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Minha consulta com um médico da Máfia de Branco

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Inadvertidamente tive uma consulta com um que se diz médico, embora membro assumido da Máfia de Branco. Para quem não sabe, Máfia de Branco foi uma série feita pelo jornal O Pasquim nos anos 1970, com o apoio do Sindicato dos Médicos do Rio e do Conselho Regional de Medicina, denunciando atrocidades cometidas pelos maus profissionais, carniceiros de todas as laias.

Vários foram punidos e alguns até perderam o CRM, mas em determinado momento o Pasquim teve que parar. Integrantes da facção passaram a telefonar para os diretores do jornal dizendo nomes, escolas, horários, enfim, tudo sobre a vida dos filhos e filhas desses diretores, informando no final da ligação que “se o jornal não parar com isso, seus filhos irão pagar caro”. O jornal parou e não se falou mais na Máfia de Branco.

Dias atrás marquei uma consulta com um desses. Não esperei um minuto e entrei. Era um mauriçola com um iPhone chinês pousado sobre a mesa (falsificação grotesca), Rolex feito em Raiz da Serra (também dá para notar logo) e carinha de mau. Quando tracei o perfil da criatura pensei em desistir mas já era tarde.

Expliquei que tinha ido la por esses e aquele motivos e, também, para fazer um procedimento de rotina recomendado pela Organização mundial de Saúde e até pelo Governo Federal. O ganancioso doutorzinho danou a falar atrocidades com o objetivo de me aterrorizar e, quem sabe, arrancar uma grana no futuro. “Os mafiosos agem assim”, me disse um amigo MÉDICO com maiúsculas com quem conversei dois dias depois. Aliás, médicos com maiúsculas eu conheço dezenas, dezenas, dezenas. Que bom!

Até tentei rebater as calamidades proferidas pelo mafioso, mas ele não deu espaço e exatamente 15 minutos depois (em ponto pelo meu relógio que é japonês autêntico) ele levantou do seu trono. Achei que iria me chamar para fazer o procedimento recomendado em todo o planeta. Não, não era. “Na próxima consulta eu farei, quando você fizer os exames e tomar isso, isso, isso, isso e isso”, me passou uma receita.

Tentei argumentar mas fui praticamente expulso do consultório, como já disse, exatamente 15 minutos depois. Fiquei com pena da outra vítima que entrou logo depois de mim. Ah, sim, o doutorzinho mantinha um bloquinho à sua direita onde riscava os nomes de quem já havia sido atendido. Mergulhado em seu delírio terrorista não reparou que olhei para o bloquinho e constatei que naquele dia ele tinha atendido 11 pessoas (eram 5 da tarde).

Na pior das hipóteses, se todos tinham plano de saúde e se o plano paga 50 reais a consulta, o mafioso faturou R$ 550,00. Como a atendente (como a maioria das atendentes era falastrona) disse que ele atende de segunda a sexta, a tarde logo R$ 550,00 vezes cinco são R$ 2.750,00 por semana, vezes quatro são R$ 11 mil por mês. Mais um bico aqui, um plantão ali, um trambique acolá, calculou meu amigo médico, o meliante deve faturar mais de R$ 15 mil por mês.

O pior que ficou por isso mesmo. Não vou tomar nada do que ele prescreveu (nunca vi receitar sem examinar ou esperar exames de laboratórios chegarem), não voltarei mais lá e só não fui ao CRM porque posso resolver essa história de homem para homem. E o destino irá, sim, proporcionar um encontro meu com esse patife no meio da noite. Cara a cara. Se ele pratica a lei da máfia nesses casos prefiro o olho por olho.



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