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Um culto aos decibéis - revista Veja, 16 de janeiro de 1985

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Convidado pela revista Veja, escrevi este artigo que foi publicado na edição de 16 de janeiro de 1985, seção “Ponto de Vista” – páginas amarelas. Aqui, alterei apenas a divisão dos parágrafos.

Chegou a hora dessa gente esverdeada mostrar seu valor. Finalmente a partir de 21 de janeiro, o day after do rock in Rio, o país terá que conviver com uma estranha tribo. Uma tribo de roqueiros que tem no heavy metal sua base existencial e a ele se entrega como a um deus urbano e contemporâneo.

Esses rockers, conhecidos entre nós como metaleiros, são absolutamente peculiares e vivem uma puberdade conflitante e confusa como todos os adolescentes. Além de serem discriminados dentro de casa (de certa forma a causa que os levou ao encontro dos “heavy deuses”), os metaleiros acabaram sitiados numa caverna onde somente outros metaleiros são capazes de descobri-los. Dentro do rock eles também são arremessados para o subsolo por outros roqueiros de outras tribos que veem nos metaleiros apenas um bando de débeis mentais.

O Brasil, hoje, tem mais de 100 mil desses garotos que buscam na mais ensurdecedora das guitarras a catarse que muitos barbados procuram, por exemplo, dentro da psicanálise. Em sua maioria, vivem a margem das cidades, compondo uma espessa parede de compreensões que acaba transformando o grito em linguagem e o sangue (artificial) em forma de expressão.

São amantes da fantasia. Sabem que os integrantes do Kiss são vegetarianos, não bebem e não se drogam. Mas preferem acreditar num Kiss que mata pintos sobre o palco, se embebeda sem parar e no final destrói os hotéis por onde passa. Os metaleiros sabem que os Scorpions vivem com mulheres e filhos mas preferem vê-los como um grupo que adora jaulas com cobras e aranhas venenosas, além de intermináveis orgias.

Em bando eles se juntam (só homens) para audições coletivas de obras fonográficas decibélicas e depois saem as ruas em busca de filmes de terror ou de qualquer obra do diretor Steven Spielberg, ídolo de todos, nas telas. E, apesar das pulseiras cheias de pregos e tachinhas, cabelos enormes, roupas de couro ou curvim, correntes e cadeados espalhados pelos braços, os metaleiros não são violentos nas ruas.

São porém capazes de tudo dentro de um recinto fechado, principalmente se ali estiverem se apresentando bandas ao vivo. Se um desses grupos tocar algo distante do que os metaleiros entendem como rock, não restará cadeira sobre cadeira.

Cercados entre os tensos e intensos 12 e 18 anos de idade, os metaleiros querem que o Brasil se dane. Para eles, os políticos não passam de ladrões, os generais de “canas “ e só comparecem a comícios se os oradores partirem para o total radicalismo.

Esses garotos, responsáveis pelo sustento-base das gravadoras (os discos internacionais mais vendidos em todo o mundo são de heavy metal), não leem jornais, considerados farsas. São alienados profissionais e acham que uma letra do grupo AC/DC vale mais que um editorial em qualquer jornal do mundo.

Temem o sexo, optando pela masturbação. Temem a mulher, optando pelo machismo, que é pregado fartamente nas letras de seus grupos prediletos. Só não temem três coisas: pai, mãe e polícia. Recentemente o músico Lobão, do grupo Lobão e os Ronaldos, fez declarações grosseiras sobre os metaleiros.

Mas não foi só ele quem falou e fala mal dessa tribo. Muitos músicos de outras facções não cansam de tentar espatifar ou rachar esse grupo que não acredita em poder. Em contrapartida, parece que, em caso de vingança as palavras de ordem dos metaleiros são “lata no palco e desprezo nas ruas”.

Os metaleiros serão muito mais numerosos depois do Rock in Rio, mas o Brasil não precisa temê-los. Eles só querem rock pesado e uma gravação pirada no Thin Lizzy. São ou serão eleitores de votos nulos, se drogam pouco (no máximo maconha) e querem que vá tudo, literalmente, para o inferno. O inferno para eles é o céu. Parece que o demônio é rei, mas também dentro da fantasia.

A religião, propriamente, nunca chegou perto dos metaleiros mais próximos dos rituais hollywoodianos, pintados pelos grupos em suas músicas. Eles não tem e não querem formar opinião sobre coisa alguma. Difícil é a situação dos pais desses garotos. Entre um psiquiatra e outro, para onde costumam arrastar seus metaleiros, acabam, convencidos que esse barulho todo não passa de uma fase adolescente do roqueiro, que só se eterniza entre os profissionais e assim mesmo na base da cenografia. Afinal, quando Ozzy Osbourne enforca anões no palco e arranca cabeças de morcego com os dentes, ele próprio sabe que isso não passa de uma grande e lucrativa piada. 

Só que, no início da carreira, o grupo ao qual pertenceu se envolvia com magia negra e transcrevia suas experiências nos discos.

Tentar entender os metaleiros é tentar desvendar mistérios adolescentes. Eles estão presentes no mundo inteiro, colocando abaixo promessas e perspectivas e endeusando o que não existe. Acima de tudo, o movimento cresce pela falta de ídolos universais. Parece mais confortável acreditar no que não existe dos que nas alianças políticas entre gregos e troianos ou na inflação de 300%. Em última análise, os metaleiros não fazem mal a ninguém. Só que também não acreditam em ninguém.

Os (des) governos tratam chuvas de verão como anomalia desde 1.500 porque sabem que ninguém reage

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           O mergulhinho, tratado como mergulhão (assim mesmo, com M minúsculo) pela prefeitura em postagem de Luiz Claudio Costa Guimarães no Facebook.
                                                                         


                                             Niterói, a pocilga náutica nas postagens de Gilson Monteiro.
A tão propalada índole pacífica do povo brasileiro, na verdade uma inominável e vergonhosa covardia aliada a preguiça, deixa que os (des) governos façam ou não façam o que bem entendem.

Além da roubalheira ampla, geral e irrestrita, nutrida pela omissão popular, vulgo rabo entre as pernas, o Brasil exibe generosamente o fedor da incompetência estatal. Um dos flancos dessa letargia proposital dos (des) governantes foi exibida na noite de sábado.

Uma chuva de verão caiu  sobre a famigerada região metropolitana do Rio (normal como neve sobre Nova Iorque no inverno), que, para não variar, naufragou. Em Niterói, que tem o IPTU mais caro do Brasil, a chamada rede pluvial entupida por falta de manutenção (drenagem não dá voto porque fica embaixo da terra) aliada ao lixo acumulado transformou a cidade - que já esteve entre as melhores em qualidade de vida - numa pocilga náutica.

Gostaria de estar com o já saudoso Umberto Eco no banco do carona do meu carro sábado a noite, quando levei três horas para fazer um trajeto que em dias normais não passa de 10 minutos. Eco com certeza iria disparar uma de suas célebres frases mas, pensando bem, em terra onde o BBB lidera a audiência da TV citar Umberto Eco cheira a xingamento; é como se alguém me amarrasse numa cadeira com a TV ligada no BBB ao vivo. Acho que confessaria até que matei Joana D´Arc.

Em Niterói, o PT (prefeitura) fez um mergulhinho que foi inaugurado com pompa digna de uma viagem inaugural tripulada a Marte. O tal mergulhinho virou uma perigosa piscina enquanto que o bairro de São Francisco, chamado de “nobre”, passou mais uma noite às escuras pelo velho motivo. O PT, via prefeitura não arrocha a Ampla (a Light de Niterói) e muito menos a Aneel (agência – hahahahaha- de controle do PT federal) e nada é feito porque, na outra ponta, o eleitor prefere se lastimar no Facebook, com o no break do computador ligado. Nos anos 1990, quem diria, quando o povo ainda tinha sangue nas veias, apedrejou uma subestação em Piratininga e, como milagre, o serviço melhorou.

A seguir, o relato do jornalista Gilson Monteiro no Facebook:


Niterói fica alagada de Norte a Sul

Bastou chover forte para Niterói ficar com as ruas inundadas na noite de sábado (20-02). A rede pluvial da cidade que cobra o IPTU mais caro do país ainda é do século passado e, em grande parte, não conta com limpeza frequente. Desta vez, até a Praia de Icaraí, em frente ao Regatas, virou uma piscina.

A Estrada Francisco da Cruz Nunes, na Região Oceânica, assim como ruas e avenidas da Zona Sul (Avenida Roberto Silveira, Miguel de Frias, Mariz e Barros, Otávio Kelly, em Icaraí; e Mário Viana, em Santa Rosa) ficaram alagadas.

No Centro, o Mergulhão voltou a ficar alagado, como no dia seguinte ao que foi inaugurado pelo prefeito petista Rodrigo Neves. Viraram rios as ruas Quinze de Novembro, Rua Visconde de Sepetiba (onde fica a sede da prefeitura) e a Avenida Marquês de Paraná (acesso à Ponte Rio-Niterói).

Na Zona Norte, o Largo do Barradas foi um dos pontos mais críticos. Ruas do Fonseca, na Zona Norte, enfrentaram, além do alagamento, a falta de energia elétrica em vários pontos da Alameda São Boaventura e no Ponto de Cem Réis. No Barreto, moradores ficaram ilhados na Avenida Craveiro Lopes e na Rua Galvão.




A dor de querer saber compensa muito mais do que a dormência da ignorância

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Breve, muito em breve elas vão começar a chegar. As massas polares que frequentam o outono e o inverno no Brasil trazem o azul mais profundo do céu infinito, realçam o verde das árvores e nos convida a visitar a oca de nossas reflexões. Mesmo os chamados antireflexivos, sem saber, refletem sim. Ou, na pior das hipóteses, contemplam a vida com um olhar levemente crítico do tipo “o que é que estou fazendo neste filme?”.

Quando as reflexões são profundas muitas vezes se tornam crises existenciais. Como o mar de marolas que vai engrossando, engrossando e vira, trazendo as ressacas. Ressacas, irmãs do inverno, das pedras e conchas geladas, vento soprando de leste.

Viver é fundamental. Refletir, idem. Em muitos momentos os pensamentos mergulham em trilhas muito duras e sofridas, mas, graças à luz do outono/inverno, chegam a alguma conclusão saudável. Outono e inverno parecem jogar a nosso favor. Nada contra a primavera e o verão, mas penso que o calorão não combina com reflexões plácidas.

Você teme alguns pensamentos? Confesso que já temi, especialmente os caóticos que, não se sabe por que, nos levam a becos que nós mesmos tornamos, em tese, sem saída. Repito: em tese. O noticiário dos últimos dias não tem combinado com a beleza das folhas molhadas ou com o orvalho que em breve irá molhar as calçadas. O noticiário dos sites, jornais, revistas, TVs está pesado e, a vezes, dá vontade de parar de querer saber o que está (ou não) acontecendo com o Brasil. Mas, não tenho vocação para a alienação.

A dor de querer saber compensa mais do que a dormência da ignorância, por si só, boçal, totalmente boçal que nos engessa numa redoma de lata sem o menor sentido. Fundamenta continuar querendo saber e, ao mesmo tempo, contemplar o azul profundo do céu levemente gelado do outono que desperta sentimentos agudos, belos e, por que não, alguns nós na garganta.

E o vento sopra, leva o orvalho, as luzes e trará o azul do céu de outono.

A casa caiu?

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                                      Caças inglêses Spitfire
Tentei me enganar ao trepar no otimismo pueril e enfrentar o duro noticiário de hoje (e também de ontem, anteontem, antes de anteontem...) que prova o que, jocosamente (ah, a minha alma de escoteiro mirim...), tinha razão quando escrevi um dia desses “o Brasil é o único lugar no mundo onde fundo do poço tem subsolo”. O noticiário mostra que a é fato, ou “é vero”, diriam os promotores da Operação Mãos Limpas na Itália. Wikipédia:

 “Operação Mãos Limpas ou Mani pulite foi uma investigação judicial de grande envergadura na Itália, tendo início em Milão, que visava esclarecer casos de corrupção durante a década de 1990, na sequência do escândalo do Banco Ambrosiano em 1982, que implicava a Mafia, o Banco do Vaticano e a loja maçônica P2.

A Operação Mãos Limpas levou ao fim da chamada Primeira República Italiana e ao desaparecimento de muitos partidos políticos. Alguns políticos e industriais cometeram suicídio quando os seus crimes foram descobertos.”

Sempre admirei o trabalho de um colega, o Lauro Jardim, que atualmente está no Globo. Profissional de primeira linha que no início da noite escreveu este curto e seco tapa no Globo Online:

Resumo da ópera

O resumo que pode ser feito a partir da Operação Acarajé é: a casa está caindo.

Claro que você que lê já sabia, eu também, o vizinho, o zelador, o gari, todo mundo sabia que a casa iria cair. Mas, quando chega a hora, dá uma vertigem.
Fui resolver uma cordilheira de assuntos em minha “medialópole” e para gastar estresse optei por caminhar. Sozinho. Sozinho a gente faz do pensamento um jogo de squash, mas não havia alternativa.

Andei horas por calçadas esburacadas, asfalto mole de calor. Suei. Parei em bancas de jornais na fétida avenida principal do centro da cidade onde dois caras falavam, falavam, falavam de algo que, em suma, resumo da ópera, era aquilo mesmo: a casa caiu. 
Como os dois estavam de terno, deduzi que fossem advogados já que a banca fica perto da sede da OAB de Niterói, a “medialópole” em questão.

OK, Lauro Jardim. Você tem razão. A casa vai cair mesmo. Sorte que assisti na madrugada de ontem ao clássico “Batalha Britânica”, de 1969, filmaço sobre o dia em que a Alemanha nazista gritou “perdeu, playboy!” para Winston Churchil, entupiu o céu de Londres de aviões bombardeiros e ...pasmem. Os ágeis e tensos caças Spitfire da Real Força Aérea Britânica, azougues alucinados, derrubaram as centenas de bombadeiros alemães.

A casa caiu. Para eles. Espero que aqui também caia. Para eles. Preciso dizer quem são eles?

Ou não?



Serguei precisa de ajuda. Está passando até fome em Saquarema, cidade que escolheu para viver em 1982

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A jornalista Ana Claudio Guimarães publicou na colua do Ancelmo Góes, nesta terça-feira:

Roqueiro Serguei, 82 anos, está passando até fome

POR ANA CLÁUDIA GUIMARÃES
O ocaso do roqueiro
Serguei, apelido dado a Sérgio Augusto Bustamante, 82 anos, considerado o roqueiro mais antigo do país, passa pelo momento mais difícil de sua vida. Ele ganha R$ 880 (bruto) de aposentadoria, além de uma ajuda de custo de R$ 1.200 da prefeitura de Saquarema, cidade do Rio de Janeiro onde mora, para manter o Templo do Rock. Assim como a maioria dos aposentados do país, o dinheiro mal dá para pagar seus remédios, que custam mais de mil reais mensais. O lendário Serguei, conhecido por ter ido ao Festival de Woodstock e ter virado amigo de Jimi Hendrix e Janis Joplin, tem passado até fome, segundo amigos. Aliás, eles estão fazendo um mutirão para recuperar o acervo e o casarão onde o roqueiro mora (veja o estado na foto ao lado). Mas ele precisa de mais ajuda: “Serguei poderia ser garoto-propaganda de motos ou até, quem sabe?, de um estimulante sexual. A gente abre a geladeira dele e só tem água”, conta o produtor Rogério Silva, que tenta arrecadar dinheiro para fazer um filme sobre o cantor, “O último beatnik”, a ser estrelado por Eriberto Leão. Boa sorte

Eu poderia escrever mais de 300 blogs só com as estórias, histórias e delírios de Serguei, um cara super do bem, cantor, lenda viva. Vamos voltar alguns anos, quando ele ainda não gostava de dizer que teria sido comido por Janis Joplin e também por um marinheiro escandinavo que surgiu não se sabe de onde na praia da Macumba, no Rio.

Valeu, Ana Cláudia!

De uns tempos para cá, principalmente depois de ter dito no Programa do Jô que “sou um pansexual que transa até com as árvores”, Serguei passou a falar do ménage que fez com Janis e com o marinheiro no carnaval de 1970, quando ela veio para o Rio fugindo da heroína. Morreu em 4 de outubro, do mesmo 1970, de overdose de heroína, droga que não perdoa. Mata.

Uma história que Serguei me contou, e que é contestada por uma multidão, foi o tal acidente de moto que ele teria sofrido com Janis na garupa. Principalmente quando afirma que pilotava uma Harley Davidson de 1.200 cilindradas. Todo mundo diz que Serguei só anda de bicicleta e que jamais pilotou uma moto. Será? Vamos a ele:

“Janis tinha sido expulsa do Copacabana Palace por estar nadando nua na piscina. Eu a conheci no dia seguinte da expulsão quando ela foi a uma boate (inferninho) onde eu estava cantando. E foi ali que tudo começou a rolar. Bem...um amigo me emprestou sua moto, uma Harley grande, e eu disse a Janis “let´s go to Cabo Frio”, e ela falou que tudo bem. Fomos”.
Serguei contava essa história sem titubear, olhando o interlocutor nos olhos. 

Eu mesmo disse a ele que “muita gente diz que você não sabe andar de moto” e ele rebateu “inveja, pura inveja das pessoas. Sempre andei de moto, mas parei depois desse acidente”. Um acidente que, segundo Serguei, “avisou”. “Quando entramos na barcaça do Rio para Niterói, onde pegaríamos a estrada para Cabo Frio eu fiquei nervoso na rampa de acesso a barca e quase caí. Janis, na garupa, muito louca de cachaça e maconha, caiu na gargalhada”.

O cantor diz que ninguém sabia quem era Janis Joplin. Verdade! Pouca gente a conhecia no Brasil naquele fatídico 1970. Mais: a biografia oficial de Janis narra esse episódio da expulsão do Copacabana Palace e uma ronda que ela fez pelos dancings de Copa e até da Praça Mauá. Voltamos a Serguei:
“Saímos da barcaça e seguimos para a estrada. Janis não parava quieta na garupa. Ela ria, se mexia, falava obscenidades em meu ouvido, enfim, festa. 

Andamos mais de uma hora e na altura de Araruama ela mordeu minhas costas no meio de uma curva. Perdi o controle da moto que foi pro chão. Me ralei todo. Janis praticamente nada sofreu porque estava com calça e casaco de couro. No asfalto eu gritei, chorei muito e fui levado para um pronto-socorro. Ninguém reconheceu Janis. Ninguém! Eu estava preocupado porque o dono da moto poderia me matar. Por isso, quando deixei o hospital fiquei de joelhos para um caminhoneiro que concordou em levar a moto de volta para Niterói. Eu e Janis viajamos na boleia. Em Niterói, de novo, a barcaça para o Rio. Da Praça 15, levei a moto e deixei na porta da casa de meu amigo com um bilhete, cujo teor prefiro não revelar”.

Mais um capítulo da vida lotada desse grande artista chamado Serguei. Será fato? Será boato? Será lenda? Ninguém sabe.

O marinheiro punk da barca Rio-Niterói numa noite de Luis Buñuel

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Encontrei um conhecido que é saudosista mas não é chato nem burro. Raridade. No momento ele anda com muita saudade da barca Rio-Niterói de antigamente, segundo ele, mais romântica, varrida por uma brisa marinha, alguns boêmios e vadios dormitando nas escadas, a presença do profeta Gentileza, blá blá blá blá. Eu estava num camelô contemplando relógios falsificados, chocado com o baixíssimo nível das “réplicas” atuais.

Não comentei com ele para não prolongar a conversa, mas não tenho saudade de quase nada, inclusive da barca Rio-Niterói dos anos 1970 (eu atravessava a Baía de Guanabara diariamente) que era suja, quente, lenta. A travessia levava quase meia hora e elas pareciam bonitinhas e “vintage” só para os turistas ou por quem não era obrigado a usar.

No entanto, duas vantagens inegáveis que os atuais catamarãs (que atravessam a baía em nove minutos), muito quentes e caros, porém limpos, sem profetas e vendedores de enciclopédias não tem: belas e gostosas mulheres em profusão e uma varandinha que ficava na popa onde eventualmente namorávamos durante a travessia, usando a bandeira do Brasil que tremulava num pequeno mastro como toalha para higiene íntima.

Havia um marinheiro (a barca era do governo federal e funcionava muito bem) na madrugada que era grosso, estúpido, amargo, mal humorado, boçal mas eficiente. A partir de meia noite quando o sono engolia muitos passageiros (sem falar dos bêbados), o marinheiro punk batia com o jornal nos encostos das cadeiras de madeira e gritava “a barca chegou, cambada! Quem não levantar volta para o Rio”.

Um primo meu garante que o marinheiro punk foi transferido para a madrugada depois que, num dia de semana, por volta das três da tarde, os passageiros sentiram que algo errado acontecia. Foi quando o nosso personagem foi para a frente das fileiras de cadeiras do segundo andar e gritou “o leme da barca quebrou, por isso ela está rodando”, e saiu. Muita gente passou mal e os passageiros tiveram que ser transferidos para outra embarcação em pleno mar.
Alguém denunciou o marinheiro como “fomentador de pânico” e ele foi transferido para a madrugada, barca de passageiros, digamos, profissionais. Ali, o marinheiro podia gritar até que estava afundando e ninguém se importaria.

Um conhecido que adorava andar a pé pelo Rio (por isso ganhou o apelido de Gandhi) voltava de um forró no Méier as 2 e meia da madrugada, de sexta para sábado. Eu retornava da semifinal do concurso Miss Shortinho. As barcas funcionavam 24 horas. Hoje param de circular as 23h30m, obrigando todo mundo a pegar um ônibus.

Na estação da Praça 15, aguardando a barca das 3 horas, Gandhi falou comigo, eu respondi “rapá, há quanto tempo, e tal”, mas ambos, ele e eu, estávamos chamuscados pelo sono. Suspeito que Gandhi estava levemente biritado, mas não pude confirmar. As barcas de três, três e meia, e quatro da manhã eram chamadas de “balsa dos desesperados”, o que fazia sentido.

Propus a Gandhi que sentássemos perto um do outro. Chumbado de sono pedi que ele me acordasse quando chegasse a estação de Niterói. Ele foi franco e me disse, voz levemente pastosa, que “também estou morto de sono e assim que sentar na barca vou apagar”. Combinamos, então, que cada um dormiria 15 minutos, começando por mim. Ele topou.

Quando a barca deu o terceiro apito anunciando a partida, encostei as pernas na cadeira da frente, cruzei os braços, olhei em volta (muitos bêbados), me aninhei e apaguei. Tudo muito rápido. Só que Gandhi também dormiu e o marinheiro punk, aquele que acordava todo mundo batendo com o jornal, não estava trabalhando; todos os outros marinheiros sumiram, como era de praxe.

Acordei com a embarcação encostando na estação, dando uns trancos que eram tradicionais. Olhei para o lado, Gandhi roncava e babava. Acordei o meu conhecido e saímos da barca e notamos logo que...tínhamos voltado para o Rio.
O marinheiro punk bem que poderia ter trabalhado naquela madrugada, pensei enquanto saia de novo na Praça 15 em direção a uma carrocinha de milho verde que iria estraçalhar antes de embarcar novamente tentando voltar para Niterói.

- Parece “O Anjo Exterminador”, de Buñuel, comentei com Gandhi que sequer respondeu.

Provavelmente não sabia do que se tratava, mas ele tinha razão: tínhamos que voltar para Niterói, uma obsessão que tomou conta também dos personagens do filme de Buñuel, pessoas ricas que se veem presas numa das salas de uma mansão após um jantar formal. Não há nada físico que os impeça de sair, porém algo os faz refém de portas e grades imaginárias.

Para evitar problemas, duas decisões: a) subi para o segundo andar da barca e fui para a varandinha da proa, de cara para o vento da baía. Impossível dormir em pé com o vento na cara; b) me distanciei de Gandhi porque cismei ele estava mesmo bebum e que o seu estado emocional contaminava.

Cheguei em casa, tomei um banho, bebi um café e fui para a cama. Liguei o rádio baixinho, sintonizado na Eldo Pop FM de Big Boy e tocava a banda alemã Nektar tocando “A Tab in the Ocean”. Com certeza não conseguiria dormir. Quem gosta de música boa e de cama, não dorme com uma dessas. Ou então é blefe. Não gosta nem de música, nem de cama, mas isso é outro assunto, para outra hora. Foi o que pensei, desligando o rádio.

Off.

Estafa

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Está lá no dicionário de significados: Estafa -é o estado onde uma pessoa encontra-se submetida a uma forte pressão externa ou interna, levando à estafa física ou emocional.

Apesar dos sintomas claros como irritação, sono conturbado, impaciência, a estafa é dissimulada e se confunde com o estresse que fica vários pontos abaixo numa hipotética escala de valores emocionais, digamos assim.

O maior problema da estafa é que nos deixa extremamente sozinhos. Como temos consciência de que “algo não vai bem”, ou que uma conjuntura de tensos fatores decidiu marcar um bate papo a mesma hora, há uma tendência de ficarmos na moita. “Não vou lá porque ando meio estourado e vai que Fulano toca num assunto complicado”, e assim o estafado vai se isolando e acaba engolido pelos pensamentos. 
E os pensamentos do estafado são sempre caóticos.

O estresse se dá em picos ocasionais. A estafa é constante, crônica. Pega e não larga. Quer dizer, larga sim. A certeza ou a consciência da estafa já são um passo importante, agitar o corpo com ginástica e similares começa a resolver e não esperar demais ser compreendido é a sentença final. Da estafa. Ninguém é obrigado a compreender, aturar, engolir um estafado. Só ele.

Pelo menos isso.



A vida sem a internet

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Especialistas dizem que os embriões da internet surgiram no início dos anos 1960, auge da guerra fria. No entanto, o novo e acachapante meio de comunicação só chegou ao público em 1992.

A partir de 1997, iniciou-se uma nova fase na Internet brasileira. O aumento de acessos a rede e a necessidade de uma infra-estrutura mais veloz e segura levou a investimentos em novas tecnologias.

Devido a carência de uma infra-estrutura de fibra ótica que cobrisse todo o território nacional, primeiramente, optou-se pela criação de redes locais de alta velocidade, aproveitando a estrutura de algumas regiões metropolitanas.
Como parte desses investimentos, em 2000, foi implantado o backbone RNP2 com o objetivo de interligar todo o país em uma rede de alta tecnologia. Atualmente, o RNP2 conecta os estados brasileiros e interliga mais de 300 instituições de ensino superior e de pesquisa no país.

Conheci a internet na casa de meu irmão, em 1995, por aí. Fiquei bestificado quando enviei o primeiro e-mail e mais embasbacado ainda quando recebi a resposta. No ano seguinte, o mestre Darcy Ribeiro (1922-1997) disse que “depois da fala e da escrita a internet é a maior invenção do ser humano”. Verdade, grande Darcy! Pura verdade!

Hoje eu não sei como seria minha vida sem a Web. Não sei mesmo. Esta semana enviei 12 textos pela rede, mais não sei quantos giga de áudio e vídeo, sem precisar me deslocar fisicamente. Pago minhas contas pela Web, onde também adquiro livros, discos, eletrodomésticos, compro ingressos para cinema, teatro, shows, uma solução já que detesto entrar em lojas, encarar filas e tudo mais.

O mais importante é que graças a Web reencontrei amigos de adolescência, criei novas amizades, enfim, a Web também colabora (e muito) para o estreitamento das relações humanas. Não tenho o menor constrangimento em afirmar que sem a internet minha vida seria bem mais complicada.


E você? Como seria a sua vida sem a internet? og!

Meus encontros com Luís Ignácio Lula da Silva: mútuo horror a primeira vista

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De acordo com O Globo Online, neste sábado na festa de aniversário do PT o ex-presidente Luís Ignácio Lula da Silva disse que “ando de saco cheio com comportamento dos nossos inimigos e da imprensa. Brigamos para ter Ministério Público forte. Não imaginava ter uma parte do Ministério Público subordinada à imprensa brasileira, fazendo o jogo da “Veja”, do GLOBO. As pessoas que se subordinam desta forma não merecem o cargo.” No final de tudo, ele sentenciou: “Ando de saco cheio com comportamento dos nossos inimigos e da imprensa. Brigamos para ter Ministério Público forte. Não imaginava ter uma parte do Ministério Público subordinada à imprensa brasileira, fazendo o jogo da “Veja”, do GLOBO. As pessoas que se subordinam desta forma não merecem o cargo.”

No final, ele sentenciou: “Se for necessário, se vocês entenderem que a manutenção do projeto corre risco, estarei com 72 anos e tesão de 30 para ser presidente da República”. Pergunto: que projeto, senhor ex-presidente? Que projeto?

Não conheci Luís Ignácio Lula da Silva em 1978. Digo não conheci porque ninguém conhece Luís Ignácio Lula da Silva. Eu trabalhava no jornal O Pasquim e Lula tinha virado ídolo dos intelectuais brasileiros à frente do sindicato dos metalúrgicos de São Bernardo do Campo.

Ele chegou a sede do Pasquim que ficava na rua Saint Roman, em Copacabana e foi recebido com histeria pelos donos do jornal, Ziraldo e Jaguar. Presentes a entrevista toda redação do Pasquim.
Lula vestia uma camiseta com um personagem do sindicato (Zé Ferrador) com os dizeres “hoje eu não tô bom” e recusou o uísque que o Ziraldo ofereceu, preferindo outra bebida. Bebeu pouco.

Nossa antipatia mútua nasceu ali. Não fui com a cara dele nem ele com a minha. Meu aspecto físico certamente provocava nojo no entrevistado que, mais tarde, viria a fundar o PT. Eu era cabeludo, magro, pinta de burguês hippie, um horror sob à ótica moralista da "UDN de macacão" (como Brizola definiu o PT).

Mas o caldo entornou quando o entrevistado disse que tinha 23 anos quando entrou para o sindicato em 1969, e que já era torneiro mecânico há 14 anos e alguém rebateu ironicamente dizendo “mas então você tinha nove anos quando começou na profissão já que hoje tem 32...”. Lula soltou um “ah,...sei lá, porra” e eu insisti “afinal, quantos anos o senhor tinha...” E ele me fuzilou com os olhos, mas Ziraldo colocou panos quentes.

Na entrevista ele disse que não tinha pretensões de ser político, dando a entender que a classe não prestava. Perguntado sobre a perda do dedo mínimo, ele contou que em 1964, com 19 anos, trabalhava numa fábrica de parafusos e um torno esmagou seu dedo. E disse que “optei por cortar o dedo todo, não só a parte esmaga.” Insisti muito para esclarecer dúvidas, tentando que ele ajudasse a atualizar o valor da indenização que recebeu de 350 mil cruzeiros, em 1964. Lula resolveu mudar de assunto. Perguntado se conhecia os donos da metalúrgica Villares, onde trabalhava naquele 1979, respondeu que “não falo com patrão”.

Foram quase quatro horas de entrevista que me encheram de desconfiança. Mas quando ele foi embora senti a euforia dos jornalistas mais velhos, em especial Ziraldo, que viam no metalúrgico a salvação da pátria. Não sei o que eles pensam dele hoje.

O sindicalista que dizia ter horror a política, em 1982 foi candidato ao governo de São Paulo e perdeu. Em 1986 foi eleito deputado federal por São Paulo com a maior votação para a Câmara Federal e chegou a presidência em 2003.

Nos anos 1990 tive o segundo e último e também desagradável encontro com ele. Foi em Niterói. Quis o destino que eu ficasse sentado com Lula à sós durante 20 minutos numa sala e, naturalmente, conversamos. Fiz algumas perguntas de maneira polida e ele, também educadamente, escapou de todas especialmente quando abordei a sua mudança de visão em relação a política. Ele me mostrou que acredita muito no que diz e acha.

Pelo visto, hoje acredita mais ainda.







Ouvindo Neil Young nas primeiras horas de março, o mês que recebe o outono

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As trovoadas ainda existem e me causam alívio enquanto leio os jornais que derramam baldes e mais baldes de desesperança. Com razão porque o momento é mesmo de desesperança já que aquela senhora estúpida, grosseira, arrogante, incompetente e banhada de soberba afundou o Brasil.

Em vez de alimentar o assunto hoje preferi pegar uns CDs de Neil Young e por no computador. Para mim, CD é a melhor mídia já inventada. Prático, não tem a famigerada agulha do vinil e seu irritante plec plec plec, não trava, não exige que eu levante para mudar de lado, dispensa lavagens, etc. No CD o som sai puro e me satisfaz plenamente.

Tanto que em mil novecentos e noventa e tal doei meus vinis (não eram poucos) para uma instituição de caridade que fez uma boa grana. Amigos, colegas e conhecidos que cultuam o vinil ficam horrorizados quando conto essa história, mas fazer o que se o que resta nesse país (pelo menos por enquanto) é a liberdade de escolha?

Assisti Neil Young no Rock in Rio em 2001, show bombástico, ele empunhava sua lendária guitarra Gibson Les Paul preta, chamada “Old Black” safra de 1953, que ele não larga por nada. Show pesado, alto volume, distorcido, catártico, como eu estava naquele dia. Viajei horas até chegar ao Rock in Rio e consegui um lugar bem próximo ao palco porque esse negócio de ficar assistindo telão, na boa, é para otário.

Lembro da expressão da plateia que não conhecia Young, muita gente mais nova, atônica, aplaudia boquiaberta a performance sempre comocional do músico, que lá pelas tantas, inesperadamente, começou a esfregar a guitarra contra o cabeçote de um dos amplificadores gerando sons difusos, alguma microfonia, caóticos.

A segunda trovoada acaba de rugir lá fora e uma chuva pesada banha o meu entorno. Neil Young toca no computador enquanto lembro de uma manhã de 1981 ou 1982. O então presidente da Warner, André Midani, ligou convidando para uma sessão exclusiva do filme “Rust Never Sleeps”, um show completo de Neil Young extremamente bem feito. Foi numa cabine na Cinelândia, Rio.

O filme, apesar de sensacional, não foi exibido no Brasil por uma razão óbvia: na época, ninguém sabia quem era Neil Young. E a pergunta que me cai agora, bem mais forte do que a chuva é “será que hoje sabem de quem se trata?”. Pelo menos hoje existe Google, Yahoo, Bing.

Termino a audição e vejo o jornal em cima do sofá, exibindo mais lambanças da grotesca madame do cerrado. Melhor jogar fora e sair para ver a chuva na praia porque afinal de contas circula um boato que garante que a chuva ainda não foi roubada.


Que venha a guerra civil, que venha a convulsão institucional

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A sexta-feira amanheceu com nuvens escuras. Sei porque cruzei a madrugada em mais uma insônia, daquelas chatas. Em determinado momento resolvi ir até a rua, a padaria, tomar um cafezinho fresco que há anos não sei o que é porque só uso (pouco) solúvel.

Como de hábito, cheguei na calçada e olhei para o céu, digo, o pedaço do céu que a especulação imobiliária e seus prédios de dezenas de andares nos permitem contemplar. Achei que as nuvens escuras eram um sinal de luto pela morte de um amigo, Kika Deccache, uma das figuras mais positivas, festeiras, otimistas, solidárias que conheci. Em seu funeral, amigos filhos, todos se emocionavam ao falar do Kika que agora merece estar nas mãos de Deus.

Tomei o café e umas 6h40m voltei para casa e liguei o computador. Meia hora depois a manchete sobre a convocação de Lula para depor na Polícia Federal. Acessei uma rádio de notícias e havia uma notícia, não confirmada, de que Lula foi levado para a delegacia da Polícia Federal no aeroporto de Congonhas porque de lá iria direto para Curitiba. Era boato.

Pensei nas nuvens escuras. Anúncio de convulsão institucional? Previsão de guerra civil? O que estariam anunciando as nuvens escuras, além da tristeza pelo desaparecimento do Kika?

Além da chuva em algum lugar distante, nada. Nada vezes nada. Infelizmente.

Qualquer movimento que liberte o Brasil do jugo desses ladrões arrogantes, soberbos, invulneráveis, será bem vindo. Que venha a guerra civil, que venha a convulsão institucional. Se for pela liberdade, tudo vale. Até o desejo de Clarice Lispector.

Sem exceções.

Porque quase todo mundo odeia jornalistas

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Como de praxe, jornalistas foram agredidos por lulopetistas nas manifestações de rua ontem em São Paulo. Eles acham que nós, TRALHADORES, somos os donos da mídia que, agora, eles condenam. No passado, quando o PT ainda estava no berçário, babavam nossos ovos à cata de divulgação e poder.

Todo e qualquer tido ou forma de poder detesta jornalistas porque somos o elo de ligação entre os podres deles e a sociedade. Um caminho muito tortuoso. Estou nas ruas há décadas, levando e dando porradas em nome de um trabalho limpo e ético (não sou modesto neste quesito) e constato que autoridades nos detestam, como também bandidos de todos os naipes, corruptos, traficantes, assaltantes, ditadores, policiais. 

Perdi colegas que foram "pra vala" por denunciar tráfico de drogas em morros do Rio. Na Colômbia de Pablo Escobar dezenas de colegas desapareceram nos "microondas" do narco-poder. Para quem não sabe, "microondas" foi uma invenção do próprio Escobar que mandava amarrar jornalistas dentro de pilhas de pneus velhos e depois mandava tacar gasolina e fogo. Não sobrava nada. O microondas chegou ao Brasil graças ao "acordo bilateral" feito por Fernandinho Beira Mar e o cartel de Medellín.

Juízes, promotores, advogados, desembargadores do mal nos detestam, sindicalistas larápios idem, assim como artistas medíocres que vivem das tetas de "incentivos" do governo, escritores pífios, bem como motoristas assassinos, jogadores de futebol molequss, capos da CBF, Fifa e similares flagrados com a mão nos cofres. Claro, também somos odiados por outros jornalistas que, pagos ou não, fazem o jogo dos podererosos de todos os setores (lícitos ou não) através de blogs, colunas em jornais, sites, TVs, rádios. Esses pelegos talvez sejam piores do que o mais cruel dos carrascos.

Há tempos fiz uma palestra numa universidade e, em determinado momento, recomendei aos alunos do último período do curso de Comunicação: "se você lida mal com a rejeição, com o desprezo, com o tapa na cara, com o ódio gratuito escolha outra profissão. O jornalista é a Geni do universo meliante".

Hoje, quando jogam pedras em colegas a bordo de carros de jornais e TV (em geral gente que mama nas tetas do governo, capazes de matar para não perder a boca), ou então batem em colegas mulheres que estão trabalhando vejo que minha recomendação está mais do que atual. Uma parcela (muito bem paga) da sociedade nos chama de "mídia golpista" enquanto a outra, que pretende assumir o poder, tenta nos bajular. Mas se um dia eles assumirem Brasília, serão os primeiros a nos execrar porque todo o poder tem bandas podres, que cabe a nós revelar.

Acima de tudo, jornalismo é a anti-arte de levar e dar porradas. Infinitamente.

Brasil adere aos pequenos notáveis

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             Nissan March
        Fiat 500
VW Up!
       Smart
              Mini Cooper
Pena que o Brasil quebrou em 2015, justo na hora em que a mentalidade do consumidor médio começa a chegar a feliz conclusão de que as cidades estão inviáveis para carros médios e grandes. Muitos brasileiros começaram a pensar como os europeus e partiram para carros pequenos, práticos, ágeis e extremamente econômicos.
Mesmo com a crise que praticamente parou a indústria automobilística tenho observado a crescente presença dos pequenos nas ruas, avenidas e estradas do Estado do Rio. Em tempos de crise, quem é paciente e conhece automóvel pode fazer um bom negócio comprando um seminovo. Sugiro uma consulta ao site www.webmotors.com.br.
O March 1.6 (existe também a versão 1.0) é esperto, econômico, ultra resistente e espaçoso. É tão rápido que é preciso ficar de olho no velocímetro para não ser pego pelos radares de velocidade. Tem muita estabilidade, bom espaço interno, motor nervoso (mas ultra silencioso) e numa estrada de terra esburacada parece estar numa highway. Estacionar em vaga pequena para ele é brincadeira e o ponteiro de gasolina não desce.
Outro fenômeno é o novo Fiat 500, lançado em 2007 em Turim, Itália. Foi quando o presidente mundial da Fiat, Sergio Marchionne, declarou que o 500 seria o "iPod" da indústria automotiva, em alusão ao sucesso do tocador de MP3 da Apple.     
A versão que o Brasil importa do México, equipado com motor 1.4, é um bólido. Deixa a sensação de “pra que mais? ” e a certeza de que o charmoso novo 500 nasceu para a cidade. Ressureição do lendário 500 produzido pela Fiat entre 1957 e 1975, o novo “Cinquecento” está virando febre por aqui.
Outro pequeno grande achado é o VW Up Tsi. O motor 1.0 de três cilindros gera 105 cavalos de potência. O carrinho vai de 0 a 100 km/h em 9,1 segundos atingindo 184 km/h de velocidade final. Impressionante. Estável, firme, espaçoso, o Up Tsi é muito bem resolvido.
Mas no terreno dos sonhos moram dois ícones do planeta mini. O maravilhoso Smart, carro para duas pessoas desenvolvido pelo consórcio Mercedes Benz/Swatch (a marca dos relógios) que são febre na Europa. No Brasil seu preço parte dos R$ 55 mil. Mesmo assim, tenho visto bastante nas ruas.
E é lógico que neste cenário de carros urbanos, outra estrela se destaca: o britânico mini Cooper, que vem evoluindo sem parar desde o nascimento, em 1959. Preço? Em torno de 100 mil reais.
Vai encarar?


No rastro de "O Uivo" nem sempre causas geram efeitos ou meios geram mensagens

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Cena do filme Quadrophenia
A mídia (meio) sempre surpreende quanto injeta suas doses de componente ilógico. Ontem escrevi sobre carros aqui na Coluna e, para a minha surpresa, o texto bateu recorde de visitação. E tudo começou ao som da música do acaso. Por várias razões, ora óbvias, ora ocultas, a semana passada foi dura. Mas, como todo passado a semana passada passou.

Quando era pequeno e viajava por aí com meu pai (viajamos muito, mas muito mesmo), especialmente para Teresópolis, ele contava que nos anos 1960, a bordo de carros importados com motores refrigerados a água, era forçado a parar duas ou três vezes nos acostamentos, depois batizados oficialmente de "refúgios". Era para baixar a temperatura da água do radiador. Subir a longa serra naqueles tempos, naqueles carros, exigia paciência e, sobretudo, tenacidade.

Como acho que quando o presente nos espreme com suas garras não virtuais é natural que busquemos os acostamentos e refúgios do passado; esperar por lá até os coquetéis molotov sossegarem.

Foi numa virtual escapada dessas que lembrei de meu avô paterno, que ao contrário das descrições românticas e lúdicas que em geral são feitas, era um cara marrento, sisudo, anti-social. Mas eu adorava ele porque ele adorava os netos. A maneira dele. 

Passei a infância em Angra dos Reis e era para lá que meu avô ia descansar de vez em quando. Cada vez que chegava trazia um carro novo. Era apaixonado pelos automóveis.

Eu tinha uns sete ou oito anos quando ele apareceu com um (pasmem!) Studbaker 1955 cinza-chumbo, carro de design não ousado e atrevido para a época que não colou. Eu me apaixonei por aquele carro e ficava horas olhando, olhando, olhando até ouvir a frase mágica do meu avô: "vamos até o centro para comprar umas coisas". E passeávamos no Studbaker sob o olhar assombrado das pessoas.

Numa dessas incursões, fumando seus indefectíveis charutos ao volante, meu avô virou para mim e disse "você vai ser um apaixonado por automóveis." Na mosca.

Para terem ideia, durante muito tempo estou para comprar um Ford Taurus (de 1997 até o início dos anos 2000) porque na minha cabeça ele revivia a saga do Studbaker. Design atrevido, ultra moderno, que também teria assustado os consumidores nos Estados Unidos.

O Taurus foi uma das estrelas do genial filme "O Show de Truman" (1998) de Peter Wir, estrelado por Jim Carrey que mereceu, sim, o Oscar. Mereceu, não levou e ficou indignado.

Essa conexão semana brava-meu avô-carros-o show de Truman-coluna sobre carros faz sentido. Mas em seu magistral coice chamado "O Uivo", de Allen Ginsberg, poema que atirou a América macartista contra o paredão de sua própria alienação, caretice e ignorância, em 1956, parece querer dizer em sua aflição, asfixia e angústia que as causas nem sempre geram efeitos. Causas podem não causar nada. Ou não?

Em uma das primeiras leituras de "O Uivo", em San Francisco, Califórnia, Ginsberg foi preso por "atentado violento ao pudor". Solto após pagamento de fiança, disse a imprensa: "Uivo é uma unidade de respiração única. A minha respiração é longa — isto é a medida, uma inspiração física e mental do pensamento contido no estiramento de uma respiração."

Ninguém entendeu porque poucos tinham a coragem de ler (e, principalmente) ouvir "O Uivo" de ponta a ponta porque a constatação de que outra América, menos boçal, precisava ser descoberta urgentemente incomodava.

Aliás, Beats como Ginsberg, Jack Kerouac e William Burroughs eram incômodos sociais, estorvos políticos e levou tempo para as suas propostas entre aspas para um mundo não velho fossem reconhecidas.

Todo mundo tem o seu Uivo. O meu é abafado, mas é uivo. Ou, contrariando um outro herói de cabeceira, Marshall McLuhan, eventualmente não acho que o meio seja a mensagem. Simplificando, discordo que a mídia gere notícias. Até segunda desordem, a mídia é eco e não som, mas como Allen Ginsberg chegou a dizer que o seu Uivo podia ser chamado de tudo "até de mídia pífia e vagabunda", no caso o meio era a mensagem, sim.

Fato é que retirei a corda do pescoço, Entrei no meu virtual Morris Oxford 1952, engatei a primeira e sigo subindo a serra do hiper-realismo cotidiano após ter prometido ao espelho que deixarei de ser otário.

Antes da partida, rumo ao presente, dei um beijo no eu avô.

E no meu pai.






O lixo musical que assola o Brasil, merdalhal amplo, geral e irrestrito

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Nunca antes na história deste país a música popular foi tão pífia, escroque e vagabunda. Reflete o cenário nacional de uma maneira geral e o cultural em particular. Com o fim do mercado de disco formal também desapareceram os críticos musicais que, direta ou indiretamente, eram um ponto de referência.

Os críticos musicais (eu me incluo na categoria) foram banidos junto com a radical dieta calórica/encefálica imposta pelos empresários da mídia aos suplementos culturais, hoje reduzidos a pequenos bidês frequentados por neófitos (saem bem mais baratos) que dão descarga em seu asneirol vago.

Há pouco tempo tínhamos uma indústria polêmica mas que fazia a seleção dos artistas que iam gravar. Produziam seus discos que chegavam aos críticos, rádios, TVs. Os críticos diziam o que prestava e o que não prestava. As rádios sérias tocavam o que achavam que tinham a ver com o seu perfil, enquanto que muitas tratavam do assunto via jabá, cobravam grana viva-ou viagens-ou carros- ou etc para tocar as músicas de interesse das gravadoras.

É lógico que muita gente ignorava os críticos e suas opinião mas pelo menos os tinha disponíveis. As rádios, nas coxas ou não, apresentavam a seus ouvintes as novidades. Enfim, a cadeia industrial da música beneficiava, sim, o consumidor final. Você que lê esta coluna e pegou essa época, quantos artistas conheceu pela crítica e pelo rádio?

Hoje não há mais referência alguma. A crítica foi substituída por placebos que não conhecem música, nem jornalismo e, ainda por cima, escrevem mal. As rádios em FM estão no fim e, em vez de investir no novo preferem atacar de flashbacks por uma razão muito simples: a função de produtor e programador, um exímio conhecedor de música que selecionava o que as rádios iam tocar, também sumiu.

A internet virou a grade mídia. E não adianta cacarejar sem sentir dor porque a internet será a ordem do dia por pelo menos mais um milênio. A quem discorda, sugiro um pijama listrado e um canário na gaiola. A WWW surgiu com a proposta de liberdade absoluta, total. A internet inventou a música por streaming e degolou a indústria do disco. A internet substitui rádios por tocadores de música que não apresentam conteúdo falado. Você ouve mas não sabe o que está ouvindo porque, na maioria dos casos, não há quem explique.

O cotidiano me põe em contato direto com as novas gerações e seus iPads, smartphones e outros players.  Elas partem do princípio que Wesley Safadão (é só um exemplo) e o início, o fim e o meio. Em festas que frequentam, só dá funk, sertanejo e pagodagem. Nas ruas idem. Na TV idem. Ora, para as novas gerações, essa é a única nova música porque não lhes é apresentada outras.

Por isso o cenário nacional é esse merdalhal. Até quando?

Não sei.

Querida Diária, o meu problema não é ir em cana mas é ter que devolver o bagarote

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Quando aquela melianta me chamou de porca voadora, não voltei para dar-lhe uma coça porque parei para pensar. E você sabe que para pensar, eu paro. Paro e penso. Pensei que o meu problema não é ir em cana mas é ter que devolver o bagarote.

Ir em cana é fácil. É só ter uma TV lá para eu assistir o Esquenta e tudo bem. E você sabe, sua ignoranta, que o Esquenta é a minha cara.Todo mundo fala. Eu também falo que o Esquenta é a minha cara.

Supondo que eu voltasse para encarar aquela melianta e ela começasse a berrar “devolve o bagarote, porca voadora! Devolve porque o bagarote é nosso!”, não ia prestar. O que fiz? Entubei, como aquele supositório de jaca que enfio todo o dia de manhã.
Diária, sua piranhuda, Estou sentindo vara no lorto, orifício pequeno, médio ou grande, preguiado ou não, dotado de grande elasticidade localizado abaixo do último lombo da coluna cervical.

Tudo bem que sou boçala de quando em vez, mas burra, não. E a ausência de burrice em minha cérebra me faz supor que tem glande de dardo apontada pro meu anel de couro.

Lá na casa do cacete do passado, quando eu era garçoneta daquele bando de maconheiros, eles me chamavam de burra só porque eu nunca acertava a quantidade de pólvora que eles compravam.

Um dia perdi a porra da cabeça, reuni os maconheiros e expliquei: “veja bem, se você tem um fusível que dá 30 tiros por minuto você precisa de pólvora para 15 balas por minuto, porque na faculdade por correspondência que fiz me ensinaram que o tempo é relativo e logo pode consumir 15 balas por minuto e não 30 balas por minuto, entenderam?”. Sabe o que me responderam, Diária rameira? 

Responderam “ora, sua vaca, a Constituição que se f....!”, com chapeuzinho no O para não confundirem com o verbo que não pronuncio na horizontal (ou será vertical?) há mais de 50 anos.

Diária, sua putéfia, poucos me amam, mas em compensação milhões me odeiam e isso causa muita inveja nessa gentalha. Já te disse que meu negócio é entrar para a história, f....-se se for pela porta da cozinha. O negócio é ganhar e não competir.

E trate de ir juntando seus paquetinhos porque nem sei se vai dar tempo de chegar na rodoviária. Vai ser um bunda com bunda geral, 

Diária, sua piranha, e você vai ver que esse papo de que cavalo não sobe escada é boato.

Boato filho da p.....





AC/DC já tem um substituto para Brian Johnson, proibido de cantar pelos médicos

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                                   O mundo achou que a parede de amplificadores tinha detonado o vocalista
                              Não foi nada disso
A banda australiana AC/DC já tem um vocalista “convidado” que irá substituir Brian Johnson, mas o nome ainda é mantido em absoluto sigilo. O que se sabe é que o próprio Johnson participou da escolha. 

O vocalista de 68 anos, recebeu uma ordem médica determinando que pare de cantar imediatamente. Caso insistisse ia ficar completamente surdo.

Há algumas verdades quase ocultas nesse episódio. Para começar, essa ordem médica já tem algum tempo. A banda só suspendeu a turnê mundial porque a saúde de Johnson se complicou muito.

Ele entrou na banda em 1980 no lugar de Bon Scott, que morreu em 19 de fevereiro do mesmo ano, após consumir doses cavalares de uísque e vodca na noite anterior, num bar de Londres. Trôpego, pediu a chave do carro do amigo Alistair Kinnear para dormir. Morreu deitado no banco de trás.

O AC/DC ia acabar com a morte de Scott, mas Brian Johnson, que deixou o quase anônimo grupo Geordie e assumiu o vocal principal da banda australiana.

Formado em 1973 pelos irmãos Angus e Malcolm Young, o AC/DC tem no alto volume uma de suas marcas registradas. Nos anos 1980 medições confirmaram que o som da banda equivalia ao da decolagem de um Boeing 707. Ainda assim os australianos perdiam de longe para o inglês The Who, recordista em decibéis desde os anos 1960 (com direito a várias citações no Guiness, livro de recordes), o equivalente ao barulho da decolagem de quatro caças supersônicos juntos.

Tanto que o líder do grupo, guitarrista, compositor e cantor Pete Townshend usa quatro aparelhos de audição e frequentemente é obrigado a se internar. O falecido baixista John Entwistle também usava quatro aparelhos e chegou a desmaiar no palco num show da banda em 1978, em San Francisco. O baterista Keith Moon, também falecido, não usava aparelho algum mas, em compensação, não ouvia absolutamente nada. O único que escapou, com direito a um único aparelho de audição, é o cantor Roger Daltrey.

Brian Johnson está mal com tudo isso e já deixou claro que seus problemas auditivos não tem nada a ver com o AC/DC mas pelo fato de pilotar carros antigos customizados, com motores com até 600 cavalos de potência.

Tempos atrás ele disse numa entrevista que “eu passava dias e mais dias dentro desses carros e um dia esqueci de colocar os protetores de ouvido. Senti algo em meu ouvido esquerdo e parei no box. O capacete estava todo ensanguentado. Eu tinha estourado o tímpano. A partir daí nunca mais minha audição foi a mesma.”

Pelo menos dessa vez, o rock é inocente.

Datas da turnê norte-americana do AC/DC a serem remarcadas

11 de Março – Ft. Lauderdale, FL BB&T Center
14 de Março – Greensboro, NC Greensboro Coliseum
17 de Março – Washington, DC Verizon Center
20 de Março – Detroit, MI The Palace
23 de Março – Columbus, OH Nationwide Arena
26 de Março – Cleveland, OH Quicken Loans Arena
29 de Março – Buffalo, NY First Niagara Center
01 de Abril – Philadelphia, PA Wells Fargo Center
04 de Abril – New York, NY Madison Square Garden



O mundo de Naná Vasconcelos num mundo sem Naná Vasconcelos

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Parte I
                                                                                 Parte II
Naná Vasconcelos reescreveu os rumos da grande música, que sobrevive exilada em outro universo. O mundo de Naná Vasconcellos está eternizado pela grande quantidade/qualidade de álbuns que ele gravou, sozinho ou em parceria com dezenas de outros artistas. Destaque para um outro gênio, Egberto Gismonti, com quem gravou o magistral “Dança das Cabeças”.

Se o mundo de Naná Vasconcelos permanece presente, o mundo sem Naná Vasconcelos segue beijando a boca do mau gosto, do obtuso, do fétido, representado por não-músicas cada vez mais arrivistas e boçais.


Conheça melhor Naná Vasconcelos: http://www.nanavasconcelos.com.br/

“Siga o luar interior; não esconda a loucura” (Allen Ginsberg)

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Em sua coluna no programa EXPRESSO DA MADRUGADA, versão REDUX, que produzo e apresento na Rádio CulT FM (http://radiocultfm.com/), Juliana Demier recitou o poema “Uivo” de Allen Ginsberg gerando uma quase histérica repercussão. O EXPRESSO DA MADRUGADA comum vai ao ar diariamente de meia noite as seis da manhã, e o REDUX (mais jornalístico) aos sábados.


Quando ouvi, reouvi, ouvi, reouvi, ouvi, reouvi, ouvi, reouvi “Uivo”, com aquele semblante de tapa na cara que ele tem, novos encontros, desencontros e vadias emoções se sublevaram nos poros do inconsciente. E vem a pergunta: como esse murro nas vísceras, lançado em 1956 na América do Norte é capaz de reverberar entre quase índios, negros, brancos latinos aqui na América de baixo, vulgo do sul?

Como “Apocalipse Now”, obra maior de Francis Ford Coppola, sinto “Uivo” como uma incursão interior em busca de verdades que muitas vezes inexistem, ou que conseguiram fugir de nossa cotidiana “ofensiva do Tet”, ou que não eram verdade. Como o “Apocalipse” de Coppola, a obra desleixada, livre, boçal e genial de Ginsberg nada em veias abertas que foram suturadas a força em nosso rico “universo interior”. Hahahahahahahahah.

Na adolescência fui abduzido pelo existencialismo via Albert Camus e depois me atirei no movimento beat após constatar que o existencialismo é uma bela, equivocada e cascateira teoria, não aplicável. No caso da cultura beat, o que assusta é a liberdade. Tudo lá é possível, nada é provável e o tempo é o agora. Os beats não temiam a morte e iam mais além, muito mais além: não temiam a vida. Bebiam todas, fumavam tudo, comiam o mundo, morreram todos relativamente jovens mas, segundo Neil Cassidy, já fora da data de validade. 

Neil Cassidy era uma figuraça, amigo de Jack Keroac que o presenteou com o personagem Dean Moriarty no clássico “On The Road”. As melhores imagens de Cassidy estão em “The Other One”, sensacional documentário sobre Bob Weir, guitarrista do Grateful Dead, lançado há pouco pelo Netflix. Valeu a dica, amigo Caíque Fellows!

Ouvir “Uivo” é uma bela experiência. Faz bem e faz mal. Faz bem porque o poema nos oferece a possibilidade de rebater, com chutes, coices, pancadas secas com taco de beisebol. Faz mal porque é impossível não se sentir relativamente medíocre depois de ouvir aquilo tudo.

Ouça.



A selvagem delicadeza de Keith Emerson

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A morte de Keith Emerson, aos 71 anos, me detonou. Um diz desses conversava com amigos sobre Rick Wakeman, que assisti ao vivo algumas vezes e a vontade de assistir o Emerson, monumental multi tecladista presente, muito presente, em minha adolescência e de toda uma geração que conheceu a primeira geração do rock progressivo. A melhor, a mais autêntica, a mais visceral, pura, sem tecnicismos, decoreba. Os caras tocavam o que vinham à pele. Keith Emerson era um dos líderes desse pequeno bando de gênios.

Conheci a sua música quando ouvi o álbum de estreia de seu trio, Emerson Lake and Palmer, lançado em 1970, mas só fui abduzido dois anos depois quando ouvi "Pictures at an Exhibition", uma leitura dele e de Greg Lake e Carl Palmer da obra do russo Modest Mussorgsky (1839-1881), de quem eu nunca ouvira falar. Mas o álbum que me pegou definitivamente foi "Trilogy", deste mesmo 1972. Os álbuns nacionais de vinil eram tão vagabundos, bem como os toca discos fabricados aqui, que o meu "Trilogy" gastou. Isso mesmo. De tanto ouvir ele acabou ficando liso, em especial a minha faixa favorita a ultra experimental e maravilhosa "Abaddon´s Bolero", que encerra o disco.

Não parei mais de ouvir o ELP. Auge da adolescência, das crises, de nós na garganta inexplicáveis, ataques de fúria, consequências de sucessivas tempestades hormonais, micro (que pareciam giga) crises existenciais, dúvidas, cabelos muito longos, costelas expostas pela magreza e que lembravam os teclados de Keith Emerson.

Se a música do Who parecia escrever o meu diário, principalmente quando abordava assuntos como a rejeição, por alguma razão eu sentia a música do ELP como algo que estava em algum lugar do futuro. Sentia o mesmo quando sorvia a música de Jimi Hendrix que só bem mais tarde fui saber que iria formar o HELP (Hendrix, Emerson, Lake and Palmer) no lugar do ELP, em 1970. Mas a morte levou Hendrix e a vida atirou o ELP no mundo. Mas as vezes fico imaginando o que teria sido o HELP.

Hoje, a sensação é estranha. Parece que alguém próximo foi embora a pé, no meio de um nevoeiro frio. Alguém que jamais cumprimentei, assisti pessoalmente. Pensando bem, e daí? Keith Emerson, com a sua selvagem delicadeza nos teclados, era próximo sim. Como Hendrix, como Machado de Assis, como Coppola.

É isso aí.
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