Havia um banco de cimento bem perto da praia. Pequena praia, sem ondas, estreita faixa de areia, água muito clara, transparente, mais para verde do que para azul. A canção parecia brotar das nuvens, duas, brancas, destacando o azul profundo do céu limpo, sem fumaça, sem mordaça.
Deitar no banco de cimento, sorver o som da saudade de si. Por que não? Por que não deixar que a melancolia sopre a nuvem e produza o som dos tempos, da travessia das eras, das lutas, da vida dura levada a ferro e fogo? Por que ele, somente ele, não teria direito a sua melancolia, ao silencio de suas cavernas interiores, que ele não teve tempo de conhecer? Saudade e melancolia, velhas vizinhas, por mais novas que sejam as nuvens, por mais eterno que seja o céu.
Melancolia, um direito. Como folia, euforia, delírio. Saudade, dona de sons típicos, raros, que nascem de nuvens brancas e vadias, mapeando o céu como se nada mais existisse. Existe? Deitado no banco de cimento, olhos fechados, ouvindo o som das nuvens, uma lágrima escorre do olho direito.
O homem é amigo. Parceiro. Dá tudo de si desde o dia em que bateram em suas costas e disseram “é um menino”. Será suficiente? Ele não sabe. O mundo não é espelho, o afeto não é reflexo, a saudade é mais que sensação. Livre sensação.
Ele tem tentado tudo. Deitado no banco de cimento, cansado muito cansado, reconhece o empenho, a luta, a solidariedade. Será suficiente? Não sabe, não pode e não quer perguntar. Não dá para mensurar intenções.
Cansado, pede paz. Afeto. Cores. Nuvens. Saudade, muita saudade, de um tempo que não viu porque não tinha tempo para assistir o tempo. As nuvens tem a resposta, mas ele só as contempla. Quieto. Como uma música. Música do acaso. Música do sonho, da vontade, música do afeto. Profundo, azul, marinho afeto.
Afeto que não se encerra.
Jamais.