Um homem na esquina; Los Angeles, São Paulo, Rio de Janeiro. Mão no ombro direito.
- Você já me conhece em sonho. Sou seu anjo.
- Sim, já te vi antes.
- Você me chamou.
- Vamos sentar naquele banco?
- Me pague um churro. Dizem que anjo não gosta de churros, pura balela.
- Bom te encontrar
- Qual é o problema?
- Nenhum. Chamei para agradecer por ter me livrado daquela confusão.
- Difícil...
- Difícil o que?
- Difícil um anjo ser chamado por mera gratidão.
- Saiba, meu chapa, que eu só tenho gratidão por você. Seus livramentos diários, toques quando estou dormindo e sonhando.
- Churro gostoso, esse.
- Esse cara é bom. Ele está te vendo?
- Está sim. Todo mundo está me vendo. Fique tranquilo que você não está “falando sozinho”.
- Obrigado por mais essa força.
- Qual?
- O livramento mais recente. Você me tirou da roubada na hora certa. Eu ia me ferrar feio lá na frente.
- Ia mesmo. Te livrei porque você pediu em sonhos.
- Confiança.
- Fé.
- Um dia quero conversar sobre a fé.
- Um longo papo.
- Meses atrás um aluno me perguntou o que é fé no meio de uma aula.
- Adolescentes desafiam até os anjos.
- Quase te chamei.
- Devia.
- Anjos como você não são táxis que a gente chama quando quer.
- Quando você não me chama a sua fé me liga.
- Fé...coisa linda a fé.
- Me paga outro churro?
- Claro.
- Então está combinando. Vou indo.
- Não suma.
- Não posso.
- Assuma.
- Claro.