Sim, um grande e admirável amigo nos deixou. Dr. Edgard Porto morreu domingo, 70 e poucos anos, em casa, depois de guerrear bravamente contra um câncer.
Não tenho palavras para descrever a grandeza humilde desse gigante gentil, de um metro e 90 de altura, que se orgulhava de ser médico psiquiatra. Por isso, só andava vestido de branco. Em qualquer lugar. Vocês devem estar estranhando o fato de eu chamar um amigo de doutor, mas há 30 anos, desde que o conheci, o tratamento é “você, doutor”. Por que? Porque eu o admirava como pessoa e como médico.
Um médico que desconhecia fronteiras, numa área dificílima que é o universo das emoções e distúrbios afetivos do ser humano. Dr. Edgard Porto não os temia, mas os respeitava. Ele me disse uma vez “meu caro, os distúrbios psiquiátricos são como o mar. Não devemos temê-lo, mas respeitar, sempre”.
Era apaixonado pela vida, por sua esposa dona Ana, pelos filhos, netos. Suas deliciosas crônicas dominicais na revista do Flu, do jornal O Fluminense, mostravam essa faceta. Amava profundamente Niterói, em especial o bairro que morava, São Francisco.
Na foto que ilustra esse texto, o trecho exato da praia de São Francisco onde ele me contou que, ainda pós-adolescente, passava a noite com os amigos olhando as estrelas. Dr. Edgard também amava o Gragoatá, a Gruta de Capri, que fica ao lado do prédio onde mantinha seu consultório, bons livros, música, os anos 70 no Teatro Municipal do Rio e, é claro, o de Niterói que visitou comigo enquanto Claudio Valério Teixeira (também amigo dele) restaurava nos anos 1990.
Acabei de saber, três horas atrás, que ele atendia de graça pessoas carentes de uma comunidade em São Francisco. Provavelmente um segredo dele, que minhas emoções deixam escapar. Um grande homem, um irmão, um amigo, enfim uma história ambulante de fatos, sons, ventos, peixes, medicina, hospitais, gente.
Obrigado Dr. Edgard Porto! Obrigado, querido amigo Dr. Edgard Porto! Niterói o abraça, afetuosamente. O mundo também. Viaje em paz, meu amigo.