A galeria dos anti-heróis que habitaram (e habitam) Brasília desde a fundação
JuscelinoJânio
Goulart
Castello Branco
Costa e Silva
Médici
Geisel
Figueiredo
Sarney
Collor
Itamar
FHC
Lula
Dilma
São comuns nas redes socais comentários do tipo “Brasília, uma prisão sem grades, onde os verdadeiros ladrões decidem o futuro do nosso país”, ou como disse o falecido músico Chorão “os bandidos de verdade tão em Brasília e tudo solto”.
A cada dia, a cada roubalheira que é descoberta, mais se acirra o preconceito contra Brasília e os brasilienses, o que é profundamente lamentável. Afinal, ninguém tem culpa se a loucura federal, em nome da tal “interiorização do país” autorizou um presidente a remover a capital federal da nação do Rio de Janeiro para o árido, deserto, tosco planalto central, uma operação que custou (e ainda custa) bilhões de reais. Brasília nasceu de uma sandice que começou a brotar em meados do século 19.
Inaugurada em 21 de abril de 1960 (fará 55 anos semana que vem), a nova capital obrigou (repito, obrigou!) milhares de funcionários públicos a se mudarem para lá. Família inteiras, ao longo dos anos 1960, 70 e 80, tiveram que acatar a ordem de morar no planalto central. Não conheço (pode ser que exista) famílias que tenham trocado suas cidades natais pelo novo Distrito Federal por vontade, desejo, prazer. Todo mundo foi a força.
Já estive diversas vezes em Brasília, sempre a trabalho. Não, uma vez fui passar a Semana Santa lá em casa de amigos e gostei da cidade, mas confesso que no terceiro dia já estava sentindo um certo mal estar, um inexplicável vazio, uma sensação de isolamento que todos os meus amigos que saíram do Rio e São Paulo para morar lá também perceberam no começo.
A população de Brasília (incluindo a região metropolitana) é hoje de 3 milhões 716 mil habitantes, segundo o IBGE, ou seja, repete o inchaço urbano das grandes metrópoles, miséria que habita as chamadas “cidades satélites”, vulgo periferia.
O brasiliense não é ladrão, não é safado, não é moleque. A maioria absoluta trabalha muito, estuda, corre atrás e condena roubalheiras históricas que acompanham a triste história dos poderes desde 1960.
Hoje, por causa da imundice moral e ética que volta a boiar no país, atiraram de novo em Brasília e nos brasilienses que, como nós, também estão indignados, enfurecidos e, é claro, envergonhados pois a cada passo dado por operações como a Lava Jato o nome da cidade se vincula mais ainda a corrupção.
Sou, serei e sempre fui contra a transferência da capital do país para lá. Os que protestaram na época não foram ouvidos e, com a remoção dos três poderes para longe, bem longe do grito do povo, deu no que deu.
Antes de Brasília, Executivo, Legislativo e Judiciário temiam o povo nas ruas porque era tudo logo ali, no Centro do Rio. Os jornais eram muitos, dezenas, fortes, alguns com até três edições por dia, a discussão política era acalorada e não foram poucas as vezes que deputados federais e senadores foram abordados na rua por eleitores indignados com algum fato.
Em nome da tal “interiorização do Brasil” arrancaram a capital dos chamados “braços do povo” e atiraram no meio do nada. Como consequência veio o esvaziamento político e econômico do Rio, a impunidade generalizada dos três poderes e o surgimento do crime perfeito. Ou quase perfeito.
No entanto, repito, se há culpados (é claro que eles existem) não são Brasília e muito menos os brasilienses.