Para Luis Bunuel, em memória.
Luis,
Você mostrou o quanto são patéticos os dias atuais. Você mostrou o quanto o máximo se fez mínimo em 40 anos. Você foi herói ao espatifar conceitos, cuspir em preconceitos e acordar o fantasma da liberdade com um tapa na cara, quando desabou sobre o mundo em 1.900. Não esquecerei de 1.900 porque não era nascido.
Luis,
Se tempos Donald Trump estuprando até a mais vil canalhice, num páreo inimaginável por você, em todos os anos, dias, horas e minutos de sua existência, devemos isso (sim, Trump é um isso) ao politicamente correto e sua nefasta e anêmica falta de argumentação. Ainda assim, o P.C. tomou o ocidente.
Luis,
O mundo de hoje, que desenterrou as banhas de crochê da corretinha Hilary Clinton, perdeu playboy. Se Trump arrombou a cena e será festejado com tiros de fuzis pelos inomináveis mamíferos que curram, matam, esfolam e atiram na vala suja. Em geral por prazer. E eles dão mil salvas de tiros para Donald Trump que para orgasmo múltimo das milícias e traficantes enquanto Vovó Donalda, a dona Baratinha, madame engomadinha, de sobrenome Clinton, não para de vomitar normas, regulamentos, estatutos, apesar de piscar os três olhinhos pros larápios. Sua filhota, que cobre 60 mil dólares por palestras sobre elas mesma, já tinha arrendondado para 120 mil, mas mamãe Donalda sífu,
Luis,
O fantasma do medo da liberdade dá nisso. Lembrei de você quando assisti na Netflix o filme “Into de Wild”, de Sean Penn. O cara da história real (codinome Alexander Supertramp) foi bem mais longe do que todos os personagens de seu “Fantasma da Liberdade”, que sacudiu o planeta, em 1974. Sim, Luis, na vida real! O cara foi fundo, rompimento radical, não temeu a vida, a estrada, a miséria. Mas, esqueceu de temer a morte.
Luis, ele não quis ganhar um carro zero de papai e mamãe. Amava o seu velho e carcomido sedã japonês Datsun todo estourado, lanhado, vivido. O Datsun amarelo fazia mal a seus pais porque a vizinhança comentava. E comentário de vizinhança em sociedades pequeno burguesas, é uma foice no escuro. Afinal, diz o estatuto, vizinhança tem que invejar e não esculachar. Por isso papai e mamãe do cara queriam lhe dar um Cadillac zero km no dia da formatura. E aí deu no que deu, um filmaço que arranca as nossas vísceras e atira na parede, como bolas de pênis.
Luis,
Tenho muita coisa para te dizer. Muita. E a cada dia me esforço para ignorar o medo do fantasma da liberdade, presente nos ônibus, mares, favelas, ocas, ilhas, estradas, esse estado de sítio existencial que oprime, arranca ar, sabe? Vontade de dizer “castrem aqueles inomináveis mamíferos que estupram a moças”, mas é proibido. Vontade de dizer “controle da natalidade já no Brasil, em todas as camadas sociais”, mas é politicamente incorreto. Assim como xxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxx
Entendeu, Luis?