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Cavalgava sem Valquírias, ou, volte logo Reserva Cultural! Atenção: texto com spoiler

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Lembro tão bem que sinto um nó na garganta. Depois de dois dias esperando uma ligação telefônica que não veio, fui ao cinema assistir “O Resgate do Soldado Ryan”, de Steven Spielberg. O filme chegou a Netflix.

História real.

Ao desembarcar na Normandia, no dia 6 de junho de 1944, o capitão Miller (Tom Hanks) recebeu a missão de comandar um grupo para o resgate do soldado James Ryan, o caçula de quatro irmãos; três haviam morrido em combate. Ryan estava dentro nas linhas inimigas.

A medida em que o filme foi desfilando na telona comecei a me identificar muito com o capitão Miller e lá pelas tantas, no auge da história, o nó na garganta se tornou choro compulsivo, que consegui disfarçar bem.

Acho.

Quando o capitão Miller, já em agonia, disse para Ryan “faça por merecer!” (quem assistiu o filme sabe o peso dessa frase) meus olhos estavam desfocados. Era 1999. Vi o capitão Miller em mim e me vi no capitão Miller.

O Cinema, a Literatura, a arte em geral tem esse poder, essa magia, essa força que nos joga nas telas (e nas páginas) para onde transportamos nossos momentos e os vemos incorporados em outros.

No dia do “Soldado Ryan” percebi que muita gente chorava diante da carga que o monumental Spielberg despejou na tela. Provavelmente muitos se sentiam o Ryan, ou a mãe dele, ou os irmãos, ou o capitão Miller, como eu.

O Cinema é um gigantesco documentário sobre nós mesmos, escrito por ocultos terceiros. Seja comédia, ação, drama, suspense, terror. Seja brasileiro, americano, europeu, asiático, mexicanos, no Oriente Médio.

As pessoas não escrevem para que, escrevem para quem. É uma delícia ter musa, mesmo a ilícita que o onanismo voraz e desesperado tenta, em vão compensar, orvalho perante o jorro da catarata.

Para quem Buñuel fez “A Bela da Tarde”. Para Silvia Pinal? Picasso, sabemos, pintou para Jacqueline Roque, Françoise Gilot e Dora Maar. John Lennon compôs e cantou para Yoko Ono.

Cinema não é quase tudo. 

É tudo.


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