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Channel: Coluna do LAM
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Paul McCartney: “Lançamos Sgt. Pepper´s na sexta e domingo Jimi Hendrix tocou o tema no Saville Theatre em Londres; os Beatles chegaram a um ponto em que implodiram - todos tinham dinheiro e fama e, de vez em quando, era inevitável que nos irritássemos uns com os outros.”

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Tempos estranhos os de hoje, levemente boçais. Estou certo de que se escrevesse sua obra hoje, Anais Nin (1903-1977) seria linchada pelo moralismo reinante neste século 21, açoitado e submetido a praga do PC, Politicamente Correto. Por exemplo, Barão e Mathilde, personagens de seu clássico “Delta de Venus” coletânea de contos eróticos escritos em 1940 mas só publicada em 1978, seriam esquartejados, fatiados e os pedaços pendurados por aí. Por que? Anais era corajosa, sensual e livre e deixou seus personagens fazerem o que quisessem. Como acho que nesses tempos do famigerado PC, o álbum Sgt. Peppers Lonely Heartys Club Band não teria existido. Incorreto demais. Fora dos padrões, da caretice, muito mundano.
A conversa franca de Paul McCartney com Anthony Decurtis, da Rolling Stone americana, quatro anos atrás, toca em temas que ele pouco ou nunca comentou em profundidade como o fim do grupo, a amizade retomada com Lennon, a saudade de Harrison. Leia:
Como foi o "verão do Amor" (1967) para você?
Legal pra caramba. Tínhamos acabado de decidir que suspenderíamos as turnês porque já não estava mais valendo muito a pena. Parecia que não estávamos progredindo, o público continuava berrando, mas a gente se encheu daquilo. Tínhamos a ideia de fazer um disco que sairia em turnê por nós.
Isso veio de uma história que tínhamos lido a respeito do Cadillac de ouro do Elvis fazendo turnê. Achamos que era uma ideia maravilhosa: ele não sai em turnê, só manda o Cadillac. Fantástico! Então, pensamos: "Vamos despachar um disco". Passamos mais tempo em estúdio e o resultado foi Sgt. Pepper's Lonely Hearts Club Band (1967). Então, foi maravilhoso. Estávamos amadurecendo? Não sei.
Olhando em retrospecto agora, éramos praticamente crianças, apesar de nos sentirmos muito adultos. Tanta coisa tinha acontecido com tanta rapidez desde a viagem dos Beatles para os Estados Unidos em 1964. Em essência, aqueles três anos foram a diferença entre "I Want to Hold Your Hand" e "Sgt. Pepper's." Os tempos estavam mudando, como senhor Dylan disse. Só estávamos seguindo nossos instintos, mas havia um grande arroubo de energia, as ideias vinham rápidas e consistentes.
Todos os tipos de ideias novas - artísticas, políticas, musicais. Começamos a escrever coisas que eram diferentes porque nossas conversas, nossos pensamentos e nossos sentimentos eram diferentes. Estávamos passando muito mais tempo longe da estrada, com outros artistas, e isso nos permitiu investigar outras coisas.
Tínhamos muitos amigos no mundo da música e no mundo da arte, e havia uma grande fertilização cruzada. Foi uma época ótima para experimentar coisas e tudo isso penetrou na nossa música e no nosso estilo de vida.
Eu me lembro do impacto de Sgt. Pepper's como algo instantâneo e onipresente, tocando em toda casa noturna, toda loja de roupa, toda loja de discos.
Você fazia ideia de que teria esse tipo de efeito?
Foi ótimo, para falar a verdade. Como tínhamos parado de excursionar, a mídia começava a sentir que as coisas estavam calmas demais, o que criou um vácuo, de modo que puderam falar mal de nós. Diziam: "Ah, a fonte secou". Mas nós sabíamos que não tinha secado. Sabíamos o que estávamos fazendo e sabíamos que nossa fonte estava longe de secar.
Na verdade, o oposto estava acontecendo - vivíamos uma enorme explosão de forças criativas. Nós pressentimos isso. Realmente não comentamos o assunto com muita gente. Tocávamos uma demo aqui, outra ali [para os amigos] e tal, mas o mundo de maneira geral não sabia de nada.
O que alguns críticos comentavam era "ah, eles estão acabados". Enquanto isso, estávamos lá trabalhando com alegria, como os Sete Anões - "Trabalho, trabalho, trabalho, trabalho, trabalho, trabalho, trabalho!" [risos]. Estávamos nos divertindo muito, obviamente, montando essa coisa.
Daí, quando saiu, foi fantástico. Naquela época, costumávamos lançar [álbuns] na sexta-feira, e aquele fim de semana foi uma coisa. Eu me lembro de ter recebido telegramas que diziam coisas como "vida longa a Sgt. Pepper's!". Esse era o sentimento geral, e era maravilhoso.
Naquele domingo Jimi Hendrix tocaria no Saville Theatre no West End de Londres, e ele abriu o show com o tema de Sgt. Pepper's. Cara, o disco estava mesmo em todo lugar! E é claro que nós só ficamos surfando naquela onda artística. Foi bem bacana exercer tanta influência assim.
Como eu disse, era verão, e o sol brilhava e lá estávamos todos nós, no maior astral [risos]! Eu me sinto muito privilegiado por ter vivido aquilo, em primeiro lugar e, em segundo, por ter sido o epicentro dos acontecimentos.
Deve ter sido uma sensação muito estranha - passar por mudanças enormes e, simultaneamente, gerar mudanças similares para milhões de outras pessoas.
Foi sobrenatural. Nós tínhamos nos acostumado com uma parte disso simplesmente por sermos os Beatles. Até "I Want to Hold Your Hand" tinha deixado as pessoas loucas. Mas em 67 a coisa passava para outro nível. Estávamos entrando no coração e na mente de todos.
Parecia muito que Sgt. Pepper's fazia parte do sentimento daquela época em que, de algum modo, tudo iria se transformar, que nada jamais voltaria a ser como antes.
É engraçado, conheço muita gente que, depois dos anos 60, teve uma sensação de decepção que nunca passou. Eu pessoalmente achava que, ao passo que tudo estava mudando, não necessariamente significava que tudo mudaria. Nós tínhamos longas discussões a respeito de como um dia as pessoas da nossa geração se tornariam primeiros-ministros e seria bem sobrenatural [para eles] o fato de terem sido afetados por esse período.
Mas, ao mesmo tempo, éramos realistas, e pensávamos "é, mas vão continuar sendo políticos". Dava para saber que tudo que estava acontecendo no mundo mudaria a ordem das coisas em alguns aspectos, mas não em todos. E isso está provado pelos nossos líderes atuais. Eles continuam presos aos anos 40 ou algo assim.


Houve algum acontecimento específico que fez com que você achasse que os anos 60 não cumpririam suas promessas?
Suponho que preciso considerar o rompimento dos Beatles como o momento mais sombrio. Os Beatles chegaram a um ponto em que implodiram - todos tinham dinheiro e fama e, de vez em quando, era inevitável que nos irritássemos uns com os outros.
Eu tinha conduzido a dança um pouco em Sgt. Pepper's. Para mim, o título e a ideia toda foi inspirada pela época e pela fertilização cruzada com os outros artistas. Queria que fosse algo do tipo "uau, cada um de nós tem sua lista de heróis [na capa] e vamos assumir estes alter egos. Seremos pessoas novas fazendo este disco, e podemos mais ou menos viver nestes corpos novos e fazer um álbum como se fôssemos outra banda". Aquilo foi libertador.
Mas, depois disso, não dava para sentir que era possível seguir em frente como aquela outra banda. Você inevitavelmente voltava à terra, fazia parte dos Beatles.
E foi aí que os problemas começaram...
Foi quando começamos a discutir assuntos comerciais, principalmente com o advento de Allen Klein - ou "um certo empresário norte-americano", ou seja lá como somos obrigados a nos referir a ele. Deixemos para o departamento jurídico resolver. As conversas passaram a ser assim: "Ah, que merda, vamos ter mesmo que pensar sobre isso agora ou perderemos tudo?". E isso causou um racha tremendo.
Você acabou processando os outros Beatles.
Foi o pior momento da minha vida, quando me informaram que não poderia me opor a esse tal de Klein, esse "suposto empresário norte-americano". Como ele não era uma das partes de nenhum dos nossos acordos, precisei brigar contra os outros três caras. Foi uma situação com a qual me debati durante meses. Ou era "não, não brigue com esses caras e perca tudo para todo o sempre" ou "brigue com esses caras e salve tudo". Foi um dilema. No final, pensei "acho que eles não sabem o que estão fazendo, estão cometendo um erro pavoroso". Então eu, de fato, briguei no Tribunal Superior e venci, por sorte.
Isso criou um estigma terrível para mim, como sabia que criaria - não tinha entrado naquilo de bobo. Sabia qual seria o preço. Mas achei que, no fim, as pessoas descobririam que tinha razão. E foi gratificante quando todos os caras, no final, piscaram para mim e disseram: "Foi bom você ter feito aquilo". Até Yoko [Ono] reconheceu isso. Mas foi uma coisa horrorosa de se viver. Foi quando o sonho se desfez para mim.
Houve um ponto em que você sentiu que, apesar da dissolução da banda, seria capaz de seguir em frente e continuar a se divertir?
Fazer o álbum McCartney (1970) foi bom para mim nesse aspecto, porque realmente retornei às raízes. Eu me senti bem, e isso é bom. Até hoje, as pessoas reparam naquele álbum. Com freqüência acontece com os artistas e os músicos - eu ia dizer especialmente, mas acho que está mais para igualmente - de o trabalho ser aquilo que faz você se compreender.
A música é especialmente boa para isso, é uma boa terapia. Estava passando pela coisa terrível de perder a amizade daqueles meus camaradas da vida toda, e para quê? Bom, a mim parecia que o motivo era tentar salvar a vida deles. Aliás, não existiria uma [gravadora] Apple para estar em litígio com a Apple de Steve Jobs - e não existe mesmo, falando nisso, já foi tudo resolvido -, mas não existiria uma Apple Records hoje. Tudo teria desaparecido; a coisa toda simplesmente não existiria.
Não haveria nenhum show em Las Vegas, não haveria nenhuma destas coisas que agora estão aí tão gloriosas se não tivesse tomado aquela atitude. Mas foi uma decisão dura de verdade. Foi uma daquelas coisas que exigem terapia depois, e para mim, voltar à música foi essa terapia. E, é claro, com a enorme ajuda de Linda. Ela foi uma das grandes responsáveis por me fazer voltar à vida e seguir em frente. Ela era um bastão de força naquele momento. Isso e produzir música fizeram com que atravessasse aquele período.
Você, George e Ringo puderam desfrutar os ressurgimentos dos Beatles. John, é claro, morreu antes de boa parte disso acontecer e George também se foi.
Esta é a pior parte de ficar adulto. Você perde amigos, é inevitável. Não é exatamente uma surpresa, mas é terrível. É muito triste. Conhecia John intimamente há tanto tempo. Sempre me admiro com o fato de eu ter sido o cara que se sentava com John para escrever todas aquelas coisas. Éramos só ele e eu em uma sala e isso era bem especial. Então, perdê-lo foi horrível.
E foi especialmente triste porque tínhamos superado a desavença dos Beatles. Apesar de ele estar morando em Nova York, nós conversávamos com bastante regularidade. Simplesmente conversávamos sobre coisas cotidianas - sobre o filho dele, Sean, e sobre a vida em geral, sobre os pães que ele assava. Trocávamos receitas de pão, era ótimo. Então, simplesmente foi uma tragédia horrível ele ter sido arrancado daquele jeito.
No caso de George, foi igualmente trágico. Eram meninos tão lindos, sabe? [Ele faz uma pausa, e sua voz treme] George era simplesmente um sujeito ótimo. Ele era um garotinho que eu conheci em Speke, Liverpool, só um garotinho que entrou no meu ônibus. Eu subi no ponto anterior ao dele, ele entrou e nós começamos a conversar sobre guitarras e rock'n'roll. Depois, quando estávamos procurando um guitarrista, e eu mencionei o nome dele a John, George se juntou ao grupo. E daí passou a ser apenas o sábio George. Ele era um sujeito lindo que não aguentava gente burra. Era uma alma muito linda. Nem me deixe começar, cara. É um horror ter perdido aqueles caras. Mas ser adulto é uma verdade terrível.
Você tem ideia do que continua a tocar as pessoas com os Beatles depois de todos esses anos?
Acho que, basicamente, é a magia. Os Beatles eram mágicos. Para mim, a vida é um campo de energia, um punhado de moléculas. E essas moléculas específicas se formaram para que aqueles quatro caras virassem os Beatles e fizessem todo aquele trabalho. Preciso pensar que foi algo metafísico. Uma coisa que deve ser considerada mágica. Estou sendo muito extravagante?
Se você quiser ser prático, acho que as músicas eram muito bem estruturadas. Quando as canto atualmente em shows, penso "isso aí é bom, é sim. Que verso bom. Ah, entendi!". É uma redescoberta. Você simplesmente lembra "ah, foi por isso que fiz assim". Então, elas também têm uma força física, é trabalho bem-feito.
Você teve papel importantíssimo depois dos ataques de 11 de setembro, organizando o Concerto para a Cidade de Nova York e ajudando a reconstruir a confiança da cidade. Mas muita coisa aconteceu para complicar nossa noção do que houve naquele dia. Quando você pensa em 11 de setembro hoje, o que lhe vem à mente?
Bom, tenho minhas lembranças pessoais de estar no [aeroporto de Nova York] JFK e de ver a fumaça das torres gêmeas. O aeroporto fechou, nosso voo foi cancelado, fomos para Long Island, ouvimos o noticiário e assistimos a TV. E depois pensei em fazer meu próprio concerto, mas tudo culminou no Concerto para Nova York, que foi ótimo, porque muita gente queria fazer alguma coisa.
Foi ótimo fazer parte daquilo - ajudar os norte-americanos em particular, mas o mundo de maneira geral, a colocar seus sentimentos em algum lugar. A oportunidade perdida foi que as pessoas ficaram com um enorme sentimento de solidariedade em relação ao povo americano, e as ações políticas que se seguiram a 11 de setembro desperdiçaram a oportunidade. Foi como se alguém no playground tivesse apanhado, mas não sabia quem tinha batido, e por isso resolveu descontar na pessoa mais próxima - e isso se transformou no Iraque. A agenda política é a culpada.
Olhando para a frente, quais são as principais questões que se colocam agora?
Fazer algum avanço em direção à paz mundial. Seria ótimo se as pessoas com diferenças no mundo hoje percebessem que não existem diferenças - é um campo de energia. Precisamos da mesma velha coisa de sempre: paz e amor. Não sendo frívolo, mas esse continua sendo o grande objetivo. Bom, e vocês aí precisam de um novo líder [risos]! Quer dizer, isso ajudaria.
Nem brinque...
O ambiente é uma realidade. Algumas pessoas me dizem "há tantas causas, não sei quais apoiar". Minas terrestres, os maus-tratos com animais, só para mencionar duas pelas quais me interesso. É como se considerassem este o problema: "Qual causa apoiar?". Eu respondo: "Não entre em pânico, apenas escolha uma que o agrade e vá em frente. Todas estão conectadas". Mas eu sou otimista, tem muita gente bacana por aí. No momento, temos montículos de terra. E tudo bem. Isso é bom. Mas precisamos que se transformem em uma montanha. Tem muita gente inteligente por aí, mas, infelizmente, também tem um monte de imbecis. Mas o meu otimismo me leva a torcer para que os inteligentes construam a montanha.
E qual você gostaria que fosse seu legado pessoal?
Sempre que me perguntavam como eu gostaria de ser lembrado, respondia "com um sorriso". Mas gostaria que as pessoas entendessem o que eu fiz e pensassem que há uma enorme força naquilo. Gostaria que as pessoas pensassem que uma parte daquilo chega a ser demoníaco de tão forte. Isso me bastaria.




Chega de sustentar a indústria do carnaval com dinheiro público ;quem deveria pagar são as cervejarias e a bilionária indústria do turismo

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Alguns governos, Brasil afora, estão cancelando a dinheirama do carnaval dizendo que vão desviar para a saúde. Sei lá, o quadro político anda tão sinistro que não dá para acreditar. Me cheira a marketing, propaganda, oportunismo, mas até que seria uma boa.

Não sei quanto o Rio de Janeiro gasta com o carnaval com dinheiro público, mas com certeza é uma baba. Por que? Para que? Em nome de quem? Trilhardárias escolas de samba, blocos, bailes, mais esquemas de segurança, trânsito, urgências médicas, energia elétrica, tudo isso chupa uma grana preta, que nós pagamos.

O carnaval do Rio movimenta absurdamente o turismo, mas isso não justifica que o Estado tenha que bancar. Quem deveria (e deve) pagar, investir, é a indústria do turismo e setores periféricos como fábrica de cervejas (que lucram milhões), empresas aéreas, hotéis, agências, empresas aéreas, etc etc etc. Eles são os principais interessados porque na quarta-feira de cinzas embolsam caminhões de dólares.

Se a cervejaria X tem grana para bancar camarote no Sambódromo, com cachês de celebridades incluídos, pode perfeitamente pagar uma boa parte. Bem comparando, o governo da Califórnia não dá um centavo para a indústria do cinema e muito menos o de Nevada bota grana nos cassinos de Las Vegas.

Os blocos de rua também dão uma dentada no bolo de dinheiro público e até em desfile de fantasias, concursos de marchinhas e bailes privados há quem mame nas tetas do Estado já que o carnaval, há tempos, virou mesmo um bordel de dinheiro. Está na hora de fechar a torneira. Os “carnavalescos” que se virem para bancar a sua maravilhosa vagabundagem.

Chega!



Negócios (ou roubadas) da China

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Ontem, tarde da noite, vi um carro chinês praticamente zero quilômetro espatifado numa árvore. O motorista estava levemente ferido e era atendido por médicos dos Bombeiros. O que aconteceu? Sem mais nem menos a suspensão dianteira do veículo, um sedã, cedeu e logicamente o carro desembestou. Exemplo clássico da qualidade das coisas que a China está parindo, com a cumplicidade total do ocidente que abre lá suas fábricas aproveitando o humilhante custo da mão de obra.
A História conta que dos séculos 16 a 18 um navio ia da Índia para a China em um ano e meio (ida e volta). Como era uma viagem muito perigosa, se num grupo de três naus duas afundassem, ainda assim o negócio dava lucro. Mas, os portugueses da Índia descobriram que podiam fazer viagens muito mais curtas e com lucros muitíssimo maiores. Daí a expressão “Negócios da China”.
Atualmente afirmo com muita tranquilidade que qualquer negócio da China, ou com a China, é a maior roubada para qualquer pessoa ou país em qualquer ponto do planeta. A China pratica um regime escravocrata de trabalho, utilizando mão de obra e materialtotalmente desqualificados, tecnologia pirateada e retrógrada, enfim, é um esgoto a céu aberto de aberrações éticas.
O problema é que, sempre pensando em se dar bem, muitos brasileiros compram produtos chineses que, por serem extremamente vagabundos, custam muito menos. Eu mesmo já fui vítima dessa lambança. Fui comprar num site de São Paulo um relógio baratíssimo que só chegou mais de dois meses depois. Pior: no site não tem “fale conosco”, nem telefone, nem e-mail. Foi quando descobri, através de leitores no Facebook, que a tal empresa é chinesa.
Como vivemos sob um regime nas coxas desde o Sr. Luis Ignacio Lula da Silva, qualquer um entra no Brasil e faz o que bem entende. A China tomou conta e está ajudando a provocar a quebradeira de nosso parque industrial, já anêmico desgraças ao desgoverno petista. O governo nada faz porque, porque, porque… (preencha você mesmo). Essa é uma das caixas pretas dos regimes populistas.
Você compra produtos chineses? Não falo de artigos que são fabricados na China e nem sabemos disso, mas daqueles que trazem atrás, ou embaixo, o famigerado Made in China. Antro da escravidão, aquela terra de gente que padece consegue colocar aqui dentro produtos até 87% mais baratos porque sua mão de obra é treinada pela chibata, movida pela tortura e a tecnologia utilizada por 100% das empresas é deliberadamente pirata.
Claro que se eu soubesse que a tal empresa onde comprei meu relógio era chinesa não faria o negócio. Por que? Porque comprar da China é contribuir para o escárnio, para a lambança, para tudo o que existe de pior nas relações humanas.
Humana?





Saudade, ou, por que para alguns o ontem sempre parece melhor do que o hoje?

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Foi reinaugurada no Rio a Rádio Antena 1, mais uma emissora que dá prioridade ao passado. Com elas são três FMs burramente disputando o mesmo público, canibalizando o mofo da saudade que não tem idade.As outras infestam a nação de breganejo, pagode de quinta, molambada em geral ou fundamentalismo religioso. Incrível. Rádio é uma concessão do governo, em última análise pertence ao Estado, logo a todos nós. Pois os concessionários cospem na lei na maior cara de pau e alugam para terceiros, muitos vampiros da fé. Quem aluga uma FM em grandes cidades (Rio, SP, BH), embolsa uns 300 mi por mês sem despesa nenhuma. E o governo finge que não vê.
Muita gente botamúsicas dos anos 60, 70 e 80 no Facebook, onde os frequentadores de uma página dedicada a lendária Radio Jornal do Brasil AM, minha escola de jornalismo, também lembram de momentos que nos foram tão belos, lúdicos, sensacionais na programação musical da emissora.
Já pus muitos clássicos dos anos 70 no Facebook. Bandas alemães de 70, 71, 72, Deep Purple lançando Machine Head, Jards Macalé cantando “Farrapo Humano” e por aí fui. Por que? Não sei. Deu vontade.
Na verdade, quando posto canções antigas (não serei hipócrita) busco o sossego. Que sossego? O sossego comum, vizinho da calma, da tranquilidade, aquela que aparentemente enxergamos naqueles pescadores empunhando caniços nos litorais do mundo. O passado é um ótimo lugar para acharmos o sossego porque, em várias situações, ele surge. É falso, é fake, é virtual, é alienante, mas surge.E a música tem o poder de nos transportar através do tempo.
Lembro que numa noiteque postei anos 70 no Facebook, me emocionei com a maciez cerebraldo grupo Neu, depois um pouco de Mike Oldfield e, é claro, o Tangerine Dream, mesmo hoje, mais de40 anos depois nos leva a lugares sossegados.
Não sei quem inventou o jargão “recordar é viver”, “saudade não tem idade” e outros. O fato é que a maioria (?) das pessoas relembra, revê, relê, como se o presente não estivesse robusto o suficiente para atender as suas demandas pessoais.
As pessoas que falam de Beatles, TV Tupi, Rádio Fluminense FM Maldita,Lambretta, trampolim da praia de Icaraí, Torrão de Açucar em Búzios, por exemplo, são chamadas de saudosistas. Mas e a maioria que sente/pensa o mesmo e não confessa?
Por que o passado ganha do presente? Por que o presente perde para o futuro? O que há de errado com o aqui e agora? Não sou filósofo, nem psicólogo social, mas os livros dizem que sempre foi assim. Tem um verso do Caetano que quando ouvi a primeira vez achei que era uma resposta, mas depois, ouvindo seguidas vezes, percebi se tratar de uma gigantesca pergunta:”Existirmos/a que será que se destina?”.
Especulo que o presente nos força a existir. Sim. Soltar amarras, voar, partir para a urgência, executar. O texto que escrevo agora é este, não há outro. Mais: pensamos uma coisa de cada vez. Mais: temos o direito de sentir saudade, sim. De pessoas, tempos, coisas, cidades, mas, recomendam os mais experientes, não devemos voltar lá. Decepção.
Passei minha infância feliz da vida numa vila militar em Angra dos Reis, onde meu pai serviu como oficial de Marinha. Voltei lá nos anos 90. A vila está a mesma coisa e, confesso aqui muito particularmente que até chorei de emoção, mas Angra? Angra está o maior favelão, não tem mais o trem onde brincávamos, a praia do Anil está cheia de urubus e a recepcionista da cidade não é mais uma sabiá-laranjeira e sim uma usina nuclear.
Não devemos voltar onde fomos felizes, vide “Cinema Paradiso”. Olugar do bom passado é num dos armários de nossa memória afetiva. Mas, por que sinto o coração apertar quando ouço “I´m not in Love”, do 10 cc, que antes de virar sucesso em todas as rádios tocava na não menos saudosa Eldo Pop FM? Como explicar os 5, 6, 7 e-mails por dia que respondo sobre a Rádio Fluminense FM que criamos há 34anos? Pior: a maioria dos leitores não era nascida quando a rádio existia? Alguém explica?
Um dia desses alguém me disse “saudade é uma coisa, saudosismo é outra”. Quando encontro amigos da adolescência lembro nitidamente de cada dia, cada momento, mas esqueço de trazer a tona as angústias, a reprovação no colégio, a queda de uma onda que me custou 11 pontos na perna. Por que a nossa mente só edita bons momentos do passado? Por que até pessoas que se revelaram molecas no passadohoje tem um lugar carinhoso em nossos escaninhos?

Alguém tem as respostas?

Quem fuzilou a boa música? A barangada é prova de que o Brasil é o único lugar do mundo onde fundo do poço tem subsolo

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Quinze dias atrás um amigo golfou, golfou, golfou ao ler a lista das músicas mais tocadas, vendidas, procuradas no Brasil ano passado. A lista é tão bizarra, medíocre e o escambau que eu também não me senti bem lendo aquilo.
Logo apareceram uns e outros querendo debater sobre os “culpados” que levaram a maioria dos brasileiros a chafurdar no lodo da boçalidade. Como no dia seguinte a morte de David Bowie, quando a imprensa nacional emburrecida pelos cortes de Q.I. nas redações, anemia cultural, desinformação e necessidade louca de muitos vagabundos de por a bunda na janela a qualquer custo, deu um show de inapetência e mediocridade, os papos sobre a molambalização musical na nação não ficaram por baixo.
Nessas horas o parco lorde que me habita saiu para tomar um cafezinho e o javali assumiu o seu lugar. Escrevi que um país que se diz nação e tem programas “musicais” como Esquenta e Altas Horas na liderança da audiência, vai acabar, muito em breve, quadrúpede. Houve quem questionasse a programação das rádios e eu perguntei “que rádios? As FMs?, aquela bosta?”.
Expliquei, não educadamente, que há mais de 20 anos o rádio musical das grandes metrópoles virou um ventilador de asneiras, leque de boçalidade, asneirol vago. Tanto que a maioria das emissoras saiu do ar porque o mercado publicitário (que não é tolo), viu que não dá para vender pilha de alcalina pra porco e saiu de cena.
Começou o bacanal. Concessões publicadas dadas pelo governo (renováveis, ou não, a cada dez anos) as rádios em FM foram alugadas para terceiros, como quitinetes de prédios de tolerância. Os inquilinos da concessão alugam os canais do governo por uma bagatela de até 300 mil reais por mês. Não empregam ninguém, não gastam com luz, com água com manutenção. O único trabalho é ver se a dinheirama entrou na conta na data combinada. Caro, os maiores clientes são os representantes do fundamentalismo religioso que come radio TV, internet e o cacete a quatro.

Comprei por oito reais um par de protetores de ouvido Nexcare, da 3M. Só que foi antes de Dilma II, por isso deve estar custando 50 paus. Está disponível em farmácias e são muito úteis nesses tempos de música leviana, vadia, meliante e salafrária, além, é claro, de nos livrarem dos primatas que utilizam indevidamente, por exemplo, celulares que cacarejam no transporte público. Recomendo. São ótimos, minúsculos, imperceptíveis, confortáveis.
É lógico que respeito o direito das pessoas comprarem estrume sonoro, por isso prefiro não atirar pedras e sim buscar opções.
Para se ouvir boa música no rádio, antes da invenção do streaming da internet, era uma luta. Hoje, você acessa www.radios.com.br e escolhe uma entre milhares que são oferecidas no maior cardápio de opções radiofônicas do mundo.
Radios.com.br é sensacional e fica na cidade de Varginha (MG), terra dos E.T.s. Tem radio de bossa nova, rock, blues, jazz, samba, chorinho, notícias, efeitos especiais, tudo da melhor qualidade. É só dar um clique. Tem de tudo, até transmissão ao vivo de sessões de chibatadas em países que usam o chicote como punição legal. Se fosse no Brasil ia: 1 – faltar chicote; 2 – faltar carrasco.
As cidades estão cheias de shows em circuitos alternativos que revelam ótimos artistas. Em outras palavras, da mesma forma que a música ruim, chula, de baixa qualidade impera no chamado esquemão, a música boa, limpa, gostosa, de todos os gêneros e estilos sempre arrebentou e vai continuar arrebentando nos circuitos e mídias periféricas.
É só correr atrás.


IPVA: até quando nossa covardia vai deixar o Estado nos estuprar. No Globo online de hoje: “Aumento do IPVA chega a 30% para carros do tipo flex”

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Impressionante a nossa covardia. No início do ano, como já é tradição, o governo do estado pega a foice chamada IPVA e sai por aí degolando, na maior cara de pau. Mais: meteu 30% de aumento para carros flex. Esse mesmo governo que deveria garantir transporte publico decente nada faz. Agora alega que está duro, por incompetência dele mesmo.

O que mais inflama é o conceito do IPVA, que seria para a melhoria das estradas, ruas, avenidas. Nada disso. É facada pura e simples, como explica o site Significados. O grifo é meu:

IPVA é a sigla de Imposto sobre a Propriedade de Veículos Automotores, que é um imposto estadual com o objetivo de arrecadar dinheiro sobre os automóveis das pessoas, independe de qual tipo de veículo for.

O único objetivo do IPVA é arrecadar dinheiro, e esse imposto é cobrado apenas de veículos que circulam em terra, ou seja, não compreende nenhum outro tipo, como barcos, lanchas, e etc. O IPVA é cobrado anualmente, e não tem relação nenhuma com a situação das estradas, ou das ruas, ele é apenas de uso fiscal.”

Até quando vamos levar chibatadas em plena luz do dia sem nada fazer? Nada, absolutamente nada justifica a nossa covardia. No país do rolezinho e de seu irmão mais velho, o arrastão, nós damos uma gorda contribuição para a esculhambação ao enfiarmos a cabeça na terra, como avestruzes amestrados, e deixar que o Estado esfole, arrebente, estupre, roube.

O IPVA é apenas uma parte dos escândalos que a nossa covardia provoca. Sob o signo do cagaço, deixamos que as empresas de energia elétrica arranquem vários por cento para sustentar a luz das ruas, responsabilidade das prefeituras, o que configura bitributação, imposto sobre imposto, já que já pagamos o IPTU. Pior: as luzes das ruas continuam num estado lamentável, pelo menos em Niterói cidade onde moro e sou esfolado pelo poder público.

Se tivéssemos coragem mínima, se vivêssemos num país não indecente, já teríamos nos reunido e, numa ação pública, processado o Estado por uso indevido do IPVA. Pergunto a vocês, leitores: quem aí sabe onde a dinheirama (bilhões) vai parar. Mais: por que as prefeituras, além de nos achacarem com o IPTU escandalosamente caro, vai na conta de luz e crau!, arranca um pedaço para ela? Para que serve a Taxa de Incêndio já que pagamos uma fila de impostos que dariam muito bem para sustentar os Bombeiros? E, finalmente, que o Estado (e seus políticos) acham que temos cara de babaca não há dúvida. Pergunto: ainda dá tempo de reagir?


Como?

“Eu apenas canto”

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1966, confusão nas ruas sem toque de recolher. 1966, uniforme, pasta, lápis, caneta, livros. 1966, ônibus, bombas, rock and roll, algazarra, caderneta, 10 em português, 3 em matemática. 1966, The Troggs, a banda, a minha banda, do além mar, Londres, Inglaterra, que queria conhecer um dia. 1966, meu primo Cornélio tocando The Troggs, ideias, sonhos, repressão, cuidados, pipa no alto, balão, brigas, lutas, amor, beijo na boca. 1966, 11 anos, o primeiro gozo, a primeira vertigem, a primeira pedra no mamilo esquerdo. 1966, The Troggs no pequeno toca-discos, amigos, bola, jogo de taco, garotas, meninas, beijos relapsos, dança torta, pernas trocando. 1966, amigos, cuba livre, cachaça, coma alcoólica, mães no hospital, esporro, lágrimas, alta de manhã, escola, castigo, pedradas, vidraças rachadas, polícia nas ruas. 1966, irmão, amigos, a casa da Rose no centro da cidade, o sexo só oferecido aos mais velhos, a mulher do guarda. 1966, virgem, ávido, curioso, temeroso, roqueiros, tentando entender The Troggs que tocava “Eu apenas canto” quando as coisas apertavam. Compromissos, provas, férias ameaçadas, rock and roll, a primeira banda, festinhas, quermesses, garotas, garotas, garotas, frustração a meia noite e meia, hora limite, “I Just Sing” no quarto...não havia “I Just Sing”, as vezes lágrimas, choro contido no travesseiro. Perguntas, muitas, voos espaciais, drogas nos bolsos dos amigos mais velhos, LSD, mescalina, maconha, bolinha, éter, a primeira morte, o primeiro corpo, o primeiro enterro, o primeiro amigo afogado no mar, doidão. Nada de “I just sing”, mas viva “I Just Sing”!
Sempre.

David Bowie

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Lazarus
David Bowie

Olhe para mim, estou no céu
Tenho cicatrizes que não podem ser vistas
Tenho drama, não pode ser roubado
Todo mundo me conhece agora

Olha aqui, cara, estou em perigo
E nada tenho a perder
Estou tão chapado que isso faz o meu cérebro girar
Deixei meu celular cair
Isso não é tão eu?

No momento em que cheguei a Nova Iorque
Eu estava vivendo como um rei
Então usei todo o meu dinheiro
Estava olhando para sua bunda
Desta ou de nenhuma maneira

Você sabe, eu serei livre
Assim como aquele pássaro azul
Oh, eu estarei livre
Assim como aquele pássaro azul
Oh, eu estarei livre
Não é que isso é tão eu?


Pouco a dizer.

Coragem. A coragem da chuva faz meus olhos marejarem como as mutações, as revoluções, o existir gigantesco dos raros, dos determinados, dos gênios. 

Você.

Existir 500, 900, 800 milênios. Existir a prova de vento, a prova de tempo, a prova de morte. Seus ecos, muitos, punhais de aço luminosos perpetuados na história da moderna civilização, amarga e azeda nesse hoje esquisito e trapaceiro.

Pouco a dizer.

A mesma que descobriu marte, amores, paixões, descobriu curas. A mesma que padece de pestes brutais batizadas de idade média e politicamente correto. Em seus silêncios, muitos, o seu sorriso quase sutil ironiza, debocha, cospe nas pestes, pragas, senzalas. Caça/caçador, céu/inferno, paz/tormento. Bipolar em via pública, sem constrangimentos, sem cerimônias, sem morais amorais.

Pouco a dizer.

Gigante. É um gigante. Maior do que a chuva, a música, o teatro, cinema, pincel, tela. Maior do que o seu mundo, o seu palco, o seu caos, o seu tudo. Maior do que espelhos, mitos, arquétipos, personas, egos. Lenda. Viva. Ziggy, Lazarus. Heaven, Heaven, Heaven.


Sempre.

Sexólogos, praga inútil e milionária infesta a quitanda da mídia

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Não sou desses que acham que o mundo está cada vez mais imbecil. Prefiro buscar caminhos mais saudáveis. Mas, depois que acabaram com o curso superior de jornalismo, qualquer ameba escreve o que bem desentende, onde quer, a preços módicos, ou de graça, ou até pagando. 

Dá de tudo, de falsos psicanalistas a podólogos picaterosos, passando por filósofos de botequim de coxinhas, chefes de cozinha com X, enólogos de refresco de uva vagabunda.

Um picareta desses fatura alto quando escreve uma coluna em jornais/revistas/sites de grande circulação ou faz comentários em programas de TV.  Vários deles (digo, sem susto, que é a maioria) até pagam para aparecer porque cada leitor gera, pelo menos, mil outros fregueses em potencial capazes de pagar valores até 50 vezes maior por uma consulta com o meliante só porque ele “escreve no jornal”, “aparece na TV”, “tem um super site na internet”, “fala no rádio”.

Uma nova espécie de golpista se juntou aos outros, o famigerado sexólogo. A praga se espalhou rápido pelos jornais, TV, sites onde os abutres da cona gélida e da glande flácida seduzem e conquistam a sua freguesia. Como a maioria não sabe escrever, paga a profissionais de comunicação para escrever textos que usem e abusem da força de expressão, de preferência forçando a barra para temas populares como “mulher ejacula, sim”, “amor e sexo são dois rios diferentes”, “cuidado, aquecimento pode engravidar!” e por aí vai, sempre ladeira (e nível) abaixo.

A vítima preferencial é o adolescente, que desde que o mundo é mundo é um desinformado. Todo mundo será, é ou já foi adolescente um dia e sabe que a sociedade costuma confundi-lo com os imbecis. E é justamente nessa brecha de ignorância, angústia e eclipse de conhecimento que agem os picaretas da sexologia (ou seria sexismo?), que traficam conselhos na mídia sabendo que é apenas o início. Sabem que, em seguida, as vítimas iludidas, dopadas pelo poder da comunicação, vão ligar em massa para seus escritórios marcando consultas, passando antes por uma livraria para comprar o décimo quinto livro sobre o mesmo tema, mas com título diferente e texto reescrito por profissionais de comunicação.

Soube um dia desses que uma suposta sexóloga que engana milhões de pessoas num programa popular de TV, já está cobrando 1.200 reais por uma consulta. O mais grave é que, me informaram, não há mais horário até junho. Um “sexólogo” que disse no rádio semana passada (eu estava num táxi e ouvi) que masturbação “pode fazer bem ou pode fazer mal, por isso deve-se procurar um especialista”, ou seja ele mesmo (detentor da verdade absoluta), cobra 800 reais por consulta com um plus a mais: o “tratamento” é pré-pago e dura, no mínimo, 10 consultas. O freguês terá que desembolsar 8 mil reais, em três vezes sem juros.

O mais grave é que tudo isso é feito a luz do dia, numa sociedade que tem mecanismos de controle em tese eficazes como, por exemplo, os Conselhos Regionais de Psicologia ou a Sociedade Brasileira de Psicanálise, entidades que podem confirmar se o doutor Fulano sabe diferenciar Sigmund Freud de uma geladeira Electrolux ou que a sexóloga Sicrana do Tal pode tecer comparações úteis entre um peixe elétrico e um clitóris avantajado.

É bom lembrar aos adolescentes que a sabedoria popular e o Kama Sutra (dêem um Google, por favor) sabem há milênios que existem clitóris com 10 centímetros, conas que jorram como chafarizes e que que a lei básica da vida, logo também do sexo, está numa definição nada erudita de Carl Gustav Jung (merece um outro Google): “Ninguém é igual a ninguém. A vida é diferente para cada ser desse estranho planeta. Ninguém sonha igual, pensa igual, ama igual.” Entro no vácuo de Jung: logo, sexólogos são picaretas, sim.

Problemas de disfunção erétil, um bom urologista resolve, como psiquiatras, psicólogos, psicanalistas (de excelente formação) podem resolver questões como a falta de libido. Em homens e mulheres. Mas aí entra um problema de nossa cultura judaico cristã, o complexo de culpa, o tal constrangimento diante do óbvio. Achamos que é “falta de educação” perguntar a um médico, ou a um psicólogo, dentista seja o que for, onde ele estudou, que cursos de aperfeiçoamento fez, uma atitude que os picaretas amam, já que se alimentam da ignorância alheia.

Fuja das bruxarias, de todas, entre elas a “sexologia” (repito, seria sexismo?) praga que não para de se reproduzir como uma espécie de dengue genital, em garotos e garotas, homens e mulheres que poderiam estar bem melhor se buscassem fontes de informação mais qualificadas, bons livros, ótimos profissionais (lembro que sexólogo é uma mera grife, derivada da psicologia) e, sobretudo, aprender a viver a vida plenamente. Apesar da “sexologia”.



A incômoda tolerância a intolerância

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Muita gente tornou-se tolerante a intolerância, talvez pela crítica situação do Brasil. Sempre que há recessão e inflação, os sonhos, objetivos, planos, projetos de milhões de pessoas são engavetados, as contas do mês ficam mais difíceis de fechar, a insegurança atinge níveis quase insuportáveis, a esperança, a velha, boa, necessária esperança, parece querer bater asas e partir.

A tolerância a intolerância é intolerável, mas está presente até para quem não pode ou não quer ver. Nas ansiosas filas dos bancos, nos ônibus, aviões, na caminhada solitária das pessoas rumo ao trabalho, a escola, a consulta médica. Rumo ao nada, muitas vezes.

Exercitar a tolerância é mais do que fundamental, ensinam a filosofia (parceira invisível e milenar de todos nós), a psicologia, o bom senso. Um exercício difícil, espécie de musculação existencial, vital, fundamental para que as pessoas possam conviver minimamente bem com elas mesmas e a partir daí com a sociedade.

A intolerância está presente nas ruas, no ambiente de trabalho, no supermercado, nas redes sociais na internet, na política partidária. Nesse momento de crise, o radicalismo parece se impor ao bom senso e assistimos a um banho de sangue entre aspas entre pessoas que atiram até amizades de décadas no lixo em nome de convicções políticas dos outros, políticos profissionais.

A sensação de “vão-se os dedos, ficam os anéis” em redes sociais como o Facebook e Twitter, onde todo mundo bate em todo mundo defendendo políticos, políticas, governos, desgovernos, incha mais os bolsos deles, dos políticos e esvazia a esperança de uma nação mais equilibrada, mais generosa e até mais engraçada. Afinal, sem humor nada é possível.

Dizem que essa onda de tolerância a intolerância é passageira. Até concordo, mas não nego que ela me preocupa e até ocupa meus pensamentos em plena hora da vadiagem, dos devaneios. Afinal, se brigar por nós exige limites, brigar por quem não merece parece ridículo.

Ou não?



“Chico – Artista Brasileiro”, magistral filme de Miguel Faria Jr.

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“Chico – Artista Brasileiro”, documentário de Miguel Faria Jr. com certeza vai para o Olimpo do cinema brasileiro. O Chico que o diretor exibe é engraçado, gozador, leve, intenso, banhado de bom humor e nem de longe parece um senhor que vai fazer 72 anos em junho deste ano.

O filme é simples como Chico, grandioso, elegante, travesso como Chico, um dos maiores talentos da história cultural do Brasil. É preciso dizer isso. Sim, é preciso dizer porque acho tola qualquer visão reducionista de pessoas múltiplas e geniais como Chico Buarque de Holanda.

Susana Schild, uma das maiores e mais consistentes críticas de cinema do Brasil, escreveu no Globo: “Chico - Artista Brasileiro” propicia um encontro privilegiado com um artista visto por ele mesmo na maturidade. Levando em conta a extensão, diversidade e genialidade da sua obra e o grau de intimidade obtido por Miguel Faria Jr., não há como deixar de aplaudir de pé.”

Luiz Fernando Vianna, Folha de S. Paulo – “Ganha-se a inteligência e o humor de Chico, ótimo contador de causos e privilegiado conhecedor da própria vida. Mas não se abrem muitas portas para surpresas ou assuntos incômodos, pois é ele quem está com a chave da narrativa.”

Raphael Camacho, Cinepop – “O filme foge de qualquer tipo de polêmica. É quase uma conversa de bar entre amigos. A naturalidade com que Chico vai contando suas histórias aproxima muito o público de cada sequência[...]”

O Chico Buarque que vi e ouvi na tela é idêntico ao que acidentalmente conheci em 1978, ano de “Cálice”. Eu era repórter da Rádio Jornal do Brasil e fui pautado para entrevistá-lo, o que aconteceu meio na correria, na hora do almoço. Na correria porque ele ia pegar um avião para São Paulo e, por isso, sugeriu que a entrevista fosse concluída no percurso entre onde estávamos (Botafogo) e o aeroporto Santos Dumont. Topei.

Descemos e ele entrou no carro, uma Brasília branca. Chico dirigia mal, muito mal, falava pra cacete (eu com o microfone perto da boca dele, que cena) mas conseguimos chegar ilesos no aeroporto onde o mulherio ficou em cólicas diante do ídolo. 

Sinceramente achei que elas iriam estupra-lo ali mesmo, houve até um certo empurra empurra. Foi quando Chico me pegou pelo braço e me perguntou “dá pra ficar na área até a hora do embarque?”. Claro. Ficamos tomando café, sempre vinham fãs, pediam autógrafos e a entrevista seguiu até o final. Ficou legal porque o tal Chico Buarque que eu achava caladão, monossilábico, não existe; o filme mostra bem isso.

Acabamos o café, ele já se preparava para embarcar quando perguntou “você se incomoda de pegar meu carro e levar para o estacionamento do Jornal do Brasil? Quando eu voltar dou um jeito de mandar buscar lá.” Me deu um chaveiro e perguntei “os documentos estão no porta luvas?, ele respondeu “acho que estão” com jeito de “não estão, meu chapa”, mas tudo bem, levei o carro sem problemas.
Uns meses depois ele veio assistir Marieta Severo no Teatro Municipal de Niterói, noite de sábado. 

Também fui assistir e no intervalo encontrei com ele no hall principal. Ele estava sozinho, meio deslocado, me aproximei ele lembrou e logo perguntou “onde tem um cafezinho por aí?”. Fomos andando até a estação das barcas onde funcionava o bar Snoopy, um muquifo sensacional que reunia a boemia pesada. Chico virou dois cafezinhos e acendeu um cigarro.

Ao longe, noite estrelada, um balão lanternado gigante voava em direção ao mar e Chico comentou “Niterói tem muito balão, né”, expliquei que o padroeiro é São João já com uma ideia de leva-lo até o Fonseca onde eu conhecia uns baloeiros que certamente deviam estar mandando obras primas para os ares.

Foi quando uma Kombi que transportava jornais começou a pegar fogo junto ao meio fio. Tumulto, confusão, Chico assuntando, eu também e, de repente, ele falou “vamos voltar para o teatro, quero buscar a Marieta”. Voltamos, ele entrou no teatro, disse “valeu mesmo, nos vemos por aí” e foi isso.

Não tive outros encontros informais com ele, só as raríssimas e caretaças entrevistas coletivas ao longo dos anos. “Chico – Artista Brasileiro” mostra esse Chico Buarque que, por poucos mas preciosos minutos, tive o privilégio de conhecer.

Grande filme!

Grande Chico!



O cacique Arariboia daria um grande filme

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Com certeza o grande cacique Araribóia (significado: Cobra da Tempestade) e sua densa, tensa, riquíssima história, daria um belíssimo longa-metragem. Por isso, escrevo esse breve recado a diretores, roteiristas, produtores.

Há anos esse filme roda em minha cabeça. A boca da Baía de Guanabara na época (1565) lotada de golfinhos, botos, baleias, tubarões, estrelas do mar, muita, mas muita luz. Índias e índios aos montes, dezenas de batalhas, a morte a flechada de Estácio de Sá, as travessias que Arariboia fazia de canoa entre Niterói e Rio (Ilha do Governador) onde, com uma borduna, foi cobrar de Mém de Sá, o governador, as “terra vermelhas” que prometeu a Arariboia caso ele vencesse os franceses. E ele venceu.

Muita gente sabe, mas há quem tenha o direito de não saber que Arariboia e sua tribo vieram do Espírito Santo para ajudar os portugueses no combate aos franceses. Os franceses tinham do seu lado os também bravos tamoios, que mataram Estácio de Sá com uma flechada na enseada de Botafogo. Alguns historiadores atribuem a uma “flecha perdida” a morte de Estácio e acho que dessa forma ficaria até mais dramática a cena no filme.

Mas em se tratando de coragem, estratégia, Arariboia foi imbatível. O que queria em troca? Assim que a nau que o trouxe do Espírito Santo entrou na Baía de Guanabara, ele se apaixonou pelas "terras vermelhas da banda de lá", Niterói. E foi o que cobrou e ganhou dos portugueses.

Alguns historiadores dizem que Mém de Sá, governador, teria tentado empurrar o cacique com a barriga na hora de assinar a papelada doando as terras. Arariboia teria pegado sua canoa nas imediações de São Lourenço dos Índios e partido para o Rio algumas vezes a fim de cobrar do português o cumprimento da promessa.  Mém de Sá mandava dizer que não estava, que estava em reunião. 

Um dia, cansado de ser enrolado, nosso cacique teria dado uma espécie de pé na porta com uma borduna na mão e fez Mem de Sá literalmente se borrar todo. Se borrou e assinou a posse das terras.

Claro, as crises existenciais do cacique, que se questiona sobre o fato de índio matar índio (temiminós e tamoios) para salvar a pele de brancos (portugueses e franceses). O que não falta é gente altamente qualificada que, certamente, daria aos cineastas todos os subsídios necessários para a construção do enredo. 

Livros foram escritos, entre eles o excelente "Arariboia, o Cobra da Tempestade" do professor Luiz Carlos Lessa cuja narrativa é fascinante pelo tom de aventura e admiração por nosso cacique maior. 

Tempos atrás um diretor chegou a fazer um rascunho do roteiro, mas os altos custos o assustaram. Claro, Arariboia exige uma megaprodução. Fico imaginando a quantidade de pessoas que adoraria ver a história de Arariboia sendo contada na telona. Uma biografia capaz de levar os cineastas ao limite de seu potencial criativo. Afinal, estamos falando do único índio fundador de uma cidade, Niterói.

Mais: um enredo desses iria chamar a atenção de todo o país que, com certeza, iria se surpreender ao saber da existência desse índio-herói.
Por falar em herói, há tempos participei de uma mesa-redonda sobre Comunicação e lá pelas tantas disse que "minha cidade foi fundada por um índio guerreiro que está em minha galeria de heróis". Alguns deram risinhos debochados até que um monstro da História do Brasil saiu em minha defesa e fez um resumo de quem foi e o que fez Arariboia. Lembro que um dos colegas que dera risinhos acabou oferecendo a cabeça a guilhotina e concordou que com uma história de vida com tanta honra e bravura, "Arariboia merecia estar na galeria de heróis de todos os brasileiros". 

Vale a sugestão, caros cineastas?


Um país que é derrotado por um mosquito em pleno século 21 não merece o respeito de ninguém

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Ontem estava no trânsito, engarrafado. Chuva mansa lá fora. Prevendo que o trânsito daria um nó, sai bem mais cedo para não atrasar. Não atrasar é uma das minhas boas neuras. Os carros se arrastavam como jiboias bêbadas. Ao volante rostos cansadas, pesados, naquele para e anda que desafia a lógica (?) da paciência.

Nessas horas gosto de ouvir a rádio CBN. Desde garoto sou viciado em notícias e a CBN tem experientes e bons profissionais (nessa ordem; bom jornalismo é sinônimo de vivência) e transmitia ao vivo uma entrevista com um funcionários do Ministério da Saúde sobre microcefalia e o vírus Zika.

Encostado na parede, o funcionário (coordenador de emergências epidêmicas......blá bla blá) revelou dados gravíssimos. Números descabelantes que mostram, mais uma vez, a região Nordeste na vanguarda da miséria, do descaso, da esculhambação. Lá a microcefalia, segundo o M.S. via zika, impera. Seguido da região Sudeste.

Quando cheguei onde tinha que chegar, estava lá no Globo online: Registrados 3.893 casos suspeitos de microcefalia relacionados ao zika”.
Apesar de deixar claro que a microcefalia via zika não é um fenômeno do Brasil mas da América Latina (tirando o governo da reta, sempre) o funcionário não conseguiu esconder a preocupação. Depois de ouvir quase uma hora de explanação ao vivo, desliguei o rádio.

Microcefalia, dengue e similares são o resultado direto do esculacho, da incompetência, do atraso, tudo isso ancorado pela roubalheira ampla, geral e irrestrita. Um país que é derrotado por um mosquito em pleno século 21 não merece o respeito de ninguém.

Fica a sensação é de que tudo o que Oswaldo Cruz fez a partir de 1.900 combatendo pestes no Brasil (quase foi linchado, mas venceu), tornando o país uma terra saneada, foi para o esgoto imundo da politicálha barata. E policalha barata, canalha, moleca, dá em qualquer partido, em qualquer aglomerado de ladrões e safados.

A imagem do Brasil de hoje é a cara do ex-ministro sem papas na língua que disse a um jornalista do Globo, em plena entrevista, que “eu tinha de tratar com todo mundo, com empresário, com jornalista, com puta, com viado... Era coisa absolutamente natural.” Disse depois que se arrependeu, mas já era tarde.

Meu receio é que já seja tarde também para o Brasil. A esculhambação não tem limite.





Relógio Biológico

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São exatamente 2 e 14 da madrugada quando acordo mansamente, sem sobressaltos. Como se fosse seis da manhã para um triatleta. Rondo pela casa, ligo a TV e compro um travesseiro num programa de vendas pelo telefone. 

Segundo o anúncio, o tal travesseiro é um bálsamo de espuma, capaz de corrigir todos os problemas de coluna. O locutor diz que com esse travesseiro temos um sonho “reparador”. Só não prometeu que acordamos ao som de canários belgas porque a empresa fica em São Paulo. Garantiu que quem não ficasse satisfeito com o travesseiro teria seu dinheiro de volta.

Os caras são craques. Duas e 14 de um dia de semana é o momento ideal para veicular um anúncio de travesseiro. Liguei, passei o número do cartão de crédito e a mocinha encrencou. Queria colocar Niterói como cidade do interior do estado, o que significava que eu teria que buscar a encomenda no correio. 

Expliquei a paulistinha que Niterói fica, de barca, a oito quilômetros do centro do Rio. Ela não entendeu, coitadinha, mas acabei comprando o travesseiro assim mesmo. Fui buscar na agência de correios mais próxima, que nunca é próxima, quando chegar.

Fui até a varanda (essa noite foi em Itapu, anos 1990) e reguei as plantas. Estão bonitas depois que comecei a usar o fertilizante 10-10-10. Aproveitei e fiz um pouco de xixi nelas. Dizem que faz bem. A mim faz. Gosto de sentir o xixi batendo na terra, produzindo um aroma de Mauá, Lumiar, São Pedro da Serra, Macaé de Cima.

Tem gente que fica muito angustiada quando acorda no chamado “meio da noite”. Como para mim é rotina, não sinto nada. Apenas a calma da madrugada, telefones mudos, e-mail calado, tanto que já escrevi até aqui sem interrupção.

Já li e ouvi muito sobre o chamado relógio biológico. Aparentemente durmo mal, mas uma vez li numa revista de ante sala que o tipo de sono que tenho se chama “flash”. Durmo e acordo várias vezes. De fato não é tão bom quanto o sono sem escalas, aquele que você deita a meia noite e acorda as oito na mesma posição.

Mas o fato das comunicações estarem a disposição de madrugada me trouxe esse vício. Posso dar um giro pela internet sem ser importunado, sapatear nos satélites, conversar com o Congo. De madrugada tenho a sensação de que posso fazer tudo porque tudo funciona.

Meu relógio biológico é oportunista e prático. Em geral durmo cedo sexta e sábado para atravessar o dia seguinte na praia. E praia vou o ano inteiro porque concluí que não existem praias feias com chuva, com tempo nublado ou em plena tempestade. As praias são lindas de qualquer jeito.

Na praia de Itaipu quando chove e o vento traz aquela bruma branca ela parece com a costa da Escócia, que conheço via cinema. Nos dias frios, de céu azul profundo, lembra a Indonésia. Já sob densa tempestade lembra a capa de “Love Over Gold”, um dos grandes discos do Dire Straits. É por isso que tenho certeza de que Itaipu é a mais gostosa das filhas de Ryan.

Não sei se o fato de trabalhar 13 horas por dia interfere no meu relógio biológico. Há quem diga que isso é estresse. Só que eu nunca estou estressado; eu sou estressado.
Uma vez disseram que sou masoquista, que gasto muita energia, etc. Só que, em 1985, experimentei ficar sem fazer nada durante três meses. Larguei tudo. Em menos de 20 dias estava de volta ao jornal, de joelhos, pedindo perdão. 

Dormia o dia inteiro, comia pouco, tinha sonhos melancólicos, que depressão! Isso sim é masoquismo. No dia em que levantei para voltar ao jornal, fui fazer a barba e vi, no espelho, que estava com aquele semblante típico dos “à toas”. O suor cheira a naftalina, a cobertor das Casas Pernambucanas.

É evidente que não pretendo fazer apologia do sono “flash”, da popular e temida insônia. José Maria Monteiro de Barros (saudade desse meu amigo) me fez observar com calma aves e mamíferos. Fora as criaturas da noite, todos se recolhem no crepúsculo e se levantam na alvorada. Leio numa revista que os primeiros homens dormiam cedo e acordavam cedo. O que me assustou no texto foi a média de vida deles: 16 anos.

Essa lenda de relógio biológico só deve ser terrível para as pessoas que não gostam de dormir de dia ou sofrem amargamente com a solidão. Quem vira uma noite, no início da carreira, tem que se habituar com dois sons altamente depressivos: 1) Caminhão de leite; 2) Canto dos pardais e bentevis. Já quem convive mal com o dia e ama a noite é obrigado a engolir outros dois sons, também tristíssimos, de fim de tarde: 1) Canto de cigarra; 2) Sirene de obra informando que o acabou o expediente. É horrível.

Já tentei acertar meu relógio biológico para ficar mais próximo da lânguida rotina da humanidade. De 1974 a 1976 trabalhei no horário das 5 da manhã ao meio dia. Rádio tem dessas coisas. Uma ótima oportunidade para acertar o tal relógio. Não deu. Chegava em casa, tomava um banho, almoçava e dormia até as seis da tarde. A noite ia para a gandaia, ou para a faculdade, que na verdade eram a mesma coisa.

Mas pouca coisa foi pior do que uma noite em que acordei as 3 horas numa pousada na serra da Bocaina, sem luz, sem livros (ler à luz de velas é terrível) e, ainda por cima, chovendo. Confesso que sofri. Sofri mais ainda com o barulho de um rio que me deixou alucinado, com uma estúpida vontade de desligá-lo. Não tem jeito. Sou bicho do mar mesmo.


Em suma, o relógio biológico não é atômico e muito menos Rolex. O meu é um paraguaio, desses de camelô. E com licença que já são quatro da matina e preciso rever “O Resgate do Soldado Ryan” no DVD. O "meu" filme.


“O Livro do Disco”: John Perry desvenda as mágicas de Jimi Hendrix na gravação de seu último álbum de estúdio

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                                                               O livro
                                                                                 
                                                           O álbum                                                                          
                                                 Capas internas da versão inglesa do álbum deixou Hendrix furioso                                                                                                
                                                           No encarte americano foto de Linda Eastman                                                                                  
Hendrix finge dormir. Atrás, de óculos, o engenheiro Eddie Kramer
São apenas 130 páginas que devoramos numa levada só. Dentro da ótima série “O Livro do Disco” a editora Cobogó lançou “Jimi Hendrix -Electric Ladyland”, do jornalista, pesquisador e guitarrista inglês John Perry que explica, segundo por segundo, take por take, solo por solo, todos os detalhes de composição, gravação, produção, mixagem e o entorno da gravação do terceiro e último álbum de estúdio de Hendrix.

Muito seguro, detalhista, esclarecedor, John Perry revela muitos detalhes. Por exemplo, o próprio Jimi tocou contrabaixo em praticamente todas as faixas já que Noel Redding já estava farto. Farto de não ter sequer onde sentar para gravar no mega estúdio Record Plant, em Nova Iorque, onde o álbum foi gravado e para onde o bando de parasitas, drogados e traficantes que se diziam amigos de Jimi se amontoaram. Foi assim a vida toda. Por insegurança (tinha pânico de rejeição, já que foi chutado pelo pai ainda bem novo) o maior guitarrista de todos os tempos se deixava molestar pelos vagabundos.

Perry confirma o extremo perfeccionismo de Hendrix. Durante as gravações de Electric Ladyland, houve sessões que duraram 18 horas seguidas. O engenheiro Eddie Kramer (lendário) diz que não sabe como resistiu, mesmo revezando com outro engenheiro, Gary Kellgram. Afinal, o álbum foi o primeiro que Jimi concebeu, produziu, dirigiu, compôs 97% das faixas e ainda mixou. Eddie Kramer diz que até hoje não sabe como o músico, obcecado pela perfeição, resistiu a tantos dias trancado no estúdio.

Com ele gravando as 16 faixas do álbum duplo estavam o baterista de sempre do Experience (trio já em crise na época), Mitch Mitchell, mais Steve Winwood (órgão Hammond) e Chris Wood (flautas – o Traffic estava gravando em outro estúdio do conglomerado Record Plant, mais Al Kooper (piano), John Cassady (baixo), Mike Finnigan (órgão Hammond e baixo), Buddy Miles (bateria), Fred Smith (sax e outros instrumentos de sopro). Jimi Hendrix assina o disco como guitarrista, violonista, cantor, compositor, backing vocals, arranjador, baixista, compositor, diretor artístico, piano, harpsichord, produtor e diretor de mixagem.

Esse disco é tão forte que o autor do livro analisou faixa por faixa em detalhe. Nada se repete de uma canção para a outra, dando a impressão de que cada faixa cria um novo álbum. 

No final do longo e exaustivo trabalho, lambança da gravadora Track Records que Chris Stamp e Kit Lambert criaram só para gravar Hendrix e The Who. Inexplicavelmentea Track lançou a versão inglesa do álbum com várias mulheres nuas nas duas capas internas, uma ideia até hoje não explicada de Stamp, morto em 2012 aos 70 anos . 

Furioso com o que chamou de “vulgaridade sem limite”, Jimi conseguiu que nos Estados Unidos o tal nu imbecil fosse substituído por uma foto de Linda Eastman (que viria a ser mulher de Paul McCartney) feita no Central Park.

Perry diz que Jimi não pensava pequeno, queria fazer um álbum genial, revolucionário, rigorosamente novo. E fez. Além de ousar e abusar da tecnologia da estereofonia, jogando guitarras de um lado para o outro, permitiu, por exemplo, que Buddy Miles viajasse em levadas delirantes na bateria.

Bob Dylan, ídolo máximo de Jimi (neste álbum está a bombástica versão de “All Along the Watchtower”) no livro aparece com este depoimento:

“Não se pode esperar que um intérprete mergulhe na música...É como entrar na alma de outra pessoa. A maioria das pessoas tem problemas suficientes para entrar em suas próprias almas...você precisa entrar em minhas músicas para tocá-las e as vezes é difícil até para mim conseguir isso. Jimi cantou-as exatamente da maneira como tinham que ser cantadas...Ele fez do jeito que eu teria feito se fosse ele.

“Jimi Hendrix era um grande artista. Eu gostaria que ele estivesse vivo, mas ele foi sugado para baixo e isso tem sido a ruína de muitos de nós. Sinto que ele tenha tido seu tempo e seu lugar, e acabou pagando um preço que não deveria ter pago. Eu não me surpreendo que ele tenha gravado minhas cações, mas sim que ele tenha gravado tão poucas porque elas eram todas dele”.

“Jimi Hendrix – Electric Ladyland” é um livro fundamental para quem conhecer um gênio em plena turbulência do processo criativo. Seus terrores, seus êxtases, e muita ousadia, experiência, muito James Marshall Hendrix.

O livro está disponível nas melhores livrarias físicas e a internet.

Para mais detalhes, clique aqui:http://cobogo.com.br/livros/electric-ladyland/


O grito do Pink Floyd na pequena rua engolida pelo calor

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Faz algum tempo. Eu andava por uma pequena rua que não conheço, no miolo de um bairro operário provavelmente o mais quente que já pisei, fora Bangu, no Rio. Eram duas da tarde e, penso, a temperatura ali passava dos 37 graus. Não falo da tal sensação térmica, invenção pequeno-burguesa dos neo-meteorologistas, mas de temperatura mesmo.

Não lembro em que pensava, afundando o pé naquela lama asfáltica desesperadora e opaca, doença industrial que ajudou a enterrar o planeta. Ou alguém duvida que o nosso planeta, outrora azul, foi enterrado vivo pela especulação imobiliária, desmatamento, poluição generalizada, desgovernos, desconsiderações generalizadas?

Eu não estava legal, não. Parei numa espécie de bar que vendia bombril, madeira, pastel, lâmpada, quibe, mariola, café, chumbinho e quando pedi uma H2O Limoneto o balconista me olhou com cara de “que porra é essa?”. Tudo bem. Migrei para uma água sem gás e fiquei contemplando a ausência de paisagem daquele lugar, tomado de telhados de amianto. Pensei em não voltar mais lá, mas havia um compromisso. E se eu rompesse o compromisso? Não faz o meu estilo. Ia tomar um café, mas desisti quando vi o estado do coador, jogado num canto da pia. Paguei a água e saí.

Caminhava pela rua sem árvores, calçada cheia de rombos, buracos, fissuras, cachorros deitados em cantos de muro e, de repente, ouvi um grito conhecido. Conhecido, não, muito conhecido. Preocupado, parei embaixo de uma marquise ligeiramente podre e ouvi o final de “Speak To Me”, faixa que abre o genial e eterno álbum The Dark Side of the Moon, do Pink Floyd, 1973. Na sequência, emendada, depois do grito desesperado, aflito, tomado de agonia, o alívio de “Breathe”.

Não quis saber de onde estava vindo aquela música que caiu como luva em meu estado emocional. No meio do calor comocional, mais mormaço existencial e outros acessórios, engolido por dúvidas, pensamentos caóticos e muitas vezes incoerentes, o grito da música no meio daquela inconveniente lareira psíquica foi a trilha sonora perfeita que o destino (meu chapa) escolheu para sonorizar a minha angústia.

Angústia que clamava pela suavidade de “Breath” que, não sei porque, a pessoa que ouvia abaixou o volume logo nos primeiros acordes. Provavelmente também estava encarando uma crise de histeria muda parecida com a minha e queria mais gritos, mais gritos, algum berro, mas, ao contrário de mim, não quis o conforto, o colo, a bruma, a suavidade de “Breath”.

Continuei andando pela rua que, apesar de pequena, suja, estreita, parecia não acabar. Cruzei com pessoas que pareciam zumbis, banhadas de suor, apáticas, lesadas, balas perdidas quase cambaleando sem terem o que falar, ouvir, olhar. Olhar o que naquela paisagem sem vida? Provavelmente eu também devia estar assim, estático, fora da área de cobertura, olhos secos, boca seca, suor, leve desespero e muita angústia.

Pensei “quando chegar num computador vou escrever alguma coisa agradecendo a pessoa que colocou “Speak To Me” e “Breath” justamente na hora que eu estava passando por aquela picada.” E é o que faço agora. Mais do que um desabafo, esse texto pretende agradecer a anônima pessoa que gritou através do Pink Floyd mas que não quis arrefecer, como eu. Sim, com “Breath” arrefeci. Precisava reiniciar o raciocínio lógico pois entraria em uma reunião de trabalho meia hora depois.

Tive que calar. Pior: tive que dissimular, inventar um alívio inexistente porque em 28 minutos teria que estar encenando um outro papel, de brasileiro gente boa que adora o país tropical, o calor, o suor, e abomina crises existenciais que ele, brasileirinho, chama de coisas de baixo intelecto. Sabem como é? É isso aí.


Egoísmo e falta de ética

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                                                Foto postada por Gilson Monteiro no Facebook

Em sua página no Facebook (https://www.facebook.com/Gilson-Monteiro-895296430550156/?fref=photo) o jornalista Gilson Monteiro postou nessa terça-feira a seguinte nota:

Ética é atropelada no dia-a-dia de Niterói
Ética, palavra que vem do grego ethos e significa aqulio que pertence ao “bom costume”, “costume superior”, ou “portador de caráter”, parece ser, para muitos, um velha senhora ranheta que cobra regras e preceitos morais. Por isso, ela é atropelada sem piedade no dia-a-dia de Niterói, seja por políticos ou por cidadãos.

A ética é negligenciada principalmente por aqueles que, em nome de seus direitos, cobram-na firmemente dos outros. Motoristas estacionam nas esquinas de ruas e em frente a rampas para deficientes (foto); idosos usam o cartão que lhes dá a prerrogativa da vaga gratuita e deixam o carro parado nela o dia inteiro; ciclistas desrespeitam as normas de trânsito; e tem, ainda, aqueles que estacionam em vagas para pessoas com deficiência e, “milagrosamente”, saem andando sem muletas ou cadeiras de roda de seus carros.

Por que quebramos regras e preceitos morais e cobramos dos outros que sejam éticos? Cartas para a redação.”

Também acho que o egocentrismo, irmão próximo do egoísmo, é um sintoma de mau caratismo, de canalhice. Uma pessoa (?) que ignora princípios básicos de humanismo, solidariedade e generosidade e, por exemplo, estaciona o carro em frente a uma rampa para uso de deficientes, obstruindo a passagem de cadeira de rodas, é tão ou mais canalha do que os que ignoram a dor e o sofrimento alheio e caem na gandaia apesar de terremotos, enchentes, tragédias, sejam coletivas, sejam pessoais.

Brilhante como sempre, Herbert Vianna deve ter se inspirado num canalha desses para escrever a letra de “Fui Eu”, canção antiga dos Paralamas do Sucesso:

“Você olhou, fez que não me viu
Virou de lado, acenou com a mão
Pegou um táxi, entrou, sumiu
Deixou o resto de mim no chão

Vai ver que a confusão
Fui eu que fiz, fui eu

Há algo errado no paraíso
É muito mais que contradição
Sou eu caindo num precipício
Você passando num avião”

O egoísmo/egocentrismo são patologias incuráveis que atingem bilhões de pessoas desde que o mundo é mundo, ou como dizem os pessimistas “desde que o mundo é imundo”. O cara que só pensa em si, tem no próprio espelho a voz da consciência e, por exemplo, deixa um carro impedir a passagem de quem já tem a vida quase impedida, não merece respeito algum. Só que os mesmos pessimistas alertam que os egocentrados são muito mais e muito mais robustos do que imaginamos.

Será?

Como o Gilson, também ando cheio da suposta elegância desses egocentrados, pessoas de trânsito social farto, fácil, gente fixada em dinheiro, status, mas incapaz de pegar o smartphone de ouro falso e ligar para uma meia dúzia só para saber quem está vivo, quem está morto. São risonhos, agradáveis, palatáveis, arroz de festa, espalham confete e serpentina mas na hora do vamos ver estacionam o carro e bloqueiam uma rampa de deficientes. Literal e simbolicamente. São os mestres do "diz que não estou", "estou em reunião"

Será que um dia a humanidade assistirá, aplaudindo de pé, o crepúsculo das relações utilitárias, esse dá-lá-toma-cá que infesta nosso cotidiano? Se a presidente é capaz de afundar o país só para preservar o seu cargo (leia-se poder), qual a diferença dela para os fulanões que cultuam grana, força, vaidade, status e que se dane o resto?

Qual a diferença?




Rachuncho

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- Bom dia, paz e amor.

- Paz e amor. Senta aí. Tem certeza que isso aqui é seguro, não tem escutas, drones, arapongas, nada?

- Claro. Uma pocilga insignificante, numa cidade insignificante, porcos insignificantes.

- Mas que fedor.

- É...

-Fez os cálculos?

- Sim, tudo certinho.

- Mostra aí.

- Você mandou aumentar o rachuncho, eu aumentei para 55%.

- É pouco. Eu disse que tem que ser, no mínimo, 65% para o rachuncho e 35% para os cofres.

- Muita gente vai gritar.

- Já gritam, me chamam de ladrão... 65% é uma questão de coerência; não dizem que sou ladrão? Então sou um ladrão de peso, de qualidade, um ladrão imponente, entendeu?

- E os homens de preto?

- Vão levar o deles. O de sempre. Uns dois ou três quiseram cantar de galo, mandei a merda. Quem compra tem sempre razão e eu sou um consumidor de pessoas (risos).

-  Está tudo aqui...certinho...

- Hum.

- Mais duas boladas dessas e o rachuncho começa a ficar bom.

- 10 bi é pouco.

- Como assim?

- É a minha aposentadoria...no mínimo 15 bi.

- Acho que vai dar tempo...nessa escalada que estamos indo.

- Já forjou o prejuízo no caixa da X, da Z, da Y e da T?

- Já. Está tudo no vermelho. Domingo os jornais vão cair de pau.

- Ótimo. Ótimo. Fundamental eu sair como incompetente dessa história...

- Mas tem muita gente que desconfia do rachuncho...

- O rachuncho no Brasil desembarcou em 1808 com D. João Sexto...vão botar a culpa em mim?

- E quanto aos óbitos, mantém nessa escala?

- Sim. Nem muito, nem pouco... aumenta um pouco o de crianças para mostrar a "crise", mas a média está boa. E aquele cientistazinho que apareceu com aquela vacina?

- Subiu...coitado, bateu com o carro numa serra...carro pegou fogo, foi carbonizado com a família...coitado.

- Ninguém desconfiou?

- Não...tranquilo. Tudo tranquilo.

-A cota esse mês bateu. Mês que vem quero pelo menos 15% a mais, sempre na mesma proporção: 65% para o rachuncho, 35% para os cofres. Não abro mão...não me chamam de ladrão? Então toma! Já orçou o julgamento?

- Tudo OK, até que ficou baratinho. Um bi.

- Hum. Bom...muito bom. E como está o cofre?

- Quase zerado...

- Bom, muito bom...trouxe o uísque?

- Sim, está aqui, rótulo preto, 20 anos.

- Um brinde ao rachuncho...

- Rachuncho, sempre!

- Por todos os tempos.

- Tim, tim.



Um papo sobre meu romance “5 e 15” e os prisioneiros de sua própria indolência existencial

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No blog www.5e15lam.blogspot.com está publicada a nova versão de meu primeiro romance, “5 e 15”. Na íntegra.

Por isso, convido: acesse, leia, opine, compartilhe: www.5e15lam.blogspot.com.

Aqui, uma entrevista que concedi ao portal Whiplash em 2006, quando lancei a primeira edição impressa, já esgotada, lançada pela Tech & Mídia Comunicação Integrada, de Liliana de La Torre.

– Por que o livro se chama “5 e 15”?

– Quando assisti ao filme “Cidade dos Anjos” e vi a personagem da Meg Ryan fazendo cirurgias ao som de Jimi Hendrix, percebi que só os reacionários acham que rock, blues, música atonal são “coisas de maluco”. “5 e 15” é uma referência/homenagem à ópera rock “Quadrophenia” do The Who e uma de suas músicas se chama “5 e 15”. Mais, “5 e 15” é hora de alvorada e de crepúsculo em muitos lugares. Hora do rush. Além do que, por razões que o personagem centra, o psiquiatra Crimson deixa óbvias, o número 15 tem uma importância crucial para ele.

– Por que você chama de “Ficção Atonal Beta” na capa do livro?

- Como o romance eventualmente esbarra em pessoas verídicas, usei a expressão ficção atonal porque a música atonal, ou seja, sem tom, livre, permite devaneios fora da partitura; quanto a Beta é um jargão da informática que representa programas, sistemas que ainda estão em fase experimental. Como é meu primeiro romance, achei que seria muita prepotência não chamá-lo de Beta.

– É um livro de rock?

–  O rock está presente na vida do Crimson como trilha sonora e objeto de reflexão. Quadrophenia significa também um tipo de esquizofrenia. Está bem explicado na orelha do livro. Acho normal que muita gente pergunte se o livro é de rock, pois a minha história orgulhosamente está muito vinculada a essa manifestação cultural. Mas “5 e 15” é uma constatação de que a Ciência pode derrubar o império do narcotráfico, como também ditaduras de Estado, ditaduras caseiras (o personagem Otacílio mostra bem isso), enfim, eu acho que a Ciência é um dos braços mais poderosos de Deus.

- Você é jornalista, cronista. Como se sentiu escrevendo um romance?

- Comecei a rabiscar “5 e 15” em 1998. Mas parei. Não me sentia com capacidade suficiente para me embrenhar no maior desafio da Literatura que é o romance. Ia deletar as 70 páginas iniciais, mas antes entrei em um grupo de discussão literária na internet e mandei esses “rabiscos” para desconhecidos opinarem. Gente que tem muita intimidade com livros e por não me conhecerem não teriam constrangimento em falar o que pensam. Eles deram OK. Ainda assim parei de novo várias vezes. Amigos me incentivaram a finalizar. E em 2004 com o monitoramento da jornalista Raquel Medeiros, concluí a primeira versão. Mexi mais de trinta vezes e estaria mexendo até hoje.

– “5 e 15” é o primeiro de uma série?

- Comecei trabalhar em Jornalismo aos 16 anos. Aos 18, fui repórter de uma rádio popular e passava os dias em favelas, tiroteios, uma experiência crucial na minha formação profissional. Saí dessa rádio popular e fui trabalhar na rádio JB AM, a melhor e mais respeitada emissora de jornalismo do país na época. “5 e 15” traz vivências minhas a bordo do Jornalismo com J maiúsculo que exerci na rádio e Jornal do Brasil naqueles tempos de ditadura. Esse tipo de Jornalismo mostrou que nada é possível sem esperança. Provou que ou você acaba com o baixo astral ou o baixo astral acaba com você. Logo, farei outros romances. Sempre em nome da perseverança e otimismo. Sem pieguices. Não me convidem para pagode de hiena. “5 e 15” é esperança e os outros que virão também. Detesto vitimologia.

Press Release

“5 e 15” é uma condição atual. Luiz Antonio Mello conta com a mão pesada de Crimson, personagem nascido a fórceps e que tem DNA semelhante ao de Jack Kerouac, Willian Burroughs e Alen Grinsberg.

Como o lobo que tanto sabe viver só como em bando, Crimson corre atrás de um ideal humanitário para sua “alcateia”: a cura para os males de uma sociedade atormentada pelas angústias do país, do mundo.

Crimson busca obsessivamente a fórmula que extirpe uma guerra química que corrói veias e detona cabeças em fuga patológica e de outras moléstias como corrupção e falta de ética.

Inspirado no título de uma das músicas de Pete Townshend na ópera rock “Quadrophenia” (de 1973), “5 e 15” tem vilões que como os britanicamente pontuais relógios das estações de trem, tentam jogar o mundo no fundo da lama com hora marcada. Mas Crimson luta. Utiliza miligramas líquidos, sólidos e gasosos e nos convida a conhecer desvios. Desvios necessários para chegar à fórmula libertadora. A fórmula quimicamente perfeita dos libertários e prisioneiros de sua própria indolência existencial.
Crimson não conhece a desistência. Só a resistência.

Ao acabar de ler “5 e 15” olhe para o céu. Lá está o relógio da verdade de cada um de nós. O que Carl Gustav Jung já chamou de individuação. Os ponteiros de relógios de muitas vidas que se foram e de outras salvas por “homens-Crimson”. Um relógio que tem uma máquina mais precisa que as suíças e que é eternamente grata aos que não desistem de seus sonhos.

Aos que enterram suas memórias ruins, não olham para trás e que acima de tudo, refletem a luz dos que não tem medo de andar na contramão. Na pista ao lado, os imbecis com seus relógios marcam um tempo que aprisiona e mata. Essa não é a estrada de Crimson e se você escolheu esse livro não é a sua também. Eu tenho a honra e o prazer de apresentar a você, Crimson e sua saga. 

Em dose única e vital.



Mais de 40 anos depois do fim, The Beatles ainda surpreende

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Clinton Heylin é um jornalista e pesquisador inglês que o Irish Independent definiu como “o maior biógrafo do mundo do Rock”. Sobre os Beatles li quase dez livros, muita porcaria, admito, no entanto,  no bolo, estão o clássico “A Vida dos Beatles” de Hunter Davies (a única biografia autorizada da banda), o sensacional “Many Years From Now”, magistral tijolaço de 720 páginas escrito por um grande amigo de Paul McCartney, Barry Miles e “Sgt. Pepper´s Lonely Hearts Club Band – um ano na vida dos Beatles e amigos”, de Clinton Heylin. Estou relendo este.

A releitura está sendo crucial (no momento em que articulo minha própria obra com micro-biografias críticas e comentadas de pessoas do Rock) porque revela fatos que, sinceramente, passei por cima naquela ansiedade da primeira leitura.

Está lá na página 109: “Quando ele (Macca) apareceu no dia 1º.de fevereiro (de 1967) com uma canção-título para o álbum, “Sgt. Pepper´s Lonely Hearts Club Band”, George Harrison ficou aliviado, achando que enfim tinha um papel a desempenhar com a robusta guitarra solo prevista na composição.

“No entanto, depois de sete horas tentando gravar o solo de Harrison, McCartney decidiu que ele mesmo tocaria essa parte e, sem se preocupar com uma eventual recriminação, foi adiante e gravou o seu próprio riff”.”

Essa informação foi confirmada pelo próprio Paul em 2004. Ou seja, a fantástica guitarra que abre o álbum que dividiu a história do Rock (ouça lá embaixo), que todos julgávamos ser de George Harrison, é de Paul McCartney, que a partir de Sgt. Peppers (ele admite no livro) passou a assumir o controle da banda.

Por que? Porque Lennon, já estava de saco cheio de ser um beatle, Ringo Starr permanecia alheio e ainda bate pé afirmando que a bateria de “A Day in The Life”, é dele sim. E George Harrison magoado falava publicamente do que chamava de rejeição de Lennon & McCartney as suas músicas.

Fato é que, em praticamente todas as biografias, Lennon e Harrison exageram e dizem que só fizeram lixo nos Beatles. Atacaram o tempo todo numa inútil tentativa de defesa. Ringo? Só fastio enquanto que Paul, até o último segundo da existência dos Beatles, llutou pela banda, acreditou na banda e se tornou a banda.


Isso é fato!
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