Fico aflito em não saber quem lê esta Coluna. Aflito e ansioso. Chegando aos 380 mil acessos, receio que a Coluna não atinja o chamado “público jovem”. Na boa, receio não. Tenho absoluta certeza que não. As chamadas novas gerações, por razões objetivas, estão desconectadas da chamada mídia formal, da qual faço parte. Garotas e garotos tem sua mídia própria e, pelo que vejo, ouço, converso, frequentam-se mutuamente numa rica troca de ignorâncias. Ignorância no sentido literal, de ignorar. Neste caso, propositalmente, e daí?
A ignorância é um direito e se as novas gerações gostam de ler quinquilharias, preferem assistir you tubers, ouvir safadões, estão em seu pleno direito de surfar a liberdade a sua maneira. Quem sou eu para obrigar a ler Machado de Assis, ou sorver o texto genial de uma Clarice Lispector ou do Lobão. Sim, eu acho o texto do Lobão genial. E daí?
Quem sou eu para vociferar “vocês tem que assistir CNN, Al Jazeera, Globonews e não essa cisterna de purpurina tola e fútil dos you tubers”? Quem sou eu para clamar “ouçam a remixagem de Sgt Pepper dos Beatles, o melhor do Radiohead, ouçam Jimi Hendrix e não essas bostas que vocês espetam nos ouvidos com seus celulares. Quem sou eu? Não sou ninguém.
Tenho consciência plácida de que a minha validade intelectual está quase vencida. A validade existencial dura um pouco mais, 23 anos para ser preciso. Penso nisso numa boa porque a chamada evolução da espécie, atira a validade vencida no lixo. Logo, no auge de minha quase falência intelectual determinar que a evolução da espécie virou involução, retrocesso, anemia é de uma boçalidade atroz.
Se as novas gerações não leem bem, escrevem mal, são ególatras ao extremo, são alienadas e vazias isso é um conceito meu. Ponto. E não deles. Ponto. Tenho tanta convicção da minha validade existencial que ultimamente tenho frequentado sites de suicídio assistido nos Estados Unidos pois quero dar a eu fim de linha, minhas últimas cenas, um contorno suave e honroso.
Bom, a minha geração era cercada de brilhantes livros, jornais, revistas, filmes etc mas vestiu o pijama, passeia com o canário na gaiola pelas ruas de manhã, para numa padaria qualquer para beber coalhada e jogar conversa fora (literalmente) e, adestrada, volta para casa. Abre o computador cheirando a naftalina e começa a lamuriar nas redes sociais, achando que as novas gerações tinham que estar participando deste momento histórico do Brasil, detonando Temer, Lula, etc etc etc. Reclamam que filhos e netos não conversam em casa. As vezes entro nas redes e digo “as novas gerações só querem uma coisa do Brasil: pular fora daqui”.
Filhos e netos que entram porta a dentro com a cabeça enterrada no celular teclando com sua rede, trancam-se no quarto fazendo sabe-se lá o que on line e só saem para banho, comida e tosa, como um pet. Não querem saber quem governa o país, que país é (eles tem mais o que não fazer para pensar nisso), quem é quem na TV, não assistem a noticiários, não ouvem rádios. É só eu, eu eu, e a rede de contatos. E quando eu digo para os meus contemporâneos que isso não é problema nosso, eles gemem de horror.
Nos fins e de semana as novas gerações vão a festas de sua rede. Um ou outro bebe, um ou outro fuma, um ou outro toma MDMA (droga da moda, conhecida como Michael Douglas) um ou outro morre e na pré alvorada da onda da madrugada voltam para o seu minifúndio (casa dos pais), alguns com namoradas ou namorados e se embolam trancafiados em seu bunker/quarto, depósito de enigmas e tabus para uso pessoal e intransferível.
Segue o jogo.