Um grande amigo postou ontem no Facebook essa frase atribuída a Nelson Rodrigues.
Imediatamente quem acha que conhece o escritor, teatrólogo e o escambal, tricolor até a medula, viu que a frase não é dele e até soa como provocação contra ou deboche do próprio.
Ainda estagiário, lá na casa do cacete dos anos 1970, tive um contato com Nelson e outro com o Drummond, Carlos Drummond de Andrade.
Estava na redação do JB conferindo uma matéria que havia feito para a rádio. Nelson estava sentado, escrevendo. Em uma mesa próxima, o chefe de reportagem Paulo Sergio (pelo que me lembro) e o chefe de redação (não lembro o nome) estavam falando da confiabilidade ou não de uma fonte sobre uma matéria que tinham acabado de receber.
Nelson Rodrigues escrevia, mas prestava atenção na conversa. E em determinado momento, disparou, voz de canhão?
- Não percam tempo com essas bobagens...se quem escreveu não sabe, quem lê sabe menos ainda.
Pano rápido.
Mais ou menos na mesma época, também pela manhã, entrei no banheiro do JB. Numa das baias do mictório, vulgo mijadouro, estava Carlos Drummond de Andrade.
Dei bom dia e fui para uma baia próxima. “Caramba, estou mijando ao lado de um dos maiores poetas do país”.
Ele, quieto, eu mudo.
Terminou antes, fechou a braguilha, lavou as mãos e, antes de sair, deu “bom dia, meu jovem”. Respondi, “bom dia, mestre”. Ele replicou, meio sorriso nos lábios: “Menos, por favor...”
Depois, soube, no bandejão (restaurante popular dos jornalistas no sétimo andar), que o assunto Nelson Rodrigues rendeu: Nelson e o jornalismo, o Fluminense, a política acabou se alongando. Afinal, ele era um reaça de direita, mas como renegar a sua maestria?