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A ONU pode neutralizar a Síria e evitar o banho de sangue

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Sou radicalmente contrário a qualquer tipo de guerra, que ao longo da pesada história que pesa os ombros da Humanidade, sempre mostraram inúteis, covardes, boçais. No momento, o mundo espera um ataque dos Estados Unidos a Síria com a desculpa de que, com guerra, vai conter a guerra química do bastardo ditador Bashar al-Assad.

A ONU, cujo orçamento trilhardário é mantido em caixa preta, tem condições de frear Assad sem que, para isso, seja derramado o sangue dos civis inocentes, vítimas “preferenciais” de todas as guerras, ao longo de todos os tempos. Remover o ditador é fácil.

Recentemente, as guerras do Vietnã, do Iraque e Afeganistão mostraram a sua cruel ineficácia e acabaram elegendo, duas vezes, Barack Obama presidente dos EUA. Em sua campanha (lembram?) ele pregou a retirada dos EUA de todas as guerras. O mesmo Obama, certamente pressionado pelos fanáticos de direita, parte para absurda opção de ataque a Síria.


Que coisa! Que coisa lamentável.

Mais de 40 anos depois do fim, The Beatles ainda surpreende

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Clinton Heylin é um jornalista e pesquisador inglês que o Irish Independent definiu como “o maior biógrafo do mundo do Rock”. Sobre os Beatles li quase dez livros, muita porcaria, admito, no entanto,  no bolo, estão o clássico “A Vida dos Beatles” de Hunter Davies (a única biografia autorizada da banda), o sensacional “Many Years From Now”, magistral tijolaço de 720 páginas escrito por um grande amigo de Paul McCartney, Barry Miles e “Sgt. Pepper´s Lonely Hearts Club Band – um ano na vida dos Beatles e amigos”, de Clinton Heylin. Estou relendo este.

A releitura está sendo crucial (no momento em que articulo minha própria obra com micro-biografias críticas e comentadas de pessoas do Rock) porque revela fatos que, sinceramente, passei por cima naquela ansiedade da primeira leitura.

Pois está lá na página 109: “Quando ele (Macca) apareceu no dia 1º.de fevereiro (de 1967) com uma canção-título para o álbum, “Sgt. Pepper´s Lonely Hearts Club Band”, George Harrison ficou aliviado, achando que enfim tinha um papel a desempenhar com a robusta guitarra solo prevista na composição.

“No entanto, depois de sete horas tentando gravar o solo de Harrison, McCartney decidiu que ele mesmo tocaria essa parte e, sem se preocupar com uma eventual recriminação, foi adiante e gravou o seu próprio riff”.”

Essa informação foi confirmada pelo próprio Paul em 2004. Ou seja, a fantástica guitarra que abre o álbum que dividiu a história do Rock (ouça lá embaixo), que todos julgávamos ser de George Harrison, é de Paul McCartney, que a partir de Sgt. Peppers (ele admite no livro) passou a assumir o controle da banda.

Por que? Porque Lennon, já envolvido com Yoko Ono não estava apenas de saco cheio de ser um beatle. Acima de tudo ele não estava conseguindo compor músicas de qualidade. Ringo Starr já estava alheio e ainda bate pé afirmando que a bateria de “A Day in The Life”, é dele sim. E George Harrison continuava expondo publicamente o que chamava de rejeição de Lennon & McCartney as suas músicas.

Fato é que, em praticamente todas as biografias, Lennon e Harrison dizem que só fizeram lixo nos Beatles. Atacaram o tempo todo numa inútil tentativa de defesa. Ringo? Era só fastio enquanto que Paul, até o último segundo da existência dos Beatles, lutou pela banda, acreditou na banda e se tornou a banda.


Isso é fato!

Os 70 anos de Roger Waters, o cronicamente inquieto co-fundador do Pink Floyd

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Em abril de 2008 fui entrevistar Roger Waters no Teatro Amazonas, em Manaus. Uma entrevista super negociada. Tive que mandar meu currículo para que os ingleses que assessoram o pai do Pink Floyd tivessem certeza de que a entrevista estaria resumida, apenas, a ópera (magistral) “Ça Ira!”, clássica, erudita, que Waters compôs sobre a revolução francesa, e que ainda corre o mundo.

Meu currículo foi aprovado. A entrevista com Mark Knopfler, anos antes, pesou muito na decisão, já que, me disseram, o criador do Dire Straits elogiou quando leram para ele. Meu encontro com Waters foi formal. Ele estava de camiseta preta, calça jeans preta, tênis branco, meio que traje oficial. 

Segui o que prometi: só falei de “Ça Ira!”. Depois que fez psicanálise, Roger Waters domou seus dragões interiores e tornou-se um gentlement, de fala mansa, e absolutamente apaixonado pelo seu trabalho.

E sua paixão atual, tenha certeza disso, é “Ça Ira!”, ópera que foi aclamada no mundo todo, inclusive em São Paulo, meses atrás, onde o pai da criança, Waters, apareceu de surpresa e ficou assistindo lá de cima, discretamente.

Hoje, 6 de setembro, esse gênio da cultura mundial completa 70 anos de idade no auge do vigor físico, psicológico, existencial, criativo. E mesmo que ele insista em desmentir, todo mundo sabe que no ano que vem, 2014, ele vai lançar o seu primeiro álbum-solo após anos e mais anos de afastamento. Com certeza, vai ser mais um discaço, provavelmente hermético, revolucionário, inquisidor, como tudo o que este grande músico, que ao lado de Syd Barrett fundou o Pink Fliy em 1966, faz e vai continuar fazendo.

Parabéns George Roger Waters. O mundo sensível e inteligente agradece por você ter nascido.

Assista:

                                 

Pink Floyd - Live at Pompeii - Directors Cut

Live at Pompeii foi originalmente lançado em setembro de 1972, uma versão editada em 1974, com gravações em estúdio de Dark Side of the Moon.

Relançado em 2003 como nova versão do diretor Adrian Maben, com cenas adicionais e cenas espaciais da Nasa.
Montagem do Diretor de 2003:

1. "Echoes, Part 1" / "On the Run" (Footage Studio) (sem créditos) (a partir de Meddle / The Dark Side of the Moon, 1971/1973)

2. "Careful With That Axe, Eugene" (B-side de "Aponte-me ao Céu" single de 1968)

3. "A Saucerful of Secrets" (de A Saucerful of Secrets, 1968)

4. "Us and Them" (Footage Studio) (de The Dark Side of the Moon, 1973)

5. "Um dia desses eu vou cortar você em pedaços" (de Meddle, de 1971, 
também conhecida como "One of These Days")

6. "Mademoiselle Nobs" (de Meddle, de 1971, anteriormente conhecido como "Seamus")

7. "Brain Damage" (Footage Studio) (de The Dark Side of the Moon, 1973)

8. "Definir os controles para o coração do Sol" (de A Saucerful of Secrets, 1968) 9. "Echoes, Part 2" (a partir de Meddle, 1971)

Direção: Adrian Maben

Produzido por: Steve O'Rourke

Michele Arnaud

Reiner Moritz

Estrelando: Pink Floyd

Música: Pink Floyd

Fotografia:
Willy Kurant

Gabor Pogany
Edição: José Pinheiro


As reais intenções dos mascarados nas manifestações de rua

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A História diz que existem poucos mascarados bem intencionados. A maioria é bandido, tarado, pedófilo, carrasco. Por exemplo, quando você ouve alguém dizer que “Fulano está muito mascarado”, significa que o suposto sucesso (ou fracasso) subiu-lhe a cabeça. Mais: “caiu a máscara”, quer dizer que o verdadeiro (mau) caráter de uma pessoa se revelou.

Nos anos 70, eu com meus 20 anos mais ou menos, acompanhado de minha namorada dirigia um Opala com uma máscara de Clóvis em pleno carnaval no Centro de Niterói. Nos tempos em que Niterói tinha carnaval de rua e Centro da Cidade, hoje uma cloaca abandonada. Bom, a polícia civil me parou. Pediu documentos, deu geral no carro, quase me deixaram nu e, no final, fui informado que dirigir mascarado fere mortalmente o Código Penal.Tive que me explicar na delegacia.

No caso dos manifestantes atuais que cobrem o rosto, na boa, arrancando a máscara da hipocrisia, é lógico que não estão bem intencionados. Senão, qual o problema de botar a cara, literalmente, a tapa? Imagens de passeatas dos anos 60 (exemplo: avenida Rio Branco em 1968) não mostram ninguém, absolutamente ninguém com máscara, pano, camisa encobrindo a face.

Por isso, em prol da nossa liberdade e também das pessoas e empresas molestadas pelos mascarados sou totalmente a favor da Justiça. Os mascarados devem ser, sim, levados a uma delegacia para informarem quais são as suas (anti) democráticas intenções. Ou vocês acham que é normal um sujeito se aproveitar do clamor geral e invadir lojas para roubar aparelhos de TV ou quebrar agências de automóveis?

Está mascarado? Tudo bem. É só se explicar e ir embora. Mas, não seria mais democrático e livre não usar máscara alguma?


Dar referências ficou perigoso. Melhor sugerir www.reclameaqui.com.br

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Vivemos um momento de crise ampla, geral e irrestrita nos serviços, praticamente todos eles, no Brasil. Isso atinge tanto as pessoas jurídicas como as físicas. Na semana passada uma senhora, vizinha em meu prédio, perguntou qual é a minha TV por assinatura. Respondi. Ele emendou com uma segunda pergunta do tipo “você acha boa, recomentaria?”. Respondi, francamente, que não recomendo serviços a ninguém porque não quero queimar meu filme por causa dessas empresas.

Ele compreendeu, mas eu insisti para que não pensasse, em momento algum, que eu estava sendo egoísta. Mais: sugeri (como sugiro aos leitores) que ela acessasse o site www.reclameaqui.com.brque concentra boa parte das reclamações sobre empresas de todos os gêneros. Quem me deu essa dica foi meu irmão, advogado (ele atua muito bem em Direito do Consumidor), conselheiro da OAB-Niteroi, Fernando de Farias Mello, site www.fariasmelloberanger.com.br.

No ano passado, um outro vizinho perguntou qual é a minha internet a cabo. Eu disse qual é mas também não recomendei porque está cada vez mais difícil darmos referências numa terra onde a qualidade dos serviços oscila como montanha russa.

A coisa chegou num ponto que não recomendo, sequer, colegas para emprego porque o último que indiquei, recém-formado, que trabalhou como trainee numa empresa onde eu era sênior, e que eu julgava exemplar, foi para a empresa que indiquei e começou a faltar, chegar arasado, sei lá o que deu no cara.

Esse caos nos serviços gerou uma situação incomoda, chata. Temos vontade de ajudar, indicar, mas depois corremos o risco de estarmos atrapalhando muito mais do que ajudando. Portanto, o negócio é ser franco e bater o pé: não indico, não nego.


Roberto Menescal, meu guru

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Roberto Menescal
                 O super Darcy Burger com Dominguinhos

Conheci Roberto Menescal* em 1982. Ele esteve na Rádio Fluminense FM onde, na maior cara de pau, pedi um autógrafo. Simpático, gente muito boa, na dele, mas profundo conhecedor de música e mídia, em meia hora de conversa ele sintetizou muito bem o que estávamos fazendo na “Maldita”.

A partir daquele encontro, Menescal se tornou um guru. Diante de qualquer decisão mais grave, sempre liguei para ele que, disponível para os amigos, opina com simpatia e muita precisão. Até hoje é assim. Quando estou numa encruzilhada profissional, procuro a opinião dele.

Estivemos juntos ano passado. Eu estava na direção do Teatro Municipal de Niterói e o convidei para um show lá. Lógico que o Teatro lotou e que Menescal, com seu jeito calmo e seu violão único, arrebentou.

Um dia desses encontrei um amigo comum, Darcy Burger, um mega-profissional de mídia com quem trabalhei na Rede Manchete nos anos 80. Para a minha surpresa, ao longo de nossa conversa, ele disse que Menescal é seu guru. Legal! Mais um profissional ético, ser humano de caráter que tem num dos pais da bossa nova uma referência.

Feliz quem tem um Roberto Menescal ao lado, ombro super amigo, que não na mão sob hipótese alguma. Que bom!


* Em 1985, comecei a produzir o primeiro LP de Celso Blues Boy, que batizei de sim na guitarra. Menescal era o diretor nacional da gravadora Polygram e não discutiu quando falei de gravar o Celso. Acreditou no músico e em mim. Mais: tornou-se meu padrinho de estúdio. Foi ele quem me apresentou a um estúdio de 32 canais (acho) que comandei ao longo de três meses. Quando finalizei o trabalho, tirei uma cópia e fui mostrar ao Menescal. Frio na barriga, suor frio. Ao final, ele abriu um sorriso e disse “discaço”. Quase chorei de emoção.

Uma resenha precisa e bem legal sobre meu livro didático (e-book) MANUAL DE SOBREVIVÊNCIA NA SELVA DO JORNALISMO

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Um leitor me alertou e fui até o blog http://baldedetextos.blogspot.com.br/2010/05/resenha-manual-de-sobrevivencia-na.html

A resenha de meu livro didático (muito orgulho!) MANUAL DE SOBREVIVÊNCIA NA SELVA DO JORNALISMO (formato e-book) é muito interessante. O livro está disponível em http://nitpress.webstorelw.com.br/products/manual-de-sobrevivencia-na-selva-do-jornalismo

A resenha de Deyvison Sousa: 

É intrigante conhecer a vocação de perto. Vivenciá-la pode ser um caminho determinante ao sucesso. O jornalista tem que ter correndo em seu sangue persuasivo um pouco de vocação para exercer esta profissão que demanda muito esforço e paixão. Isso não significa que o comunicador não se faça na prática, temos casos muito conhecidos (como o do próprio autor do texto) de pessoas que saíram de suas faculdades, algumas vezes, próximas à formatura para entrar no mundo do jornalismo.

A tradição de formar médicos, engenheiros e advogados foi quebrada quando o ser humano passou a perceber que a Comunicação Social está presente no seu cotidiano e enraizado no seu antepassado e sem ela não existe conexão entre sociedade e realidade. Citar realidade envolvendo o jornalismo é apontar uma série de fatores que contribuem para o equilíbrio da vida social. O mundo necessita se comunicar. É neste espaço que entra a importância do nosso idioma. O profissional de jornalismo vive de escrever, ele conhece (ou tenta conhecer) muito bem a língua que fala, transmitindo uma informação com objetividade, afinal, o jornalista é um ser facilitador.

Sua figura vinculada aos bares e à boemia serviu antigamente para defini-lo como um vagabundo que vivia em cassinos e bordéis. Felizmente, com o passar dos tempos nosso atacado profissional mudou para um estilo romântico e sedutor de ser. É nesta época que o repórter de polícia ganha notoriedade, no contexto jornalístico que envolviam-se os fatos, infelizmente com as piores remunerações possíveis. Atualmente a situação não é outra. O bom desse processo de denominações é que hoje, o jornalista tem seu papel de destaque e deixou de ser àquele desocupado de anos atrás.

Foi nesta identidade ‘sensível’, que a mulher se inseriu neste mercado logo depois dos anos 60 quebrando preconceitos e tabus. É interessante tocar neste assunto porque constatamos, atualmente, que os grandes jornais estão de olho nos traços femininos, mais perfeitos e notáveis. Traços gramaticais e culturais que agregam valores éticos e fundamentais ao seu veículo contratante.

Falando em veículo, o comunicador social já sabe muito bem onde vai pisar.Luiz Antonio Melloconsegue destacar este assunto com peculiaridades quando faz uma análise da condição salarial dos profissionais brasileiros. Materializando, é um fantasma que os persegue desde os primórdios do século XVI, obrigando-o a batalhar por mais de um emprego para garantir uma mínima condição de sobrevivência. Acredito que temos exemplos que comprovam esta afirmativa. Na TV, vemos diariamente o jornal da manhã, apresentado pelo jornalista que tem um programa no rádio e escreve diariamente para uma coluna de um impresso.

É a vida de free lancer, a vida da propagação de idéias.
Quando o autor fala do texto mais objetivamente, ele atinge uma abordagem muito precisa comprovando que dia após dia há uma evolução na escrita do autor. E nós sabemos que isso é pura verdade. Ninguém se torna um grande escritor se não tiver hábitos de um simples leitor e a criticidade diária em busca da perfeição momentânea. “... o movimento é para frente e para cima...” (pag. 29).

E o período apropriado para pôr em prática a escrita é na faculdade. Certo estamos de que a grande parte de nossas vidas não tivemos muita intimidade com as palavras e com a leitura que não foi estimulada no ensino fundamental, que é a base do conhecimento teórico.

O autor cita em seu texto uma definição radicalista de alguns indivíduos que denominam a faculdade como uma asneira. Particularmente, tenho que admitir que existam sim algumas asneiras que acabam por não acrescentarem nada de relevante ao futuro comunicador. Claro que não podemos fechar os olhos e deixar de ver que a evolução anda lado a lado com a faculdade. Os dados levantados pelo autor, ainda que desatualizados, demonstram a representatividade da internet na época.

Esta é uma excelente época para debater os principais jornais que circulam incessantemente nas ruas da cidade, ler muito jornal, acompanhar as notícias pela TV e pelo rádio devorando e assimilando o formato e a construção daquela reportagem. É a oficina diária.

Ainda na faculdade é bom encontrar um estágio, pode ser não remunerado, é uma dica do autor que eu gostaria de praticar, nesta fase o estudante de jornalismo se sente fervendo em uma caldeira de novidades e quer abraçar o mundo com as pernas,Luiz Antonio Mello recomenda: “estagiário bom é aquele que precisamos frear e não empurrar”.

Seguindo a “arcaica” evolução da época, o jornalista dá idéia dos equipamentos necessários para a localização fácil e rápida do jornalista, como ele mesmo diz: “Um bom jornalista deve ser encontrado facilmente.” Em casa, um telefone, que considero um artigo de luxo com as altas taxas de assinatura, um bom aparelho com secretária eletrônica, gosto de comparar a uma empregada que pode muito bem anotar um recado. Fax, totalmente burocrático; a boa agenda, que eu tenho debaixo do braço; um gravador, excelente; e um computador, bem necessário. O jornalista realmente precisa de todas essas tralhas “comunicatórias” principalmente, para manter contato com suas fontes que são os pés de suas reportagens.

Quando Luiz Antonio Mello trata de fontes, consideremo-no justo, responsável e principalmente ético. O jornalista sempre haverá de contar com esta ajuda preciosa na apuração e captação da matéria. É um aperto de mão. Uma boa fonte pode levá-lo a uma ótima entrevista exclusiva com àquele político tão apedrejado e inacessível. Outro foco do livro é a apuração, pois nem tudo que chega à redação é verídico e, para evitar uma barriga é sempre bom acompanhar e investigar.

Com os avanços da tecnologia e o acesso à internet, essas barrigas podem ser mais freqüentes. O autor já denunciava o uso do computador na época, algo que eu discordo. Acho que se o mesmo tivesse escrito este livro atualmente, diria que encontrou no computador um amigo para todas as horas.

Ao citar um jornalista político, Luiz Antonio Mellomostra o ponto de vista do mesmo através de uma frase totalmente radicalista: “aquilo não passa de uma máquina de escrever de fraque com uma televisão de frente”. Graças a esta engenhoca as informações têm sido compartilhadas minuto a minuto dessas vinte e quatro horas diárias. É claro que no final o autor não poderia deixar de admitir que o computador ainda se tornaria um aliado do jornalista, isto é fato.

Falar de jornalismo é viver de hierarquia, os chefes sempre existirão nas redações para comandar a equipe de profissionais. O complicado é aprender a viver bem com o manda-chuva que podem gostar ou não do seu texto, chegando até a rasgá-lo em sua presença,Luiz Antonio Melloatribui esta experiência à prática diária e recomenda não nos abismarmos caso isto chegue a ocorrer.

O “salva-vidas” da redação, o copydesk, que trabalha no tratamento do texto nos faz refletir a importância de escrever bem. É extremamente reflexiva a ‘tapa’ que o autor dá naqueles que pensam em atuar na área jornalista sem saber escrever: “e para quem não tem essa vocação, aqui vai uma mensagem franca: mude de profissão. Escrever é um dom nato, quem sabe, sabe quem não sabe, não sabe, não adianta.” Como já havia pincelado, penso que o jornalista se faz na prática, vocação é um braço direito, mas como dirigir um carro com um braço só?

Na rotina imprevisível do radialista, Luiz Antonio Mellodemonstra quem o jornalista de rádio tem que saber domar o tempo, ter consciência de que um minuto é uma eternidade. Concordo com sua tese e até trago o mesmo exemplo para a televisão onde um segundo vale sangue.

O poder de síntese e a improvisação embasada no conhecimento do que está sendo feito são a faca e o queijo nas mãos do jornalista desses veículos que trabalham com informação rápida e enxuta, que impõe à risca o uso do lead.

Além de ser analisado o texto, o profissional que irá atuar na TV passa por vários testes de voz, de imagem e deve procurar um crítico de televisão para auxiliá-lo (na verdade criticá-lo).
O rostinho bonito ganha as telinhas e toma conta das casas das pessoas com toda a força, acho que é por isso que muitos telejornalistas saltam em gramas e não olham para o chão que pisam. A questão do estrelismo é uma realidade nas redações e nas televisões das grandes empresas.

Firmo que todo jornalista deve ter ser um tanto orgulhoso, alvo de fofocas, isso o dá mais vida e alimenta seu ego. Coisa linda mesmo é encontrar aquele amigo jornalista que ganhou vários prêmios por aí e é conhecido internacionalmente com a mesma humildade e simplicidade da época de estagiário. O autor defende estas características.

Luiz Antonio Mello com seu livro Manual de Sobrevivência na Selva do Jornalismo conseguiu me tirar várias risadas, mas também me fez dormir com um peso na consciência e uma reflexão constante: onde encontrar esse jornalista revolucionário, competente e que andam de mãos dadas com a verdade? Acredito que este é um assunto para seu próximo livro.


E vamos ao próximo...



Como seria a sua vida sem a internet?

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Especialistas afirmam que os embriões da internet surgiram no início dos anos 1960, auge da guerra fria. No entanto, o novo e acachapante meio de comunicação só chegou ao público em 1992.

A partir de 1997, iniciou-se uma nova fase na internet brasileira. O aumento de acessos a rede e a necessidade de uma infra-estrutura mais veloz e segura levou a investimentos em novas tecnologias.

Devido a falta de uma infra-estrutura de fibra ótica que cobrisse todo o território nacional, primeiramente optou-se pela criação de redes locais de alta velocidade, aproveitando a estrutura de algumas regiões metropolitanas.

Como parte desses investimentos, em 2000 foi implantado o backbone RNP2 com o objetivo de interligar todo o país em uma rede de alta tecnologia. Atualmente, o RNP2 conecta os estados brasileiros e interliga mais de 300 instituições de ensino superior e de pesquisa no país.

Conheci a internet na casa de meu irmão em 1995, por aí. Fiquei bestificado quando enviei o primeiro e-mail e mais embasbacado ainda quando recebi a resposta. No ano seguinte, o mestre Darcy Ribeiro (1922-1997) disse que “depois da fala e da escrita a internet é a maior invenção do ser humano”. Verdade, grande Darcy! Pura verdade!

Hoje eu não sei como seria minha vida sem a Web. Não sei mesmo. Esta semana enviei 12 textos pela rede, mais não sei quantos giga de áudio e vídeo, sem precisar me deslocar fisicamente. Pago minhas contas pela Web, onde também adquiro livros, discos, eletrodomésticos, compro ingressos para cinema, teatro, shows, uma solução já que detesto entrar em lojas, encarar filas e tudo mais.

O mais importante é que graças a Web reencontrei amigos de adolescência, criei novas amizades, enfim, a Web também colabora (e muito) para o estreitamento das relações humanas. Não tenho o menor constrangimento em afirmar que sem a internet minha vida seria bem mais complicada.


E você? Como seria a sua vida sem a internet? E-mails para o blog!

O Cravo não brigou com a Rosa- Texto de Luiz Antônio Simas*

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Tempos atrás, recebi de um amigo e-mail com este texto que achei sensacional. Não resisti e decidi publicá-lo aqui.

Chegamos ao limite da insanidade da onda do politicamente correto

Soube que as crianças, nas creches e escolas, não cantam mais “O Cravo brigou com a Rosa”. A explicação da professora do filho de um camarada foi comovente: a briga entre o Cravo - o homem - e a Rosa - a mulher - estimula a violência entre os casais. Na nova letra "o Cravo encontrou a Rosa debaixo de uma sacada/o cravo ficou feliz /e a rosa ficou encantada".

Que diabos é isso? O próximo passo é enquadrar o cravo na Lei Maria da Penha. Será que esses doidos sabem que “O cravo brigou com a Rosa” faz parte de uma suíte de 16 peças que Villa Lobos criou a partir de temas recolhidos no folclore brasileiro?
É Villa Lobos, cacete!

Outra música infantil que mudou de letra foi Samba Lelê. Na versão da minha infância o negócio era o seguinte: “Samba Lelê tá doente/ Tá com a cabeça quebrada/ Samba Lelê precisava/ É de umas boas palmadas.” A palmada na bunda está proibida. Incita a violência contra a menina Lelê. A tia do maternal agora ensina assim: “Samba Lelê tá doente/ Com uma febre malvada/ Assim que a febre passar/ A Lelê vai estudar.”

Se eu fosse a Lelê, com uma versão dessas, torcia pra febre não passar nunca. Os amigos sabem de quem é Samba Lelê? Villa Lobos de novo. Podiam até registrar a parceria. Ficaria assim: Samba Lelê, de Heitor Villa Lobos e Tia Nilda do Jardim Escola Criança Feliz.

Comunico também que não se pode mais atirar o pau no gato, já que a música desperta nas crianças o desejo de maltratar os bichinhos. Quem entra na roda dança, nos dias atuais, não pode mais ter sete namorados para se casar com um. Sete namorados é coisa de menina fácil. 

Ninguém mais é pobre ou rico de marré-de-si, para não despertar na garotada o sentido da desigualdade social entre os homens. Dia desses alguém (não me lembro exatamente quem se saiu com essa e não procurei a referência no meu babalorixá virtual, Pai Google da Aruanda) foi espinafrado porque disse que ecologia era, nos anos setenta, coisa de viado. Qual é o problema da frase? Ecologia, de fato, era vista como coisa de viado. Eu imagino se meu avô, com a alma de cangaceiro que possuía, soubesse, em mil novecentos e setenta e poucos, que algum filho estava militando na causa da preservação do mico leão dourado, em defesa das bromélias ou coisa que o valha. Bicha louca, diria o velho.

Vivemos tempos de não me toques que eu magôo. Quer dizer que ninguém mais pode usar a expressão coisa de viado? Que me desculpem os paladinos da cartilha da correção, mas isso é uma tremenda babaquice. O politicamente correto é a sepultura do bom humor, da criatividade, da boa sacanagem. A expressão coisa de viado não é, nem a pau (sem duplo sentido), ofensa a bicha alguma.

Daqui a pouco só chamaremos o anão - o popular pintor de roda-pé ou leão de chácara de baile infantil - de deficiente vertical. O crioulo - vulgo picolé de asfalto ou bola sete (depende do peso) - só pode ser chamado de afrodescendente. O branquelo - o famoso branco azedo ou Omo total - é um cidadão caucasiano desprovido de pigmentação mais evidente. A mulher feia - aquela que nasceu pelo avesso, a soldado do quinto batalhão de artilharia pesada, também conhecida como o rascunho do mapa do inferno - é apenas a dona de um padrão divergente dos preceitos estéticos da contemporaneidade. 
O gordo - outrora conhecido como rolha de poço, chupeta do Vesúvio, bola de sebo, Orca, baleia assassina e bujão - é o cidadão que está fora do peso ideal. O magricela não pode ser chamado de morto de fome, pau de virar tripa, cotonete e Olívia Palito. O careca não é mais o aeroporto de mosquito, tobogã de piolho e pouca telha.

Nas aulas sobre o barroco mineiro, não poderei mais citar o Aleijadinho. Direi o seguinte: o escultor Antônio Francisco Lisboa tinha necessidades especiais... Não dá. O politicamente correto também gera a morte do apelido, essa tradição fabulosa do Brasil.

O recente Estatuto do Torcedor quer, com os olhos gordos na Copa de 2014, disciplinar as manifestações das torcidas de futebol. Ao invés de mandar o juiz pra putaqueopariu e o centroavante pereba tomar no olho do c..., cantaremos nas arquibancadas o allegro da Nona Sinfonia de Beethoven, entremeado pelo coro de Jesus, alegria dos homens, do velho Bach.

Falei em velho Bach e me lembrei de outra. A velhice não existe mais. O sujeito cheio de pelancas, doente, acabado, o famoso pé na cova, aquele que dobrou o Cabo da Boa Esperança, o cliente do seguro funeral, o popular tá mais pra lá do que pra cá, já tem motivos para sorrir na beira da sepultura. A velhice agora é simplesmente a "melhor idade".

Se Deus quiser morreremos, todos, gozando da mais perfeita saúde. Defuntos? Não. 

Seremos os inquilinos do condomínio Cidade do pé junto.

Abraços.

*Mestre em História Social pela Universidade Federal do Rio de Janeiro e professor de História do ensino médio.


Arembepe conhece mais Gilberto Gil do que Caetano Veloso. Arembepe conhece mais Caetano Veloso do que Gilberto Gil.

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Texto escrito no local em 1999.

Quando pisei o imenso areal de Arembepe, sol de verão, senti que a constante brisa vinda do mar contava histórias. Arembepe, litoral norte da Bahia, tem necessidade compulsiva de falar pois foi naquele éden de coqueiros, piscinas naturais, dunas, nuvens variadas passando em alta velocidade, como nos filmes de  Glauber Rocha e Oliver Stone, que a Tropicália se afirmou no final dos anos 60. Arembepe foi o grande desbunde, o desnude, o nosso Woodstock político, nossa Cuba musical.
               
Beijo a areia quente de Arembepe, pedindo licença a Iemanjá que zela por todo o mar da Bahia. Faço reverências ao Senhor do Bonfim, cuja igreja em Salvador havia visitado no dia anterior. Lá dentro, ajoelhado por mais de 40 minutos, fiz dois únicos pedidos que foram atendidos. E enquanto meditava, no silêncio quente daquela igreja, vi a imagem de Arembepe desfilar em minha cabeça, como se o Senhor do Bonfim me convidasse ou sugerisse. Olho para as cabanas hippies, de dois, três andares, feitas de sapê. Arembepe foi tombada, ninguém mexe. Ando pela areia, o sol carinhoso ardendo em meus ombros, a duna. A maior de todas. Penso, quem sabe foi aqui que José Celso Martinez Correia declamou o Rei da Vela? Quem sabe é essa duna o santuário sagrado de uma gente que um dia acreditou num Brasil revolucionário? Ou ainda há quem discuta o teor revolucionário de Gil, Caetano, Glauber e Zé Celso? Será?

Entro nas cabanas, ocupadas por uma tribo de vagabundos inofensivos que insistem em dar continuidade ao sonho hippie, fuzilado nos anos 70. São cabeludos e guardam na parede um violão de Raul Seixas. Batizaram de “Rancho Janis Joplin” a maior de todas as cabanas. Ela esteve lá, dormiu lá. Mas minha cabeça está em 1969, no Brasil de 1969, quando Carlos Lamarca, o capitão da guerrilha, largou a farda oficial e mergulhou na clandestinidade para fazer a nossa revolução.

Não, ao contrário do que andaram dizendo, Lamarca não passou alguns dias em Arembepe quando tentava escapar da repressão. Ele rumou direto para o sertão da Bahia, enquanto sua companheira Iara, cercada por batalhões do Exército e policiais do Dops, comandados pelo delegado-facínora, o Doutor Tortura Sérgio Paranhos Fleury, cercava o apartamento para onde fugiu, em Salvador. Iara se matou. Tiro na têmpora direita. Arembepe conta tudo, com a suavidade que as baianas tem quando contam uma longa e profunda história. Aliás, não conheço histórias que não sejam longas e profundas na Bahia, e talvez por isso eu ame visceralmente aquela terra.

Percorro a aldeia hippie, fotografo tudo, fotos de todos os ângulos. Penso em Jorge Mautner e João Ubaldo Ribeiro. Onde estaria João Ubaldo Ribeiro quando Arembepe vivia o seu auge revolucionário? Provavelmente fazendo a sua parte na revolução, lá em Salvador, pois João Ubaldo, por si só, já é uma revolução, o mais brasileiro dos escritores brasileiros, o mais baiano dos cariocas, o mais carioca dos baianos, um dos mais corajosos brasileiros que conheço. Olho para a duna e ela me diz que pode ser que João Ubaldo tenha participado dos happenings artísticos/políticos do final dos 60 em Arembepe. Janis Joplin cantou do alto dessa duna em 1970, um de seus últimos sinais de vida pois morreria meses depois. É mentira, mas deixa a lenda lendar. O LSD rolava solto por entre os troncos e coqueiros, mas alguém sempre lembrava o ideal revolucionário, que era preciso libertar o Brasil. Ousar lutar, ousar vencer, escrevia sempre Lamarca. No final dos 60, quem não ia para a luta armada desbundava e virava hippie, ou se ajoelhava perante seus santuários pequeno-burgueses e vivia o “Brasil, ame-o ou deixe-o”, engordando o vergonhoso rebanho servil nacional, os tais 90 milhões em ação, dopados pelo ópio dos gramados.

O mergulho no mar de Arembepe parece uma viagem alucinógena. Não vou descrever o mar de Arembepe pois não quero divulgar muito aquele lugar. Arembepe resistiu aos hippies, a repressão política, moral, resistiu a especulação imobiliária, mas certamente não resistiria ao turismo predatório e seus resorts, jet skis e cocaína. O violão de Raul Seixas está em destaque numa das cabanas, onde os remanescentes hippies fazem artesanato. Por onde anda o Raul? Em qual dessas nuvens ele estará? Por que não guardaram também os inúmeros manifestos revolucionários que foram escritos em Arembepe? Porra, ninguém se lembrou. Ou fazemos a revolução ou escrevemos sobre ela. As duas coisas ao mesmo tempo não dá. Sento debaixo de um coqueiro, de frente para o mar, tomado de comoção e História com H maiúsculo.

Uma mulher linda, morena de olhos verdes, completamente nua, me pede fogo em italiano. Sua cona inchada, a 40 centímetros da minha boca, tem um piercing sobre os pelos lisos e vastos. Acendo meu Zippo, que acende o baseado dela. A italiana agradece seca, fria, e volta ao mar para comer seu rastaman, numa das milhares de piscinas verdes que os recifes de Arembepe produzem. Glauber não descaralhou à toa com Arembepe. Ele tinha razão. Mais razão ainda quando filmou algumas imagens soltas em preto e branco. Em preto e branco Arembepe fica mais nua pois a história da nossa revolução, da luta armada de Carlos Lamarca, não era acrilírica, e muito menos multicolorida. Os anos eram de chumbo e a cor do chumbo é a cor das tumbas.

Eventualmente o astral de Arembepe pesa. Muita gente que falou, cantou e escreveu ali foi caçado, torturado e morto pela ditadura. Ou enlouqueceu num pau-de-arara, levando choque elétrico, sendo obrigado a confessar histórias que na maioria das vezes não existiam. E me parece que essas almas vagam em Arembepe, ainda tontas, ainda sem entender porque ser brasileiro dava pena de morte no final dos 60.

E a ditadura matava porque gostava de matar. Arembepe me conta que a ditadura se transformou em serial killer por prazer, por gozo, por covardia. E ninguém conseguiu matar Sérgio Fleury, símbolo-maior da nossa dor, e pendurar sua cabeça num coqueiro de Arembepe, como um troféu em nome da grandeza humana. Não fossem os erros de Carlos Marighella e seu ego gigante, onipotente e vaidoso, Lamarca teria justiçado Fleury pois estava nos seus planos. E os planos de Lamarca eram de liberdade, justiça, amor a pátria. Foram para o ralo porque a VPR rachou, a ALN rachou, o MR 8 rachou, Polop rachou, a esquerda toda rachou no momento em que deveria estar unida como gladiadores lutando contra o imperador. Mas a direita não rachava. Não rachava e matava. E matou toda a esquerda brasileira, deixando apenas algumas migalhas teóricas em agonia. Arembepe diz que a culpa foi do PCB, que traiu a luta armada. Mas esse fato a história ainda está julgando.


A densidade política de Arembepe não me permite pensar em outra coisa a não ser no Brasil sonhado por Lamarca, por mim, por muita gente. Se eu pudesse inserir uma trilha sonora nos meus devaneios em Arembepe seriam duas músicas: “That´s Way” do Led Zeppelin e “Voodoo Chile” de Jimi Hendrix. Não me perguntem porque. Eu senti essas músicas pairando no ar e no mar de Arembepe o tempo todo. E a imagem de Zé Celso Martinez Correia, e de Caetano esquelético, cabelo encaracolado, barbudo, de Gil também black power, e de Janis, e de Raul, e de Mautner, e de Luiz Carlos Maciel, meu Deus, tanta gente. Tanta gente sonhou com a revolução que fracassou. Aquela nós perdemos e ponto final.

“Na Estrada” (On The Road), de Walter Salles

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Assistindo o comentário que fiz no programa Café Paris sobre o filme “Na Estrada” (veja em www.programacafeparis.com.br), fui lá atrás e repesquei esse artigo sobre o filme que escrevi aqui para o blog.

Perdi as contas de quantas vezes li On The Road. Um livro diferente a cada leitura. Também perdi a conta de quantos exemplares perdi, a ponto de ficar sem nenhum durante longos e ansiosos meses. Acabei providenciando uma boa edição, muito bem traduzida pelo também jornalista e historiador Eduardo Bueno.

Só que não li. Minha dúvida é se releio antes ou depois de assistir ao filme. É um livro dificílimo porque trata da liberdade anárquica e informal, do desprendimento desvairado, transviado, multiconceitual dos beats nas estradas norte-americanas, numa linguagem deliciosamente subversiva. Mas, algo me diz que não vou me decepcionar com o transplante que Walter Salles fez do livro para a telona.

No primeiro parágrafo de sua resenha, um jornal publica: “Jack Kerouac termina o primeiro capítulo de “On the road” com: “Eu era um jovem escritor, e tudo o que queria era cair fora. Em algum lugar ao longo da estrada, eu sabia que haveria garotas, visões e muito mais; na estrada, em algum lugar, a pérola me seria ofertada”.

Para fazer a adaptação cinematográfica da obra que lançou e marcou a geração beat, Walter Salles colocou seus personagens para percorrer o caminho atrás dessas pérolas e encontrar os sentimentos à flor da pele descritos no romance. Tudo isso regado ao som de jazz, sexo, álcool e drogas.”

Mas, por trás dessa cortina ácida há muito, mas muito mais pano encharcado de éter do que supõe nossa mais aguda intuição. Em entrevista, Walter dá uma pista: “Como ele vai ser recebido hoje eu não sei, a gente nunca sabe. Eu li pela primeira vez quando eu tinha 18 anos e aquilo me marcou profundamente. Quando saiu traduzido no Brasil, em 1984, li novamente. Peguei novamente antes de rodar "Diários de Motocicleta" e agora para o "Na Estrada". Espero que com o filme mais gente tenha o prazer de conhecer essa história e ver as pessoas que vivem as suas possibilidades.”

Eu também espero, Salles. Só lamento que você não tenha batizado o filme com o título original, On The Road. “Na Estrada” ficou empenado.



QUADROPHENIA, um tratado sobre a rejeição

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Texto restaurado e remixado

Fundador e líder do The Who (a banda fará 50 anos em 2014) Pete Townshend publicou atirou na rua seus traumas pessoais na ópera-rock em Tommy (1969) e, também, em QUADROPHENIA (1973), para mim o melhor disco da história da banda. Acho que também para o criador da banda, guitarrista, cantor, compositor, poeta, romancista, teatrólogo, cineasta Peter Dennis Blanford Townshend, londrino de 67 anos, QUADROPHENIA é a obra-prima do Who.

Desde 1973, ano em que QUADROPHENIA foi lançado, não conheço (nem ouvi falar) de um show do Who, ou de Townshend sozinho, que não tenha sido incluída uma faixa de QUADROPHENIA. Quem me apresentou ao disco foi Zé da Gaita, no verão de 1974. Ele estava em Teresópolis, nos encontramos e descemos a serra ouvindo a fitinha aos berros na Variant de meu pai. Nunca mais QUADROPHENIA me deixou, nem eu a ele.

Album duplo conceitual que prefiro chamar de ópera-rock, QUADROPHENIA nasceu no mesmo ano de The Dark Side of The Moon, do Pink Floyd, outro poema a genialidade. Mas, o que Townshend escreveu fez com que vários críticos, biógrafos e fãs começassem a chamar o disco de “álbum da minha vida” porque, de ponta a ponta, ele aborda todos os tipos, formas e conseqüências do hediondo e deformador sentimento de rejeição.

Quem nunca se sentiu rejeitado? Ou descartado? Ou bagaço de tangerina, manipulado, desrespeitado, ejetado, execrado, injustiçado? Quem? Who?

Em 1979 o diretor Franc Roddam lançou o filme que, evidentemente, contou com a consultoria de Pete Townshend que numa dessas pisadas na jaca que eventualmente dá, entregou a direção musical a John Entwistle, baixista do Who, que deve a delicadeza de destruir a obra original. Até flauta doce o saudoso baixista (morto de cocaína com vinho em 2002) meteu na trilha sonora que, comprei, ouvi uma única vez e derreti em seguida, transformando o vinil em cinzeiro, como já havia feito com uma série de outros discos, para mim, execráveis.

Assisti ao filme QUADROPHENIA em 1981, mas sem legenda. Até os ingleses tem dificuldade de entender o dialeto mod (grupo de pós-adolescentes que formavam quadrilhas de lambretas em Londres no inicio dos anos 60) mas um dia, para a minha surpresa, QUADROPHENIA passou no Corujão, umas três horas da madrugada de uma quinta para sexta-feira, dublado. Há coisas nesse mundo que desisti de entender, como, por exemplo, QUADROPHENIA na Rede Globo.

O filme é ambientado em 1963 e conta a história de um garoto chamado Jimmy Cooper (vivido pelo ator Phil Daniels) que, com a sua lambreta, vive rodando com os outros colegas mods (expressão de que vem de moderns), filhos de operários, que são molestados e perseguidos pelos rockers, de classe média, montados em potentes motocicletas.

Jimmy briga em casa e é expulso pelo pai com tapas na cara, chamado de vagabundo. Vai trabalhar, se defende de uma injustiça, manda o chefe tomar no ... e é demitido. Se apaixona por uma garota, mas durante uma viagem do bando a Brighton, litoral onde rolou de fato uma batalha campal com os rockers, dezenas de presos e feridos, ele flagra a namorada com um cara dando amasso num beco.

E as rejeições vão se acumulando, Jimmy ingerindo cada vez mais doses cavalares de anfetaminas, até perceber que o único sentido de sua vida é o bando, a ideologia mod. Bando este que tinha um líder, rebelde radical que no filme é vivido por Sting, admirado, cultuado por Jimmy Cooper. A lambreta de Sting é cromada, cheia de espelhos, enfim, “cavalo” de um verdadeiro líder.

Até que um dia, atravessando mais uma crise de angústia, Jimmy vê a lambreta do líder encostada em frente a um hotel. Pior: flagra o próprio líder anarquista trabalhando como carregador de malas (“Bell Boy”), dizendo “sim, senhor”, “sim, senhora”, recebendo gorjetas, enfim, um capacho social na visão dos mods. Desesperado, Jimmy espera Sting entrar e rouba a lambreta dele. Sem família, sem mulher, sem trabalho, sem grupo de amigos, decide se atirar de uma escarpa britânica. Com a lambreta do personagem de Sting.* 
Mas, há sempre um mas, Townshend deixa em aberto se Jimmy Cooper morreu pois a lambreta cai no abismo vazia.

Os danos das rejeições são profundamente tratadas nesse filme que a crítica mundial classificou como “drama”. Aos que perguntam se é uma autobiografia de Townshend, a resposta é não. Aos que perguntam se retrata a adolescência de mais de 80% dos fãs do Who, com certeza a resposta é sim.

* Sequência final do filme, que começa com o roubo da lambreta. Veja daqui:







É mais fácil sentar o pau no fato do que no jantar em família

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Porco-urso-cachorro: escultura de Patricia Piccinini

Texto restaurado e reeditado
Eu vinha de ex-Tribobó (ex-RJ) e vi um ex-porco, chafurdando na ex-lama. Na época a ex-garota de programa, ex-Bruna ex-Surfistinha, comemorava zaralhadas de semanas no topo dos livros no ranking de Veja e Época. Um autêntico rest-seller, que virou filme com um rebolado meio moralista e escroque.
O ex-livro deveria se chamar O Ex-Veneno da Ex-Rabiola do Ex-corpião. Na época, a psicóloga e sexóloga Yara Darus que, desprovida de qualquer surto moralista, foi clara: "O livro é um sucesso entre as adolescentes porque é um passo a passo sobre sexo (...) Eu até engulo em seco ao afirmar que esse livro induz, sim, as adolescentes a ingressarem na prostituição. Com a ampla divulgação da mídia, Bruna Surfistinha tornou-se celebridade".
Como ex-cidadão, cheguei de ex-Tribobó e fui comer ex-sushi pensando no que ex-Janete da ex-Casa da ex-Pantera ex-Cor de Rosa, ex-bordel em Laranjeiras, dizia nos anos 70: "Não existe ex-prostituta porque não existe ex-gente. E prostituta é gente".
Ex-racional, comendo ex-sushis e ex-sashimis com ex-pauzinhos amarrados em ex-elásticos (minha ex-inabilidade não permite que ex-coma sem ex-elástico), lembro que jamais admiti que qualquer ex-bípede ex-mamífero chamasse ex-prostituta de ex-vagabunda, ex-moleca, ex-vadia. Porque por trás do ex-êxtase existe uma sábia. A ex-prostituta paga muito caro pela opção, mas, curiosamente, nunca ouvi nenhuma se lamuriar. O lema era o de Jânio Quadros: "fi-lo porque qui-lo". Só ex-Bruna ex-Surfistinha simula lamúrias, nesse ex-livro marqueteiro, precedido de autoflagelações em todas as mídias.
O que me ex-deixa ex-furioso em relação a essa manobra maquiavélica de marketing é o convite de ex-Bruna para que meninas entrem no seu reino encantado pela morte. E morte não tem ex, minha chapa. Em 90% dos casos, prostituição = drogas, álcool, espancamento, facadas, tiros e, não sei se pior: dano afetivo irreversível.
Mas voltando ao sêmen da questão, quando, naquele tempo, li que ex-Bruna ex-Sufistinha enchia a caveira de uísque enquanto autografava seu ex-livro na ex-Bienal de São Paulo, para uma multidão de meninas adolescentes histéricas que vêem nela uma ginecopopstar, joguei minha modéstia no viaduto do Limão (Sampa); de ex-fato a ex-GP morou na TV, no rádio, nos jornais, comovendo a nação com sua fala melosa, como as cavalas do imortal Carlos Zéfiro, tornando-se musa masturbatória da nação. Honra: Zéfiro nunca inseriu drogas e biritagem em suas revistinhas.
E a ex-sagrada família da ex-terra ex-brasilis entre um grito de horror e uma fugidinha ao banheiro, transformou a mídia em Joana Darc. Mais uma vez. Pais e mães ilibados não trocavam de canal, não trocavam de jornal, não trocavam de rádio para assistir ao flagelo S&M da ex-Surfistinha, preferindo esquecer que na ex-sagrada família há sim, hipótese, de naquele momento filhas e filhos estarem chafurdando em lojas de conveniência ou nos muquifinhos modernosos detonando ices vodca com óleo diesel, ecstasy, LSD e afins em troca de, quem sabe, um programinha. Mas, papai e mamãe preferem dizer "ohhhh pra mídia", do que perceber que ex-Brunas e Brunos estão na sala de jantar há anos perguntando calados "por que vocês não me dão a little help?"
O sucesso do ex-livro de ex-Bruna ex-Surfistinha tem um zaralhão de explicações, entre elas a ex-célebre ex-hipocrisia da ex-classe média brasileira. A mesma que ex-chora assistindo ao documentário chamado Falcão, obra de um ex-excluído, ex-traficante e hoje celebridade daslusiana sobre ex-gente exterminada que deu 70 de ibope na TV. Chorando a cântaros, muita gente acendeu seus baseados para aliviar a tensão diante de tanto mundo cão. Onde compraram os bagulhinhos? Na Sociedade Pilantrópica Filhos do Padre Zezinho? A mídia ensina que nos anos 30/40, quando a birita era proibida nos Estados Unidos, a corrupção atingiu níveis boçais. Da farda à toga. Mais: os biriteiros enrustidos se metiam na Ku Klux Klan e outras entidades pilantrópicas, chorando, falando em "América, ohhhhhhhhhhhhhhhhh América atirada à sarjeta do álcool". Liberaram a porranca. A traficolândia mudou-se para outras drogas.
Perto da traficolândia de usuários aqui na Brazuca (só há demanda onde há consumo, ensina qualquer bodinho de puxar charrete de crianças na Praça do Alto, em Teresópolis, RJ), ex-Bruna ex- Surfistinha é noviça. Seu ex-livro, que foi rest-seller nacional, é apenas uma tomografia do Brasil de hoje, onde ex-vestidos de três mil reais são doados a primeiras-damas estaduais que pretendem ser nacionais. Terra de ex-ministro brincando de caça à morcega em mansão de tolerância alugada com o nosso dinheiro. Famílias que em vez de "a little help" tacam fogo no brunismo sem perceber que o escorpião pode estar na mesinha de cabeceira da prole adolescente. E como diria ex-Scarlet Ohara, "Taraaaaa! Taraaaaaa!"
Observação: a palavra esdruxulismo não existe, segundo Houiass. Dicionário feito por Antonio Houaiss, que traduziu as primeiras edições de Ulisses de James Joyce e ninguém entendeu nada. Pelo visto, nem ele.

Entrevista com Paul McCartney sobre Sgt Pepper´s, fim dos Beatles, etc, etc, etc

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Remixado e reeditado

A conversa de Macca com Anthony Decurtis, da Rolling Stone americana, ano passado.

Como foi o "verão do Amor" (1967) para você?

Legal pra caramba. Tínhamos acabado de decidir que suspenderíamos as turnês porque já não estava mais valendo muito a pena. Parecia que não estávamos progredindo, o público continuava berrando, mas a gente se encheu daquilo. Tínhamos a idéia de fazer um disco que sairia em turnê por nós. Isso veio de uma história que tínhamos lido a respeito do Cadillac de ouro do Elvis fazendo turnê. Achamos que era uma idéia maravilhosa: ele não sai em turnê, só manda o Cadillac. Fantástico! Então, pensamos: "Vamos despachar um disco". Passamos mais tempo em estúdio e o resultado foi Sgt. Pepper's Lonely Hearts Club Band (1967). Então, foi maravilhoso. Estávamos amadurecendo? Não sei. Olhando em retrospecto agora, éramos praticamente crianças, apesar de nos sentirmos muito adultos. Tanta coisa tinha acontecido com tanta rapidez, certamente desde a viagem dos Beatles para os Estados Unidos em 1964. Em essência, aqueles três anos foram a diferença entre "I Want to Hold Your Hand" e "Sgt. Pepper's." Os tempos estavam mudando, como sr. Dylan disse. Só estávamos seguindo nossos instintos, mas havia um grande arroubo de energia, as idéias vinham rápidas e consistentes. Todos os tipos de idéias novas - artísticas, políticas, musicais. Começamos a escrever coisas que eram diferentes porque nossas conversas, nossos pensamentos e nossos sentimentos eram diferentes. Estávamos passando muito mais tempo longe da estrada, com outros artistas, e isso nos permitiu investigar outras coisas. Tínhamos muitos amigos no mundo da música e no mundo da arte, e havia uma grande fertilização cruzada. Foi uma época ótima para experimentar coisas e tudo isso penetrou na nossa música e no nosso estilo de vida.

Eu me lembro do impacto de Sgt. Pepper's como algo instantâneo e onipresente, tocando em toda casa noturna a que se ia, toda loja de roupa, toda loja de discos. Você fazia idéia de que teria esse tipo de efeito?

Foi ótimo, para falar a verdade. Como tínhamos parado de excursionar, a mídia começava a sentir que as coisas estavam calmas demais, o que criou um vácuo, de modo que puderam falar mal de nós. Diziam: "Ah, a fonte secou". Mas nós sabíamos que não tinha secado. Sabíamos o que estávamos fazendo, e sabíamos que nossa fonte estava longe de secar. Na verdade, o oposto estava acontecendo - vivíamos uma enorme explosão de forças criativas. Nós pressentimos isso. Realmente não comentamos o assunto com muita gente. Tocávamos uma demo aqui, outra ali [para os amigos] e tal, mas o mundo de maneira geral não sabia de nada. Mas, como disse, o que alguns críticos comentavam era: "Ah, eles estão acabados". Enquanto isso, estávamos lá trabalhando com alegria, como os Sete Anões - "Trabalho, trabalho, trabalho, trabalho, trabalho, trabalho, trabalho!" [risos]. Estávamos nos divertindo muito, obviamente, montando essa coisa. Daí, quando saiu, foi fantástico. Naquela época, costumávamos lançar [álbuns] na sexta-feira, e aquele fim de semana foi uma coisa. Eu me lembro de ter recebido telegramas que diziam coisas como: "Vida longa a Sgt. Pepper's!". Esse era o sentimento geral, e era maravilhoso. Naquele domingo, Jimi Hendrix tocaria no Saville Theatre no West End de Londres, e ele abriu o show com o tema de Sgt. Pepper's. Cara, o disco estava mesmo em todo lugar! E é claro que nós só ficamos surfando naquela onda artística. Foi bem bacana exercer tanta influência assim. Como eu disse, era verão, e o sol brilhava, e lá estávamos todos nós, no maior astral [risos]! Eu me sinto muito privilegiado por ter vivido aquilo, em primeiro lugar e, em segundo, por ter sido o epicentro dos acontecimentos.

Deve ter sido uma sensação muito estranha - passar por mudanças enormes e, simultaneamente, gerar mudanças similares para milhões de outras pessoas.

Foi sobrenatural. Nós tínhamos nos acostumado com uma parte disso simplesmente por sermos os Beatles. Até "I Want to Hold Your Hand" tinha deixado as pessoas loucas. Mas agora a coisa passava para outro nível. Estávamos entrando no coração e na mente de todos.

Parecia muito que Sgt. Pepper's fazia parte do sentimento daquela época em que, de algum modo, tudo iria se transformar, que nada jamais voltaria a ser como antes.

É engraçado, conheço muita gente que, depois dos anos 60, teve uma sensação de decepção que nunca passou. Eu pessoalmente achava que, ao passo que tudo estava mudando, não necessariamente significava que tudo mudaria. Nós tínhamos longas discussões a respeito de como um dia as pessoas da nossa geração se tornariam primeiros-ministros, e seria bem sobrenatural [para eles] o fato de terem sido afetados por esse período. Mas, ao mesmo tempo, éramos realistas, e pensávamos: "É, mas vão continuar sendo políticos". Dava para saber que tudo que estava acontecendo no mundo mudaria a ordem das coisas em alguns aspectos, mas não em todos. E isso está provado pelos nossos líderes atuais. Eles continuam presos aos anos 40 ou algo assim.

Houve algum acontecimento específico que fez com que você se desse conta de que os anos 60 não cumpririam suas promessas?

Suponho que preciso considerar o rompimento dos Beatles como o momento mais sombrio. Os Beatles chegaram a um ponto em que implodiram - todos tinham dinheiro e fama e, de vez em quando, era inevitável que nos irritássemos uns com os outros. Eu tinha conduzido a dança um pouco em Sgt. Pepper's. Para mim, o título e a idéia toda foi inspirada pela época e pela fertilização cruzada com os outros artistas. Queria que fosse algo do tipo: "Uau, cada um de nós tem sua lista de heróis [na capa] e vamos assumir estes alter egos. Seremos pessoas novas fazendo este disco, e podemos mais ou menos viver nestes corpos novos e fazer um álbum como se fôssemos outra banda". Aquilo foi libertador. Mas, depois disso, não dava para sentir que era possível seguir em frente como aquela outra banda. Você inevitavelmente voltava à terra, fazia parte dos Beatles.

E foi aí que os problemas começaram...

Foi quando começamos a discutir assuntos comerciais, principalmente com o advento de Allen Klein - ou "um certo empresário norte-americano", ou seja lá como somos obrigados a nos referir a ele. Deixemos para o departamento jurídico resolver. As conversas passaram a ser assim: "Ah, que merda, vamos ter mesmo que pensar sobre isso agora ou perderemos tudo por que trabalhamos". E isso causou um racha tremendo.

Você acabou processando os outros Beatles.

Foi o pior momento da minha vida, quando me informaram que não poderia me opor a esse tal de Klein, esse "suposto empresário norte-americano". Como ele não era uma das partes de nenhum dos nossos acordos, precisei brigar contra os outros três caras. Foi uma situação com a qual me debati durante meses. Ou era: "Não, não brigue com esses caras e perca tudo para todo o sempre" ou "Brigue com esses caras e salve tudo". Foi um dilema. No final, pensei: "Acho que eles não sabem o que estão fazendo, estão cometendo um erro pavoroso". Então eu, de fato, briguei no Tribunal Superior e venci, por sorte. Isso criou um estigma terrível para mim, como sabia que criaria - não tinha entrado naquilo de bobo. Sabia qual seria o preço. Mas achei que, no fim, as pessoas descobririam que tinha razão. E foi gratificante quando todos os caras, no final, piscaram para mim e disseram: "Foi bom você ter feito aquilo". Até Yoko [Ono] reconheceu isso. Mas foi uma coisa horrorosa de se viver. Foi quando o sonho se desfez para mim.

Houve um ponto em que você sentiu que, apesar da dissolução da banda, seria capaz de seguir em frente e continuar a se divertir?

Fazer o álbum McCartney (1970) foi bom para mim nesse aspecto, porque realmente retornei às raízes. Eu me senti bem, e isso é bom. Até hoje, as pessoas reparam naquele álbum. Com freqüência acontece com os artistas e os músicos - eu ia dizer especialmente, mas acho que está mais para igualmente - de o trabalho ser aquilo que faz você se compreender. A música é especialmente boa para isso, é uma boa terapia. Estava passando pela coisa terrível de perder a amizade daqueles meus camaradas da vida toda, e para quê? Bom, a mim parecia que o motivo era tentar salvar a vida deles. Aliás, não existiria uma [gravadora] Apple para estar em litígio com a Apple, não existiria problema algum com Steve Jobs - e não existe mesmo, falando nisso, já foi tudo resolvido -, mas não existiria uma Apple Records hoje. Tudo teria desaparecido; a coisa toda simplesmente não existiria. Não haveria nenhum show em Las Vegas, não haveria nenhuma destas coisas que agora estão aí tão gloriosas se não tivesse tomado aquela atitude. Mas foi uma decisão dura de verdade. Foi uma daquelas coisas que exigem terapia depois, e para mim, voltar à música foi essa terapia. E, é claro, com a enorme ajuda de Linda. Ela foi uma das grandes responsáveis por me fazer voltar à vida e seguir em frente. Ela era um bastão de força naquele momento. Isso e produzir música fizeram com que atravessasse aquele período.

Você, George e Ringo puderam desfrutar os ressurgimentos dos Beatles. John, é claro, morreu antes de boa parte disso acontecer, e a George também se foi.

Esta é a pior parte de ficar adulto. Você perde amigos, é inevitável. Não é exatamente uma surpresa, mas é terrível. É muito triste. Conhecia John intimamente há tanto tempo. Sempre me admiro com o fato de eu ter sido o cara que se sentava com John para escrever todas aquelas coisas. Éramos só ele e eu em uma sala e isso era bem especial. Então, perdê-lo foi horrível. E foi especialmente triste porque tínhamos superado a desavença dos Beatles. Apesar de ele estar morando em Nova York, nós conversávamos com bastante regularidade. Simplesmente conversávamos sobre coisas cotidianas - sobre o filho dele, Sean, e sobre a vida em geral, sobre os pães que ele assava. Trocávamos receitas de pão, era ótimo. Então, simplesmente foi uma tragédia horrível ele ter sido arrancado daquele jeito. No caso de George, foi igualmente trágico. Eram meninos tão lindos, sabe? [Ele faz uma pausa, e sua voz treme] George era simplesmente um sujeito ótimo. Ele era um garotinho que eu conheci em Speke, Liverpool, só um garotinho que entrou no meu ônibus. Eu subi no ponto anterior ao dele, e ele entrou e nós começamos a conversar sobre guitarras e rock'n'roll. Depois, quando estávamos procurando um guitarrista, e eu mencionei o nome dele a John, George se juntou ao grupo. E daí passou a ser apenas o sábio George. Ele era um sujeito lindo que não agüentava gente burra. Era uma alma muito linda. Nem me deixe começar, cara. É um horror ter perdido aqueles caras. Mas a verdade terrível é ser adulto.

Você tem ideia do que continua a tocar as pessoas com os Beatles depois de todos esses anos?
Acho que, basicamente, é a magia. Os Beatles eram mágicos. Para mim, a vida é um campo de energia, um punhado de moléculas. E essas moléculas específicas se formaram para que aqueles quatro caras virassem os Beatles e fizessem todo aquele trabalho. Preciso pensar que foi algo metafísico. Uma coisa que deve ser considerada mágica. Estou sendo muito extravagante? Se você quiser ser prático, acho que as músicas eram muito bem estruturadas. Quando as canto atualmente em shows, penso: "Isso aí é bom, é sim. Que verso bom. Ah, entendi!". É uma redescoberta. Você simplesmente lembra: "Ah, foi por isso que fiz assim". Então, elas também têm uma força física, é trabalho bem-feito.

Você teve papel importantíssimo depois dos ataques de 11 de setembro, organizando o Concerto para a Cidade de Nova York e ajudando a reconstruir a confiança da cidade. Mas muita coisa aconteceu para complicar nossa noção do que houve naquele dia. Quando você pensa em 11 de setembro hoje, o que lhe vem à mente?

Bom, tenho minhas lembranças pessoais de estar no [aeroporto de Nova York] JFK e de ver a fumaça das torres gêmeas. O aeroporto fechou, nosso vôo foi cancelado, fomos para Long Island e ouvimos o noticiário e assistimos a TV. E depois pensei em fazer meu próprio concerto, mas tudo culminou no Concerto para Nova York, que foi ótimo, porque muita gente queria fazer alguma coisa. Foi ótimo fazer parte daquilo - ajudar os norte-americanos em particular, mas o mundo de maneira geral, a colocar seus sentimentos em algum lugar. A oportunidade perdida foi que as pessoas ficaram com um enorme sentimento de solidariedade em relação ao povo americano, e as ações políticas que se seguiram a 11 de setembro desperdiçaram a oportunidade. Foi como se alguém no playground tivesse apanhado, mas não sabia quem tinha batido, e por isso resolveu descontar na pessoa mais próxima - e isso se transformou no Iraque. A agenda política é a culpada.

Olhando para a frente, quais são as principais questões que se colocam agora?

Fazer algum avanço em direção à paz mundial. Seria ótimo se as pessoas com diferenças no mundo hoje percebessem que não existem diferenças - é um campo de energia! Precisamos da mesma velha coisa de sempre: paz e amor. Não sendo frívolo, mas esse continua sendo o grande objetivo. Bom, e vocês aí precisam de um novo líder [risos]! Quer dizer, isso ajudaria.

Nem brinque...

O ambiente é uma realidade. Algumas pessoas me dizem: "Há tantas causas, não sei quais apoiar". Há as minas terrestres, os maus-tratos com animais, só para mencionar duas pelas quais me interesso. É como se considerassem este o problema: "Qual causa apoiar?". Eu respondo: "Não entre em pânico, apenas escolha uma que o agrade e vá em frente. Todas estão conectadas". Mas eu sou otimista, tem muita gente bacana por aí. No momento, temos montículos de terra. E tudo bem. Isso é bom. Mas precisamos que se transformem em uma montanha. Tem muita gente inteligente por aí, mas, infelizmente, também tem um monte de imbecis. Mas o meu otimismo me leva a torcer para que os inteligentes construam a montanha.

E qual você gostaria que fosse seu legado pessoal?


Sempre que me perguntavam como eu gostaria de ser lembrado, respondia: "Com um sorriso". Mas gostaria que as pessoas entendessem o que eu fiz e pensassem que há uma enorme força naquilo. Gostaria que as pessoas pensassem que uma parte daquilo chega a ser demoníaco de tão forte. Isso me bastaria.

Programa CAFÉ PARIS, ou, minha opção pelo acostamento do sucesso, ou, a carrapeta da primata voadora

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Minha paixão pela literatura é “pré-colombiana”, a ponto de, apesar de garoto vadio, caçador de pipas, empregadas domésticas e ondas que surfava de peito lá na Itapuca (Google, por favor), pedir a minha mãe para ter aulas de literatura fora do colégio. Algo como Tiradentes ir a uma loja e comprar dúzias de cordas. Assim, comecei a ter aulas particulares com a saudosíssima professora Jacyra Pires de Mello que me explicou Machado de Assis, Manoel Bandeira, Carlos Drummond de Andrade, Nelson Rodrigues e, é lógico, me deu muito, mas muito esporro.

Em tempo: em 1974 comecei a estagiar (depois me tornei repórter) no Departamento de Jornalismo da Rádio Jornal do Brasil, que ficava no mesmo andar (sexto) da Redação do JB. Um dia, passando pela Redação, um senhor estava na fila da máquina de café, exatamente na minha frente. Era Carlos Drummond de Andrade. Ele pegou o café dele, em seguida olhou para mim e perguntou “com açucar?”. Respondi, “sim”, branco de emoção.
Num outro dia, conversando com um colega na Redação, tirávamos uma dúvida de um texto. Uma voz atrás de nós trovejou: “tirem mesmo suas dúvidas para não espalharem imbecilidades pelo país”. Era Nelson Rodrigues!

Drummond: "quer com açúcar?". Fotaço do amigo Rogério Reis.

Paradoxo. Matava aulas no colégio mas ia a casa de dona Jacyra, na rua Moreira Cesar em Icaraí, com o maior prazer. A literatura me seduzia cada vez mais, enquanto que Darlene (vulgo Leninha), uma babá que trabalhava no andar térreo da minha professora, começou a disparar sorrisos de soslaio. Acabei encapando a moça, dona de uma bela e rica mata atlântica, que tornou-se ex-moça e minha amante, dia sim outro também, entre as árvores do Campo de São Bento. Mas esse é outro assunto que não interessa a ninguém.

O coreto virou viveiro de pombas-rolas (em todos os sentidos). Hoje é, de novo, coreto.

Leninha...que saudade.

Mestre Zéfiro.

Dona Jacyra mandou que eu escrevesse uma redação em quatro páginas de papel almaço (será que ainda existe?) em uma semana. Dois dias depois, cheguei com a redação pronta. Tinha me encontrado com Leninha na noite anterior e, como chovia, fomos copular num viveiro de pombas-rolas (aves) que existia onde foi (e voltou a ser) o coreto do Campo. De noviça rebelde e virgem, Leninha tornou-se gulosa, voraz e sádica, chicoteando minhas costas com um pedaço de caniço enquanto gemia e até gritava eventualmente. Confesso que gostava daquelas sessões de chicotes sustentáveis.
Lembro que minha redação para Dona Jacyra começava assim:

 “A carrapeta da primata voadora caiu na minha mão, como um torpe balão de São João de bucha apagada, brocha, sem sentido. Ou a vida brocha faz sentido? Faz? Então atire a primeira glande”.

Dona Jacyra dava aulas numa mesa de centro na sala de jantar de seu apartamento. Tinha mais de 80 anos e uma lucidez invejável. Ela sempre mantinha à mão um matador de moscas, daqueles que tem um cabo fino.

Matamoscas.

No dia em que apresentei a redação ela pediu que eu abrisse a mão e, vapt!, mandou uma sarrafada. De leve, claro, mas doeu. Não a sarrafada em si, mas o fato dela ter me censurado, ter rejeitado meu texto, enfim, foi uma decepção logo pisoteada pelo renascimento de minha admiração. Ela bateu e disse:
- Se você se render, nunca mais te darei aulas. Esse é seu estilo! Mantenha-se neste caminho. Estou batendo na sua mão para você não esquecer.

Eles me mostraram os deltas. Todos os deltas.

E não esqueci. Desde então (eu tinha 13 anos) nunca mais abandonei o acostamento do sucesso. Se já namorava a literatura beat, com o aval de dona Jacyra mergulhei de cabeça. Fui fundo nos textos que os caras da Tropicália produziam e sugeriam, lia Anais Nin, Henry Miller, Luiz Carlos Maciel, e aos 15 anos, sei lá porque, tornei-me cronista de jornais em Niterói onde sempre escrevi meio torto, meio fora da estrada, totalmente, digamos, maldito.

Por isso, me orgulho do programa Café Paris, fazemos, eu e o Luiz Augusto Erthal, mais a Cristina Lebre, Catherine Beranger e, em breve, seu Antonio Gomes da livraria Gutenberg. Apresentamos na TV O Flu (canal 12 da operadora SIM, Niterói e São Gonçalo) e para o mundo todo, a qualquer hora, em www.programacafeparis.com.br .

O Café Paris é o limite do acostamento e, talvez por isso, esteja atraindo uma massa enorme de pessoas antenadas, sacadoras, novidadeiras e muito sagazes. Que é o público mais interessante que existe, em minha boçal opinião.



Quanto ao resto da redação que entreguei a dona Jacyra, vou lembrar. Vou lembrar e reproduzir aqui no blog.



Mulheres na Literatura, segundo a artista plástica SONIA XAVIER

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Fui a inauguração de uma exposição de rara beleza. “Mulheres na Literatura”, de Sonia Xavier, na galeria da Aliança Francesa em Icaraí, Niterói, rua Lopes Trovão 52, segundo andar. De segunda a sexta das 8 e meia as 20 horas, sábados das 8 e meia ao meio dia, até o dia 12 de outubro.

Sonia superou todas as minhas expectativas ao transportar para telas magníficas a essência, a urgência, a beleza radical de todas as mulheres por ela “traduzidas”. Uma exposição de rara beleza que os leitores não devem deixar de visitar. Em nome das artes plásticas, da literatura, da essência existencial feminina.

O renomado e muito querido escritor e psicanalista Herculano Farias definiu a exposição com precisão e beleza no texto de apresentação:

“Criatura e criador, aqui, se confundem.

Há três olhares para se ver uma obra de arte. Um-senso comum-busca figura restrita ao seu repertório cotidiano. Outro, que interpreta, seguindo os rumos do seu imaginário.

Arte é o espaço em que Deus faltou, de propósito, reservado aos homens. 

Então, surge o artista, que inventa, reencanta o mundo comum-busca figura restrita ao seu repertório cotidiano. Outro, que interpreta, seguindo os rumos do seu imaginário. Este, abstrai e projeta veredas pescadas no próprio universo do inconsciente. Interpreta, seguindo os rumos do seu mundo pessoal. E o terceiro olhar, que denuncia, devaneia, entre o figurativo e o abstrato, em técnicas, materiais, formas, luzes, cores, somados e delírios surrealistas e transcendentais.

O trabalho de Sonia Xavier se aproxima inequivocamente, do terceiro olhar. Uma coisa, ela diria, é madame Bovary; outra a que busca representar em tela. Vale repetir aqui, neste caso, com Flaubert; “madame Bovary c`est moi”.
Mulheres na literatura é uma viagem de gratidão e homenagens a grandes autores e suas criações femininas.

Capitu, tendo vindo de Machado de Assis, ganha expressão plástica nas mãos da artista. Capitu (Machado + Sonia) não se trai no seu desejo de se fazer mistério.

Ana Carenina, do velho conde Tolstoi, de Iasnaia Poliana, é redescoberta por um pincel de inusitada montagem, numa ´assemblage `inesperada. Dama algo trágica, controversa. Apaixonada sempre, acabando por matar-se nos trilhos de um trem.

Clarice não é um retrato mas uma revisão transcendental de encontros com a artista.

Penélope e Circe saltam da Odisséia para visitar o mundo de agora, tendo ciência de que não passam de mitos.

No universo do humano, tudo são mitos.

Duília, do nobre Anibal Machado, é a iconoclastia do desejo, para não dizer de sua eterna e revigorada volta. Desejo adolescente revivido com atraso de 40 anos. É o tempo, o envelhecimento e o prazer.

Inês de Castro, uma porfia poético-camoniana.

Ismália, regresso a um passado puro sonho inatingível. Há uma torre invisível, uma loucura à vista, e a estibordo da existência, a fome de dias luas, como em Calígula, de Camus.

A vida é pura dança de mistérios. E vem Carmem, cheia de sedução, e não musical, como em Bizet, porém carnal e melancólica como em Prosper Merimée, seu legítimo criador.

Pagu, morada de amores, guerrilhas, fortemente criança e guerreira, perigosa e irretocável no simples desejo de apenas ser.

Tieta do Agreste é Jorge Amado, romancista de cordel (como se fosse) que se esqueceu de nos ofertar mais anos de sua própria vida...

Helena, a de Tróia, bela e amante, aventureira, capaz de destruir esquadras e deixar marcas na humana lida, para completar seu curso superior de “fadada a ficar na História”.

Mariana, a dos sonhos, é o devaneio, algo Machado e Victor Hugo (haja vista Os Trabalhadores do Mar) meio botão, entreaberta rosa, na plenitude de anseios e utopias erótico-existenciais. Lá estão inscritas flores, velhos pais, promessa de futuro amor ainda fora de seus sonhos sexuais – no alto, o efebo, fora da árvore mas próximo dela, como um aceno para o futuro encontro.

De que trata, por fim, a exposição Mulheres na Literatura, senão dos sonhos e dos devaneios da própria artista?

O que fazem os artistas além de divagar sobre a existência? Todo artista está colado na vida, desde sempre. Insere-se em tal ou qual contexto social, desde o homem das cavernas que fazia suas interferências no histórico da raça, inscrevendo-se nas rochas, como, na arte contemporânea, o criador se instala em praças públicas, nas areias de um deserto, nos eventos de arte pelos museus afora, gerando novos conceitos e folguedos plástico-filosóficos. 

Cola-se na vida, e propõe, a cada gesto, instalações, criações, novas nuances de possibilidades de existir, denunciar ou, serenamente, homenagear figuras e mitos para sempre exemplares.

Mulheres na Literatura é mais um gesto que busca esculpir no espaço, jovens e antigas expressões do ser.

Está claro que, na história da pintura, todos os artistas se encontram Visconti com Cimabue, Van Gogh com Delacroix, Matisse com Manet, Monet com Klint, todos se encontram na expansão dos seus desejos e fantasias pessoais. Uns melhores que outros? Que seja. Há o encontro. Isto é que se constitui na essência do existencial.

A exposição é um diário íntimo de sonhos, fantasias e revelações. Sonia Xavier, percorrendo mulheres na literatura, personagens ou escritoras, projeta, com sua arte, a estrutura lírica do seu mundo interno.

Aos pés da árvore (da vida) em plena solidão criativa, a mulher sonha.”



O “confusionismo” gerado pelos e-mails

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Desenho de Paul McCartney rascunhando a capa do LP "Abbey Road".

Texto restaurado e remixado

Um amigo tem horror as chamadas novas tecnologias. Ele é um sujeito de opiniões fortes e sempre muito bem humoradas. Como exemplo desse seu horror ao que chama “dessas maquininhas” está um fato curioso. Ano passado ele participava de uma reunião, mesa grande, várias pessoas e percebeu que duas delas não paravam de mexer em seus celulares. A reunião acabou e ele, curioso, perguntou o que as duas estavam fazendo. “Estavam trocando mensagens pelos celulares”, conta ele entre fulo da vida e achando graça. “Por que não esperaram a reunião acabar e foram bater um papo?”, pergunta.

Tenho uma relação íntima com a Comunicação das novas tecnologias desde o início dos anos 90. Com prazer mantenho este blog, escrevo para alguns lugares, lancei um livro eletrônico, vulgo e-book (MANUAL DE SOBREVIVÊNCIA NA SELVA DO JORNALISMO – www.nitpress.com.br), mas sou extremamente cauteloso quando o assunto é enviar e-mail.

A maioria das pessoas que troca e-mails comigo é desconhecida. Serei franco: 90% não sabem escrever direito e, por isso, geram uma série de confusões, ruídos na Comunicação e, muitas vezes, o que era para ser simples acaba numa grande babel regida pelo mal entendido. Se a nova Comunicação, em vez de e-mail, adotasse a pintura ou o desenho, eu estava ferrado. Não sei desenhar a mais tosca das árvores. Continuaria utilizando o telefone, telegrama, carta no correio, mas pintura e desenho jamais.

Só que muita gente, mesmo sem saber escrever (deixo claro que ninguém é obrigado a nada) dispara e-mails que chegam as raias do surrealismo. Coisas do tipo “aquilo que você disse não é bem assim. Fui verificar e vi que não é”. Como? Para começar não disse nada disso no e-mail que enviei e se o missivista eletrônico foi verificar e viu que não é bem assim, errou pois não há mensagens minhas para ele tratando deste assunto, por sinal extremamente abstrato.

Se eu não soubesse escrever, o máximo que teclaria num e-mail seria, por exemplo, “preciso falar com você” ou então, como disse ali em cima, partiria para o telegrama e telefone. Ainda mais agora que as operadoras de celulares estão se comendo no escuro e, tudo indica, essa caríssima modalidade de Comunicação tende a ficar menos extorsiva.


Não solto cafifa (pipa) perto das redes elétricas. Nunca enviei um desenho para qualquer pessoa como forma de Comunicação. Aliás, francamente, desisti de desenhar aos 15, 16 anos, quando percebi que não dou para isso. Quanto a quem manda e-mails sem saber escrever, sugiro que...sugerir o que? Que situação constrangedora. Tá bom, sugiro que não envie para mim porque detesto charadas.

Paulistanos reclamam do canto do sabiá. Pois viva o sabiá!

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A Folha de S. Paulo publicou uma reportagem de Roberto de Oliveira, no último dia 16 que, até hoje, está no centro de uma forte polêmica. Intitulada “Cantoria de sabiá-laranjeira na madrugada divide ouvidos paulistanos”, a matéria registra várias reclamações de paulistanos contra o canto do pássaro nessa época do ano.

Diz a matéria:

“Por volta das três da matina começa a sinfonia. O cantante é o sabiá-laranjeira, ave-símbolo do Brasil e do Estado de São Paulo, que vive no campo e na cidade.
Por causa do insistente gorjeio, "posts" vêm pipocando nas redes sociais, reivindicando o silêncio dos passarinhos em prol do sono.

O diretor de arte Gilberto Leite, 38, postou: "Ele canta três acordes e fica o dia inteiro martelando isso. É insuportável!". À reportagem, disse ele: "Vou ser linchado pelos protetores dos pássaros, mas que é insuportável, isso é".

A reportagem segue registrando reclamações e elogios ao canto do sabiá-laranjeira, a meu ver (ou ouvir) de um lirismo especial que me transporta para a infância, lá em Angra dos Reis, quando eu ficava sob um ingazeiro contemplando sabiás, coleiros e canários da terra cantando sem parar.

A Folha informa que, a cinco metros de distância, o canto do sabiá 75 decibéis, contra 80 do ruído do trânsito e 90 da buzina de um carro.
Aqui onde moro, ouço ao longe o canto dos sabiás. São pelo menos três que sobrevivem a fumaça, a especulação imobiliária, trânsito infernal, enfim, ao ser humano. Quando ouço, agradeço porque o canto que simboliza o Brasil mostra que ainda há natureza resistindo ao massacre que transforma cidades em aldeias de cimento, sem rosto, sem alma, sem caráter.

Também por isso, viva os sabiás! Viva!

A reportagem da Folha está em 

http://www1.folha.uol.com.br/cotidiano/2013/09/1342434-cantoria-de-sabia-laranjeira-na-madrugada-divide-ouvidos-paulistanos.shtml

O carioca segundo um paulistano

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Recebi esse texto de uma amiga. Gostei.

"Faz um ano. Desembarquei com esposa, cachorro e umas malas. A mudança veio no dia seguinte. Levei 33 anos imaginando “como seria”, e agora tenho uma pra contar “como foi”.

O Rio de Janeiro é a minha Paris. Eu não sonho com a tal de torre, nem me importo com o Louvre e nem acho do cacete tomar café naquela tal de Champs-Élysées. Eu acho charmoso ir a praia de Copacabana, tomar cerveja de chinelo no Leblon e ir a um samba numa grande escola.

Sou paulistano, nunca tive rivalidade bairrista em casa. Nunca me ensinaram a odiar o estado vizinho, ao contrário, sempre me foi dada a ideia de que estando no Brasil, estou em casa. Ouvi mil mentiras e outras mil verdades sobre o Rio enquanto morei em São Paulo. Todas justas no final das contas.

Carioca exagera tudo, pra baixo e pra cima. Se elogiar a praia, ele exalta dizendo que é “a melhor praia do mundo”. Se falar que é perigoso, ele não nega. Diz que é “perigoso pra cara...

Trata sua cidade como filha. Só ele pode falar mal. Cariocas não marcam encontro, simplesmente se encontram. A confirmação de um convite aqui não quer dizer nada. Você sugere “vamos?”, eles dizem “vamo nessa!”. O que não implica em ter aceitado a sugestão.

Hora marcada no Rio é “por volta de”. Domingo é domingo. E relaxa, irmão. Pra que a pressa? Em cinco minutos são amigos de infância, no segundo encontro te abraçam e já te colocam apelidos.

Não te levam pra casa. Te convidam pra rua. É curioso. Mas é que a “rua” aqui é tão linda que se trancar em casa é desperdício. Cariocas andam de chinelo e não se julgam por isso. São livres, desprovidos de qualquer senso de sofisticação. Ao contrário, parecem se sentir mal num ambiente formal. 

Cariocas são pouco competitivos. Eu acho isso maravilhoso, afinal, venho da terra mais competitiva do país. E confesso: competir o tempo todo cansa.
Acho graça quando eles defendem o clube rival pelo mero orgulho de
dizer que “o futebol do Rio” vai bem. Eles nem notam, mas as vezes se protegem. Eles amam essa porra. É impressionante.

Carioca é o povo mais brasileiro que há, mas que é tão orgulhoso do que é que nem parece brasileiro. Tem um sorriso gostoso, um ar arrogante de quem “se garante”. Papudos, malandros, invocados. Faaaaalam ... E sabem que estão exagerando.

Eles acham que sabem o que é frio. Imagine, fazem fondue com 20 graus! A Barra é longe. Buzios, logo ali! Niterói é um pedaço do Rio que eles não contam pra turista. Só eles aproveitam. Nilópolis é longe. Bangu também. Madureira é um bairro gostoso. O Leblon, vale os 22 mil por metro quadrado sugeridos pelos corretores. Aliás, corretores no Rio são bem irritantes.

Carioca, num geral, acha que está te fazendo um favor mesmo se estiver trabalhando. É tudo absolutamente pessoal, informal.  Se ele gostar de você, te atende bem. Se não, não. Tá com pressa? Vai se irritar. Eles não tem pressa pra nada. Sabe aquela garota gostosa que sabe que é gostosa? Cariocas sabem onde moram.

O bairrismo deles é único. Nem separatista, nem coitadinho. Apenas orgulhoso. Ao invés de odiar um estado vizinho, o sacaneiam e se matam de rir de quem se ofende.

Cariocas tem vocação pra ser feliz.

São tradicionais, não gostam que o mundo evolua. Um novo prédio no lugar daquele casarão antigo não é visto como progresso, mas sim com saudade.São folgados. Juram ser o povo mais sortudo do mundo. E quem vai dizer que não?

No Rio você vira até mais religioso. Aquele Cristo te olha todo santo dia, de braços abertos. Não dá! Você começa a gostar do cara…  E aí vem a sexta-feira e o dom de mudar o ambiente sem mexer em nada. O Rio que trabalha vira uma cidade de férias. As roupas somem, aparecem os sorrisos a toa, o sol, o futebol, o samba, o Rio. 

Já ouvi um cara me dizer um dia que o “Rio é uma mentira bem contada pela mídia”. Ele era paulista, odiava o Rio, jamais tinha vindo até aqui. E é um cara esperto. Se você não gosta do Rio de Janeiro, fique longe dele. É a única maneira de manter sua opinião.

Em quase toda grande cidade que vou noto uma força extrema para fazer o turista se sentir em casa. Um italiano em São Paulo está na
Itália dependendo de onde for. Um japonês, idem. Um argentino vai a restaurantes e ambientes argentinos em qualquer grande cidade. No Rio de Janeiro ninguém te dá o que você já tem. Aqui, ou você vira “carioca”, ou vai perder muito tempo procurando um pedaço da sua terra por aqui.

Não é verdade que são preconceituosos. É preciso entender que o carioca não se diz carioca por nascer aqui. Carioca é um perfil.  Renato, o gaúcho, é um dos caras mais cariocas do mundo. Tem todo um ritual, um jeitinho de se aproximar.

Chame o garçom pelo nome, os colegas de “irmão”. Sorria, abrace quando encontrar. Aceite o convite, mesmo que você não vá. Faça planos para amanhã, esqueça-os 10 minutos depois. Faça amigos,o máximo de amigos que conseguir.

Quanto mais amigos, mais cerveja, mais risadas, mais churrascos, mais carioca você fica. E quanto mais carioca você é, mais você ama o Rio. Como eles.

Gosto deles. Gosto de olhar pra frente e não ver onde acaba. Gosto de sol, de abraço, de rir muito alto e de não me achar um m...por estar sem grana.
Gosto de como eles se viram. Gosto da simplicidade e da informalidade que os aproxima do amadorismo.  A vida não tem que ser profissional. Tem que ser gostosa.

E de gostosa, convenhamos, o Rio tá cheio. Ops! Desculpa, amor! Escapou. 
Abs, merrrrmão!"

Medo de polícia. Ou será políssia?

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Texto restaurado e reeditado

Professores covardemente espancados, um ajudante de pedreiro torturado e morto, um meliante no telhado da Câmara Municipal do Rio, sem camisa, jogando pedregulhos sobre manifestantes no Centro do Rio. O que esses fatos tem em comum? São atos de bandidagem praticados por policiais, elementos pagos para, em tese, nos proteger.

Não vou por na conta da ditadura porque, felizmente, nunca fui preso nem torturado, mas confesso que tenho medo de polícia. Não gosto de ver um carro da PM porque sei que, à bordo, estão, em geral, dois primatas fardados mal treinados, inexperientes, psicologicamente imaturos e com o dedo no gatilho de armas de grosso calibre, ou com as armas que cospem balas de borracha e sprays que estão longe de ser “não letais”, como afirmam os governantes.

Toda semana morre alguém por “fatalidades” provocadas por maus policiais. 

Estranho, mas em vez de causar segurança, tranquilidade, um carro da polícia me deixa ansioso, inseguro, com a sensação de que vou tomar bala a qualquer momento por...por...por nada. Por isso, sempre ando com todos os documentos, IPVA do carro pago, vistoria feita, identidade, CPF, enfim, apesar de nunca ter sido preso (nem por desacato) a presença da polícia me provoca um profundo mal estar.

Lido com policiais da mesma forma que me relaciono com cachorros que não conheço. Gesticulo lentamente e procuro falar pausadamente e com a voz baixa. Movimentos bruscos podem custar a vida.

Quando eles me pedem documentos faço tudo em câmera lenta. O momento mais crítico é quando vou soltar o cinto de segurança do banco. Sempre aviso, “vou por a mão aqui para soltar o cinto”. Ainda assim, a presença daquela pistola ou fuzil a meio metro de minha cabeça, nas mãos de um policial visivelmente nervoso e despreparado, quase me leva ao desatino.

Um dia desses, numa roda de amigos, percebi que não sou o único a ter medo de polícia. A maioria confessou o receio e a ansiedade que um carro da polícia provoca nos inocentes. Nos culpados, sinceramente não sei. Mas está aí a realidade mostrando que estamos lidando com homo sapiens sociais, boçais fardados, que respondem a qualquer suposta provocação com tiros.




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