Quantcast
Channel: Coluna do LAM
Viewing all articles
Browse latest Browse all 1917

Crônica de um amor proibido

$
0
0

“LAM,
Leio sempre a sua coluna pois acompanho o seu trabalho há muito tempo, desde quando você tinha o seu melhor programa, chamado “Soft Rock”, na rádio Globo FM nos anos 90. Foi nessa época que deixei o Brasil e desde então vivo na outra América, a do Norte, com marido, filhos, Greencard e tudo mais.

Você não me conhece, nem de nome, nem de vista, mas continuo te acompanhando e um dia desses você citou a canção “No Quarter” do Led Zeppelin segundo você na “versão remasterizada por Jimmy Page na Deluxe Edition do álbum “Houses of the Holy”. Claro, lógico que comprei “Houses of the Holy” remasterizado porque simplesmente esse disco trouxe “No Quarter” ao mundo.

Ontem você narrou a censura sofrida no Facebook o que também achei absurda, mas toda a vez que o tema “proibição” se encontra com “No Quarter” e, para amplificar as coisas, acendo um baseado uma antiga história de amor vem à tona e eu penso, penso, penso, olhando a fumaça se desfazendo no ar movida por aquele piano quase dopado tocando languidamente.

Claro que fico meio down, sabe? Afinal eu vivi intensamente esse amor proibido, inicialmente achando que não era proibido coisa alguma até ele chegar para mim e abrir o jogo, dizer que era casado e que não tinha intenção de abrir a relação. Não chegou a dizer que comigo era apenas sexo, maconha e rock and roll mas nunca fui tola, nem burra.

Ah, LAM, como eu amei aquele cara. Amei profundamente e só não ignorei quando ele revelou seu casamento porque a coisa se complicou. Não nos encontrávamos nos fins de semana, nem nos feriados, nem nos horários “nobres”. Eu era “a outra” mas, quer saber, e daí? Eu o amava incondicionalmente (?) e, é lógico, achava que em algum momento teria a exclusividade daquele homem ou falando português claro, achei que aquele cara seria meu.

Encontros furtivos, muitos beijos, juras não secretas, sexo muito bom, maconha e “No Quarter” no final. Aí eu pegava meu carro e, ouvindo “No Quarter” andava em círculos pela cidade (é difícil andar em círculos em Brasília), parava num bar bebia dois ou três Martinis e ia para casa onde afogava a minha dor jamais assumida, ao som de que, LAM? De “No Quarter”.

Até que um dia eu estava com ele perto a Esplanada, conversando no carro estacionado, papo sobre o filho que eu estava esperando e a mulher dele apareceu. Foi um horror, um horror. Ela quebrou meu carro todo com uma tranca de volante, queria me agredir (ele nada fez) e apesar de estar com uma boa quantidade de maconha na bolsa senti alívio quando a polícia apareceu. Preferia ser presa como maconheira do que morrer nas garras daquela histérica mulher.

E assim terminava mais uma crônica de amor proibido. Dias depois soube que ele me procurou mas eu, muito deprimida, já estava em Los Angeles dando um tempo de 15 dias na casa de um diplomata amigo de meu pai. De lá fui para o Canadá, passei umas semanas, voei para a Europa rodei até a Croácia e foi em Zagreb que admiti que tinha vivido o maior amor de minha vida, quase transformado em crônica policial.

Tive meu filho em Nova Iorque e em Nova Iorque conheci meu marido que, discreto, esperou que eu contasse a minha história e a de meu filho mais velho, cujo pai sabe que ele existe. Será que sabe, LAM? Bom, tivemos mais um casal de filhos e hoje vivemos em Chicago, onde dou aulas numa faculdade e ele é cirurgião chefe de um grande hospital. LAM, um final feliz, concorda?

Sou feliz sim mas eventualmente ponho “No Quarter” para tocar (a versão que você citou é mais forte porque não tem vocal), fumo um, mato uma saudade virtual do cara sempre amplificada pelos delírios da ilusão e depois caio na real. Nada de flash back, nada de “ai, por onde anda o homem da minha vida?”, nada disso. O homem da minha vida é sempre o que está comigo.

Siga em frente LAM. Se quiser publicar esse “comentário” será uma honra para mim. Até ligarei para amigos para avisar. Não pare de escrever, não pare de transpirar rock and roll, em especial o Led Zeppelin. Fica aqui um beijo carinhoso, mas não dá para assinar esse bilhete sincero.



Viewing all articles
Browse latest Browse all 1917