Saí e fui a uma agência do banco sacar 60 reais. Das cinco máquinas três estavam quebradas, ou “em manutenção” como diz o burocratês. Fila, é lógico. Vinte minutos depois, com os 60 reais no bolso, vi uma confusão na esquina. Uma van fez a curva à Bangu e passou em cima do pé de uma senhora que, graças a seus atributos físicos, ganhou a ajuda de uma dezena de homens e, evidentemente, do motorista da van que quase apanhou. Ele levou a vítima para um hospital. Que hospital em Niterói, rainha da sucata administrativa? A única emergência existente, no Fonseca, Hospital Azevedo Lima.
Precisava comprar um chip para um celular que jazia adormecido numa gaveta. Entrei na loja, tudo moderninho, atendentes com notebooks HP zerados e munidos de total boçalidade. O rapaz que me vendia o chip queria me empurrar uma linha de qualquer maneira, apesar de, calmo, muito calmo, explicar a ele que eu queria um chip pré-pago e ponto.
Pediu meu CPF. Digitou não sei o que, não sei onde, porque o antílope estava com a tampa do notebook virada para ele. Não sei o que estava digitando. De repente, suando na testa, pediu que fôssemos para uma outra mesa. Fomos. Plec, plec, plec, digitava o rapaz. Me pediu a identidade, em seguida meu endereço com CEP. Tudo em capítulos, como Albertinho Limonta na novela O Direito de Nascer que assisti quando era pequeno. A novela durou uns três anos e quem assistiu pode confirmar.
Tudo certo. Veio o chip num pacotinho muito parecido com aqueles que guardavam os lencinhos úmidos da saudosa Varig. Estava lá o número do meu telefone. Ele pediu que eu digitasse asterisco e um número. Foi o que fiz. Uma voz gravada informou que em duas horas meu telefone estaria funcionando. Paguei e fui embora.
O sinal chegou e, para testar, liguei do outro celular para o de chip novo. Não tocou. Em menos de cinco minutos, o celular de onde liguei chamou e era um senhor perguntando quem havia ligado para ele. Resumindo: meu chip estava com o número errado. Voltei a loja, cafezinho, desculpas e peguei o chip certo.
Antes de ir para o trabalho passei em casa e verifiquei os e-mails. Um release estava cheio de erros de concordância. Mandei uma mensagem confidencial e elegante para o colega alertando sobre as calamidades. Ele gostou porque respondeu com um “valeu, LAM!” . Mais e-mails, uns 30, informando que receberam mensagens dizendo que meu endereço eletrônico havia mudado. Mentira! Comuniquei a lista toda que não mudei de e-mail e postei uma nota no Facebook.
Da cozinha de meu lar ouvium estrondo. O sujeito que veio trocar o reator da lâmpada fluorescente caiu da escada. Na verdade a escada, vagabunda, abriu no meio. O cara não se machucou, mas, ainda assim, pedi desculpas apesar da escada não ser minha.
E assim cavalga esse alegre Brasil que alaga até com sereno, não adia o carnaval nem sob calamidade pública, entope o rio Doce de Veneno, Dilma dia na França que o governo está resolvendo, o Rio vai fazer Olimpíada mesmo com a Baía de Guanabara podre. Brasil, Brasilzinho do cacete, semchip, sem lenço, sem documento, sobretudo sem caráter.
E sôda-se, diria Fócrates.