Almoço em vários lugares. Não tenho muitos hábitos, costumes, logica. Nessa época do ano a potência do ar condicionado é mais importante do que o sabor da comida. Foi o caso de hoje.
Fui a um self service (grande invenção), a comidarada estava ótima mas o ar condicionado fraco. Declinei. Saí em busca de outro, um bem frio nas redondezas. Comida média, mas que maravilha de ar condicionado. Que maravilha. Isso torna o paladar mais pragmático.
Fui a um self service (grande invenção), a comidarada estava ótima mas o ar condicionado fraco. Declinei. Saí em busca de outro, um bem frio nas redondezas. Comida média, mas que maravilha de ar condicionado. Que maravilha. Isso torna o paladar mais pragmático.
Entrei, fiz o prato, sentei já fazendo um relaxamento mental pois teria que ir ao banco em seguida. Tenho fobia a banco desde adolescente. Com exceção do dinheiro, banco tem tudo o que detesto: fila, calor, mau humor, incompetência, má vontade, etc.
Como devagar porque já tive pressa e quase me ferrei todo no passado. Comi mentalizando o mar, o céu, meia dúzia de sabiás, inserindo a logomarca do banco na imagem para associar aquela bosta, digo, aquela instituição a coisas agradáveis. Pavlov (ele mesmo, o Ivan) andou fazendo isso com cachorro inventando a psicologia cognitiva comportamental que, dizem, é muito eficaz no combate a fobias, T.O.C. e similares.
Apesar de meu esforço, da minha concentração, da minha boa vontade, depois do almoço caminhei devagar, entrei no banco e o ar condicionado dos caixas eletrônicos estava desligado. Eu só queria cadastrar de novo o celular naquele aplicativo que eles inventam para demitir gente, lucrar mais e atrapalhar a nossa vida. Entrei numa lacraia gigantesca, fila venezuelana, e quando chegou a minha vez chamei o “posso ajudar”, o cara que em tese fica ali ajudando, fiz todas as operações mas na hora de finalizar o caixa eletrônico reiniciava. O pior não foi isso. O pior foi o “posso ajudar?” chegar para mim e dizer “você pode sair da fila porque daqui a pouco vão reclamar”, como se eu estivesse ali brincando de vídeo game. Coitado.
Sem saber cuspiu na cara de um mandril e recebeu de volta toda a minha ira fóbica bancária com juros de 400% ao mês. Sorte que o povo me apoiou; “é isso mesmo! As máquinas não imprimem”, “é isso mesmo, o caixa recusa a minha senha e depois bloqueia a conta”, “é isso mesmo, o gerente está sempre almoçando e o cliente que se dane”. Apavorado, “posso ajudar?” foi lá dentro e chamou o gerente, enfim, foi a maior confusão.
Como diria Maria Bethania, refeito podes crer, depois liguei para o bankfone para falar com o tal departamento de tecnologia (deve ficar na Nasa) e a mocinha disse “boa tarde, em que posso te ajudar hoje?”. Respondi por reflexo: “se não fizer merda já estará ajudando muito”. Se eu fosse bandido iria me especializar em assalto a banco. Sem vítimas.
Antes, no restaurante, para evitar pensar no banco, reparei no que as pessoas estavam comendo. Quanta mudança. Todo mundo pegando leve, bebendo água, mate, guaravita, comendo muito pouco, se atracando com brócolis, quiabo, jiló, ou seja, a filosofia vegana já conquistou boa parte da classe média.
No passado bem recente, comia-se hidrante, trilho, pedrinhas portuguesas no almoço, bebendo caipirinha, cerveja, torta alemã de sobremesa. Muitos terminavam e voltavam para o trabalho como bolas de sebo rolando no asfalto quente, pressão arterial no pico do Corcovado, glicose de 500 e varada. Sem falar no festival de pelancas, inchaços na perna, respiração ofegante, enfim, gente de 30 com corpinho de 110.
Apoio radicalmente os veganos e afins. Basta de toxinas, gordura. Podemos comer coisas muito leves como produtos orgânicos apesar de caros pra cacete. Já vi Papai Noel virar faquir com aquela dieta da Herbalife, cada vez mais academias de ginástica são abertas, multidões correndo por aí, enfim, mudou o conceito nutricional. E tem que ser assim. Ou melhor. Deve ser assim porque vida e uma só. Para que se embolar com uma feijoada terça-feira podendo poupar o organismo com legumes, folhas, palmito, grelhados?
Enfim, acho que é por aí, mas não largo o meu Skyni.