Tempos atrás tive um bate boca de baixíssimos teores com dois conhecidos que são ufólogos. Acreditam que qualquer calota de Fiat voando é disco voador. E tudo começou ao sabor do acaso, num show. Sentei na quarta fila, a banda entrou no palco e um dos músicos, a direita, era um cara que estudava comigo na faculdade e que havia...morrido.
Quando o vi fiquei branco. Pior: durante o show o cantor apresentou os músicos e o nome batia com o dele. Ao meu lado, os dois conhecidos, esotéricos radicais, daqueles que acendem incenso até em chuveirinho de bidê. Não comentei que o músico da direita estava morto porque os dois iam adorar. Disfarçadamente (?) perguntei "como é mesmo o nome daquele cara ali", e um deles (sob os vapores do skank que havia fumado lá fora), respondeu "acho que se chama Fulano". Era mesmo o meu até então extinto colega de faculdade.
Aquilo me transtornou. Não consegui ouvir o show direito e nem agradeci quando citaram meu nome no palco. Fiquei lembrando do aviso no mural da faculdade assim que cheguei de Brasília, onde havia ido me aborrecer por uns 15 dias. O aviso (já vencido) falava da morte, do funeral, da missa de 7o. Dia, etc.
Assim que o show acabou, fui até o camarim fingindo cumprimentar a banda. Na verdade eu temia que, em vez dos cinco integrantes que eu e o doidão de skank vimos, houvesse apenas quatro.
Camarim. Entrei e logo vi o cara sentado. Ele me viu, chamou meu nome e, no ato, eu metralhei "mas você não tinha morrido há uns 20 anos atrás? Sorrindo ele explicou que por razões políticas ele ficou "temporariamente morto" e não quis entrar em detalhes. Insisti, forcei, o astral chegou a pesar. Ele abriu o jogo dizendo que se "morresse" entre aspas a polícia política não iria matá-lo sem aspas. O pessoal do diretório concordou em publicar a tal nota de falecimento e que toda a papelada estava..."legal". Mais: ele foi viver em São Thomé das Letras, Minas Gerais, onde deixou cabelo e barba a lá Tiradentes e começou a tomar chá de cogumelo de duas em duas horas até quase enlouquecer. Anos depois voltou para o Rio, casou e foi tocar na banda de rock. Ponto final.
O ideal seria que eu não tivesse ido ao show. O possível seria não me lembrar do sujeito. O absurdo seria a sua ressurreição, como passaram a acreditar piamente os dois ufólogos doidões que testemunharam a cena no camarim, que batizaram de "maravilhosa revelação".
E no sul não vai nada?
Quando o vi fiquei branco. Pior: durante o show o cantor apresentou os músicos e o nome batia com o dele. Ao meu lado, os dois conhecidos, esotéricos radicais, daqueles que acendem incenso até em chuveirinho de bidê. Não comentei que o músico da direita estava morto porque os dois iam adorar. Disfarçadamente (?) perguntei "como é mesmo o nome daquele cara ali", e um deles (sob os vapores do skank que havia fumado lá fora), respondeu "acho que se chama Fulano". Era mesmo o meu até então extinto colega de faculdade.
Aquilo me transtornou. Não consegui ouvir o show direito e nem agradeci quando citaram meu nome no palco. Fiquei lembrando do aviso no mural da faculdade assim que cheguei de Brasília, onde havia ido me aborrecer por uns 15 dias. O aviso (já vencido) falava da morte, do funeral, da missa de 7o. Dia, etc.
Assim que o show acabou, fui até o camarim fingindo cumprimentar a banda. Na verdade eu temia que, em vez dos cinco integrantes que eu e o doidão de skank vimos, houvesse apenas quatro.
Camarim. Entrei e logo vi o cara sentado. Ele me viu, chamou meu nome e, no ato, eu metralhei "mas você não tinha morrido há uns 20 anos atrás? Sorrindo ele explicou que por razões políticas ele ficou "temporariamente morto" e não quis entrar em detalhes. Insisti, forcei, o astral chegou a pesar. Ele abriu o jogo dizendo que se "morresse" entre aspas a polícia política não iria matá-lo sem aspas. O pessoal do diretório concordou em publicar a tal nota de falecimento e que toda a papelada estava..."legal". Mais: ele foi viver em São Thomé das Letras, Minas Gerais, onde deixou cabelo e barba a lá Tiradentes e começou a tomar chá de cogumelo de duas em duas horas até quase enlouquecer. Anos depois voltou para o Rio, casou e foi tocar na banda de rock. Ponto final.
O ideal seria que eu não tivesse ido ao show. O possível seria não me lembrar do sujeito. O absurdo seria a sua ressurreição, como passaram a acreditar piamente os dois ufólogos doidões que testemunharam a cena no camarim, que batizaram de "maravilhosa revelação".
E no sul não vai nada?