Estou triste, muito triste com a morte de uma grande mulher chamada Scarlet Moon Chevalier, 62 anos. Jornalista, escritora, mas sobretudo uma pessoa generosa, bem humorada, genuinamente carioca e genial, Scarlet é de uma geração que acreditava na volta da democracia, mas não ficava lambendo as feridas pelos cantos. Mesmo com o 64, mesmo com AI-5, ela brilhou e fez o Brasil brilhar por onde passou: Rede Globo, produção musical, jornais, enfim, o país perdeu hoje um dínamo de emoções, talento e muita generosidade.
Conheci Scarlet no final dos anos 70 na Radio Jornal do Brasil. Eu era repórter do departamento de Radiojornalismo, na época dirigido por Ana Maria Machado, e fui editar uma fita num dos estúdios. Luiz Carlos Saroldi, saudoso, lendário, vinha com a Scarlet pelo corredor e me apresentou. Ela estava divulgando um compacto simples de um cantor e compositor chamado Luiz Maurício, que na década de 80 explodiu como Lulu Santos. Scarlet foi casada com ele por quase 30 anos.
Ouvi o compacto ao lado do Saroldi e aproveitei para fazer um registro para o jornalismo da rádio. A partir dali, encontrei Scarlet várias vezes, sempre dando suas antológicas gargalhadas, sempre divulgando alguém, falando das pessoas, do novo, do Rio, de Ipanema. Teve um programa que se chamava “Noites Cariocas” (não tenho certeza do nome) que entrevistava gente de todas as áreas na então TV Corcovado, hoje CNT.
Ela, Lulu e, na época, as crianças, passaram um domingo comigo em Niterói. Fomos a uma casa que tinha em Itaipu, piscina, sauna, depois fechamos com um almoço no Sacada, restaurante que existia na praia de Charitas. Um dia inesquecível.
Scarlet merece todas as homenagens disponíveis no Rio de Janeiro porque a cidade, que estava numa fase dark naqueles anos 70/80, devia muito de seu brilho a lua escarlate que Scarlet Moon visualizava sobre a Baía de Guanabara. Não a vejo desde os anos 1990 e só peço a Deus que a faça descansar em paz. Muita paz.