Quantcast
Channel: Coluna do LAM
Viewing all articles
Browse latest Browse all 1917

Plano Coronavírus de Justiça Social*

$
0
0

*Artigo publicado no jornal A Tribuna RJ.



O ex-presidente dos Estados Unidos, John Kennedy, disse:

“Não pergunte o que seu país pode fazer por você. Pergunte o que você pode fazer por seu país.”

Respondo: Kennedy já deu! Estamos exaustos, 
cansados, séculos de exploração, abuso, roubalheira, politicagem, impostos que se multiplicam como ratos no esgoto. Por isso, Kennedy, invertemos a sua frase:

“Não pergunte o que você pode fazer pelo seu país. Pergunte o que o seu país pode fazer por você.”

Vou até sugerir ao comandante em chefe aqui desta A Tribuna, Dandan Amora, que faça um adesivo com a frase invertida para espalharmos pelo mundo. Digo, terceiro mundo, sofrido, pisoteado, humilhado, eterno fornecedor de lagostas, camarões e diamantes para os faustos do andar de cima, sempre de olho no Rolls-Royce do Juízo Final.

O Brasil é riquíssimo. Só de reservas cambiais são 357 bilhões de dólares ou 1 trilhão,782 bilhões de reais. A história recente mostra que não falta dinheiro para sustentar a esbórnia dos poderes: toneladas de caviar, ternos Brook’s Brothers, Rolex no pulso, carros de luxúria pretos, profusão de motoristas, seguranças, mordomos, circulando por mansões no Lago Sul (Brasília), tudo pago por nós.

E ainda, bilhões em corrupção, desvios de verbas, obras inacabadas, é uma dinheirama incalculável, muitos trilhões. Dinheirama que, temporariamente (?), vai descer do andar de cima da cobertura da luxúria vadia para o subsolo quente e abafado da realidade. O Brasil não é Lago Sul. O Brasil é Cavalão, Estado, Preventório, marquise da Amaral Peixoto.

O andar e cima teme que com essa quarentena a fome assuma proporções incontroláveis e o país entre em guerra civil. E não vai ser com discursos, bravatas e muitos menos ataques histéricos que o Estado vai conter a hemorragia social.

Sonhei que lia um manifesto que dizia que o único caminho para impedir a rebelião é o que podemos chamar de Plano Coronavírus de Justiça Social. O texto previa que o Estado vai abrir mão do uísque de 100 anos e bancar boa parte da folha de pagamento de todos os trabalhadores de todas as empresas até a economia sair do coma pós coronavírus; pagar 50% dos planos de saúde da população que os possui; suspender a cobrança de todos os impostos e taxas; repassar para as empresas de energia, telefonia e afins os valores que seriam pagos pela população; bancar a sexta básica para todos os que recebem até X salários mínimos. E outras medidas.

O manifesto do sonho lembrava que não adianta presidente xingar governador, governador xingar presidente, presidente dizer que é machão, ministro cacarejar de medo. O que resolve é cortar boa parte dos salários (e todas as mordomias) deles e dos ministros e secretários de estado para ajudar a bancar o Corona Plano.

Em um dos parágrafos: a foice do Plano terá que sobrevoar, também, o Congresso Nacional, STF, STJ, ST isso, ST aquilo. Foice geral, todo mundo pianinho, todo mundo classe média, todo mundo feliz de estar fazendo parte da tão sonhada distribuição de renda justa. Exatamente aquilo que prometeram em todas as campanhas eleitorais.

O texto seguia: com o Plano Coronavirus de Justiça Social aplicado virá, então, a certeza de que que somos um povo cordial, educado e pacífico e não os incendiários que fazem as guerras civis pelo mundo.
Outro destaque.: sabemos que a fome tem cheiro de pólvora, que a injustiça lembra o aroma de sangue e a esperteza traz o fedor da calhordice. E que estafa social, que despeja multidões debaixo das marquises tem, sim, um limite. Esse limite foi o coronavírus, que segue matando, esfolando, arruinando. Destroça vidas e também a economia, empregos, famílias, mas rompe com a sórdida e cínica tradição do “apertem os cintos”, “todo mundo tem que dar a sua cota de suor”.

Finalizando o sonho: O Estado é rico. O Estado é nosso. Que pague, então, essa conta. Ou apague, depois, o incêndio.


Viewing all articles
Browse latest Browse all 1917