Não culpo a internet pelo ocaso dos jornais de papel. A internet é parte disso, claro, mas a incompetência, o desleixo e a arrogância são os maiores vilões. O experiente jornalista J.R. Guzzo definiu bem:
O Rio teve mais de 60 jornais diários (matutinos e vespertinos), com milhares de leitores, mas que por má gestão e desvario político, muitos sucumbiram, mas outros surgiram. Afinal, o carioca e o paulistano sempre foram ávidos por notícias
O que a internet fez? Criada em 1999, a internet logo começou a gerar conteúdo produzido pelos próprios internautas, muitos sem nunca ter chegado perto do jornalismo. Foi a primeira onda de boatos, fake news e similares.
Os jornais e revistas começaram a fazer os seus sites gerando conteúdo mas, seguindo uma trágica tradição; demitiu bons e experientes jornalistas optando por mão de obra barata, logo, desqualificada. Poderiam ter feto o contrário, investir pesado em grandes nomes, grandes matérias, mostrar para o novo mundo WWW que “é melhor e mais seguro ler aqui onde só há profissionais”. É lógico que os leitores iriam aderir.
Há dias, depois de mais uma tentativa, o Jornal do Brasil parou, de novo, de circular com a sua versão impressa. Durou um ano. No dia em que foi lançado, um domingo, a tiragem desse novo JB esgotou e foram rodadas mais duas extras para atender a demanda. O Rio recebeu com festa o seu herói do passado que...não tinha nada a ver com o herói do passado. Não vou detalhar, mas garanto que a culpa não foi da internet. Ficou comprovada a existência de uma demanda reprimida que o jornal frustrou. Se tivesse seguido uma linha editorial próxima ao do velho JB, teria se firmado como opção e com bons anunciantes.
Cezar Motta, lançou, ano passado, “Até a Última Página – uma história do Jornal do Brasil” (Companhia das Letras) um profundo relato sobre o nascimento, glória e morte da primeira encarnação Jornal do Brasil, um dos mais importantes jornais da América Latina durante décadas.
O jornalista passou anos pesquisando, entrevistou dezenas de pessoas e escreveu um livro fundamental para a história do jornalismo brasileiro, eterno refém de seus donos. “Coronéis” que usam as letras em prol de suas negociatas. Lourenço Cazarré escreveu no Correio Brasiliense em abril do ano passado:
“De acordo com a pesquisa de Cezar Motta, o Jornal do Brasil — que sabia estar condenado ao desaparecimento caso não obtivesse canais de televisão, como seu mega-adversário O Globo — morreu vítima de terremotos econômicos (crise do petróleo e maxidesvalorização do cruzeiro), aventuras brancaleonescas (criação de uma indústria papeleira), gestão mais que temerária e muita, muita empáfia. Nos seus anos de esplendor, era quase uma estatal com funcionários em excesso e muito desperdício.”
Pesquisando sobre o fim de outros grandes jornais brasileiros, os atestados de óbito revelam os mesmos motivos: ganância, vaidade, má gestão, desvios na linha editorial, donos metendo a mão em benefício próprio. Ou seja, a internet foi um "plus".
Aproveito e pergunto ao leitor aqui desta Coluna o que ele está achando da qualidade do jornal que lê hoje. As matérias são bem feitas? Há variedade de temas? Os assuntos são de seu interesse? O nível de imparcialidade é bom? A qualidade dos textos satisfaz? Os articulistas escrevem bem, tem opiniões interessantes?
No meu caso, há anos assino um jornal diário na versão digital e estou quase cancelando. A cada dia tenho a sensação de que estou fora do público alvo do jornal, focado fofocas, subcelebridades, inchado de anônimos articulistas que não conheço, escrevendo o óbvio, e, o pior, sem reportagens. Pois é, o jornal que pago para receber online pouco a pouco - cada vez mais raquítico - publica menos reportagens sobre o Estado do Rio e o Brasil, dando prioridade aos “currais” de colunas. Eles acham que reportagem custa caro.
Não me interessa a opinião de quem não conheço, de quem não tem referência jornalística ou de quem escreve para si mesmo. Diante desse quadro, concluo que leio, no máximo, 10% do jornal. Está assim porque a culpa é da internet? Claro que não. A internet virou uma boa desculpa para encobrir a estupidez.