Marcio Paulo
As batalhas navais ensinam que diante do bombardeio os submarinos submergem. Submergir é proteção. Para submarinos e para seres humanos.
“Sai, sai do sereno menino”, diz a canção que alerta que “sereno pode fazer mal”. Uma tradução urbana do ato de submergir. Se bem que não sinto o sereno há muitos anos. Nem ele, nem a garôa, nem a neve de Itatiaia, prometida pelos meteorologistas para esta semana. Itatiaia foi onde passei um dos melhores fins de semana de minha vida e a pior Semana Santa. “A vida é assim”, dizia Zora Yonara, astróloga do rádio e sua voz enigmá com eco alertando: “pisciano, você tem pela frente uma sequência de vitórias esplendorosa. Insista, pisciano!”.
A submersão é vital para a sobrevida. Basta ter ar suficiente e muita humildade. Castrar os ventos tortos da arrogância, deixar nossa nau existencial largada no fundo do mar, ao lado dos polvos e dos peixes abissais.
Os tímidos vivem nos bancos de areia, cercados de corais. Parados, prestando atenção nos praticantes de evasão de privacidade (essa é do Tutty Vasquez) que exibem sua anêmica pequena burguesia nas redes sociais do tipo “estou tão feliz nessa foto, tão feliz que se me assoprar eu caio no chão e choro”. Ahhhh, o blefe das redes sociais. Ahhhh, o blefe das redes. Ahhhh, o blefe das sociedades. Ahhh, o blefe da humanidade.
Submergir faz bem a saúde. Mesmo quando o oponente lança bombas de profundidade que fazem nosso casco mugir como o touro do Apocalipse. Quem sabe submergir se esconde embaixo das montanhas de pedra submarinas. Pouca luz, nenhum som, motores desligados. Esperar a tormenta passar. Um, 12, 30, 600 dias. Submarinos atômicos, longa autonomia. Falo de nós, longa autonomia. Falo da sociedade, aguda dependência.
As batalhas navais ensinam que diante do bombardeio os submarinos submergem e que as galinhas morrem por cacarejarem depois do ovo. Não é o caso do bicho-preguiça mergulhado em seu mutismo, espatifado até por skate. Não fala, mas não corre.
Correr ou falar?
Qual a melhor opção?
Sem dúvida a terceira.
Submergir.
Ou: em dia de temporal de faca não se bota a bunda na janela.