Porco-urso-cachorro: escultura de Patricia Piccinini. Poderia se chamar Homus Brasilis
Eu vinha de ex-Tribobó (ex-RJ) e vi um ex-porco, chafurdando na ex-lama. Na época a ex-garota de programa, ex-Bruna ex-Surfistinha, comemorava zaralhadas de semanas no topo dos livros no ranking de Veja e Época. Um autêntico rest-seller, que virou filme de rebolado moralista.
O ex-livro deveria se chamar O Ex-Veneno da Ex-Rabiola do Ex-corpião. Na época, a psicóloga e sexóloga Yara Darus foi clara: "O livro é um sucesso entre as adolescentes porque é um passo a passo sobre sexo (...) Eu até engulo em seco ao afirmar que esse livro induz, sim, as adolescentes a ingressarem na prostituição. Com a ampla divulgação da mídia, Bruna Surfistinha tornou-se celebridade".
Como ex-cidadão, cheguei de ex-Tribobó e fui comer ex-sushi pensando no que ex-Janete da ex-Casa da ex-Pantera ex-Cor de Rosa, ex-bordel em Laranjeiras, dizia nos anos 70: "Não existe ex-prostituta porque não existe ex-gente. E prostituta é gente".
Ex-racional, comendo ex-sushis e ex-sashimis com ex-pauzinhos amarrados em ex-elásticos (minha ex-inabilidade não permite que ex-coma sem ex-elástico), lembro que jamais admiti que qualquer ex-bípede ex-mamífero chamasse ex-prostituta de ex-vagabunda, ex-moleca, ex-vadia. Porque por trás do ex-êxtase existe uma esperta. A ex-prostituta paga muito caro pela opção, mas, curiosamente, nunca ouvi nenhuma se lamuriar. “Fi-lo porque qui-lo", como vomitou Jânio Quadros. Só ex-Bruna ex-Surfistinha simula lamúrias naquele ex-livro arrivista, prefaciado por autoflagelações em todas as mídias.
O que me ex-deixa ex-furioso em relação a essa manobra escroque é o convite de ex-Bruna para que meninas entrem no seu reino encantado pela morte. E morte não tem ex, minha chapa. Em 90% dos casos, prostituição = drogas, álcool, espancamento, facadas, tiros e, não sei se pior: dano afetivo irreversível.
Mas voltando ao sêmen da questão, quando, naquele tempo, li que ex-Bruna ex-Sufistinha enchia a caveira de uísque enquanto autografava seu ex-livro na ex-Bienal de São Paulo, para uma multidão de meninas adolescentes histéricas que veem nela uma ginecopopstar, joguei minha modéstia no viaduto do Limão (Sampa); de ex-fato a ex-GP morou na TV, no rádio, nos jornais, comovendo a nação com sua fala melosa, como as cavalas do imortal Carlos Zéfiro, tornando-se musa masturbatória da nação. Honra: Zéfiro nunca inseriu drogas e biritagem em suas revistinhas.
E a ex-sagrada família da ex-terra ex-brasilis entre um grito de horror e uma fugidinha ao banheiro, transformou a mídia em Joana Darc. Mais uma vez. Pais e mães ilibados não trocavam de canal, não trocavam de jornal, não trocavam de rádio para assistir ao flagelo S&M da ex-Surfistinha, preferindo esquecer que na ex-sagrada família há sim, hipótese, de naquele momento filhas e filhos estarem chafurdando em lojas de conveniência ou nos muquifinhos modernosos detonando ices vodca com óleo diesel, ecstasy, LSD e afins em troca de, quem sabe, um programinha. Mas, os papais e mamães preferem dizer "ohhhh pra mídia", do que perceber que ex-Brunas e Brunos estão na sala de jantar há anos perguntando calados "por que vocês não me ajudam?"
O sucesso do ex-livro de ex-Bruna ex-Surfistinha tem um zaralhão de explicações, entre elas a ex-célebre ex-hipocrisia da ex-classe média brasileira. Chorando a cântaros, muita gente acende seus baseados para aliviar a tensão diante do mundo cão. Onde compraram os bagulhinhos? Na Sociedade Pilantrópica Filhos do Padre Zezinho? A mídia ensina que nos anos 20/30, quando a birita era proibida nos Estados Unidos, a corrupção atingiu níveis boçais. Da farda à toga. Mais: os biriteiros enrustidos se metiam na Ku Klux Klan e outras entidades pilantrópicas, chorando, falando em "América, ohhhhhhhhhhhhhhhhh América atirada à sarjeta do álcool". Liberaram a porranca. A traficolândia mudou-se para outras drogas.
Perto da traficolândia de usuários aqui na Brazuca (só há demanda onde há consumo, ensina qualquer bodinho de puxar charrete de crianças na pracinha), ex-Bruna ex- Surfistinha é noviça. Seu ex-livro, que foi rest-seller nacional, é apenas uma tomografia do Brasil de hoje, quando a Lava Jato consegue botar 1% dos meliantes em cana e os outros 99% buscam um jeito de trancafiar a Laja Jato. Famílias que em vez de ajudar tacam fogo no brunismo sem perceber que o escorpião pode estar na mesinha de cabeceira da prole adolescente. E como diria ex-Scarlet Ohara, "Taraaaaa! Taraaaaaa!"
Observação: a palavra exdruxulismo não existe, segundo Houiass. Dicionário feito por Antonio Houaiss, que traduziu as primeiras edições de Ulisses de James Joyce e ninguém entendeu nada. Pelo visto, nem ele.