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Channel: Coluna do LAM
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“Siga o luar interior; não esconda a loucura” (Allen Ginsberg)

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Quando ouvi, reouvi, ouvi, reouvi, ouvi, reouvi, ouvi, reouvi “Uivo”, com aquele semblante de tapa na cara que ele tem, novos encontros, desencontros e vadias emoções se sublevaram nos poros do inconsciente. E desabou a pergunta: como esse murro nas vísceras, lançado em 1956 na América do Norte é capaz de reverberar entre quase índios, negros, brancos latinos aqui na América de baixo, vulgo do sul?

Como “Apocalipse Now”, obra maior de Francis Ford Coppola, sinto “Uivo” como uma incursão interior em busca de verdades que muitas vezes inexistem, ou que conseguiram fugir de nossa cotidiana “ofensiva do Tet”, ou que não seriam verdade. Como o “Apocalipse” de Coppola, a obra desleixada, livre, boçal e genial de Ginsberg nada em veias abertas que foram suturadas a força em nosso rico “universo interior”. Hahahahahahahahah.

Na adolescência fui abduzido pelo existencialismo via Albert Camus e depois me atirei no movimento beat após constatar que o existencialismo é uma bela, equivocada e cascateira teoria, não aplicável. No caso da cultura beat, o que assusta é a liberdade. Tudo lá é possível, nada é provável e o tempo é o agora. Os beats não temiam a morte e iam mais além, muito mais além: não temiam a vida. Bebiam todas, fumavam tudo, comiam o mundo, morreram todos relativamente jovens mas, segundo Neil Cassidy, já fora da data de validade. 

Neil Cassidy era uma figuraça, amigo de Jack Keroac que o presenteou com o personagemDean Moriarty no clássico “On The Road”. As melhores imagens de Cassidy estão em “The Other One”, sensacional documentário sobre Bob Weir, guitarrista do Grateful Dead, lançado há pouco pelo Netflix. Valeu a dica, amigo Caíque Fellows!

Ouvir “Uivo” é uma bela experiência. Faz bem e faz mal. Faz bem porque o poema nos oferece a possibilidade de rebater, com chutes, coices, pancadas secas com taco de beisebol. Faz mal porque é impossível não se sentir relativamente medíocre depois de ouvir aquilo tudo.


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