Sozinho, sentado numa pedra, junto ao mar, contemplo a Baía de Guanabara e seus abismos misteriosos cobertos pelo manto do orvalho, da água, dos enigmas. Preferi não ir ao cinema, a um show, sair com os amigos. Necessidade de contemplação.
Perto de mim, um pequeno grupo pesca. Caniço e molinete. Falam de Deus, de fé. Um deles se diz ateu, o outro agnóstico, o terceiro fica calado cortando iscas e amarrando anzóis enquanto o quarto tenta remover as convicções dos dois primeiros.
Vontade de dizer que fé em Deus está acima da lógica, da razão, da complexidade imbecil das atrocidades terrenas. Não ter fé em Deus é um direito, por mais que esse movimento nos deixe incomodados.
Não fosse a fé em Deus, que acalma meu sono até quando bate o desespero (atire o primeiro Valium quem nunca foi atropelado pela sensação de desespero no meio da noite/dia) não estaria escrevendo.
Parodiando Raul Seixas, que entrevistei mais de dez vezes mas nunca consegui conhecer, Deus para mim é o princípio, o fim e o meio e nada, absolutamente nada, vai conseguir arrancar esse sentimento de minhas vísceras, diariamente realimentadas e restauradas pela fé.
Em outras palavras, resumindo a ópera, fé em Deus é o sentimento mais pessoal (intransferível?) que conheço. O resto é o resto.