Texto restaurado e remixado
Muito se cacareja sobre invasão de privacidade. Os radicais gemem que as cidades se transformaram em big brothers, bisbilhotadas por câmeras que futucam o ir e vir do cidadão, teoricamente garantido pela Constituição, aquele livrinho verde que, lamentavelmente, não figura entre os best sellers onde uma suposta ex-baranga, surfistinha profissional brilhou com dois livros. Lembram? Nada contra ela, mas que é duro contemplar essa tosca paisagem isso é.
Invasão de privacidade sempre existiu. Quando você para com o carro num sinal de trânsito e um bando te enche de panfletos é invasão de que? Por que não anunciam seus produtos em jornal, na internet, no Rádio, na TV, em vez de ficarem enfiando aquela papelada por nossa goela adentro? Tem também o sujeito, "tadinho", que afronta com um pedaço de pau em chamas e que se diz malabarista, "tadinho".
O homem bêbado, coitado, vem cambaleando, coitado, para e te molesta. "Eu preciso de 10 reais para comprar uma passagem de volta para a minha terra". Podemos chamar essa invasão de "coitadismo"? Podemos sim. Ninguém vai chegar para o bêbado, coitado, e dizer, coitado, que não fomos nós que o arrastamos à força para cá. Ou, em casos extremos, fazer o que um célebre niteroiense já falecido fez em 1998, quando pegou um "coitadista" desses (que encheu sua paciência), pôs no carro, foi até a Rodoviária Novo Rio e comprou uma passagem para a terra dele. O coitado não quis embarcar de jeito nenhum de volta para a tal "minha terra". Teve um ataque na rodoviária, bateu no niteroiense que comprou a passagem e acabou preso. Era um bandido procurado no Rio.
Aí, caro leitor, você chega do trabalho num daqueles dias de 31 horas de pauleira e senta num bar. Pede uma latinha de refrigerante com gelo e limão. Em menos de três minutos surge um vitimologista profissional, batizado oficialmente de "excluído" e pede a latinha. Sim, ele vende latinhas de alumínio para faturar algum mas você, ainda calmo, explica que a sua lata e o saco estão cheios. Não adianta. Vem outro, outro, outro, outro, outro e você se vê numa encruzilhada. Ou dá a lata cheia e vai embora ou explode. Isso é invasão de quê?
Não vou falar dos flanelinhas pois, até segunda (des)ordem é tudo vadio, achacador, bandidaço e chantagista, especialistas em invadir privacidade ameaçando, coagindo, principalmente mulheres e idosos. Confesso que já escrevi um conto chamado “O Exterminador de Flanelinhas”. Não publiquei porque quem era para ser vilão (o tal exterminador) acabou herói.
Detesto poucas coisas nessa vida, mas o telefone está no topo de minha pequena lista. Desde 1992, ou 93, ou 94, enfim, uso internet e procuro estabelecer contatos por ela ou pessoalmente usando e-mail e similares. O telefone quando toca me infla. Isso é problema meu, eu sei. Quando estou lendo jornais (posso sorver desse momento especial?) deixo a secretária eletrônica atender, mas ela não sacia o invasor que parte para o celular. Acho que é urgente, atendo e em 99,99% dos casos é outra operadora querendo me vender ilusões ou malas em geral. Isso sem falar do famigerado telemarketing tentando vender maçarico pra bombeiro.
Perto dessa cordilheira de invasões de privacidade, big brother é uma inocente e cega codorna.