brasileiros. A Dilma grosseira, destemperada, que ofende e humilha ministros e similares (quem trabalha no Planalto sabe disso), foi obrigada a calçar pantufas e pisar leve, muito leve, com o pessoal do setor elétrico.

Alertada, a presidentE substituiu semana passada diretores da Eletrobrás que, como a Petrobrás, também é uma caixa preta em se tratando de corrupção. Aliás, se derem uma geral em todas as estatais o Brasil fecha as portas.

Além da corrupção, falta de ética, baderna, má comunicação, publico aqui os 10 pecados capitais da política econômica de Dilma que, mais do que partidos, humores, mais do que tudo, levaram dois milhões as ruas pedindo a sua cabeça nesse histórico 15 de março de 2015. As informações são do site Spotniks e foram publucadas poucos dias antes da queda de Guido Mantega:

O brilhante economista Thomas Sowell certa vez disse: “A primeira lição da economia é da escassez: nunca há quantidade suficiente de alguma coisa de modo a satisfazer todos aqueles que a desejam. Já a primeira lei da política é ignorar a primeira lição da economia.”

A política econômica do governo Dilma tem insistido em ignorar as leis econômicas. Mas estas não têm ideologia. E assim como a lei da gravidade, agem inexoravelmente sobre todas as pessoas (e governos também). Vamos então aos dez pecados capitais da política econômica do governo Dilma.

1 – Inflação

Desvalorizar a moeda é a consequência da política de inflação. Os pobres são sempre os mais prejudicados. Não é culpa da China nem da falta (ou excesso) de chuvas. Tampouco são o tomate ou o chuchu os grandes vilões da inflação. 

Por meio do Banco Central, somente o governo pode imprimir dinheiro. A leniência com a perda de poder de compra do real está cada vez pior. O centro da meta da inflação já não é perseguido há alguns anos, e não há perspectiva de atingi-lo rapidamente. O IPCA dos últimos 12 meses está em 6,75%.

2 - Controle de preços

Se controlar os preços funcionasse, o Plano Cruzado teria sido um sucesso. O preço da energia elétrica é controlado, o preço do petróleo está artificialmente represado, as tarifas de transporte público são determinadas por vontade política, o preço do crédito é manipulado, etc. E apesar disso tudo, o IPCA está acima do teto. Alguém acha que esse índice realmente reflete o aumento do custo de vida da classe trabalhadora? Controlar preços é receita para o desastre.

3 - Maquiagem das contas públicas

Qual o déficit orçamentário do governo? Com ou sem os dividendos do BNDES? Com ou sem os restos a pagar? A dívida líquida desce, mas a dívida bruta só sobe? Qual importa? Transparência não é o forte deste governo e as contas públicas estão cada vez menos inteligíveis. Querem esconder os sintomas, mas a doença permanece intocada. O quadro fiscal está cada vez mais preocupante, maquiar o problema só piora a situação.

4 – Bancos públicos

Fazendo ressurgir os velhos problemas das décadas perdidas, hoje os bancos públicos são responsáveis por mais da metade de todo o estoque de crédito no país. E como a expansão creditícia é essencialmente uma forma de criar moeda, Banco do Brasil, Caixa Econômica Federal e BNDES são hoje grandes motores da inflação brasileira.

5 – Estatais

Esse item mereceria uma lista própria, porque a quantidade de estatais sendo usadas para condução da política do governo é infindável. Seja a Petrobras tabelando preços do petróleo em território nacional, seja o BNDES direcionando crédito subsidiado aos campeões nacionais eleitos pelo governo, o uso político de empresas importantes à economia nacional é temerário. Já vimos esse filme antes. E nos custou muito caro. Os prejuízos começam a avolumar-se. Alguma hora a conta chega e, como sempre, quem paga são os mais pobres, com juros e correção monetária.

6 - Falta de Investimentos

Uma economia só cresce de forma sustentável com aumento de produtividade. E para isso é preciso poupança e investimentos, duas variáveis que despencaram no governo Dilma. Especialmente no setor privado, falta confiança e regras claras para poder investir. O enorme programa de concessões está sendo um fracasso. As excelentes oportunidades na área de infraestrutura permanecem sem serem aproveitadas. E não é por falta de apetite dos investidores (domésticos e internacionais). Com infraestrutura precária, o custo Brasil inviabiliza diversos investimentos.

7 - Hiperatividade e microgerenciamento da economia

Alguém se lembra quantos pacotes de estímulos foram lançados pelo Ministro Mantega nos últimos anos? Reduz imposto daqui, sobe acolá, concede subsídios ao setor agrícola, remove isenções do setor XPTO, altera alíquota do IPI temporariamente de forma permanente, estimula a linha branca, desestimula a linha preta, determina a taxa de retorno dos investidores das concessões de infraestrutura, etc, etc, etc. É pacote demais e arbitrariedade demais. Como diz o velho ditado: muito ajuda quem não atrapalha. Neste ponto, menos é mais.

8 - Crescimento econômico, incerteza e desconfiança

Todos esses pontos geram o pior sentimento possível na economia: insegurança. A incerteza sobre o que o governo fará amanhã paralisa os empresários. A incerteza sobre novas políticas gera desconfiança nos investidores internacionais. A economia patina e os trabalhadores começam a sentir insegurança com relação a sua própria estabilidade de emprego e, consequentemente, adiam compras mais relevantes. Nesse cenário, crescimento econômico é milagre.

9 - Errar é humano, botar a culpa nos outros mais ainda

Aos olhos da equipe econômica, se há alguma patologia na economia brasileira, a culpa é externa. Ora é a crise financeira, ora é o desaquecimento chinês, ou a safra agrícola mundial, a política do Federal Reserve, o preço das commodities, etc. Já é passada a hora de olhar para o próprio umbigo.

10 - Equipe econômica

Dilma acha que entende de economia, Alexandre Tombini (Banco Central) obedece, o ex-ministro Guido Mantega é keynesiano e Arno Augustin é marxista. Deste pecado, decorrem todos os outros.
Adicione uma boa dose de corrupção e uma grande pitada de burocracia e os males da política econômica do governo tornam-se ainda piores.

É preciso mudar. Mudar já. Mas quem está no comando não concorda com esse diagnóstico. Desconhecem ou ignoram a doença. Quem está no comando não quer mudar a fórmula, apenas alterar a dose. Remédio errado e na dose errada. Para curar o paciente, é preciso mudar quem está no comando.

A Coluna pergunta: quem está no comando?





Mil textos publicados aqui na Coluna vão virar livro

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Mil textos foram publicados aqui na Coluna desde a estreia, há três anos. Contos, crônicas, reportagens, desabafos e quase poema. Alguns dados curiosos que o Blogger, empresa que mantém a Coluna, divulgou hoje. Informações referentes aos últimos dois dias:

Origem de tráfego, por quantidade de acessos: Brasil; Estados Unidos; Alemanha; Rússia; Holanda. Navegadores preferidos: Chrome (56%); Firefox (23%); Safari (8%); Internet Explorer (3%); OS;FBSV (3%). Sistemas operacionais: Windows (56%); Android (16%); Linux (10%); Macintosh (9%); iPhone (4%).

O livro vai reunir uma coletânea de textos inéditos e publicados de vários estilos, formatos, abordagens, em especial crônicas, contos e ensaios. Gosto muito de crônicas. Vou selecionar uns 150 textos de um total de mais de dois mil. Achei que havia menos, mas consegui localizar um HD que havia naufragado na zona de papéis e afins que era a minha mesa. Era. Arrumei tudo.

Decidi dedicar um espaço ao rock porque em meus livros anteriores (exceção para A Onda Maldita) publiquei pouco sobre a trilha sonora de minha vida. Para fazer a capa vou convidar, mais uma vez, meu amigo Cláudio Valério Teixeira o melhor e maior pintor figurativo contemporâneo do Brasil e, certamente, um dos primeiros no ranking mundial.

Ou seja, ao que parece vem chumbo grosso por aí.
       

Um devaneio sobre os mil textos

Mil. 1000. Mil. Mil artigos, contos, crônicas, reportagens, desabafos. Coluna, três anos.

Inconsciente, sonhos, gozos, angústias. Com cerimônia. Cerimônia em breve sem cerimônia. Pode ser. Pode ser. Pode ser.

Quase 180 mil acessos. Coluna, pública, aberta, escancarada. Cara a tapa, o tempo todo, mundo inteiro, 24 horas. Cara a tapa. Que bom.

Ficção e realidade. Rock, blues, beats, folks. Mesma linha, mesma linha, pegada, estrada, entradas, sons oníricos dispersos, livres, anárquicos.

Caos. Cosmos. Coluna. Rota de prévias confissões, amores vividos, amores bem vindos, amores da esquina. Cama. Clama. A Coluna clama por cama, o tempo todo. Cama, princípio, meio, fim.





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