Dizem que a minha TV por assinatura disputa o penúltimo lugar entre as piores da América Latina. Calúnia. Ela até funciona de vez em quando, especialmente quando surramos o monitor com toalha úmida (molhada não pode porque danifica).
Bem, a minha TV tem como hábito ceifar o final dos fatos. Um dia desses assistia a um programa com gênios, uma espécie de competição de não imbecis, para imbecis. Legal o programa. Um dos caras fazia raiz quadrada de cabeça, memorizava senhas de 25 letras e números e no final, depois de memorizar dezenas de bolas pretas e brancas, puseram vendas nos olhos dele.
Depois de um tempo, ele abriu os olhos e começou a dizer, diante da fila de bolas, “branca, branca, preta, preta, preta, branca, preta, branca, branca”, enfim, ele tinha decorado a ordem das bolas. No final...não vi. Minha TV por assinatura congelou e até hoje não sei se o cara conseguiu ir até o final. Até e-mail para a National Geograph (a TV), vulgo Nat Geo, já mandei perguntando.
Liguei para o suporte técnico. Só rindo. O cara me atendeu, pediu o número do assinante, CPF, endereço, CEP e disse “um momento”. Passou para uma colega que pediu o número do assinante, CPF, endereço, CEP e quando passou para um terceiro rosnei. “Chega, vocês já tem os meus dados. Não falo mais nada”. Um amigo meu garante que é de propósito, pra gente cansar e desligar, não sei.
Bom, o terceiro, chamado Lindiberto, que me atendeu pediu: “por favor retire a tomada do codificador (não sei se o nome é esse)”. Eu pedi um momentinho e, engatinhando, fui lá atrás e puxei. Voltei para o telefone (a bateria do sem fio acabou e está muito calor para eu correr atrás de outra) e informei “a tomada foi retirada”.
Lindiberto pediu um momentinho, algo em torno de 10 segundos e disse “agora, por favor, o senhor volta lá e liga o codificador de novo na tomada”. Engatinhei de novo e pus. Voltei pro telefone já sentindo uma certa dor no lombo já que reza a lenda que o meu projeto é andar de pé e não de quatro.
Ele perguntou “normalizou o sinal?”. Infelizmente continuava congelado e eu confessei que não. Mais uma vez Lindiberto pediu: “senhor vá até o codificador, tire o cartão magnético, conte até 10 e bote de novo”. Engatinhei de novo, tirei e botei o tal cartão e voltei para o telefone, já meio que bufando. “Pus, meu amigo”. E ele “normalizou, senhor?”. Não, não tinha normalizado.
“Está chovendo forte aí?”, Lindiberto perguntou. Sinceramente pensei “ele tomou Bardahl” e respondi que não, que a seca está braba, urubu morrendo no vôo. Curioso, emendei perguntando “o que a chuva teria a ver com isso se a TV aqui é a cabo e não via satélite?”. Ele explicou que “o sinal para chegar no cabo passa por uma parabólica sujeita a instabilidade durante chuva forte”. Entendi. Na verdade a minha TV à cabo é filhote de uma TV por satélite. Com todas as desvantagens do cabo e do satélite, mas não era um bom momento para autoflagelação.
“E agora?”, perguntei. Ele rebateu “agora o senhor volta lá, tira a tomada, tira o cartão e volte a falar comigo”. Engatinhei de novo e voltei para o telefone: “tirei tudo, meu amigo”. E ele “agora conta até 10 e bota”. Engatinhei de novo, contei até 10 e botei. Voltei para o telefone.
Lindiberto: “vou mandar um reforço de sinal. Por favor pegue o controle remoto e digite em ‘menu´. A tela ficou azul e ele explicou que “o sistema está reiniciando e o sinal sendo reforçado”. Sinceramente, depois de 43 minutos nessa brincadeira, achei que o cara estava de sacanagem e comecei a querer encrespar até que...acreditem: a TV normalizou.
Desliguei o telefone e fiquei pensando: a alta tecnologia ainda vai levar o ser humano de volta a condição de quadrúpede. Desliguei a TV, peguei o carro e fui comer um saco de Cebolitos no posto de gasolina.