Entregue as traças, o Canecão apodrece. Foto de Marcelo Piu, O Globo
Infiltrações, abandono, foco de dengue. O antigo tempo da música virou isso. Foto de Marcelo Piu, O Globo
Nem as ratazanas estão satisfeitas com o abandono do Canecão, célebre casa noturna carioca que depois de um longo processo judicial foi devolvida a sua dona a Universidade Federal do Rio de Janeiro. Ela mesma, a mesma que não consegue manter dignamente o Hospital do Fundão, onde profissionais de saúde padecem para conseguirem trabalhar.
Infiltrações, abandono, foco de dengue. O antigo tempo da música virou isso. Foto de Marcelo Piu, O Globo
Nem as ratazanas estão satisfeitas com o abandono do Canecão, célebre casa noturna carioca que depois de um longo processo judicial foi devolvida a sua dona a Universidade Federal do Rio de Janeiro. Ela mesma, a mesma que não consegue manter dignamente o Hospital do Fundão, onde profissionais de saúde padecem para conseguirem trabalhar.
A UFRJ devia tirar a máscara, a cara de pau e devolver o Canecão para quem sabe trabalhar com entretenimento e não ficar sentada em cima enquanto o prédio apodrece. Em 2013, O Globo publicou reportagem de Luiz Fernando Vianna, intitulada “Fechado há 15 meses e nas trevas, Canecão procura nova luz” que dizia: “Só há três focos de luz no Canecão: dois sobre o palco e um à esquerda de quem entra naquela que, até ser fechada, em outubro de 2010, era a mais famosa casa de shows do país. O desligamento quase completo da energia é necessário, pois as infiltrações tornam o espaço vulnerável a curtos-circuitos — como já aconteceu. Chuvas fortes provocaram a queda de telhas, molharam o célebre salão e vêm derrubando o revestimento acústico de polipropileno, origem do forte cheiro de mofo.” (...)
“Proprietária do terreno, a Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ) conseguiu reavê-lo em 2010, após longa briga judicial com o empresário Mario Priolli, que fundou o Canecão em 1967 e era inquilino da instituição. Mas ainda não superou dois empecilhos à reabertura: os problemas judiciais de Priolli e as divergências internas quanto a como geri-la.
Quando a Justiça determinou a reintegração de posse, o empresário paulistano, neto de italianos, foi embora e deixou para trás mesas, cadeiras, o sistema de ar-condicionado e outros bens (depauperados, mas bens). Eles foram penhorados como garantia, já que são muitas as dívidas de Priolli. Enquanto as pendengas não forem resolvidas, a UFRJ não pode usar os equipamentos nem se desfazer deles.”
“A Associação dos Docentes da UFRJ (Adufrj), cuja diretoria tem filiados a partidos como PCB, PSTU e PSOL, é contra a parceria com setores privados e pede um "projeto cultural para a cidade com cara própria, inovadora", segundo seu presidente, Mauro Iasi. Mas muitos professores, como representantes de Letras, da Casa da Ciência e da Editora da UFRJ, aprovam a entrada de recursos externos, embora a gestão deva ser pública.
O Sindicato dos Trabalhadores em Educação da UFRJ — cujo leque partidário inclui PT, PDT e PSB — está afinado com a Adufrj e diz que basta "vontade política" para dinheiro federal ser injetado no Canecão.
Dentre os alunos, o GLOBO ouviu representantes do Diretório Central dos Estudantes e da Associação de Pós-Graduandos. Há quem considere saudável a abertura nos fins de semana para eventos comerciais, mas todos defendem controle público, para que eventuais receitas externas fiquem na UFRJ.”
Papo aqui, papo ali, muita enrolação, e o Canecão jaz apagado, largado, chutado para escanteiro. O bom senso informa que seria melhor mesmo que a UFRJ arrendasse o prédio e fosse salvar sua própria pele, simbolizada pelos escombros do Hospital Universitário Clementino Fraga (Hospital do Fundão) que já foi referência nacional e hoje é uma vergonha.
O que a UFRJ ganha com o Canecão abandonado? Não é à toa que crescem os boatos que no local poderá subir mais um espigão.