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Eddie van Halen era como um amigo distante

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                                             Pessoalmente, Eddie numa péssima fase. Mas que virtuosismo.

A mensagem do amigo André Valle entrou no whatsapp na tarde desta terça feira. “R.I.P. Eddie Van Halen”. Foi um daqueles coices que a gente leva quando temos a sensação de que roubaram um pedaço da nossa biografia recente.

A guitarra do Eddie esteve presente em minha vida desde 1977 até uns anos atrás, quando saiu aquele ao vivo no Japão da banda.

Confirmei que ele era meu ídolo em 1983, no Maracanãzinho, onde a banda Van Halen despejou todos os seus incendiários decibéis sobre nós. A esquerda, Eddie, magro, sem camisa, empunhando aquela guitarra Kramer vermelha com riscos brancos, toda mexida por ele, capaz de sons impressionantes.

Foi o show de rock com o volume mais alto que assisti. Foi meio por acaso. Mandaram o mapa de palco errado para o gerente da turnê da banda e ele configurou o equipamento como se o show fosse no Maracanã e não no Maracanãzinho. Até aí, tudo bem, era só reequalizar tudo, mas o Eddie gostou da ideia de som de estádio em ginásio e mandou os caras acenderem o caldeirão.

Assim que o show começou, algumas pessoas lá da frente caíram no chão, vidraças de vários apartamentos na avenida Maracanã quebraram, foi como se o Vesúvio tivesse entrado em erupção ali, na frente de todo mundo. Foi assim durante mais de 10 minutos até que alguém foi lá e apagou a chama. Vaia, muita vaia. O povo queria a tormenta, mas mesmo “baixo” o som era demolidor.

A banda estava em sua melhor formação. Eddie (guitarras), seu irmão mais velho Alex van Halen (bateria) Michael Antony (baixo) e David Lee Roth (vocal). Foi um massacre, não dava para ouvir gritos, aplausos, só dava para sentir os gritos lancinantes daquela guitarra enfeitiçada do Eddie que na época estava próximo do pico do alcoolismo e dependência de drogas pesadas. Ainda assim, doidão, meio trôpego, não errou uma mísera nota porque a guitarra era a extensão do seu corpo ou o seu corpo era a extensão da guitarra, não importa.

Naquela época só a nossa Rádio Fluminense FM tocava Van Halen e toda a multidão presente era ouvinte. Empurrado pelo som fui parar na arquibancada do outro lado, em frente ao palco, na reta dos P.As. de áudio e, tomado de lembranças do passado e do futuro, essas magias que o rock faz, berrei, gritei, me esfolei e quando o show terminou ficaram os ecos. Ecos, ecos, ecos. A guitarra do Eddie ficou zumbindo uma semana.

O povo ululou, pediu mais, a banda deu um bis ou dois e sumiu. Sumiu para nunca mais pisar no Brasil. Tenho a impressão que eles caíram na cilada de um mexicano filho da puta, empresário do setor latino da turnê, que quase deu um banho também na Fluminense FM.

Desde que conheci o Van Halen praticamente só ouvi dentro do carro. Não dá para ouvir em volume baixo, por isso no carro, ar ligado, vidros fechados, unindo prazer com civilidade. Tentei acompanhar o Eddie, preocupado com o seu estado; detonado, pé na cova. Até que perto do ano 2000 ele se tratou, virou atleta e ficou limpo, fundou a fábrica de instrumentos e amplificadores EVH, estava pleno na vida, mas não conseguiu vencer a luta contra um câncer na garganta que o matou nesta terça-feira.

Um sentimento estranho, como se tivesse perdido um amigo que mora longe, na verdade pura gratidão. Agradecimento ao Eddie por suas músicas e suas guitarras que me acompanharam na alegria, nos downs, na dor de corno, na euforia.

Uma gratidão que irá prevalecer. É muito bom ter um ídolo como o Edward Lodewijk Van Halen, holandês nascido em 1955, norte-americano desde 1962 e, com certeza um dos mais extraordinários músicos dos séculos 20 e 21.


                                            


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