Estou chegando a metade de sua magistral autobiografia “Vida de Cinema: antes, durante e depois do Cinema Novo” (Editora Objetiva, 680 páginas) e quando terminar escreverei uma resenha aqui neste blog. Essa mensagem é apenas o começo.
Seu livro me dá orgulho de ser brasileiro, de acreditar nesse nosso bestial país e, mais, acreditar desde sempre que temos, sim, uma indústria de cinema robusta, bem contextualizada, que finalmente caiu nos braços do povo. Para você, leio em sua autobiografia, nunca foi fácil. Afinal, você é um dos criadores do fabuloso Cinema Novo que tanta polêmica gerou entre os reaças da nação. Mais: você conseguiu burlar os gorilas e trabalhar no auge da ditadura, sempre ao lado de grandes amigos, provocando uma comoção cultural no Brasil, a partir do Rio de Janeiro. Cacá, como eu te admiro!
No momento estou sentado, ao lado de muitos colegas, assistindo ao apagão ético que marca o Brasil neste milênio. Gente descompromissada com a verdade e com a lisura, mete a mão na maior cara de pau; colegas fazem meia com outros colegas divulgando a cultura da panelinha em detrimento da frieza crítica. Um movimento que no passado não muito longínquo (anos 1990 para trás) era uma atitude passível de demissão nas muitas Redações sérias e honradas do país. Hoje, o jabá voltou com força total e, acredito, em vários setores da economia, da sociedade, do que podemos chamar da sustentável leveza do ser.
O mais incrível em seu livro é saber que se eu já o admirava por assistir seus filmes e ler seus artigos, vejo que suas referenciais culturais são profundas. Saiba que estou fazendo uma lista com seus autores e cineastas preferidos que iriei ler/assistir assim que concluir a leitura de seu livro, especialmente o seminal “Rio, 40 graus” que não tive a oportunidades de contemplar.
Quanto ao Glauber Rocha, vivi intensas três horas com ele, por conta do acaso. A editora chefe do lendário Departamento de Jornalismo da Rádio Jornal do Brasil, Ana Maria Machado, me mandou cobrir o velório do Di Cavalcanti no MAM. Foi no dia 26 de outubro de 1976. Com um gravador portátil eu colhia depoimento de várias pessoas quando, de repente, comecei a ouvir alguns gritos. “Close na cara do defunto!!!...vai! vai! vai! Close na cara dele”. Era o Glauber dirigindo um fotógrafo que filmava o velório com uma câmera Bolex de 16 milímetros, a corda. Nascia ali um documentário que a família do Di acabou proibindo de ser exibido.
É claro que entrevistei o Glauber também, e ele estava muito emocionado. Muito. Fez uma bela reverência ao Di Cavalcanti e se a família soubesse o quanto Glauber o amava com certeza liberaria esse documentário-homenagem. Fato é, Cacá, que vendo o Glauber Rocha trabalhar eu pude assistir o destemido Cinema Novo em luz, câmera, ação! Vocês são demais!
Vou retomar a leitura de seu livro. Com muito prazer! Viva você, Cacá Diegues! Que bela história é a sua vida de cinema.