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“Nova Inquisição” quer esquartejar Raul Seixas. De novo

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Como aconteceu no escandaloso, covarde, inominável caso da Escola Base (leia aqui: https://pt.wikipedia.org/wiki/Escola_Base)quando me e senti enojado de ser jornalista, começam a surgir no seio da nova inquisição (com i minúsculo) que assola o Brasil ilações que visam assassinar Raul Seixas mais uma vez.

Em vida, perseguido, drogado, alcoólatra foi assassinado pelo moralismo extremo e boçal que é “pai” de todas as ditaduras. Fardadas ou não. Diante de uma probabilidade, Raul está sendo defenestrado mais uma vez

Leia o que foi publicado no TAB UOL aqui https://bit.ly/34cnpUC
Sobre o assunto, o jornalista, pesquisador e escritor Ricardo Alexandre escreveu no Facebook:

“Fui entrevistado pelo UOL Tab nessa pauta a respeito da "cultura do cencelamento" e a polêmica em torno da suspeita de que Raul Seixas teria comprometido Paulo Coelho junto à polícia política da época da ditadura.
Ficou fora do bom texto do Tiago Dias um trecho da nossa conversa em que eu falava a respeito da lógica perversa do espalhamento das notícias em tempos de redes sociais. Queria, aqui, trazer esse assunto à tona:

- Jotabê Medeiros é um jornalista sério, trabalhei com ele por muitos anos, e queria testemunhar a seu favor. O que ele fez em seu livro, que eu ainda não li (como de resto ninguém ainda leu, ressalte-se), aparentemente foi dar destaque a documentos que nunca haviam sido destacados e que ajudariam a explicar o afastamento e o estranhamento que acabou separando uma das duplas mais geniais da história da música brasileira: Raul Seixas e Paulo Coelho.

Tanto os documentos tinham relevância que estamos discutindo isso até agora. E tanto o episódio foi mesmo o estopim da separação que o próprio Paulo confirmou isso, diversas vezes, elegantemente, pelos dias seguintes.

- "O Jotabê quer vender livro": uma "acusação" dessas não deveria partir de alguém como Paulo Coelho que paga suas contas com o percentual que lhe cabe da venda de seus livros. E não partiria de mim, que também quero que meus livros vendam.

O que o Jotabê fez foi destacar alguns trechos de seu livro para mostrar o que há por vir, criar o barulho necessário para esquentar o interesse pelo lançamento dele, previsto para dia 01/11. Absolutamente normal, ético e moral. Vi outros veículos destacando outras coisas (como o diário final de Raul). A Folha entendeu que o assunto do Dops era mais interessante.

- Aí vem o conteúdo da Folha em si, onde toda a polêmica rolou. Você sabe como funciona a criação de um título em tempos de internet e "Search Engine Optimization"? Funciona assim: você precisa criar um título com o maior potencial de ser encontrado nos mecanismos de busca. Com palavras-chave vendedoras como "Raul Seixas", "Paulo Coelho", "entregar", "ditadura", "colaboração com militares". E, ao mesmo tempo, que vença a "briga" no mundo dos compartilhamentos. E, ao mesmo tempo, que explique minimamente o conteúdo, mas que não revele totalmente o que queremos que as pessoas leiam. 

Ficou "LIVRO SOBRE RAUL SEIXAS CITA SUSPEITA DE QUE ELE ENTREGOU PAULO COELHO À DITADURA. "Não diga que a canção está perdida', de Jotabê Medeiros, traz documento que sugere colaboração com regime".

- Não custa lembrar que o autor do livro não tem nenhum domínio sobre o título que a Folha deu ao conteúdo, assim como eu também não tive domínio sobre a entrevista que dei ao TAB.

- No caso em específico, o título da Folha é irrepreensível. Note que o jornal não diz "Livro afirma que Raul entregou Paulo à ditadura". O título diz que o livro cita que HAVIA UMA SUSPEITA da parte do Paulo Coelho de que ele TERIA SIDO delatado pelo Raul.

E, não custa repetir, O PAULO CONFIRMOU isso, em suas redes sociais. Note: nem o jornal, nem o livro, nem o Paulo estão dizendo que DE FATO houve a delação. O que está dito é que a amizade e a parceria foi abalada por causa de uma SUSPEITA. E, aparentemente, o livro conta isso - algo que nunca havia sido contado, e é de extrema relevância para a história da música brasileira.

- O subtítulo da matéria da Folha já é mais malandro: "Livro traz documento que sugere colaboração com militares". Mas aí, amigos, no calor do fechamento, na tentativa de não repetir palavras já usadas no título, muito ERRO acontece. O que não é motivo para "cancelar" o Raul, nem o livro do Jotabê, nem a Folha. Mas vale escrever para o jornal, ou citá-lo nas redes sociais, dizendo que a gente não gostou desse subtítulo.

- A partir daí entra o raciocínio meu que ficou no texto do TAB. As redes sociais existem pra fazer ostentação de consciência social. Eu critico o Bolsonaro ou critico a esquerda não porque eu REALMENTE esteja preocupado com o Brasil, mas para que meus seguidores vejam como eu sou engajado e esse suposto engajamento molde a visão que as pessoas têm de mim. Eu "cancelo" o Raul Seixas para que todos vejam que com-delator-não-tem-conversa-hein-eu-dou-block-mesmo etc.

As redes sociais foram desenhadas pra que eu ostentasse minhas férias, minha namorada, minha barriga tanquinho, depois minhas pílulas motivacionais de sabedoria, e hoje como eu estou preocupado com os rumos da democracia nas Américas, com a cultura e a civilização e com o passado e presente de roqueiros brasileiros.

Não que eu esteja disposto a rever minha vida e meu campo imediato de ação. Mas é sempre bom quando aparece alguém, longe de mim, sobre quem eu possa ostentar as virtudes que eu quero que as pessoas acreditem que eu tenho.

P.S. - Ricardo Alexandre, quanto a “O subtítulo da matéria da Folha já é mais malandro: "Livro traz documento que sugere colaboração com militares". Mas aí, amigos, no calor do fechamento, na tentativa de não repetir palavras já usadas no título, muito ERRO acontece.”

Como você, fui editor de grandes cadernos e o tal “calor do fechamento”, vulgo “pescoção”, não justifica. De maneira alguma. (LAM).





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